TEXTO: SL 15
TEMA: MANTENHAMOS COMUNHÃO
PERMANENTE COM DEUS!
Comunhão significa
ter coisas em comum, partilhar experiências e viver em união. Todos nós somos
seres sociais e precisamos de comunhão para sermos completos. Ninguém consegue
viver completamente sozinho neste mundo. Ao analisarmos o Salmo 15, do começo
ao fim, o foco do salmista está na comunhão permanente com Deus. Este era o
desejo de Davi. Em todo o seu caminhar, Davi sempre manteve comunhão com Deus, sempre
manifestava o seu desejo de caminhar com o Senhor.
Diante desta comunhão de Davi com
Deus, devemos nos questionar: Será que estamos vivendo nossa vida em comunhão com Deus? Como
podemos saber se estamos, de fato, em comunhão com o Pai? O salmista nos ensina. Ele nos questiona e apresenta alguns requisitos que precisamos ter para manter esta
comunhão com o Senhor: viver com integridade, não difamar com línguas as
pessoas, não viver na perversidade e nem emprestar o dinheiro com usura
(ganância). Portanto, a vontade de Deus é que vivamos em
comunhão com Ele e uns com os outros, pois estar em comunhão com Deus é a
maior dádiva que alguém pode possuir. Que o Espírito Santo possa nos despertar
para a urgência de mudarmos nossas atitudes, passando a viver em dependência do
Senhor, escolhendo viver uma vida de comunhão com Deus.
Jerusalém era o lugar onde estava o tabernáculo que Davi erigiu para trazer a arca da aliança de seu exílio, desde os dias do sumo sacerdote Eli (1Sm 4). Esta cidade também era chamada de Sião. Era o lugar do santuário da presença especial de Deus onde o povo expressava seu louvor e adoração. Era justamente sobre este lugar que o salmista questiona: “Quem Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?” (v.1). Vamos analisar primeiro os termos das duas perguntas. O termo (habitar) גּוּר no hebraico significa residir temporariamente, permanecer, ficar. O habitar sugere permanência, fazer morada, ficar de forma definitiva. Já o termo (morar) שָׁכַן significa instalar, habitar, residir, morar em tenda. Acrescenta a ideia de estar em casa, ser um membro do lar, tendo status permanente na família. Portanto, “habitar/morar" é como ser hóspede de alguém. Naquela época quem entrava nos palácios de um rei estava seguro. Era considerado um hóspede. Tendo estas certezas o salmista desejava com muita ansiedade, o prazer de habitar no santuário do Senhor. Não só nos dias desta vida, mas para sempre.
A pergunta é: Quem seria digno de entrar, ou quem seria
merecedor de habitar na presença de Deus? Davi dá-nos uma dimensão da grandeza
e santidade do nosso Deus, e apresenta as características daquele que habitará
no tabernáculo do Senhor, e que irá morar no santo lugar. Lembrando que não é
de qualquer forma, sem critério nenhum, que será admitida na casa de Deus, como
hóspede, sob seu teto e desfrutando da comunhão com Ele. Davi nos ensina. Ele
dá uma resposta ao descrever as qualidades que Deus deseja das pessoas, que
querem andar no Seu caminho. Ele apresenta o tipo de caráter que devemos cultivar,
uma vez que fomos integrados à família da fé, chamados para viver uma vida
santificada diante de Deus. Enfim, ele oferece quatro características daquele
que é verdadeiro servo do Senhor.
Quem segue estes
passos, vive em comunhão com Deus. Esta é a Sua vontade. No entanto, muitas pessoas querem habitar no
santuário do Senhor, apresentando suas virtudes, vida exemplar, autojustiças, aparência. Outras cantam, pregam, oram, se reúnem,
mas não possuem comunhão permanente com Deus. E tem aquelas que querem permanecer na Casa do Senhor por
obrigação, por tradição vazia. Mas não é o orgulho, posição,
mérito ou ações próprias vida exemplar e autojustiças,
requisitos para mantermos comunhão com o Senhor. Isto nada contribui para
a edificação, nem para a glória de Deus. Sendo assim, o salmista nos
ensina, questiona e apresenta alguns requisitos que precisamos ter para manter
esta comunhão com o Senhor, pois a vontade de Deus é que vivamos em comunhão
com Ele e uns com os outros.
A primeira característica é a integridade. (v.2a). No
Antigo Testamento, a palavra hebraica תָּמִים
traduzida como integridade significa “a condição de ser sem defeito, perfeição,
sinceridade, solidez, retidão, inteireza”. Uma outra designação para o próprio
termo, que traz um sentido mais amplo do que Davi quer transmitir, é “aquele
que anda irrepreensivelmente”, que diz respeito a sua solidez, sua integridade
e sua lealdade total a Deus. Em resumo, significa caminhando com perfeição, isto é, aquele que
anda ou vive "perfeitamente"; aquilo que é completo em todas as suas
partes; onde nenhuma parte está faltando ou está com defeito.
Como viver com integridade em um mundo de corrupção? Onde há
tantos corruptos? Onde há uma inversão de valores e falta de honestidade? A
verdade é que a corrupção é algo presente e latente em nossa sociedade. Ela é
carente de pessoas íntegras na política e nos negócios. Mas isso não é
novidade, a própria história nos revela inúmeras situações de falta de seriedade,
honestidade, honradez e ética das pessoas. Entendo que o princípio de tudo isso
é a pura falta da educação básica familiar, ou seja, a falta dos valores de
base, como o respeito aos pais, à família, aos idosos, à igreja e à sociedade
como um todo. Por isso, precisamos entender que a integridade define o nosso
caráter, ela está relacionada com o conjunto de valores e o modo de ser de uma
pessoa no contexto de suas vivências e experiências interpessoais.
Todos nós devemos buscar e viver uma vida de integridade a
cada dia. Ela precisa fazer parte da vida do cristão. Portanto, integridade,
retidão e perfeição é o que Deus espera e exige do seu povo. Somos desafiados a
seguir o exemplo de tantos heróis da fé, mantendo-nos íntegros em todo o tempo.
Aprendemos com Josué. Ele ensinou o seu povo a viver com firmeza, sinceridade,
integridade e fidelidade: “Agora, pois, temei ao Senhor e servi-o com
integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos
pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao Senhor”. (24.14). Se aquele povo pretendia seguir adiante e
habitar na terra prometida, tinha que continuar mantendo a aliança com
integridade e fidelidade ao Senhor. Deveria temer ao Senhor que o salvou da
terra do Egito. Deveria adorar com todas
as forças o Deus que derrotou os seus inimigos da terra de Canaã.
A vida de Jó também é um grande exemplo de integridade: “Havia
um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este homem era sincero (íntegro),
reto e temente a Deus; e desviava-se do mal”. (Jó 1.1). Por mais que seus
amigos tentassem achar algum erro em sua vida, que justificassem aquele momento
de luta pelo qual passava, não acharam nada! Não havia acusação contra ele. A
vida de Jó refletia a sua retidão. Ele nos ensina que, mesmo nas adversidades,
por maior que elas sejam, não podemos abandonar o caminho da retidão. A doença,
a perda dos filhos, da riqueza e de tudo o que possuía, não foram capazes de
apagar o amor que Jó tinha por Deus.
O exemplo de Davi nos inspira sobre a integridade. É inegável
o quanto nós aprendemos com sua integridade, seu coração puro e seu espírito
submisso totalmente ao Senhor. O que importava para Davi era estar com o
coração em pleno acordo com Deus. Ele não professa nada além do que sente e
pretende. Sua boca não fala nada além do que expressa seu coração. Hipocrisia,
astúcia e engano não têm lugar em sua alma. Sendo assim, ele andava na
integridade, praticava a justiça e falava a verdade no seu coração (v.2b). Viver na integridade, andar na
justiça, sem astúcia sem falsidade, tanto nas palavras como nos atos; falar
sempre a verdade – especialmente com relação a si mesmo, deve ser a nossa
atitude. Nosso coração deve ser o santuário e refúgio da verdade. Por isso, devemos
ter cuidado para que o coração seja realmente estabelecido em princípio.
Vejamos, a segunda
característica para habitar na casa do Senhor: não
difamar com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injuria
contra o seu vizinho”. (v.3a). Literalmente significa ele “não pisa em
sua língua". Difamar significa “tirar a boa fama ou o crédito”. É falar
mal de alguém. É fazer com que alguém deixe de possuir uma boa reputação,
usando para este expediente a mentira. Na verdade, a fofoca, a intriga, a
difamação, são males que crescem em qualquer lugar e se multiplicam com
facilidade entre as pessoas. Hoje, existe uma verdadeira indústria milionária
de fofoqueiros. Pessoas que vivem em função de nutrir diariamente esse comércio
inescrupuloso, atingindo, prejudicando as pessoas. Tiago nos adverte do perigo
de fazermos uso da língua de forma errada. É um inimigo perigoso que causa
tragédia, que ataca à honra e resultam contendas; que traz desgraças, destrói e
traz choro, sofrimento entre as pessoas. Disse alguém que “A língua das pessoas
morde mais que os dentes. A língua não é de aço, mas corta e suas feridas são
muito difíceis de curar.”
Portanto, aquele
que quer manter comunhão com Deus, não deve usar a sua língua para caluniar, ou
diminuir a reputação de qualquer um. Não deve “fazer
mal ao próximo, nem lançar injuria contra o seu vizinho.” Falar mal é uma
realidade deste mundo de conflito e contenda, onde as pessoas não hesitam em
desejar o mal para seu próximo. Já a expressão
"não lança injuria contra o seu vizinho”, significa não espalhar boatos a
respeito dos seus vizinhos, ofensa, desonra, vergonha, vexame; aquilo que
humilha. A ideia é que o homem que será admitido a morar no santuário do Senhor
dever ser aquele que ama o próximo. E quem ama não pode fazer o mal contra o
próximo. Amar ao próximo é se importar com a vida do outro e tratá-lo com
respeito. Quem ama sempre, se torna exemplo.
A terceira
característica: aquele que a seus, tem por desprezível ao réprobo. (v.4a).
Réprobo é sinônimo de reprovado, perverso, mal; alguém totalmente
desinteressado pelas coisas espirituais. Agora, aquele que deseja manter
comunhão com Deus não pode aprovar o comportamento dessas pessoas, porque essas
são pessoas ímpias, más, infiéis e agem mal. São na verdade inimigo de Deus e
do homem. Em resumo, o justo está do lado dos que seguem a Deus e não dos
pecadores, bajuladores e hipócritas. Ele honra aos que temem ao Senhor (4b)
Para o justo onde há verdadeira piedade, ele honra as pessoas, os estima e os
ama muito cordialmente, e mostra-lhes grande respeito e bondade. Promete e se
compromete a fazer algo que possa ser benéfico para o próximo. Tal o justo
também jura com dano próprio e se retrata. (v.4c), ou seja, ele cumpre o que
promete, mesmo com prejuízo próprio. (Mt 5.37, Tg 5.12). Sua palavra é
confiável e não depende das circunstâncias.
Finalmente, aquele
que deseja manter comunhão com Deus “não deve
emprestar seu dinheiro com usura(ganância). (v.5a). O que é usura? É
um delito cometido por quem empresta dinheiro, cobrando taxa excessiva de
juros; agiotagem. Juro excessivo, muito além da taxa usual ou legal. Esta é a
realidade do mundo capitalista: as pessoas emprestam dinheiro e cobram juros
excessivos. É a ganância! Aquele que deseja manter comunhão com Deus, não deve
emprestar seu dinheiro com ganância. Se tivermos condições de ajudar
alguém, concedendo-lhe um empréstimo, devemos fazê-lo de modo cristão e
compassivo (Sl 37.25). O justo jamais aceita a prática do suborno, seja contra o
culpado e muito menos contra o inocente. (v.5b). Suborno quer dizer
corrupção. Subornar é dar dinheiro para conseguir alguma coisa que vá de
encontro à moral e aos princípios cristãos. Devemos condenar esta prática.
Por fim, o salmista conclui o Salmo
15 afirmando que “quem deste modo procede não será abalado” (v.5).
As pessoas que são caracterizadas por essas qualidades estarão sempre seguras.
Elas temem a Deus, cumpre os seus preceitos e por isso habitam constantemente
na presença do Senhor. Esta é a promessa para aqueles que mantem a comunhão com
Deus. Isto está em harmonia com o que escreve o apóstolo João: “Aquele, porém, que faz a
vontade de Deus permanece eternamente” (1 João 2.17).Portanto,
saibamos avaliar a nossa conduta e nossa
vida espiritual e perceber se de fato estamos mantendo comunhão permanente com Deus. Amém.