segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

 

TEXTO: JO 3.1-17

TEMA: IMPORTA-VOS NASCER DE NOVO

Hoje celebramos o primeiro domingo da Santíssima Trindade. São domingos em que a igreja cristã medita sobre a ação do Espírito Santo, ou seja, o relacionamento da igreja com o Espírito Santo, a santificação, a luta da igreja contra o mal e os tempos do fim.

Diante do tema exposto, “Importa-vos nascer de novo”, surge à pergunta: Havia necessidade de nascer de novo? Afinal, Nicodemos era homem justo e piedoso. Era membro do Sinédrio. Fazia parte da elite dos líderes religiosos. Era “um dos principais dos judeus” (v.1) e mestre da lei, pois estudava, interpretava e ensinava as Escrituras ao povo. Era um homem extremamente religioso, frequentava assiduamente as sinagogas, dava esmolas e era fiel nos dízimos.

No entanto, apesar de todas as suas qualidades e méritos religiosos, Nicodemos era um homem perdido, que não tinha ainda alcançado a verdadeira salvação.  Precisava “nascer de novo.” Sendo assim, foi em busca de maior entendimento do que Jesus falava sobre “nascer de novo”. Jesus conversa com Nicodemos. Jesus o corrige, mostra a necessidade de “nascer de novo”, e com amor o explicou e lhe deu o entendimento do verdadeiro sentido.

Mas, afinal, em que consiste este “nascer de novo?” Seria “voltar ao ventre materno?” Como ironicamente perguntou Nicodemos! Não! “Nascer de novo”, é um afogar do velho homem e um nascer do novo homem. É uma renúncia ao pecado e um despertar para Deus. É ter uma fé inabalável em Cristo como único Redentor. E isto é possível pela água e pelo Espírito Santo. Pelo batismo e pela Palavra de Deus, por ambos o Espírito Santo realiza o novo nascimento. Jesus apresenta a Nicodemos às necessidades deste novo nascimento: Em primeiro lugar, porque o que é nascido da carne é carne. E carne não pode herdar o reino dos céus. Em segundo lugar, porque sem o renascer, não podemos ver o reino de Deus. Enfim, porque renascido para Deus temos vida em Cristo.

Os últimos acontecimentos ocorridos na cidade de Jerusalém causaram um verdadeiro alvoroço, especialmente, na vida dos fariseus. Jesus havia realizado o seu primeiro milagre em Caná da Galileia e com autoridade expulsou os que vendiam animais no templo, bem como os cambistas que estavam se aproveitando do ambiente para fazerem negócios. Além disso, a forma como Jesus ensinava, chamando às pessoas ao arrependimento e fé, abalou a religião dos fariseus e seus alicerces, pois sua religião consistia no cumprir cerimônias eclesiásticas e na disciplina pessoal. Em outras palavras, consistia em praticar as boas obras.

Os fariseus que viram Jesus expulsando os mercadores do templo, não queria realmente sua presença, e ainda questionam, dizendo: Quem é este? Por que procede desta maneira? Com que autoridade? Ferido em seu orgulho, os fariseus agrupavam-se para formarem oposição a Jesus. No entanto, um homem, de nome Nicodemos, tomou outro caminho. Não conseguia suportar a dúvida, pois sentia uma sensação de vazio e de incerteza em seu coração. Sendo assim, certo dia, procurou Jesus no silêncio da noite, às escondidas para saber a verdade. Preferiu fazer à noite, este encontro com Jesus para evitar críticas dos demais membros do Sinédrio.

Impressionado com as palavras de Jesus, ele reconhece o valor profético dos sinais realizados pelo Senhor: “Rabi, sabemos que vens da parte de Deus como um mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes se Deus não estiver com ele.” (v.2b) Nicodemos reconhece que Jesus é mestre e tem autoridade divina.  A palavra Rabi significa “professor, mestre” ou literalmente "grande". O termo é utilizado dentro do judaísmo para definir rabinos de grande importância em uma determinada área de atuação, servindo como um título que significa "mestre" ou "aquele que detém grande conhecimento”. Jesus era mais que um Rabi. Era o Messias, porém isso, Nicodemos ainda não admitia.

Nicodemos quando chama Jesus de mestre, a sua expectativa era aprender de Jesus o necessário para viver melhor. Mas Jesus, surpreendentemente, não lhe ensina esse algo mais que ele procurava. Para o Jesus a questão não é melhorar nesse ou naquele ponto, mas mudar completamente o rumo de sua vida. Ao contrário do que Nicodemos pensava, Jesus fala do poder de sua cruz e de um novo nascimento no Espírito Santo. Jesus disse: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, (ανουεν) não pode ver (ιδειν) o reino de Deus.” (v.3). A duplicação inicial das palavras de Jesus, mostra que suas palavras são verdadeiras. É uma afirmação enfática. Mostra que ninguém pode ver, conhecer, identificar o reino de Deus sem o “nascer de novo”. Mostra a Nicodemos que se trata de um assunto da mais alta importância: a sua salvação.

Entretanto, Nicodemos, admirado pela imediata afirmação de Jesus, ele procura defender-se, uma vez que Nicodemos não fez uma pergunta. Jesus havia respondido imediatamente. Por isso, seu coração está inquieto e confuso. Sua voz assume um tom áspero. Ele parece não entender bem a proposta de Jesus e, pensando em termos racionais, lança novos questionamentos: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?” (v.4). Estas colocações revelam que Nicodemos entendeu “de novo” sem a menor dúvida. Como pode? Eu nascer de novo, para quê? Será que minha conduta moral não está em ordem? Será que me falta conhecimento? Será que sou leviano em questões religiosas? Nascer de novo. Conheço profundamente a Bíblia. Tomo a religião muito a sério. Minha vida é exemplo. Tenho boa fama. O povo ao me eleger para o Sinédrio testemunhou disto. Toda a minha vida, desde a infância consistiu em prestar culto a Deus. Cumpro rigorosamente as cerimônias da igreja e vivi uma vida altamente disciplinada. Não compreendia, porque Jesus lhe dizia ser necessário nascer de novo

Muitos querem entrar no Reino de Deus como Nicodemos. Procuram justificar-se a si mesmo, enumeram: sou batizado, sou confirmado, vou à igreja, participo da Santa Ceia e contribuo. Não sou assassino, nem adúltero, nem ladrão. E como tal, estou em dia com o meu Deus. São pessoas que vivem com seu coração endurecido, que pensam somente em si, que não conseguem compreender o imenso amor de Deus por nós. Na verdade, precisamos fazer uma análise da nossa vida. O nosso coração precisa de limpeza; precisa ser trocado, pois ele é egoísta, mundano, influenciado pelo pecado, e devido a isso não pode ouvir a voz de Deus, seguir suas orientações e o caminho que ele nos propõe a seguir.

Para Nicodemos não havia necessidade de um “nascer de novo”. Segundo ele, o simples fato de ser descendência de Abraão lhes conferia o reino de Deus. Era uma concepção totalmente errada. E Jesus derruba tal conceito exigindo como condição, para entrar no reino de Deus o novo nascimento. Deixa bem claro que no reino de Deus não se concede por hereditariedade, mas procede de “nascer de novo”: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.” (v.5a). Jesus não retira o que disse. Ao contrário, confirma-o, especificando que o nascimento deve ser por meio “de água e de Espírito”. E ainda reforça a sua colocação. Ele é enfático ao afirmar: o que é nascido da carne é carne; e o é nascido do Espírito é espírito (ἐκ τοῦ πνεύματος πνεῦμά ἐστιν). (v.6).

O que se conclui que carne não pode herdar o reino dos céus. Todas as obras da carne, por mais brilhante que sejam, são corrupção. Provém do egoísmo. São inimizade contra Deus. Além disto, a imaginação do coração humano é má desde a sua meninice. Portanto, viver na carne é satisfazer a vontade dela; é estar nos caminhos pecaminosos. É satisfazer o seu próprio desejo de realização. O que é nascida da carne produz frutos da carne. O apóstolo Paulo fala, em Gálatas 5.17-23. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, distensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e cousas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o Reino de Deus os que tais cousas praticam.” 

Somos exortados a andar no Espírito. A nossa vida cristã, em última análise, consiste em sermos guiados pelo Espírito. A meta das nossas vidas é cumprir a obra do Espírito, que é pregar o evangelho da água e do Espírito. Esse é o centro da vida cristã: Deus habita em nós na pessoa do Espírito. Em várias cartas, Paulo chama atenção sobre o perigo de existirem nas igrejas pessoas vivendo conforme as obras da carne. Essas pessoas causam discórdias, atrapalham o crescimento e dão péssimos testemunhos. Sendo assim, ele aconselha: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei.” (Gl 5.16-18).

O diálogo de Nicodemos com Jesus estende-se. Quase num último esforço, diante da incompreensão de Nicodemos, Jesus volta a dizer-lhe. Não te admiras. Você não o poderá compreender. Nem é necessário. Na natureza há também muitas coisas que você não compreende o vento por exemplo. O vento é uma realidade. Vemos a sua força, sua ação sopra onde quer, ouve-se o seu ruído, mas não se sabe donde vem.  Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito. (v.8), afirma Jesus. Nicodemos sente o impacto dessas palavras. No entanto, mesmo diante desta figura que Jesus usa, Nicodemos luta contra as palavras de Jesus. Ele não quer deixar afogar-se. Ele não quer morrer, não quer dar lugar ao Espírito.

Nicodemos necessitava de uma mudança em seu coração, uma transformação espiritual. De fato, a mudança também deve acontecer em nosso interior.  É preciso tirar tudo o que está estragado e colocar algo novo em nossa vida. Esta mudança em nosso coração apenas o Espírito Santo é capaz de realizar.  “Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. O Espírito Santo é que nos converte, regenera e arranca o nosso “coração de pedra” e coloca um coração cheio de fé, amor, bondade e compaixão. Então, sim, teremos paz com Deus. E tendo paz com Deus, seremos criaturas felizes e alegres. E já nenhuma tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada nos separara do amor de Deus. Com o coração purificado, saberemos amar a Deus e nele permanecer fiéis até a morte. Saberemos andar em seus estatutos, guardar e observar a sua palavra, e poder estar em constante comunhão com o nosso Deus.

Com muito amor Jesus revela o plano da salvação, diante da pergunta que Nicodemos fez: “Como pode suceder isso?” (v.9). Primeiro Jesus exemplifica que aconteceu no deserto no tempo de Moisés: “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, da mesma forma importa que o Filho do homem seja levantado…” (v.14). Esse episódio aponta diretamente para Cristo. A imagem suspensa da serpente de metal faz-nos lembrar do sacrifício de Jesus Cristo realizado na cruz. A imagem da serpente de bronze apresenta-se como prefigura da ação redentora de Jesus Cristo na cruz. E não há outra salvação para os homens, senão olhar para a verdadeira serpente de bronze, Jesus Cristo crucificado. Qual o objetivo deste sacrifício? Para que todo que nele crê tenha a vida eterna (v.15). Este é o reino de Deus, a vida eterna. Daí a importância de “nascer de novo”.

Respondendo à pergunta de Nicodemos, podemos afirmar que só pela obra salvadora de Jesus Cristo, levantado e glorificado na cruz, é que se pode experimentar o novo nascimento, entrar na vida eterna, ver o Reino de Deus. Portanto, o nosso olhar deve estar voltado para aquele que assumiu todos os nossos pecados e fracassos para que pudéssemos ser perdoados. Para aquele que sofreu a morte para que nós tivéssemos vida e salvação na cruz. Por isso, olhemos para Jesus, pois Dele vem o amor, a fortaleza e a salvação. Olhemos para Jesus na cruz, pois Jesus tem algo a nos dizer, há um lugar para você no coração de Deus. Você sempre pode voltar. Deus te aceitará de volta e te conduzirá pela estrada da vida. Ele afirma: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (v.16).Após esta mensagem de Jesus a Nicodemos, Ele,agora, reforça a sua missão salvadora, afirmando que Ele veio ao mundo para salvar, e não para condenar. Não era levar os homens a um julgamento, mas sim à salvação : “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (v.17). 

Prezados irmãos! Na vida de Nicodemos aconteceu o novo nascimento. Mais tarde vamos encontrá-lo defendendo Jesus diante do Sinédrio e por ocasião do sepultamento, ajudou a descer o corpo de Jesus da Cruz. Faça como Nicodemos. Deixe que o Espírito Santo faça você nascer de novo. Deixe renovar seu coração, seu espírito, e com toda a certeza você terá uma feliz e abençoada vida com a presença do Senhor Jesus em tua casa, família e na vida profissional. Amém.

 

 

 

 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

 TEXTO: SL121

TEMAO MEU SOCORRO VEM DO SENHOR

O salmo 121 é um “cântico de degraus” ou um “cântico para a romagem” ou ainda “cântico de peregrinação”. Ele faz parte de um pequeno hinário cantado pelo povo de Israel, quando da sua ida às festas em Jerusalém. O salmista, neste texto, nos relata o momento da saída dos peregrinos de seus lares a fim de seguir sua jornada até Jerusalém, para participarem das três festas religiosas anuais, a saber: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculo. Durante a viagem em condições precárias em direção à Jerusalém, lugar de adoração e sacrifício a Deus, os peregrinos cantavam. Demonstravam confiança em Deus. Exaltavam ao Senhor como o protetor nos momentos de dificuldades. Em certo sentido, esse era um momento alegre.

Mas também era uma ocasião de preocupação e aflição, pois esses viajantes teriam de deixar seus lares desprotegidos e suas famílias, além do seu patrimônio. O perigo de sair de casa não era somente para quem ficava, mas também para os viajantes. As estradas por onde os peregrinos passariam eram visadas por ladrões, com inúmeros esconderijos e locais para emboscadas. Sendo assim, o salmista busca proteção no Senhor e põe nele sua confiança desde sua saída até seu retorno. Somente Deus podia protegê-los e garantir uma jornada segura aos peregrinos.

A circunstância em que se encontrava o salmista, também tem sido a nossa situação. A vida do cristão é comparada a uma jornada. Somo peregrinos neste mundo, e estamos a caminho da nova Jerusalém. Muitos são os perigos nesta jornada. São tantas as dificuldades que temos que enfrentar, mas Deus é o nosso socorro. É justamente do próprio Deus que vem o socorro, aquele que pode nos socorrer que tem poder para mudar a situação das nossas vidas, pois a nossa proteção vem do Senhor.

                                                             I

O salmista inicia, dizendo: “Elevo os olhos para os montes” (v.1a). É uma oração em busca de ajuda, pois o salmista se vê impotente para chegar ao seu destino em segurança por seus meios próprios. Por isso, ele busca por um protetor. Aliás, o fato de Davi ter olhado para "os montes", foi para pensar num possível socorro, numa possível solução para seus problemas. Pode ser que o salmista estava procurando nos montes, quem pudesse oferecer o socorro. Assim, o Deus poderoso que vem do alto, de cima dos montes, poderia ser o que o salmista buscava com sua visão. Sendo assim, ao se deparar diante de perigos e dificuldades, olhou para dentro de si e chegou a uma questão importante: “de onde me virá o socorro?” (v.1b). Onde posso encontrar ajuda? Ele não encontra socorro nos montes. Não é dos montes que ele espera o auxílio. Não seria nos montes que os peregrinos encontrariam ajuda, diante das dificuldades que enfrentariam durante a viagem. Por mais elevado que fosse um monte, dele não poderia vir o esperado socorro.

Também precisamos de ajuda, auxílio, socorro, pois enfrentamos situações difíceis na família, na saúde, no trabalho, no casamento, no relacionamento com pessoas. Nessas horas, costumamos recorrer aos amigos, parentes, irmãos na fé, etc. Mas estes, algumas vezes, por certas razões, não conseguem nos ajudar. Ficamos desesperados e olhamos ao redor e formulamos a mesma pergunta: De onde virá o meu socorro? Para muitas pessoas o socorro vem do mundo e das pessoas; outras procuram nas vãs filosofias, no dinheiro e nos vícios; também têm aquelas que procuram olhar para dentro de seu interior, procurando respostas para seus problemas, ao invés de buscar ajuda no próprio Deus. 

Nesses momentos devemos recorrer ao nosso Senhor e Salvador que Ele nos dará o socorro esperado. Somente o nosso Senhor é capaz de nos tirar das situações difíceis e atender ao nosso pedido de socorro. Foi o que fez Davi. Depois de pensar coerentemente nas possíveis soluções para os seus problemas, Davi chega a uma conclusão magnífica. Ele encontrou uma resposta: "O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra” (v.2). O clamor provém de quem já conhece Deus. Reconhece que Deus “fez a terra”. Ele associa Deus ao ato da criação. Aquele que nos criou também nos sustenta. Ele nos conhece. Cuida e está pronto a nos ajudar. Esse era o seu protetor: o Deus onipotente e soberano.

                                                                  II

Davi confiava nas promessas do Deus onipotente e soberano, o Senhor que fez o céu e a terra. Nessa confiança e com toda a sua convicção, ele afirmaO Senhor não permitirá que os teus pés vacilem.” (v.3a). Esta promessa está firmada na confiança da soberania de Deus. Ele expressa essa confiança para si e transmite aos peregrinos ao afirmar: aquele que tem a firme convicção na confiança no Senhor, os pés não vacilam. O termo traduzido por “vacilar” significa “escorregar, derrapar, cambalear, ser abalado”.  Os peregrinos que subiam os degraus poderiam cair e sofrer uma fratura, ao andar pelos caminhos pedregosos que tinham que percorrer. Mas o Senhor não permitia o tropeçar dos seus pés. Só Deus pode fazer com que nossos pés não fraquejem, não vacilem. Só Deus pode nos firmar em momentos tão difíceis pelos quais temos passado. Nenhum filho de Deus permaneceria de pé, por um momento sequer, diante de abismos, armadilhas, fraquezas físicas e inimigos sutis, se não fosse por causa do fiel amor de Deus, que não permitirá que os pés de seus filhos vacilem. 

Mas o pedido para que seus pés não tropeçassem não era suficiente, pois a preocupação preenchia o longo e demorado percurso. Por isso, comparando o Senhor a uma sentinela, o pedido é que sua proteção fosse constante, não intermitente como acontece a guardas humanos que têm de repousar. Diferente é o Senhor: “não dormitará aquele que te guarda.” (v.3b). O verbo “guardar” – e o substantivo “guarda”, tem o sentido de proteger é usado seis vezes neste salmo. Observa-se que o cuidado é oferecido pelo Senhor: “Por certo o guarda de Israel não dorme” (v.4). O Guarda de Israel é quem cuidará para que não haja tropeço. Ele não dorme. Ele não permite que os seus filhos desviem de seu caminho. Ele não dormirá em nossa defesa, pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).

                                                            III

 Deus está próximo de seu povo e demonstra o seu cuidado. Ele é o protetor: “O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita.” (v.5). Deus acompanha os peregrinos, não os deixa, não os desampara. Eles sabiam que o Senhor os acompanharia como se fosse suas próprias sombras, lado a lado em toda jornada. O cuidado se daria em todos os sentidos: “De dia não te molestará o sol, nem de noite, a lua. (v.6). Os peregrinos estavam conscientes que tinham que andar pelos caminhos pedregosos. Mas também tinham que enfrentar durante o dia o sol escaldante é ameaçador à insolação e queimaduras. Já à noite, a queda brusca de temperatura também era desconfortável e prejudicial à saúde. É mais plausível que o salmista esteja citando os termos sol e a lua como figuras do dia e da noite, demonstrando assim que Ele os livraria dos perigos do dia e da noite.

Todos nós passamos em nossa vida por momentos difíceis, por problemas, situações desagradáveis que tiram a nossa paz, pois nossa caminhada é feita em meio a curvas, buracos e pedras. Os nossos caminhos são feitos de obstáculos, como pedras, pedregulhos, ressaltos. Essas situações nos levam a buscar uma solução, um socorro que possa nos trazer alívio, paz e vitória. As pessoas costumam procurar em diversos lugares esse socorro. Buscam por pessoas ou coisas que possam socorrê-las, mas quase sempre não o encontram, pois o socorro verdadeiro não existe onde estão procurando. O socorro eficaz está em Deus. Ele está sempre atento, e nos guarda, pois o nosso socorro vem do Senhor.

Enfim, podemos entender que estamos sob os cuidados amorosos de nosso Pai. Ele diz de maneira mais clara: O Senhor te guardará de todo mal. Ele guardará a tua alma” (v.7). A expressão “todo mal” refere-se algo que poderia prejudicar a nossa vida, ou daquilo que pode nos fazer mal para nossa vida. Por isso, não precisamos temer a vida nem a morte; o dia de hoje nem o amanhã; o tempo nem a eternidade, pois o Senhor cuidará daqueles que lhe pertencem. Quer durante o dia ou à noite, no calor ou no frio, a presença do Senhor supre tudo de que precisamos. Não precisamos temer os ataques repentinos em momento algum do dia, pois estamos protegidos “à sombra do Onipotente” (Sl 91). Além disso: “O Senhor guardará a saída e a entrada.” (v.8a). O salmista está se referindo ao percurso total da jornada dos peregrinos, desde a “saída” de casa, até seu retorno. Nossa vida no dia a dia é feita de saídas e chegadas. Durante esse percurso da nossa vida Deus nos acompanha em todos os momentos, desde quando saímos de casa até quando voltamos em segurança. O cuidado de Deus que se mostra tão evidente que o socorro será "para sempre" jamais terá um ponto final.

 Estimados irmãos! Deus conhece muito bem os caminhos pelo qual teremos que trilhar para alcançar o propósito que Ele projetou para nossas vidas, o mais importante é saber que o nosso socorro vem do Senhor, e que Ele continua guardando a nossa entrada, a nossa saída desde agora e para todo sempre. Amém!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

 

TEXTO: MT 4.1-11

TEMA: JESUS NOS ENSINA A VENCER AS TENTAÇÕES

No próximo fim de semana, vamos celebrar o Primeiro Domingo na Quaresma. A palavra quaresma vem do latim, quadragesima dies (o dia quadragésimo, antes da Páscoa).  É um período de 40 dias. Ele começa na quarta-feira de cinzas e termina na quinta-feira da Semana Santa, ou seis semanas que antecedem a páscoa. É um tempo litúrgico de arrependimento, de reflexão e reconhecimento da obra redentora do Salvador Jesus Cristo. A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. Dentro deste contexto, iniciamos o período de quaresma, refletindo sobre a tentação de Jesus no deserto. O texto para nossa meditação encontra-se no evangelho de Mt 4.1-11. O nosso tema: Jesus nos ensina a vencer as tentações.

Estimados irmãos! Constantemente, passamos por muitas tentações. O diabo nos tenta de diversas maneiras e procura nos desviar da fé no Salvador Jesus. Nenhum filho de Deus está livre das artimanhas e tentações do diabo. Mas como podemos vencê-las? Mateus apresenta dois momentos em que Jesus nos ensina a vencer as tentações do diabo: Primeiro Jesus venceu o diabo com jejum. Foram 40 dias e 40 noites jejuando. Ele sabia que era uma forma de renovar as forças para enfrentar a difícil batalha que tinha pela frente. Outra arma que Jesus usou para vencer a tentação é a Palavra.  Procurou defender-se unicamente através da Palavra de Deus, pois conhecia muito bem as Escrituras. Ele usou a Palavra de Deus com eficácia, para dar um fim às tentações.

O evangelista afirma que Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, onde seria tentado, ou seja, seria colocado à prova. Iniciaria uma batalha notável, notável porque Deus havia preparado esse encontro. Mas qual foi a causa desta luta? Qual a finalidade? A causa é o pecado. A separação entre Deus e os homens. Por isso, Cristo luta com o diabo. Ele veio destruir o trabalho do diabo. Claro, não seria necessário se nós não tivéssemos caído em pecado. Neste primeiro encontro, Jesus vence. Mais tarde, Ele derrotou o diabo, definitivamente, quando na cruz, Ele disse: “Está consumado”. A grande obra da Salvação da humanidade estava terminando. Após a sua ressurreição desceu ao inferno, para anunciar a sua vitória sobre o diabo.

Mas antes de iniciar esse confronto, Jesus havia jejuado durante 40 dias e 40 noites. (v.2). O mesmo ocorreu com Moisés que jejuou por quarenta dias, antes de receber, no Monte Sinai, as sagradas Tábuas da Lei, diretamente de Deus.  Moisés preparou-se, espiritualmente, para aquele importantíssimo evento, porque iria encontrar-se com a manifestação do Altíssimo. Elias jejuou por quarenta dias, antes de subir ao monte Horeb, no qual o Senhor Deus manifestou-se. (I Reis. 19.8), E também com Daniel que foi lançado na cova de leões famintos, porém, surpreendentemente, não foi atacado, porque orava e jejuava constantemente. Quando estes personagens jejuavam ou gastavam noites em oração, voltavam desses períodos mais fortalecidos do que antes, mais dispostos. Eles foram verdadeiramente sustentados pelo poder do Senhor.

Em muitas ocasiões especiais o jejum também foi praticado por Jesus e foi um recurso fundamental para que Ele se saísse vitorioso em todos os confrontos com as hostes satânicas.  Ao jejuar Jesus demonstrava que estava ligado à oração e comunhão com o Pai, demonstrava como um meio para vencer os ataques do diabo. Ao jejuar buscava uma comunhão mais íntima, em estado de humildade e submissão ao Pai. Enfim, este encontro foi um momento de reflexão em preparação o que estava por vir. Como você tem enfrentado as suas lutas e provações? Tem usado esta ferramenta poderosa?

Quando o diabo percebeu que Jesus encontrava-se muito debilitado, extremamente faminto, afinal estava há 40 dias sem comer, ele sabia que era o momento de investir contra Jesus. Então, o diabo disse: “Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.” (v.3). O diabo prepara uma estratégia para vencer Jesus no primeiro encontro. Seu desejo era semear dúvidas, promovendo a incerteza e a fraqueza na vida de Jesus. O que o diabo queria, era fazer com que Jesus duvidasse de sua verdadeira identidade: Que tal apresentar uma prova de que você é realmente Filho de Deus? Que tal transformar estas pedras em pão?

Jesus tinha grande oportunidade de provar seu poder, sua divindade e satisfazer suas necessidades. Mas Cristo não obedece ao diabo. Antes pelo contrário, ele responde ao diabo com a Palavra de Deus: “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” (v.4). Interessante que Jesus busca como base a Palavra de Deus escrita no AT. (Deuteronômio 8.3). Estas palavras fazem parte da exortação aos israelitas no deserto. Eles tinham que sempre lembrar das bênçãos do Senhor durante a peregrinação. Lembrar que era a palavra de Deus que matinha os vivos e não o pão diário que vinha pelo maná. Esta verdade, Jesus mostra ao diabo de que o homem não vive apenas do pão, de alimento, mas da palavra que vem da boca de Deus. E esta torna-se importante na vida do cristão.

Mas o que representa o pão? O pão é o alimento básico de muitos povos. Representa a comida essencial que dá sustendo à vida. Mas quando Jesus fala “Não só de pão viverá o homem”, Ele não estava aqui menosprezando as necessidades físicas de alimento. Ele usou estas palavras para salientar que a verdadeira vida não resulta do bem-estar material ou de um pedaço de pão, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus, que é o poder sustentador de toda a vida. Lembrando sempre que é a Palavra de Deus que nos dá a força para enfrentar as realidades e dificuldades da vida, que nos dá estabilidade, que nos dá segurança e garantia, que nos traz clareza e compreensão em momentos de perplexidade e confusão, que nos traz a mensagem de paz, que nos dá conforto e tranquilidade nos momentos de dor e aflição, que dá paz e sossego dentro de nosso coração. Enfim, que nos dá esperança e garantia da assistência e presença de Deus.

Foi justamente através da Palavra de Deus que Jesus procurou defender-se contra os ataques do diabo, dizendo: “Está escrito”. Ele sempre usou o “Está escrito” para vencer os fariseus e saduceus. É na Palavra de Deus que os cristãos das catacumbas, da Idade Média, encontraram luz para os seus caminhos. É na Palavra de Deus que Lutero tornou-se o reformador da Igreja cristã. Por isso, precisamos entender que a Palavra de Deus é fundamental na vida do cristão. Lembre-se que nós vivemos de toda palavra que procede da boca de Deus. (Mt 4.3). No entanto, muitas pessoas têm desprezado a Palavra de Deus.  Têm perdido a vontade de buscar as coisas lá do alto, aquilo que permanece para sempre. Têm perdido a vontade de orar, ler a Bíblia, cantar louvores, glorificar a Jesus Cristo. Na verdade, há um grande interesse do homem pelos bens materiais e riquezas que o impede de ouvir a Palavra de Deus. O jovem rico é um exemplo. (Mc 10.17-22). Existia algo que estava prendendo a este mundo passageiro: as suas riquezas. Dominavam e o impediam de ter de fato um encontro com o Deus. Cristo lembra que não só de pão vive o homem. Mesmo que seja necessário para nosso corpo, não é o mais importante, mas, sim, a Palavra de Deus. Quando colocamos esta Palavra em primeiro lugar, Deus promete suprir todas as necessidades materiais. Ele não abandona seus filhos.

No entanto, o diabo tinha outros planos. Ele se prepara para outra tentativa para derrotar Jesus. Ele, agora, levou Jesus à Cidade Santa, e o colocou sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira-te abaixo.” (v.6a). Uma ótima oportunidade para Jesus mostrar o seu poder e conquistar as pessoas. Era justamente desta forma que o diabo queria, que Jesus ganhasse o povo, não através da sua mensagem, da pregação da Palavra, mas através de espetáculo. E para que ocorresse este espetáculo, o diabo usa todo o seu sarcasmo: Filho, não é nada fácil você hoje convencer alguém a aceitar que você foi realmente enviado por Deus. Se eu fosse você, faria algo sensacional aqui, quem sabe, lançar-se do alto do pináculo do templo, pois está escrito que anjos vão te proteger: “Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.” (v.6 b).

O Senhor Jesus olhou para baixo para as ruas de Jerusalém, sempre havia grandes multidões junto ao templo. Se Jesus pulasse e não se machucasse, seria uma prova que Deus o protegia. Era uma ideia tentadora, mas não era o caminho de Deus para o seu Filho. Por isso, Jesus recusa ao dizer que as Escrituras também dizem: Respondeu-lhe Jesus: “Não tentarás o Senhor, teu Deus.” (v.7). Novamente Jesus usa as Escrituras como meio de defesa contra o diabo. É uma clara exortação de que não devemos tentar ao Senhor. Mas o que significa tentar a Deus? Tentar a Deus é duvidar da Palavra de Deus, questionar a sua fidelidade e promessas. colocar à prova o Seu poder e sabedoria.

Ainda assim, o diabo não desiste facilmente. Não se deu por vencido. Faz um último esforço, apesar de já estar amplamente vencido pelo Salvador. Ele leva Jesus a um monte alto e mostra-lhe os reinos do mundo e a glória dele, e oferece ao Senhor o domínio sobre estes reinos: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.” (v.9). O tentador oferece entregar o domínio dos reinos do mundo a Jesus. Mas havia uma condição: “se prostrado me adorares.” A proposta do diabo não tem sentido! Estava oferecendo algo que não lhe pertence. Deus é o criador de toda a terra. Tudo lhe pertencem. Ele é dono de todas as coisas e tem o controle de tudo. Na verdade, o diabo usou da mentira para fazer com que Jesus desistisse do plano de Deus para a salvação da humanidade. Ofereceu um atalho ao Messias para evitar a Sua morte e crucificação. Seria algo trágico se isto acontecesse, pois a missão de Cristo seria realizada através de sofrimento. Devia enfrentar dores, privações, lutas e morte. Devia carregar sobre Si os pecados de todo o mundo. Mas Jesus, não cedeu, por amor a todos nós. Cristo foi firme e convicto na sua resposta: “Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto,"(v.10).

O diabo continua oferecendo muitas propostas neste mundo. Continua de forma sagaz trazendo propostas que aparentam serem boas aos olhos humanos. Mas, infelizmente, muitas pessoas ouvem “a voz do diabo”, e aceitam as suas propostas. E sem perceber, são enganadas pelas suas ofertas, e se tornam adoradores das propostas que ele oferece, propostas que conduzem à morte. Foi através de uma proposta mentirosa que ele enganou Adão e Eva, que não acreditaram na verdade e cometeram pecado. A verdade é que as pessoas abrem mão com facilidade das coisas maravilhosas que Deus nos deu: fé, esperança, amor, família e trocam por dinheiro, fama, riquezas materiais, orgias e prazeres deste mundo. Mas devemos em todo o tempo dizer não para as propostas do diabo.

Jesus venceu as tentações do diabo. Agora, Ele ordena: “Retira-te, Satanás.” Então, vieram anjos bons e serviram a Jesus. Ele venceu aquela batalha, e continuou derrotando diabo durante Seu ministério, culminando com sua vitória final na cruz. Mas como podemos vencer o diabo? Só podemos vencer o diabo no momento em que seguimos os passos de Cristo. Ele venceu através da Palavra de Deus. Procurou defender-se unicamente com a Palavra de Deus, pois conhecia muito bem as Escrituras. Assim, deveríamos nós também usar a Palavra de Deus, que é a espada do Espírito, para se defender contra o diabo. Então, podemos dizer como Paulo: “Revesti-vos de toda armadura de Deus para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo.” (Ef 6.11). E foi com esta armadura de Deus e com argumentação “está escrito”, que Lutero tornou-se o reformador da Igreja Cristã. Ele examinou a palavra, revestiu-se dela e aprendeu a manejá-la com destreza.

Estimados irmãos! Ao sermos tentados, temos a certeza que com Cristo podemos resistir, pois a grande guerra já foi ganha pelo Senhor e Salvador. Ele venceu as tentações do diabo. Ele nos ensina como vencê-las. O que nós queremos é lutar contra o diabo. Renunciar o diabo e todas as suas obras e caminhos. Por isso, deixe que o Espírito Santo dirija sua vida, jejue, conheça e use a Palavra de Deus; vigie e ore. Estejamos preparados! Amém.

 

 TEXTO: SL 32

TEMA: É FELIZ AQUELE QUE CONFESSA SEUS PECADOS

O salmo 32 foi escrito após Davi ter cometido grave pecado com Bate-Seba. É um salmo de arrependimento, confissão, perdão, reconciliação. É um testemunho de Davi do perdão que recebeu mediante sua confissão de pecados e dos efeitos que o perdão divino teve sobre sua vida. Ele experimentou a alegria da reconciliação! Tornou-se um homem feliz e abençoado por Deus.

Mas quem é o homem feliz? O homem feliz é o homem que foi perdoado.  Aquele a quem Deus encobre o pecado, não querendo ver, recordar ou conhecê-lo. Ele torna-se feliz porque seus pecados foram apagados e nada mais existe para condená-lo. Ora, se não há mais transgressão, pecado, iniquidade e engano, o homem está liberto e será realmente feliz. Esta é a verdadeira felicidade de que nos fala a Bíblia.

Portanto, todos nós precisamos pedir perdão a Deus pelos nossos pecados e quando o fazemos sentimos a alegria de sermos perdoados e reconciliados! Através de Jesus, temos a certeza de que "se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar..." (I João 1.9). Por isso, a verdadeira felicidade do cristão, a sua maior alegria e consolo é receber de Deus o perdão dos seus pecados.

                                                              I

Davi ressalta que as suas transgressões e os seus pecados foram perdoados e que, portanto, poderia ser feliz. Assim, ele finalmente pôde dizer com toda confiança: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não atribui iniquidade, e em cujo espírito não há dolo”. (vv.1e2). Interessante que nestes dois versículos, o salmista apresenta quatro palavras que descrevem a sua situação: a primeira palavra é transgressão, que significa rebelião contra as leis de Deus; a outra palavra pecado, que significa uma ofensa a Deus; a terceira palavra é iniquidade, que quer dizer perversidade, injustiça. E temos a quarta palavra que é dolo, ou engano que significa traição. O estudo dessas palavras reflete a profundidade do seu pecado diante de Deus.

Ao pecar contra Deus, Davi havia cometido rebelião, pois praticou aquilo que lhe era proibido. Ele rompeu com o SENHOR.  Ele pecou, errou o alvo, se desviou do centro da vontade de Deus, deixando de fazer o que lhe era agradável. Mas, agora, ele celebra e partilha com outros a sua alegria. Ele é um homem feliz, pois a sua transgressão foi perdoada. É feliz porque, embora, tenha se rebelado, desobedecido e se afastado de Deus, o SENHOR ainda ofereceu Seu gracioso perdão. Como Deus é rico em perdoar! Aceita o pecador arrependido! Movido por Sua imensa misericórdia, Deus perdoa, apaga, esquece e cancela os nossos pecados.

Mas vamos entender toda a trajetória da vida do salmista! Ela começa quando o salmista confessa a situação que vivia diante do pecado. O texto revela que ele vivia aflito: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia” (v.3). Esse silêncio significa ausência de confissão do pecado. Entretanto, se Davi guardou silêncio sobre o pecado, o próprio pecado, por sua vez, gritava em seu interior e o fazia sofrer diariamente. Ele chorava e se lamentava “todos os dias” a ponto de sentir seu corpo fraco e debilitado, diante dos efeitos do seu mau procedimento. Ele descreve, como se seus ossos sofressem um desgaste. É um preço muito alto para esconder a sua iniquidade! Na verdade, Davi estava com a consciência pesada, ele afirma: “Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim; e o meu vigor se tornou em sequidão de estio” (v.4). Sendo assim, já não suportava mais, não conseguia dormir, não conseguia se alimentar, não tinha mais alegria em seu coração.

A vida de Davi foi marcada por uma má escolha que o levou a cair em pecado. O pecado lhe trouxe tanta amargura, tristeza e agonia. Ele entrou em pânico e desespero com receio de ter sido abandonado por Deus. Era a lembrança da culpa que tanto o atormentava, mas que lhe parecia ser a mão de Deus, porque era Deus mesmo que conservava essa memória diante dele. E diante desta situação, perdeu as forças vitais, e se sentiu em sequidão. Mas diante de seu pecado, havia um caminho para Davi: o perdão. E o ponto de partida é o arrependimento. Ele sabe que só Deus pode restaurar a sua vida. Ele sabe que Deus é benigno, misericordioso e perdoador. Davi sabe que Deus não rejeita quem tem o coração quebrantado. Por isso, ele pede perdão a Deus, uma vez que a sua situação chegou ao extremo e se tornou insustentável. No salmo 51, Davi demonstra todo o seu sofrimento. Este salmo é o registro da agonia da alma de Davi, após o seu terrível crime de adultério e assassinato.

                                                                     II

Que situação horrível estava vivendo Davi. Talvez muitos estejam nesta situação neste momento. O que precisamos fazer é chorar pelos nossos pecados. Afinal, todos nós já choramos motivados por alguma coisa ou acontecimento nesta vida. Mas por que devemos chorar continuamente por nossos pecados? Porque ainda somos pecadores e, por isso, a Bíblia nos recomenda a fazê-lo. O apóstolo Tiago encoraja os crentes a chorar por seus pecados dizendo: (Tg 4.8-10).  O próprio Senhor Jesus chorou pelo pecado. Chorou diante do túmulo do seu amigo Lázaro (Jo 11.35). Não simplesmente por seu amigo ter falecido porque ele sabia que estava lá para ressuscitá-lo, mas porque estava diante da terrível consequência do pecado: a morte. Ele também chorou diante da cidade de Jerusalém por causa do sofrimento que viria sobre ela por tê-lo rejeitado como o Cristo (Lc 19.41-44). Este mesmo que chorou pelos pecados, proferiu as seguintes palavras: “Felizes os que choram". E acrescentou a promessa: “... porque eles serão consolados”! Essa é a razão da felicidade dos que choram por seus pecados.

Davi confessa a Deus seu pecado: “Confessei a ti o meu pecado” (v.5a). Diante disso, Deus poderia castigá-lo. Mas Deus demonstrou seu grande amor. Ele foi realmente perdoado. Tão logo confessou o seu pecado ao Senhor, Davi pode dizer: “… tu perdoaste a maldade do meu pecado” (v.5b). A tumultuada vida que vivia, dá lugar a bonança gerada pela certeza do perdão divino. Pelo jeito, não foi apenas a culpa que Deus levou, mas os próprios efeitos dela sobre a vida de Davi, fazendo com que, junto com o perdão, viessem também o alívio e o bem-estar.  Perdoados e justificados pela fé temos paz com Deus, (Rm 5.1). Lemos em Provérbios 28 13: “O que encobre as suas transgressões, nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Pv 28.13).

Quantas vezes, nós não agimos assim? Falhamos, mas não queremos assumir os nossos erros! Muitos tentam encobrir os seus erros e pecados resistindo à voz da sua própria consciência, cauterizando a sua mente, entregando-se ao domínio do pecado. Riem e se divertem com o pecado. Lembrem-se aqueles que não se arrependem, não receberão o consolo de Deus, mas haverão de lamentar e chorar por toda a eternidade no inferno, um lugar de tormentos onde só haverá choro e ranger de dentes. Mas ainda há tempo! Ele nos convida, pois somente em Cristo há consolo e esperança para o pecador arrependido, que chora amargamente por seus pecados. Ele mesmo nos prometeu: “Felizes os que choram, porque serão consolados". Eis o momento oportuno da salvação. Cristo está chamando os pecadores ao arrependimento. Reconheçam seus pecados! Chorem por eles! Abandonem os e venham a mim, pois eu posso dar o perdão, o consolo e a vida eterna, disse Jesus.

Davi foi perdoado e purificado pelo sangue do Filho de Deus. Agora, pode enxergava o que jamais via antes na sua incredulidade. Agora, pode se refugiar em Deus como o seu esconderijo diante das tribulações. Agora, Deus continuava a oferecer ao salmista a graça e misericórdia nos momentos de grandes calamidades: “quando transbordarem muitas águas, não o atingirão”. (v.6) Sendo assim, o salmista estava preparado para enfrentar as anormalidades desta vida. Quantas bênçãos maravilhosas recebemos do SENHOR, decorrentes do perdão! Deus promete abrigo seguro, junto àquele que anda em retidão na sua presença. Davi disse: “Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento.” (v.7). Trata-se de uma atitude de produzir cantos alegres em louvor a Deus por uma obra de libertação. Davi passou da lamúria à exultação. Ele não se sente mais como um servo ingrato e rebelde, mas como um filho amado pelo Pai.

                                                                         III

O salmista Davi apresenta a vida feliz do homem perdoado. Então, vejamos: Primeiro, a vida feliz é uma vida de instrução. “Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho” (v.8). Davi, agora, está pronto para receber instrução do Senhor, pois sabia da dor de estar contaminado pelo pecado e do alivio que veio de Deus, através do arrependimento. E o mais surpreendente nesse processo é que a ação de instruir e guiar, fator fundamental para a santificação da vida do pecador, é uma iniciativa do próprio Deus. Ele é quem, tomando o servo pela mão, o conduz no caminho correto, conforme as Escrituras. Deus também nos diz: “Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir!” Os filhos de Deus recebem instrução e orientação do caminho que devem seguir, ou nos adverte dos perigos do caminho errado.

Segundo, a vida feliz é uma vida de obediência: “Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem. (v.9). Cavalo e mula. Duas figuras interessantes. Davi nos aconselha que não devemos imitar o comportamento dos animais, que tem muita força, mas só obedecem por causa do freio e cabresto. O cabresto é uma corda com o formato da cara da mula que se coloca na cabeça para puxá-la e o freio é uma peça de metal que vai presa na boca do animal. Só obedecem por meio de força e da dor. A palavra-chave é "obedecem". Os animais obedecem apenas quando são dominados por freios e cabrestos. Davi nos mostra que devemos ser obedientes de coração sem precisar de castigos ou ameaças. Uma pessoa que foi perdoada é feliz obedece voluntariamente, sem constrangimento, sem obrigação. Os cristãos sabem que a Lei de Deus foi dada para ser obedecida e não para ser discutida e negada. Eles obedecem aos mandamentos de Deus. São conduzidos pela voz interior da mente de Cristo que nele habita (1Co 2.13).

Terceiro, a vida feliz é uma vida de confiança. “Muito sofrimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no SENHOR, a misericórdia o assistirá “(v.10). É extremamente confortador saber que, numa época quando as instituições seculares estão fracassando e as promessas humanas falhando cada vez mais, podemos depositar toda a nossa confiança no Deus eterno, pronto a cumprir a sua palavra fielmente. Nossa confiança será depositada no Senhor que é cheio de misericórdia. Essa será o caminho da pessoa que foi perdoada e é feliz: ela viverá sempre confiando em Deus, não importam as circunstâncias. Na alegria, na provação, na dor, sempre pode confiar que Deus o ajudará e nunca será desamparado. A vida do ímpio será de sofrimento sem escape, mas a vida do justo será de confiança, misericórdia e consequentemente gratidão.

Finalmente, a vida feliz é cheia de alegria. “Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração” (v. 11).  Há três verbos, que fecham o salmo com chave de ouro: alegrai-vos, regozijai-vos e exultai. Este é o convite, é o imperativo que nos indica como será a vida feliz da pessoa que foi perdoada. Como disse o apóstolo Paulo, repetindo estas palavras: "Alegrai-vos no Senhor, outra vez vos digo: alegrai-vos”. Depois de tudo o que se passou na vida, de como ele foi perdoado e transformado, só pode ser esta a sua vida: alegria, regozijo e felicidade.

Estimados irmãos! Busquem a Deus e confessem seus pecados. Façam como Davi! E sejam feliz! Amém!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

 

TEXTO: MT 17.1-9

TEMA: SENHOR É BOM ESTARMOS AQUI!

Hoje a Igreja celebra a festa da Transfiguração do Senhor. Esta festa remonta ao século V, no Oriente. Era celebrada em diferentes datas, até que o papa Calisto III elevou a festa à comemoração de toda a Igreja universal. O episódio foi relatado pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. Presentes estavam os apóstolos Pedro, João e Tiago, quando Jesus transfigurou-se diante deles. Momento em que Cristo antecipou a Sua glória, àqueles que Ele havia escolhido para continuar a Sua missão salvífica, ao manifestar-se aos discípulos, que Ele era realmente o Filho de Deus, enviado pelo Pai.

Os discípulos sentiram-se maravilhosamente bem na presença do Salvador glorificado. Viram e sentiram um ambiente celestial. Era um mundo diferente, um gozo, uma alegria inexplicável. Pedro expressa este momento em palavras, dizendo: “Senhor, bom é estarmos aqui”. Também em nossa vida há momentos em que podemos exclamar: “Como é bom estarmos aqui!”, onde tudo irradia luz, felicidade e alegria, onde o coração é inundado de paz e serenidade.Como é bom estarmos aqui”, viver dentro da igreja onde Jesus revela a sua glória através da Palavra de Deus. É aqui que Jesus se apresenta como Filho de Deus e nosso Salvador. É aqui que Jesus nos perdoa todos os nossos pecados. É aqui na igreja que Jesus nos ampara, consola e anima. Aqui é o lugar onde podemos compartilhar momentos de louvor. Você sente-se bem aqui na Casa do Senhor?

                                                                 I

Estava se aproximando o momento do Filho de Deus deixar este mundo. Ele precisava passar pelo caminho do sofrimento que o conduzia à Sua morte na cruz. O próprio Jesus mostra aos seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia. Mas antes desses acontecimentos, Jesus mantém um encontro com seus discípulos. O objetivo era fortalecer a fé dos discípulos, para que pudessem resistir a tudo o que teriam que experimentar na caminhada à Jerusalém, para que ficassem firmes, até serem revestidos com o poder do Espírito Santo, no dia de Pentecostes. O Senhor sabia que esses discípulos precisavam conhecer algo mais profundo. Sendo assim, o Senhor preparou esse momento para que os discípulos pudessem receber uma impressão mais profunda da sua pessoa.

Diante desta situação que Jesus haveria de enfrentar, Ele busca ajuda do Pai. Ele precisa escutar sua voz. Encontrar Nele o seu refúgio para poder continuar sua missão. Mas não vai sozinho. Ele escolhe três testemunhas: Pedro, Tiago e João. Os discípulos aceitaram o convite de Jesus e subiram ao monte com Ele. Em Lucas, o propósito está bem definido: subiu com eles ao monte, para orar. (Lc 9.28). Começou a orar a seu Pai, como o fizera tantas vezes em condições idênticas. Ele sempre se comunicou com o Pai. Um grande exemplo foi no jardim do Getsêmani quando Jesus orou ao Pai diante de seu sofrimento: "Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mt 26.39).

 Naquele momento, quando orava, foi transfigurado. O termo grego, μεταμορφόω (transfigurar), significa mudança de forma, outra forma, isto é, a sua aparência se transformou e a glória majestosa brilhou através de sua natureza humana: “O seu rosto resplandecia como o sol” (v.2a). Não era uma luz que vinha de fora. Mas era um brilho que transluzia em seu rosto que provinha de dentro. Mateus ainda afirma que “as suas vestes se tornaram branca como a luz.” (v.2b). Já o evangelista Lucas comenta ainda que suas vestes resplandeceram de brancura. Não era o branco como a neve, mas tratava-se de uma alvura e resplandecente. Era um branco que nenhum lavandeiro na terra os poderia alvejar, assim afirma Marcos. (Mc 9.3).

Junto com Jesus apareceram dois personagens Moisés e Elias: “E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele”.  (v.3). Eles estavam ali presentes e dialogavam a respeito da ida de Jesus à Jerusalém. Também são revestidos de glória. Simbolicamente, o aparecimento de Moisés e Elias representava a Lei e os Profetas. E perceptível nessa passagem que Moisés aparece como uma figura tipológica. Moisés como representante da Lei está falando da cruz de Cristo. De fato, Mateus procura mostrar isso quando põe em evidência o próprio Deus falando aqui: “A Ele ouvi” (v.5). Moisés havia dito exatamente estas palavras citadas nesse texto quando se referia ao Profeta que viria depois dele: “O Senhor, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás” (Dt 18.15). A transfiguração revela que Moisés tem seu tipo revelado em Jesus de Nazaré e que toda a lei apontava para Ele. Enquanto Moisés ocupa um papel tipológico no evento da transfiguração, Elias aparece em um contexto escatológico. Elias lembra o que vai ocorrer com o Senhor Jesus quando for crucificado. O texto de ML 4.5,6 apresenta Elias como o precursor do Messias vindouro. O Novo Testamento aplica a João Batista, o cumprimento dessa Escritura: “E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado” (Lc 1.17; Mt 11.14).

Este relato tem causado muitas interpretações. Alguns ensinam que Moisés estava ali em espírito. Elias, entretanto, como fora arrebatado, estava ali corporalmente; outros ensinam que Moisés havia ressuscitado e que estava ali ressurreto, juntamente com Elias; enfim, tem aqueles que ensinam que o episódio foi uma visão. No entanto, Marcos afirma que ambos (Moisés e Elias) falavam com Jesus. Logo, não eram espíritos. Era tão real a cena ali no monte que Pedro propôs construir três tendas. "Uma para Ti [para Cristo], outra para Moisés, e outra para Elias." (17.4). É inadmissível construir tenda para um espírito. Não se tratava de visão, sonho ou alucinação de Pedro, porque, quase quarenta anos depois, bem lúcido ainda, referia-se ao fato: "nós vimos a Sua glória" (2Pd. 1.16-18).

Os discípulos tiveram uma revelação, um conhecimento do Senhor Jesus que nunca podiam imaginar. Os três discípulos veem o céu aberto, não em sonho, não mediante arrebatamento ou visão, sim, ao natural. Eles viram a glória de Cristo e de seus dois convidados. E Pedro vendo por um instante abertas as portas dos céus, ouvindo a palestra de Jesus com Moisés e Elias, vendo a glória no rosto de Jesus que resplandecia como o sol e as suas vestes brancas como a luz, não sentia desejo de voltar para a pescaria no Mar da Galiléia nem para o trabalho missionário que tinha pela frente. Seu desejo era permanecer para sempre junto de Jesus na glória. Ele expressa em suas palavras: “Senhor, bom é estarmos aqui” (v.4). Pedro, ao apreciá-lo aquele momento indescritível, e talvez desejoso de não mais retornar, ofereceu-se para construir três tendas: uma para Jesus, outra para Moisés e a outra para Elias.

 Também em nossa vida há momentos em que podemos exclamar: “Como é bom estarmos aqui!”, onde tudo irradia luz, felicidade e alegria, onde o coração é inundado de paz e serenidade. “Como é bom estarmos aqui”, viver dentro da igreja onde Jesus revela a sua glória através da Palavra de Deus. É aqui que Jesus se apresenta como Filho de Deus e nosso Salvador. É aqui que Jesus nos perdoa todos os nossos pecados. É aqui na igreja que Jesus nos ampara, consola e anima.

                                                             II

A atitude de Pedro demonstra fraqueza. Era um homem de contrastes. Em Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?" Ele respondeu de imediato: "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo" (Mt 16.15-16). Logo após: "E Pedro chamando-o à parte, começou a reprová-lo..." Era característico de Pedro passar de um extremo ao outro. Ao tentar Jesus levar-lhes os pés no cenáculo, o imoderado discípulo exclamou: "Nunca me lavarás os pés." Jesus, porém, insistiu e Pedro disse: "Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça" (Jo 13.8,9). Na última noite que passaram juntos, ele disse a Jesus: "Ainda que todos se escandalizem, eu jamais!" (Mc 14.29). Entretanto, dentro de poucas horas, ele não somente negou a Jesus, mas praguejou (Mc 14.71).

Este temperamento volátil, imprevisível, muitas vezes, deixou Pedro em dificuldades. É justamente o que observamos em nosso texto. Deixou-se impressionar-se pelas luzes. Confundiu-se com as coisas que nos parecem espetaculares. Deu ênfase aos assuntos secundários. Interessante afirmação de Marcos: “não sabia o que dizer, por estarem eles aterrados (assombrados).” (MC 9.6). De fato, faltou compreensão do plano de Deus. Ele revela sua dissintonia com o Senhor.  Estava totalmente fora dos propósitos divinos.

Dessa forma, Pedro e todos os outros não receberam a resposta, pelo menos não da maneira desejada. A nuvem que os envolveu e a voz vindo do Pai, foi uma resposta vigorosa de Deus. A nuvem que apareceu de repente cortou a palavra de Pedro, que envolveu a todos. Mateus relata que a nuvem era luminosa, o símbolo da graciosa presença de Deus. Esta nuvem tinha a função de separar os discípulos daquele momento de glória e do mundo profano. E junto com a nuvem surge a voz de Deus, dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi.” (v.5). Estas palavras estão registradas no livro de Mateus em três momentos. O primeiro registro aparece no Batismo de Jesus. Logo após o batismo de Jesus os céus se abrem para Aquele que é digno de adoração. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. (Mt 3.17). O segundo registro aparece na confirmação do Seu propósito aqui na terra: “Eis aqui o meu servo, que escolhi o meu amado, em quem a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo aos gentios.” (Mt 12.17-18). O terceiro e último é o nosso texto.

 Aproximação da glória do Filho de Deus os encheu de medo. Mateus afirma que “caíram de bruços, tomados de grande medo”. (v.6). Lucas: “tomados de grande temor.” (9.34). O medo é natural para os discípulos. Eles eram pecadores. E diante da revelação de Deus, ficaram com medo. Medo da voz que vem do alto, pois é o Pai que fala em testemunho de seu Filho para que o mundo saiba sobre a obra de Jesus Cristo. Ele proclama o seu Filho como objeto da salvação à humanidade. Os discípulos ao ouvirem esta voz, despertaram daquele momento de glória. E agora, olhando ao redor, ainda assustados, não viam mais nada de cena empolgante. Desceram do monte e nada contaram a ninguém.

Estimados irmãos! Os discípulos tiveram uma revelação, um conhecimento do Senhor Jesus que nunca podiam imaginar. Viram o Senhor de uma maneira maravilhosa, preciosa. Tiveram o privilégio de vislumbrar algo da majestade de Deus. Como participante desta cena maravilhosa, os discípulos foram fortalecidos e desafiados a olhar além da morte do Mestre. Através do resplendor de seu Senhor, puderam entrever a vitória da ressurreição. O próprio Cristo, sem dúvida alguma, foi fortalecido através deste evento, a trilhar o caminho previsto pelo Pai e ser fiel até a morte. Amém.