TEXTO: MT 10.34-42
TEMA: DIFICULDADES E ALEGRIAS NA PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO
Jesus preparou e comissionou os seus discípulos a saírem pelas cidades, proclamando a mensagem do evangelho. Além disso, deu-lhes alguns conselhos e palavras de encorajamento que seriam essenciais, diante das dificuldades que enfrentariam, pois Jesus avisou que encontrariam resistência violenta durante seu ministério. Seriam rejeitados, mal tratados, muitas vezes, até mesmo dentro da própria família, por causa do nome de Jesus. E ainda, deveriam esquecer de si mesmo, perder interesse próprio e viver submisso a Cristo ao carregar a sua cruz.
No entanto, Jesus não fala somente de dificuldades aos discípulos. Ele fala de recompensa, de alegria e consolo. Ele afirma se eles optarem por comprometer-se com o evangelho, como mensageiro de Jesus, teriam sua recompensa do próprio Cristo. Seriam abençoados não por merecimento, mas, por dádiva de Deus, receberiam as recompensas – da vida eterna e o galardão, que nunca se perderá.
Também somos enviados para salvar o mundo, proclamar e ensinar a Palavra de Deus a todos às nações. Ele quer que demos bom testemunho. Glorifiquemos o seu nome. Anunciemos que Ele é sal da terra e a luz do mundo. Mas precisamos estar conscientes diante das imensas dificuldades que enfrentaremos neste mundo tão hostil, onde seremos zombados, criticados, desprezados, perseguidos. No entanto, apesar de todas estas dificuldades existentes, Cristo nos encoraja em nossa missão, da mesma forma como agiu com seus discípulos. Ele nos dá força para anunciar a sua palavra, e prometeu estar conosco. Portanto, o desafio é servir e comprometer-se com o evangelho, diante das dificuldades e alegrias.
Jesus inicia a sua mensagem ao afirmar aos discípulos: “não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer paz, mas espada”(v.34). As palavras de Jesus, a princípio podem nos parecer um dito paradoxal, uma vez que as Escrituras citam vários exemplos que Jesus é o Príncipe da Paz. (Isaías 9.6). Ele é a nossa paz. (Ef.2.14). Os anjos ao proclamar o nascimento do Messias, eles cantaram "Paz na terra". E, em João 14.27, Jesus afirma: "A minha paz vos dou". Ele mesmo disse: que são bem-aventurados os pacificadores. (Mateus 5.9). Em pelo menos três lugares na carta aos Romanos, Paulo falou sobre a paz que Deus nos dá. (5.1; 8.6; 14.17).Portanto, não seria uma contradição o que Jesus estaria ensinando? Como poderia afirmar que não veio trazer paz, mas espada, instrumento característico da guerra? Como poderia afirmar que não veio trazer união, mas divisão?
Não há contradição. Lembrando que espada é uma arma tanto ofensiva quanto defensiva, usada para se proteger do mal ou para atacar o inimigo e vencê-lo. Era uma arma poderosa, e por onde ela passava, ocorria uma divisão. Jesus proibiu ao discípulo o uso da espada para defendê-lo contra a turba que veio prendê-lo. E ainda alertou que todos que lançam mão da espada à espada perecerão. (Mt 26.52). Quando Jesus fala de espada, não está incentivando a violência. Não está enviando seus discípulos ao mundo para a luta em forma de guerra e destruição. Não veio armar seus seguidores para que estes, por meio da força, possam conseguir novos discípulos. A espada como arma de guerra é símbolo da Palavra de Deus. A Bíblia nos ensina que a Palavra do Senhor "é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” (Hebreus 4.12).Quando seria anunciado, ministrado e praticada de forma tão intensa a mensagem de Cristo, resultaria em divisão entre as pessoas. Causariam discussões, debates, discórdias, reações, ódio e perseguições, bem como sacrifícios dolorosos, inclusive nas estruturas sociais, políticas e religiosas.
Portanto, Jesus não veio trazer violência e guerra, mas paz. Mas não a paz que os judeus esperavam, e que o mundo tanta almeja, uma paz que simplesmente significasse ausência de guerras no mundo, pois o mundo nos dá uma paz falsa e mentirosa, efêmera, fugaz, passageira. O mundo procura nos enganar, iludir com essa paz. Jesus fala aos seus discípulos de outra paz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.”( Jo14.27). E ,ainda, disse: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. (Jo 16.33). Portanto, Ele veio trazer ao coração do pecador redimido a paz com Deus. ( Mt 11.29). Por intermédio da cruz somos reconciliados com Deus. Por meio de Cristo há um caminho de aproximação para com Deus. Ele é a Porta, o Caminho para o Pai (Jo 10.7,9; 14.6); por intermédio dele, os homens, embora pecadores, uma vez reconciliados, podem se aproximar “com confiança do trono da graça” (Hb 4.16).
No entanto, apesar da paz de Cristo estar à disposição, não são todos que a vivem e a acolhem. No mundo existem pessoas que não aceitam a mensagem do evangelho de Cristo. Para muitos são loucura. (1 Coríntios 1.18).A verdade é que o mundo está cheio de perversos, de pessoas que têm suas vidas no pecado, sem qualquer arrependimento. Nesse sentido vemos Jesus explicando que essas pessoas se levantarão em oposição àqueles que vivem na paz de Cristo. Elas vão hostilizar a mensagem de Cristo e rejeitá-la. Os servos de Cristo, que vivem nesse mundo, também serão hostilizados e rejeitados por seguirem a Cristo. Como se observa, a proclamação do evangelho resultaria discussões, sofrimento, perseguição, conflitos e desprezo. Essa divisão é tão profunda que ,muitas vezes, à espada trazida por Cristo rompe até mesmo os laços pessoais mais íntimos: “pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra." Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa.” (vv.35 e 36). Jesus aplica uma profecia do profeta Miquéias e indica que por amor a Cristo pessoas seriam perseguidas e desprezadas pelos membros de sua própria casa ( Miqueias 7.6).O profeta está se queixando da corrupção moral que prevalecia em seus dias: amigos infiéis; esposas em quem não se podia confiar, filhos que não honravam os pais, conflitos familiares; os mandamentos do Senhor estavam sendo desobedecido.
No entanto, as orientações de Cristo vão ainda mais além: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama o filho e a filha mais do que a mim, não é digno de mim.” (v. 37). Jesus não está desejando que não amemos nossa família, que desprezemos aos pais e filhos. Mesmo porque temos vários textos que falam da obediência aos pais, do amar ao pai e a mãe: “honra a teu pai e a tua mãe… ” (Êx 20.12; Mt 19.19; Ef 6.2),do amar aos filhos e do próximo. (Lv 19.18; Mt 19.9). Portanto, amar aos pais e aos filhos é da vontade de Deus. No entanto, a nossa família pode tornar-se uma “cruz”. Pode tornar-se um empecilho quando deixamos de buscar a Jesus, nosso Salvador, porque, muitas vezes, colocamos como primeira prioridade a comida, a roupa, o dinheiro, a família, a carreira e nos esquecemos de Deus. Por isso, Jesus nos desafia a mudar nossas prioridades. Buscar primeiro a Deus, ou seja, a nossa maior preocupação deve ser o nosso relacionamento com Deus. Quando o nosso relacionamento com qualquer pessoa estiver sendo um impedimento, um embaraço em nosso relacionamento com Jesus, a nossa escolha deve ser Jesus. E isto se estende até mesmo em relação às pessoas que mais amamos. Enfim, a família não deveria ser um empecilho na divulgação do Evangelho às pessoas.
Portanto, Jesus deixa explícito quando afirma que não é digno dele todo aquele que ama seu pai e sua mãe mais do que a Ele. Amar aqui significa ouvir, seguir, dar atenção, privilegiar, enfim, ter mais consideração e obedecer. E para ser digno de Jesus, precisamos amar mais a Jesus que os próprios familiares. Mas Jesus deixa claro que ninguém será digno, se recusar a tomar a cruz: “E quem não toma a sua cruz e vem após mim, não é digno de mim.” (v.38). Ele coloca algumas condições e apresenta dois princípios básicos para quem almeja ser um verdadeiro discípulo de Cristo. Primeiro, os discípulos deveriam esquecer de si mesmo; perder a visão ou interesse próprio e viver submisso a Cristo. Segundo, “carregar a cruz” não é de maneira alguma, simplesmente, “sofrer” por sofrer. Mas trata de enfrentar as consequências de seguir a Jesus. Ele ilustra as dificuldades que os apóstolos deveriam esperar no discipulado cristão. Seria árduo e traria sofrimento, tão horríveis como a morte na cruz. Seria inevitável a cruz na vida dos discípulos.
Diante desta grande verdade sobre o "carregar a cruz", Jesus ensina o que, realmente, faz com que uma pessoa seja um discípulo verdadeiro, genuinamente unido a Ele: essa pessoa precisa negar-se a si mesma. No entanto, aquele que nega ou está ansioso para salvar sua vida, ou seu conforto e segurança neste mundo, diante das perseguições, perderá a vida "eterna”: “Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á”(v.39). Evidente que queremos salvar a nossa vida. Não está errado! Entretanto, o erro se configura quando os bens materiais são colocados antes de servir, honrar e glorificar a Deus. Afinal, vivemos numa época em que as pessoas só pensam em ganhar. Nossa sociedade é capitalista, materialista, consumista e existencialista. O que está no centro de toda a filosofia de vida é o eu, o meu, o que posso ganhar de lucro pessoal. Os nossos tempos estimulam a necessidade de ganhar. Em nome dessa vontade de ter o mundo inteiro, o homem quer viver a sua própria vida. A triste realidade é que pelo fato de muitas pessoas ao salvar sua vida terrena, aproveitando de tudo, perderão a vida eterna, pois preferem trocar os valores eternos pelos prazeres transitórios dessa vida efêmera. Ganhar o mundo e perder a alma é uma péssima decisão!
Está disposto a perder a sua vida por Cristo, ou ganhar a sua vida neste mundo? Qual a sua decisão? O convite de Jesus continua valendo: venham a mim e sigam-me; sejam meus discípulos e busquem as coisas de Deus em primeiro lugar. As palavras de Jesus nos chamam para uma atitude de vida, de renúncia. Por isso, entrega-se totalmente a Cristo! Essa entrega implica em deixar o que existe de mais precioso em sua vida para seguir a Cristo, para que posso obter a salvação de sua alma. Jesus deixa bem claro: se queremos viver eternamente temos que estar preparados, se for possível renunciar a nossa vida.
Jesus encerra os seus ensinamentos. Ele não fala somente de perseguição, rejeição, dificuldades, mas também haveria receptividade. Os discípulos seriam recebidos ao levar a mensagem do Evangelho, ou seja, Cristo se manifesta às pessoas por meio daqueles a quem Ele envia. Ele seria aceito ou rejeitado: “Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.”(v.40). Receber Jesus Cristo significa receber Deus e a salvação que ele oferece. Ele vem em primeiro lugar, porque, recebendo-O, recebe-se Deus. Quem cumpre a tarefa do fazer conhecido o nome de Jesus Cristo são os discípulos. Nesta parte dos ensinamentos de Jesus, vemos implícito o “Ide”. Indo precisavam pregar as Boas Novas. Sendo assim, Jesus os encoraja mostrando-lhes que quem os recebe tem a salvação. Por esse motivo, podemos nos colocar no lugar deles e saber que, sempre que fazemos um trabalho de evangelismo, estamos levando não a nossa mensagem, mas Cristo e o Pai.
Quando recebemos e honramos uma pessoa enviada de Deus, Ele nos recompensará devidamente. Jesus prometeu galardoar os seus discípulos tanto no presente quanto no por vir. Ele associou essa recompensa ao sofrimento, aflição, perseguição pela causa do Evangelho. Sendo assim, esclarece essa questão aos discípulos: “Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo”.(v.41).A palavra galardão de uma maneira geral significa recompensa. É bom deixar claro que esse galardão não tem nada a ver com a salvação. Até porque a salvação não é por obras, mas pela graça e mediante a fé (Efésios 2.8).O verbo “receber” significa aceitar, tomar aquilo , ter algum favor, ser recompensado, ser alcançado e dar recepção a algo. Mas podemos ainda entender que o verbo “receber” literalmente significa receber em casa, hospedar, dar uma refeição, ou atentar ao ensino, ao exemplo de vida.
Portanto, aqueles que receberem um profeta, uma pessoa justa significa receber a mensagem de Deus e tem a promessa da recompensa. A história da viúva que deu a Elias alimento e água, é uma exemplo. Por “receber um profeta”, foi grandemente abençoada. Seu estoque de farinha de trigo e de azeite foi multiplicado por este profeta que agiu sob o espírito de Deus. Evidentemente, a viúva recebeu Elias ‘porque ele era profeta’. Assim, ela recebeu “a recompensa de profeta”. Nos dias de Jesus, se alguém tivesse o privilégio de receber um seguidor dele em sua casa, estava em condição de receber “a recompensa de homem justo”. O visitante sem dúvida partilharia as verdades edificantes sobre a sua fé e os ensinamentos da Palavra de Deus, com seu hospedeiro, assim como fez Jesus. O texto dá uma amplidão a cerca deste princípio, quem recebe um apóstolo, um pastor, um líder…, no exercício do seu ministério , recebe o galardão.
No entanto, as palavras de Jesus sugere algo prático. O receber se constitui, exclusivamente, a mesma atitude que o próprio Cristo nos recebeu, e ainda recebe: “E quem der a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.”(v.42).Os discípulos deveriam se conscientizar da importância dessa prática. Ela era imprescindível durante a perseguição, uma vez que muitos deles necessitavam desse apoio e segurança em suas viagens missionárias de expansão do reino de Deus. A prática da hospitalidade é um importante dentro da igreja. Por meio dela, podemos expressar mais uma maneira de servir ao Senhor. A nossa hospitalidade ajuda os irmãos a cumprirem as suas tarefas, principalmente quando estão viajando a serviço do Senhor..
Com certeza, as recompensas estarão garantidas aos que são hospitaleiros, visto que Deus nunca fica devendo nada a ninguém. Jesus diz que, quando damos de beber, ainda que seja um copo de água fria, a um pequeninos, aqueles que são enviados, Ele nunca esquece e garante o galardão. Agora, imagine quando agimos indo além de um copo de água fria, quando obedecemos, andamos em fidelidade, lealdade, unidade e aliança com o nosso Deus. Isto nos motiva ainda mais a enfrentar as perseguições que nos sobrevêm com coragem e alegria. Por isso, mãos à obra, porque sabemos que há grande número de pessoas que ainda não ouviram o evangelho de Cristo. Temos que anunciar. Eis a nossa grande responsabilidade. Somos missionários, chamados e enviados a ser sal da terra e luz do mundo. Quem descobriu uma fonte de água cristalina no deserto não pode deixar de anuncia-lo aos outros que também estão com sede.
Estimados irmãos! Se hoje o nome de Cristo é proclamado nos lugares mais longínquos deste mundo é porque estes discípulos levaram o Evangelho. E a história confirma que muitos apóstolos morreram morte de martírio. E com eles e após eles muitos outros cristãos foram martirizados até a morte. Mas em meio as dificuldades, tristezas e alegrias não negaram a Jesus. Amém.