sábado, 27 de janeiro de 2024

 TEXTO: MT 17.1-9

TEMA: SENHOR É BOM ESTARMOS AQUI!

Hoje a Igreja celebra a festa da Transfiguração do Senhor. Esta festa remonta ao século V, no Oriente. Era celebrada em diferentes datas, até que o papa Calisto III elevou a festa à comemoração de toda a Igreja universal. O episódio foi relatado pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. Presentes estavam os apóstolos Pedro, João e Tiago, quando Jesus transfigurou-se diante deles. Momento em que Cristo antecipou a Sua glória, àqueles que Ele havia escolhido para continuar a Sua missão salvífica, ao manifestar-se aos discípulos, que Ele era realmente o Filho de Deus, enviado pelo Pai.

Os discípulos sentiram-se maravilhosamente bem na presença do Salvador glorificado. Viram e sentiram um ambiente celestial. Era um mundo diferente, um gozo, uma alegria inexplicável. Pedro expressa este momento em palavras, dizendo: “Senhor, bom é estarmos aqui”. Também em nossa vida há momentos em que podemos exclamar: “Como é bom estarmos aqui!”, onde tudo irradia luz, felicidade e alegria, onde o coração é inundado de paz e serenidade. “Como é bom estarmos aqui”, viver dentro da igreja onde Jesus revela a sua glória através da Palavra de Deus. É aqui que Jesus se apresenta como Filho de Deus e nosso Salvador. É aqui que Jesus nos perdoa todos os nossos pecados. É aqui na igreja que Jesus nos ampara, consola e anima. Aqui é o lugar onde podemos compartilhar momentos de louvor. Você sente-se bem aqui na Casa do Senhor?

                                                                 I

Estava se aproximando o momento do Filho de Deus deixar este mundo. Ele precisava passar pelo caminho do sofrimento que o conduzia à Sua morte na cruz. O próprio Jesus mostra aos seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia. Mas antes desses acontecimentos, Jesus mantém um encontro com seus discípulos. O objetivo era fortalecer a fé dos discípulos, para que pudessem resistir a tudo o que teriam que experimentar na caminhada à Jerusalém, para que ficassem firmes, até serem revestidos com o poder do Espírito Santo, no dia de Pentecostes. O Senhor sabia que esses discípulos precisavam conhecer algo mais profundo. Sendo assim, o Senhor preparou esse momento para que os discípulos pudessem receber uma impressão mais profunda da sua pessoa.

Diante desta situação que Jesus haveria de enfrentar, Ele busca ajuda do Pai. Ele precisa escutar sua voz. Encontrar Nele o seu refúgio para poder continuar sua missão. Mas não vai sozinho. Ele escolhe três testemunhas: Pedro, Tiago e João. Os discípulos aceitaram o convite de Jesus e subiram ao monte com Ele. Em Lucas, o propósito está bem definido: subiu com eles ao monte, para orar. (Lc 9.28). Começou a orar a seu Pai, como o fizera tantas vezes em condições idênticas. Ele sempre se comunicou com o Pai. Um grande exemplo foi no jardim do Getsêmani quando Jesus orou ao Pai diante de seu sofrimento: "Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mt 26.39).

 Naquele momento, quando orava, foi transfigurado. O termo grego, μεταμορφόω (transfigurar), significa mudança de forma, outra forma, isto é, a sua aparência se transformou e a glória majestosa brilhou através de sua natureza humana: “O seu rosto resplandecia como o sol” (v.2a). Não era uma luz que vinha de fora. Mas era um brilho que transluzia em seu rosto que provinha de dentro. Mateus ainda afirma que “as suas vestes se tornaram branca como a luz.” (v.2b). Já o evangelista Lucas comenta ainda que suas vestes resplandeceram de brancura. Não era o branco como a neve, mas tratava-se de uma alvura e resplandecente. Era um branco que nenhum lavandeiro na terra os poderia alvejar, assim afirma Marcos. (Mc 9.3).

Junto com Jesus apareceram dois personagens Moisés e Elias: “E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele”.  (v.3). Eles estavam ali presentes e dialogavam a respeito da ida de Jesus à Jerusalém. Também são revestidos de glória. Simbolicamente, o aparecimento de Moisés e Elias representava a Lei e os Profetas. E perceptível nessa passagem que Moisés aparece como uma figura tipológica. Moisés como representante da Lei está falando da cruz de Cristo. De fato, Mateus procura mostrar isso quando põe em evidência o próprio Deus falando aqui: “A Ele ouvi” (v.5). Moisés havia dito exatamente estas palavras citadas nesse texto quando se referia ao Profeta que viria depois dele: “O Senhor, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás” (Dt 18.15). A transfiguração revela que Moisés tem seu tipo revelado em Jesus de Nazaré e que toda a lei apontava para Ele. Enquanto Moisés ocupa um papel tipológico no evento da transfiguração, Elias aparece em um contexto escatológico. Elias lembra o que vai ocorrer com o Senhor Jesus quando for crucificado. O texto de ML 4.5,6 apresenta Elias como o precursor do Messias vindouro. O Novo Testamento aplica a João Batista, o cumprimento dessa Escritura: “E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado” (Lc 1.17; Mt 11.14).

Este relato tem causado muitas interpretações. Alguns ensinam que Moisés estava ali em espírito. Elias, entretanto, como fora arrebatado, estava ali corporalmente; outros ensinam que Moisés havia ressuscitado e que estava ali ressurreto, juntamente com Elias; enfim, tem aqueles que ensinam que o episódio foi uma visão. No entanto, Marcos afirma que ambos (Moisés e Elias) falavam com Jesus. Logo, não eram espíritos. Era tão real a cena ali no monte que Pedro propôs construir três tendas. "Uma para Ti [para Cristo], outra para Moisés, e outra para Elias." (17.4). É inadmissível construir tenda para um espírito. Não se tratava de visão, sonho ou alucinação de Pedro, porque, quase quarenta anos depois, bem lúcido ainda, referia-se ao fato: "nós vimos a Sua glória" (2Pd. 1.16-18).

Os discípulos tiveram uma revelação, um conhecimento do Senhor Jesus que nunca podiam imaginar. Os três discípulos veem o céu aberto, não em sonho, não mediante arrebatamento ou visão, sim, ao natural. Eles viram a glória de Cristo e de seus dois convidados. E Pedro vendo por um instante abertas as portas dos céus, ouvindo a palestra de Jesus com Moisés e Elias, vendo a glória no rosto de Jesus que resplandecia como o sol e as suas vestes brancas como a luz, não sentia desejo de voltar para a pescaria no Mar da Galiléia nem para o trabalho missionário que tinha pela frente. Seu desejo era permanecer para sempre junto de Jesus na glória. Ele expressa em suas palavras: “Senhor, bom é estarmos aqui” (v.4). Pedro, ao apreciá-lo aquele momento indescritível, e talvez desejoso de não mais retornar, ofereceu-se para construir três tendas: uma para Jesus, outra para Moisés e a outra para Elias.

 Também em nossa vida há momentos em que podemos exclamar: “Como é bom estarmos aqui!”, onde tudo irradia luz, felicidade e alegria, onde o coração é inundado de paz e serenidade. “Como é bom estarmos aqui”, viver dentro da igreja onde Jesus revela a sua glória através da Palavra de Deus. É aqui que Jesus se apresenta como Filho de Deus e nosso Salvador. É aqui que Jesus nos perdoa todos os nossos pecados. É aqui na igreja que Jesus nos ampara, consola e anima.

                                                             II

A atitude de Pedro demonstra fraqueza. Era um homem de contrastes. Em Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?" Ele respondeu de imediato: "Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo" (Mt 16.15-16). Logo após: "E Pedro chamando-o à parte, começou a reprová-lo..." Era característico de Pedro passar de um extremo ao outro. Ao tentar Jesus levar-lhes os pés no cenáculo, o imoderado discípulo exclamou: "Nunca me lavarás os pés." Jesus, porém, insistiu e Pedro disse: "Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça" (Jo 13.8,9). Na última noite que passaram juntos, ele disse a Jesus: "Ainda que todos se escandalizem, eu jamais!" (Mc 14.29). Entretanto, dentro de poucas horas, ele não somente negou a Jesus, mas praguejou (Mc 14.71).

Este temperamento volátil, imprevisível, muitas vezes, deixou Pedro em dificuldades. É justamente o que observamos em nosso texto. Deixou-se impressionar-se pelas luzes. Confundiu-se com as coisas que nos parecem espetaculares. Deu ênfase aos assuntos secundários. Interessante afirmação de Marcos: “não sabia o que dizer, por estarem eles aterrados (assombrados).” (MC 9.6). De fato, faltou compreensão do plano de Deus. Ele revela sua dissintonia com o Senhor.  Estava totalmente fora dos propósitos divinos.

Dessa forma, Pedro e todos os outros não receberam a resposta, pelo menos não da maneira desejada. A nuvem que os envolveu e a voz vindo do Pai, foi uma resposta vigorosa de Deus. A nuvem que apareceu de repente cortou a palavra de Pedro, que envolveu a todos. Mateus relata que a nuvem era luminosa, o símbolo da graciosa presença de Deus. Esta nuvem tinha a função de separar os discípulos daquele momento de glória e do mundo profano. E junto com a nuvem surge a voz de Deus, dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi.” (v.5). Estas palavras estão registradas no livro de Mateus em três momentos. O primeiro registro aparece no Batismo de Jesus. Logo após o batismo de Jesus os céus se abrem para Aquele que é digno de adoração. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. (Mt 3.17). O segundo registro aparece na confirmação do Seu propósito aqui na terra: “Eis aqui o meu servo, que escolhi o meu amado, em quem a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo aos gentios.” (Mt 12.17-18). O terceiro e último é o nosso texto.

 Aproximação da glória do Filho de Deus os encheu de medo. Mateus afirma que “caíram de bruços, tomados de grande medo”. (v.6). Lucas: “tomados de grande temor.” (9.34). O medo é natural para os discípulos. Eles eram pecadores. E diante da revelação de Deus, ficaram com medo. Medo da voz que vem do alto, pois é o Pai que fala em testemunho de seu Filho para que o mundo saiba sobre a obra de Jesus Cristo. Ele proclama o seu Filho como objeto da salvação à humanidade. Os discípulos ao ouvirem esta voz, despertaram daquele momento de glória. E agora, olhando ao redor, ainda assustados, não viam mais nada de cena empolgante. Desceram do monte e nada contaram a ninguém.

Estimados irmãos! Os discípulos tiveram uma revelação, um conhecimento do Senhor Jesus que nunca podiam imaginar. Viram o Senhor de uma maneira maravilhosa, preciosa. Tiveram o privilégio de vislumbrar algo da majestade de Deus. Como participante desta cena maravilhosa, os discípulos foram fortalecidos e desafiados a olhar além da morte do Mestre. Através do resplendor de seu Senhor, puderam entrever a vitória da ressurreição. O próprio Cristo, sem dúvida alguma, foi fortalecido através deste evento, a trilhar o caminho previsto pelo Pai e ser fiel até a morte. Amém.

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