TEXTO: JR 31.31-34
TEMA: DEUS ESTABELECEU UMA NOVA ALIANÇA ATRAVÉS DE CRISTO
Alianças, concertos ou contratos estão presentes no âmbito militar, comercial, político e religioso. São coisas comuns entre os homens em todas as épocas e em diferentes sociedades. O casamento é um exemplo de aliança. Ele é considerado uma aliança, pois se utiliza uma aliança para simbolizar a união, um acordo de fidelidade e amor mútuo entre um casal. Assim, aliança é uma lembrança do pacto entre o marido e a esposa. Ambos assumem um compromisso. Cada parte, mesmo diferentes entre si, tem coisas a observar, cumprir ou realizar.
Mas quando analisamos aliança no sentido bíblico, estabelece uma relação com Deus e com seu povo. E olhando para o Antigo Testamento, podemos notar que Deus firmou diversas “alianças” com seu povo. Fez aliança com Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Davi, e muitos outros. Deus ao realizar estas alianças, sempre foi fiel às suas promessas, mas o povo, muitas vezes, foi infiel, quebrando a aliança, adorando ídolos, distanciando-se totalmente da vontade do Pai. Diante do desrespeito e da desobediência das alianças firmadas com seu povo, as consequências foram trágicas.
Apesar das sucessivas rebeliões e quebra das Suas sucessivas alianças, Deus desenvolve um projeto de uma nova aliança entre Deus e o seu povo. Uma aliança que se concretiza em Jesus. Ele veio ao mundo para renovar os corações dos homens, oferecendo-nos vida, perdão e salvação. E nós, cristãos, efetivamente, participamos desta nova aliança firmada por Deus. Através da fé no Salvador, que o Pai coloca em nossos corações, passamos a fazer parte do seu povo. Precisamos ter cuidado para não quebrar esta aliança que Deus fez conosco através de Cristo.
Estimados irmãos! O profeta Jeremias viveu numa vila perto de Jerusalém, por volta de 600 a.C. Ele foi chamado por Deus para ser profeta quando era ainda muito jovem, e trabalhou por cerca de 40 anos. Foi chamado de “profeta chorão”, porque sentiu como ninguém a infidelidade do povo de Deus, e isso o entristeceu muitíssimo. Ele presenciou o castigo que o povo de Deus sofreu por causa da sua infidelidade, e foi nesse contexto difícil que Deus lhe revelou a promessa da nova aliança.
No entanto, antes de o profeta proferir estas palavras sobre a nova aliança, Deus já havia firmado diversas alianças. Ao longo da história, identificamos muitas oportunidades em que Deus se mostrou para os homens e convidou-os para estabelecer com Ele uma aliança que demonstrasse os Seus propósitos em relação à sua criatura. Vejamos alguns exemplos: Deus fez aliança com Adão e Eva no Éden. Deus deu para eles a terra, pleno domínio sobre os animais e fartura de alimento. Deus fez aliança com Noé. Estabeleceu uma aliança, declarando que não mais destruiria toda carne pelas águas do dilúvio e que não mais haveria dilúvio como juízo, para destruir a terra. Deus fez aliança com Abraão. Deus fez aliança com Isaque e Jacó, reiterando a promessa feita a Abraão. Deus também fez aliança com Moisés, no monte Sinai. Era uma aliança significativa que tinha como objetivo convocar o povo para renovar e relembrar os termos do concerto com Abraão, Isaque e Jacó. E o povo concordou com a aliança quando disseram: "Tudo o que o SENHOR falou, faremos" (Êxodo 19.8).
Através das alianças realizadas, Deus se compromete ajudar, libertar e modo especial proteger o seu povo da escravidão e dos inimigos, e o povo promete obediência e lealdade ao seu Deus no cumprimento do decálogo e também no cumprimento das normas e recomendações prescritas na Torá. A única coisa que Deus espera de seu povo é que “guarde a aliança”. Ela é o símbolo do relacionamento de amor entre ambos. O salmista expressa a vontade de Deus “Se os teus filhos guardarem a minha aliança e o testemunho que Eu lhes ensinar, também os seus filhos se assentarão para sempre no teu trono. " (Sl 132.12). Esta era a condição implícita na promessa – de que eles deveriam guardar a lei de Deus, e servi-lo e obedecê-lo. Deus se alegra com seus filhos, com o seu povo que vive em aliança com Ele, que respeita essa aliança, que é fiel e que obedece aos princípios e exigências dessa aliança!
Mas o que acontece quando um acordo não é cumprido? Quando os acordos não são cumpridos, não há satisfação entre as partes envolvidas. Há tristeza e rompimento. Pode trazer punição para a parte que causou o rompimento. Citamos o exemplo do casamento. Quando um cônjuge trai a confiança do outro, ele destrói o casamento. Esta ruptura traz sérias consequências entre ambas as partes. Da mesma forma, quando um acordo comercial também é quebrado, isso traz implicações legais, batalhas judiciais para cobrar indenizações. Quando um amigo trai a confiança do outro, rompeu-se o acordo. Não somente a confiança, mas o fim da amizade.
Quando analisamos aliança no sentido bíblico, o povo de Israel quebrou essa aliança. Foi infiel ao SENHOR. Foi influenciado por povos pagãos. Cultuo outros deuses, caiu na idolatria e se prostituiu. Ao trair o SENHOR, distanciou-se totalmente da vontade do Pai. Não conseguiu manter-se fiel ao SENHOR. Jeremias apresenta como causas. É impressionante a descrição que o profeta faz: o desprezo pelas reuniões sagradas, prevaricações, pecados graves, imundícias, corrupção, principalmente, por parte dos líderes. Confiança em promessas e acordos humanos e políticos, ao invés de confiarem em Deus. Era uma situação horrível na vida do profeta. O povo quebrou com a sua desobediência e infidelidade a aliança de Deus. Não cumpriu com aliança. Como nós quebramos a aliança que Deus fez conosco? Quebramos quando não confiamos em Jesus Cristo, no que ele fez por nós e, então, passamos a confiar em nós mesmos, nas nossas obras, na nossa capacidade, nos nossos esforços. Da mesma forma, quando não vivemos de acordo com a vontade de Deus. Como nós nos mostramos infiéis a Deus, hoje? Esta é a triste realidade!
Jeremias atribuiu ao povo a culpa pela destruição que lhe sobreveio. Como o povo não se arrependeu de seus pecados e de suas iniquidades, veio sobre ele o juízo divino. Jerusalém é destruída, e o povo é levado ao exílio. Distante da Pátria, o povo chora. Mas Deus sempre prosseguiu na execução do Seu plano de salvação ao seu povo. Oferece novas oportunidades. E diante do sofrimento, surge uma mensagem do SENHOR para os exilados e remanescentes. Deus profetizou que firmaria uma nova aliança para o povo. Esta mensagem da nova aliança para o povo é consoladora. Sendo assim, o profeta apresenta o conceito exclusivo de uma nova aliança que Deus estabelecerá com seu povo. Mas qual é o significado da nova aliança e quando começaria? Qual é o conteúdo? Qual é a diferença? Qual é a semelhança?
O SENHOR apresenta esta nova aliança: "Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá” (v.31). Ele apresenta o tempo, o autor, nome desta aliança e os participantes desta “nova aliança”. Eis o procedimento: “O SENHOR firmará uma nova aliança.” Uma tradução literal seria: “fazer um pacto, cortar aliança,” pois o verbo no hebraico (כָּרַת) significa cortar, arrancar, eliminar, dividir. Este é um processo pelo qual Deus fez um concerto com Abraão. Ele é chamado de “cortar”. É uma expressão oriunda dos povos antigos. Entre estes povos antigos no ato da compra de um terreno, casa, animais havia um contrato entre duas pessoas. Era uma prática dividir um animal em duas partes. Durante a cerimônia deveriam pronunciar um juramente confirmando o acordo. O sangue do animal sacrificado testemunhava o acordo. Assim era selada a aliança.
Portanto, a nova aliança estava próxima de se realizar. Novo tempo se aproximava: “Eis aí vêm dias”. Não é mais tempo de se lamentar. É tempo de esperar pela restauração. De modo geral, a nova aliança se refere à chegada do Senhor, a era messiânica. Ela recebe uma dimensão escatológica. Ela é para o novo Israel espiritual. No entanto, a nova aliança será diferente: “Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR”. (v.32). Ela não será como a antiga, que Deus fez com os israelitas quando os tirou da terra do Egito. Ora, a antiga aliança era baseada na Lei, em méritos e obras, susceptível de infrações, e não foi inteiramente cumprida, não deu vida a antiga aliança, diz o SENHOR: “eles a anularam.”
No entanto, a nova aliança que o SENHOR haveria de firmar com a casa de Israel, apresenta características diferentes. Vejamos a primeira característica: Assim diz o SENHOR: “Na mente, lhes imprimirei as minhas leis [...] no coração lhas inscreverei.” (v.33a). O termo coração significa ser interior, mente, vontade, inteligência. Estas palavras representam a motivação completa das ideias, da vontade, das emoções e do espírito humano. Enquanto que na antiga aliança a lei deveria ser aprendida e ensinada, escrita nos beirais da porta e nos portões, amarrada nos braços e na testa (Dt 6.7-9), a nova aliança será escrita por Deus nos corações. E será no íntimo de cada membro do povo que o SENHOR vai intervir no sentido de gravar as suas leis e preceitos. Por lei entende-se a Tora, já conhecida desde a aliança do Sinai. Portanto, essa nova aliança transformaria o ser humano desde o mais íntimo do seu ser. (Jr 24.7). Também não seria gravada em pedra, como ocorreu com Moisés, mas sim, no coração e mente dos que a aceitassem. Não haveria como esquecer esta aliança, pois o próprio Deus a imprimiu na mente de quem a aceitou! Da mesma forma, não haveria maneira de deixar de amar essa aliança, pois o Senhor a escreveu no próprio coração de quem a acolheu!
A nova aliança reflete em nossa vida. A mudança deve acontecer em nosso coração. É preciso tirar tudo o que não presta, que está estragado e colocar algo novo em nossa vida. Esta mudança em nosso coração apenas o Espírito Santo é capaz de realizar.” Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. O Espírito Santo é que nos converte, regenera e arrancar o nosso “coração de pedra” e coloca um coração cheio de fé, amor, bondade e compaixão. Então, sim, teremos paz com Deus. E tendo paz com Deus, seremos criaturas felizes e alegres, e já nenhuma tribulação, ou angustia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada nos separara do amor de Deus. Com o coração purificado, saberemos amar a Deus e nele permanecer fiéis até a morte. Saberemos andar em seus estatutos, guardar e observar a sua palavra, e poder estar em constante comunhão com o nosso Deus. Como está o seu coração? Como está a sua vida? Deixe Deus renovar seu coração, seu espírito, e com toda a certeza você terá uma feliz e abençoada vida com a presença do Senhor Jesus em tua casa, família e na vida profissional.
Outra característica encontra-se no versículo 34. Ela é baseada em três clausas: A primeira: “ninguém terá encargo de instruir seu próximo ou irmão.” (v.34a). O SENHOR afirma que, agora, ninguém precisaria de um instrutor para ensinar ao próximo. Segunda: “Aprende a conhecer o Senhor, porque todos me conhecerão, grandes e pequenos” (v.34b). O SENHOR afirma que todos O conhecerão. Toda a casa de Israel, todos os filhos e filhas de Deus, jovem ou mais velho, saberão quem é Deus. Conhecê-Lo, como de fato Ele é, exigia nada menos do que a Sua presença no coração das pessoas. E com esse novo tipo de relação, o SENHOR não será mais um “desconhecido” para o seu povo. Terceira clausa: “pois a todos perdoarei as faltas, sem guardar nenhuma lembrança de seus pecados.” (v.34c). Fica claro que a nova aliança é baseada num ato de perdão. Um ato de perdão pelo qual o SENHOR Deus é o responsável. Ele age e muda o nosso coração, nossa mente. Agora, não haveria mais condenação por causa do pecado. Eles, os pecados, seriam completamente esquecidos por Deus. Havendo, agora, reconciliação, perdão e nova vida. O SENHOR não se lembrará mais de qualquer iniquidade.
Estimados irmãos! Esta nova aliança se concretizou na Pessoa do Senhor Jesus Cristo, que veio a este mundo para estabelecer a paz entre Deus e a humanidade. Ele sofreu na Cruz, onde foi executado por nossos pecados. Ele recebeu em Seu corpo todos os nossos delitos e transgressões e com o Seu precioso sangue nos libertou da condenação eterna! E tudo isso, Ele nos oferece de graça no nosso batismo, no ensino claro da sua Palavra e na celebração da santa ceia. E o que Cristo espera de nós? Fé e gratidão! Por isso, neste período de quaresma, quando estamos acompanhando a caminhada de Jesus para Jerusalém, mais uma vez, é um momento para reconhecer e confessar que Jesus Cristo é a Nova Aliança de Deus, assinalada, selada, e entregue por nós no sangue do Cordeiro.
Estimados irmãos! Com um coração transformado, cada cristão poderá viver na fidelidade à Aliança, na obediência aos mandamentos, no respeito pelas leis, no amor ao SENHOR. Só podemos entender a nova aliança, olhando para Jesus na cruz. Amém.