TEXTO: JO 2.13-22 (23-25)
TEMA: JESUS DÁ SENTIDO À VERDADEIRA ADORAÇÃO
Milhares de pessoas no mundo entram, semana após semana, nos locais de culto, onde cantam louvores a Deus, recebem a instrução da palavra de Deus, comungam junto ao altar, e encontram auxílio e força para a vida diária. Diante desta busca pela casa do Senhor, perguntamos: Será que, muitas vezes, a nossa adoração não é um mero formalismo? Um conjunto de atos mecânicos, repetidos, sem sentido para o adorador, senão o cumprimento de uma mera rotina que nada contribui para a sua edificação, nem para a glória a quem ela é dirigida? Esta adoração Deus não se agrada.
Jesus demonstrou à prática da verdadeira adoração ao entrar no templo em Jerusalém. Com autoridade, expulsou os vendedores, e transformou aquele ambiente sagrado num centro de adoração, pois Jesus é a verdadeira adoração. Ele é o templo vivo de Deus. O gesto de Jesus é apresentado como uma nova compreensão de culto a Deus, baseado na obediência ao Pai. Ele mostrou que o lugar da verdadeira adoração de Deus, não será mais o templo de Jerusalém, comprometido com os poderes do mundo, mas o templo do seu corpo martirizado e glorificado. Ele nos comprou, não com dinheiro, mas com o seu precioso sangue. Agora, passamos a ser parte do corpo de Cristo e nos tornamos templo também da presença do Espírito Santo. Em função disso, toda a forma de conduta que não seja apropriada para o templo de Deus, deve ser eliminada, pois o Espírito de Deus habita em nós.
A cidade de Jerusalém era o centro para qual convergia toda a vida religiosa do povo de Israel. Era o lugar onde realizavam grandes festas religiosas. E nestas ocasiões vinham fiéis de longe trazendo ofertas e incenso para casa do Senhor. Animais (bois, ovelhas e pombas) eram oferecidos no templo, e convenientemente passaram a ser vendidos naquele local. Alegria de poder estar junto, participar da comunidade reunida em torno de Deus e Deus com seu povo, nem à distância os detinham, pois, enquanto iam caminhando as suas forças aumentavam.
Havia alegria por parte do povo, que mais uma vez tinha a oportunidade de se dirigir ao templo de Jerusalém e ter momentos de comunhão com Deus, porque, ali no templo, em Jerusalém, Deus revelava-se, oferecia o perdão, renovava e reafirmava sua aliança e sua promessa de salvação. Enfim, para os israelitas o templo representava a presença de Deus, e se alegravam quando podiam participar de cultos e das festas religiosas. Era centro de atração. Era um marco da presença de Deus, o Santuário por excelência do povo de Deus.
Infelizmente, ali se instalou um comércio onde pessoas inescrupulosas, inclusive entre as autoridades religiosas, exploravam os visitantes do templo. O alpendre do templo havia sido transformado numa verdadeira casa de câmbio e num mercado. Mesas de cambistas espalhavam-se por todos os lados, entremeados por gaiolas daqueles que vendiam pombos para os sacrifícios. Tudo isso trouxe uma mistura entre o santo e o pecaminoso.Tanto os vendedores de animais, como os cambistas, estavam se aproveitando destas coisas santas para fazerem negócio, estavam procurando lucrar com o sagrado. Podemos imaginar a gravidade da situação que estava acontecendo no templo.
Jesus ao contemplar aquela situação, expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Jesus sabia que esse comércio não tinha a finalidade da comunhão com Deus no templo. Pelo contrário, só atrapalhava quem realmente queria adorar a Deus. Sendo assim, Jesus toma uma atitude severa, demonstrando autoridade. Ele toma um azorrague de cordas, símbolo de autoridade e não de agressão, expulsa os vendedores e declara o templo a casa de seu pai, ao afirmar: “não façais da casa de meu pai casa de negócio.” (v.16). Mateus acrescenta algo mais: “vós, porém, a transformais em covil de salteadores” (21.13). Na verdade, o templo havia deixado de ser o local sagrado para se tornar um lugar de comércio. Os sacrifícios ao Senhor havia sido totalmente deturpado com o passar dos anos e com a interpretação errônea da Lei
O texto leva-nos a refletir e questionar sobre a prática da igreja hoje. Ela não é diferente. Na atual conjuntura em que vivemos a prática do comercio na igreja (templo) é comum. A igreja transformou-se num ambiente onde se vende de tudo como relíquias das mais variadas; curas e milagres em troca de dinheiro; anúncios de prosperidades; enfim, uma infinidade de “produtos” para alcançar a salvação. Na verdade, vivemos em uma época na qual a fiel pregação das Escrituras não encontra mais espaço dentro de algumas igrejas de nossos dias. Elas perderam a essência do Evangelho para vender uma imagem de relevância à sociedade.
Jesus encontrou no templo muita falta de reverência de amor a Deus. Encontrou muitos aproveitadores de oportunidades para negociar e transformar o lugar de reuniões de adoração e louvor. Encontrou um ambiente de vendedores, quando deveriam ouvir a gloriosa e bendita Palavra do Senhor, num culto santo de honras e glórias. No entanto, Jesus muda completamente o sentido da verdadeira adoração. Ao expulsar aqueles comerciantes, Ele reafirma que o templo era a casa de oração. Ele resume toda a atividade de adoração, que deveria ocorrer no templo. Reafirmando, dando sentido, vida, transforma o templo num verdadeiro lugar de adoração. Ele faz uma limpeza, onde somente a graça, a misericórdia, a bondade e o amor de Deus devem permanecer. O profeta Isaias disse que a casa de Deus será chamada Casa de Oração para todos os povos, um lugar de santificação, de louvor, de adorar e sentir a presença de Deus, lugar de honra ao Criador: “Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. (Isaias 56.7).
Ao observar a reação de Jesus diante dos vendedores e cambistas que estavam no templo, os discípulos lembram do Salmo 68 de Davi: “O zelo da tua casa me consumirá”. (v.17). A palavra zelo significa paixão/amor; cuidar de algo ou alguém, ter consideração pela coisa ou pela pessoa. No tempo de Davi eram tantas as funções realizadas no templo que foi preciso de muita gente. Havia muito serviço, e todos trabalhavam com dedicação e zelo. Por isso, o salmista fala do “zelo” pela casa de Deus. Era desta forma que Jesus queria que o povo de Jerusalém tivesse preocupação, valorização, cuidado na conservação da casa de Deus. Quem realmente é dedicado ao ministério que exerce, sabe quanto esforço é necessário para fazer o melhor. São anos de preparação e horas de planejamento para qualquer atividade. Todo este zelo mostra o amor ao que faz sabendo que “no Senhor o vosso trabalho não é vão” (I Coríntios 15.58).
Também hoje precisamos dar sentido à verdadeira adoração que se realiza na casa de Deus. E o verdadeiro sentido é este: A casa de Deus deve ser reservada exclusivamente para o culto e para a oração. Nele o Senhor vem ao nosso encontro para derramar suas bênçãos sobre nós através da Palavra e dos sacramentos. É lugar onde outros poderão encontrar a Deus a partir de nosso testemunho em palavra e ação. Mas jamais a casa de Deus deve ser transformada em tenda de negócios, um lugar de manifestação, de egoísmo e da corrupção humana. A nossa alegria será completa, e nosso coração estará aberto para a mensagem que o Senhor nos quer anunciar. Então, voltaremos para o lar com o coração carregado de bênçãos. E assim que a casa de Deus deve ser encarada por nós. O apóstolo Paulo descreve perfeitamente a verdadeira adoração em Romanos 12.1-2: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus".
No entanto, os judeus que vira Jesus expulsando os mercadores do templo, não queriam realmente sua presença, e ainda questionam, dizendo: Quem é este? Porque procede desta maneira? Com que autoridade? O fato de Jesus ter expulsado os vendedores do templo, ele o faz com autoridade. E com esta autoridade, respeitada por todos, Ele interfere na preparação do culto. Eis a razão porque pedem um sinal. Eles pedem um sinal que provasse com que autoridade Jesus havia agido. Pedem um sinal que justificasse a sua atitude. O sinal é dado. Que sinal é este? É o sinal que fala da sua morte e ressurreição, da sua pessoa e missão; é uma demonstração de sua glória; aliás, todo o acontecimento é transformado em sinal, na pessoa de Jesus e toda atenção deve ser concentrada nele. Jesus diz: “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei”. (v.19).
Os judeus não entenderam as palavras enigmáticas de Jesus. Por isso, argumentam dizendo: “Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás?” (v.20). Para compreender o que Jesus disse são necessárias algumas observações importantes: Em primeiro lugar, que santuário é este? Jesus falava de sua morte e ressurreição, e o santuário a que se refere era seu corpo. Com a destruição deste santuário, Jesus veio inaugurar uma nova ordem na religião. Nele está presente o Deus vivo e eterno. Agora, o centro da adoração não é mais um local sagrado e sim “sua pessoa”. Aquele templo de pedras e o culto-sacrificial tornou-se obsoletos. Em segundo lugar, com sua morte na cruz houve mudança em relação ao templo e a forma de culto. Sua ressurreição era a garantia suprema de que era verdade tudo que ele falava, ensinava e fazia. Os discípulos mais tarde vieram e crer nesta verdade. Enfim, Jesus Cristo nos comprou, não com dinheiro, mas com o seu precioso sangue, e se ele nos comprou pertencemos exclusivamente a Ele. Passamos a ser parte do corpo de Cristo e se tornar um templo também da presença do Espírito Santo. Em função disso, toda a forma de conduta que não seja apropriada para o templo de Deus, deve ser eliminada. Afirma Paulo: "Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado." (I Co 3.16,17).
Portanto, o culto autêntico (Rm 12.1-2), compatível com a nova aliança celebrada no amor, já não necessita de templo de pedras, mas apenas de corações sinceros que busquem e adorem a Deus em espírito e em verdade (Rm 4.23). Aquele templo de pedras, imponente e faraônico, ao invés de aproximar, distanciava as pessoas de Deus; por isso, deveria ser destruído. Enquanto isso, um templo novo e definitivo estava para ser inaugurado, devido à Sua ressurreição (vv. 21-22), como vitória definitiva da vida sobre a morte. A vida em plenitude, o culto por excelência agradável a Deus, se tornaria acessível a todos, sem mais a necessidade de sangue de animais e ofertas, mas a partir do coração de cada um.
Ao finalizar o texto, os sinais e gestos proféticos que Jesus realizava, chamavam a atenção, afinal muitos em Israel esperavam por um messias corajoso para reformar a religião e a vida social do país. Por isso, muitos “creram nele” (v. 23); porém, não bastava somente crer. Era necessário viver uma adoração a Deus em espírito e em verdade,pois a religião da superficialidade era aquela que Jesus não se agradava. Além disso, Jesus conhece o ser humano, percebe o quando havia conversão verdadeira ou não (vv. 24-25). A verdade é que o cristinismo não comporta uma adoração superficial.
Estimados irmãos! Será que Deus está se agradando da forma de adoração que estamos vivendo? Usando o templo para servir os nossos interesses? Estimular o simples cumprimento de uma tradição herdada? Precisamos, sim, servir a Deus “em espírito e verdade”. Amém!
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