TEXTO: LC 15.1-3,11-32
TEMA: DEUS NOS CONCEDE O PERDÃO EM NOSSO RETORNO AO LAR
Sem dúvida alguma esta é uma das parábolas mais conhecidas, ricas e tocantes que Jesus contou. Não é apenas uma história sobre um filho que se perde e se encontra novamente, mas uma reflexão sobre o amor, perdão, misericordia e graça para com os pecadores perdidos que se arrependem. E Jesus deixa evidente sobre esta questão ao contar três parábolas, entre elas a Parábola do Filho Pródigo. Mas o que podemos aprender sobre o ensino desta parábola para as nossas vidas? Menciono aqui três lições: em primeiro lugar, Deus nos assegura o perdão quando nos arrependemos dos nossos pecados. O perdão de Deus está sempre disponível para aqueles que reconhecem o seu pecado, se arrependem sinceramente e buscam a misericórdia divina através da obra redentora de Cristo. Em 1 João 1.9, lemos: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.”
Em segundo lugar, nos encoraja a retornar e receber com alegria os privilégios e os direitos de um filho de Deus. O homem quando se afasta de Deus, passa a viver na escravidão, na infelicidade, angústias e tristezas.Tudo o que esteja fora de Deus não passa de miséria. É necessário tomarmos consciência que é preciso retornar à casa do Pai. Levantar-se e partir ao encontro dos braços do Pai e receber os privilégios e os direitos de um filho de Deus. É tempo de olhar para frente. É tempo de levantar-se e reconciliar-se com Deus. Você encontra-se distante da casa do Pai? Não se acha digno de ser chamado de filho de Deus? Lembre-se: o Pai te ama e deseja te receber de braços abertos. Ele misericordioso e te espera com paciência.
Em terceiro lugar, nos convida a refletir sobre qual tem sido a nossa posição para com os perdidos, afastados de Deus. Atitude do pai ao filho pródigo serve como um modelo de como devemos amar e perdoar uns aos outros, demonstrando a mesma graça que Deus nos deu. Também nos alerta sobre o perigo dos que têm dificuldades em perdoar.
Deus nos concede o perdão! Ele é misericordioso e está sempre disposto a nos receber de volta. Não como servos, mas como filhos amados. Não importa o quão longe temos nos afastado, seu amor sempre prevalece. Por isso, é tempo de voltar para casa! Você que tem se afastado dos caminhos do Senhor? O Senhor nunca esqueceu de você, Ele está de braços abertos, à sua volta!
O contexto da Parábola nos mostra que Jesus tem um público diversificado: por um lado estão os religiosos, fariseus e do outro estão os publicanos (cobradores de impostos para Roma) e pecadores. Estes tinham uma conduta, que contrariava a Lei de Deus. Por isso, eram totalmente excluídos das atividades religiosas dos judeus. Eram marginalizados pelas pessoas , desprezados e considerados escória da sociedade. Mas nunca foram excluídos por Jesus. Ele acolhia e disponibilizava tempo com esses pecadores e publicanos. De modo que eles estavam dispostos a ouvir sobre os seus ensinamentos: “Mas, se aproximavam de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir.” (v.1).
No entanto, enquanto os publicanos e pecadores se sentiam atraídos por Jesus e vão ao seu encontro para escutá-lo, os pretensos justos, os observadores escrupulosos da lei, desprezavam estas pessoas. Quando viram atitude dos publicanos e pecadores, começaram a murmurar: “Este recebe pecadores e comem com eles.”(v.2). Murmurar significa falar em tom difamatório ou se queixar. Eles murmuravam, porque atitude de Jesus contrariava a concepção tradicional deles. Além disso, não compreendiam como Jesus combinava a proclamação do Reino de Deus e a sua comunhão com os pecadores. De qualquer forma, estas pessoas eram discriminadas e desprezadas pelo povo, pelos sacerdotes e pelos romanos. E tais sentimentos e atitudes são completamente alheios ao exemplo de Jesus. Ele recebeu e manifestou o seu amor, graça, bondade e misericórdia aos publicanos e pecadores. Além disso, libertou do pecado e da condenação eterna.
Mas como devemos agir com pessoas que sofrem preconceitos e que são desprezadas, discriminadas e odiadas? Como devemos agir em relação aos pecadores? A melhor coisa que podemos fazer é seguir o exemplo de Jesus em relação aos pecadores. Por meio de parábolas como a do Filho Pródigo, Ele ilustrou o amor e o perdão ilimitados de Deus para com os pecadores. Conforme o nosso texto, “ certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe.”(vv. 11 e 12a). “E ele lhes repartiu os haveres.”(v.12b). Ao receber a sua parte, ajuntou tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. (v.13).
Com certeza este comportamento do filho mais moço, causou uma grande tristeza na vida do pai. Todos nós também temos a tendência de nos afastar dos nossos pais, seguindo nosso próprio caminho em busca de satisfação e prazeres neset mundo. Consequetemente, aquele filho também se afastou de Deus. Na verdade, são inúmeras as pessoas que preferem viver longe de Deus e de sua Palavra. São pessoas ingratas e desobedientes a Deus. Pessoas que acham prazer no pecado e na injustiça. Pessoas que se afastam da igreja, para procurar no mundo riquezas e prazeres. Afinal, vivemos em uma sociedade caracterizada pela busca incansável de satisfação individual. Estes prazeres efêmeros nos afastam de Deus. Ora, quando nos afastarmos de Deus, perdemos tudo aquilo que Deus reservou para nós no céu. Quanto mais longe estamos de Deus, perdemos de vista nossa consciência de filhos de Deus, esquecemos quem somos. Esquecemos do amor de Deus para conosco. Enfim, o afastamento traz sempre consigo uma grande destruição.
Não sabemos para onde aquele jovem foi. Apenas sabemos que ele foi para um lugar distante, ao se afastar da casa do pai. E longe da presença do pai, longe de seus cuidados, aquele jovem acabou gastando todos os seus recursos e se encontrou em uma situação miserável. Alé disso, “sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade.”(v.14). Para piorar a situação, ele estava em terra estrangeira e ninguém podia socorrê-lo, não tinha mais amigo, não tinha mais status, não tinha mais herança. O texto afirma que “ ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a guardar porcos.” (v.15). Além disso, “ali desejava ele fartar-se das alfarrobas (vagens) que os porcos comiam; mas ninguém lhe dava nada.”Verdadeiro humilhação que aquele jovem foi submetido. (v.16).
Num mundo onde ninguém lhe dava nada, sem lar, amigos, alimento, o filho passou a viver na miséria e sentiu as amarguras de sua decisão. E sob o signo do sofrimento e do abandono, o jovem pensou e refletiu o que havia feito. Naquele momento, pensou na fartura que havia desfrutado na casa de seu pai. E assim “caindo em si,” disse: “Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!” (v.17). A expressão “ caindo em si” traz a ideia de “voltar a si mesmo”. Quando isto ocorreu, ele tomou uma decisão: “ Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores.” (vv.18 e 19). Isto significa que que ele decidiu retornar, confessar seu pecado e dispor-se à condição de servo. Ele soube que seu abandono foi precipitado, que sua decisão foi insensata.Também entendeu que o que fez não foi apenas um erro, foi um pecado contra Deus e seu pai. Ele compreendeu quão ingrato ele havia sido, e sabia que não poderia mais ser chamado de filho, então, queria ser um empregado, um dos seus trabalhadores.
Após o reconhecimento da sua situação, o filho retorna ao lar. O seu retorno foi comovente à casa paterna. O texto afirma que “ele vinha ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.”(v.20). Que encontro maravilhoso! O pai olhava à distância o seu filho todo sujo e maltrapilho. Então, ele corre ao seu encontro e o recebe de volta, não como servo, mas como filho, pois não havia mais motivo para tristeza. Agora, o filho foi achado. Isto era o mais importante. Mas é interessante que naquele momento o pai não levou em consideração as condições que seu filho estava vivendo. Não exige prestação de contas ao filho. Não exige reposição do dinheiro esbanjado. Também não estabeleceu uma série de condições a serem preenchidas antes de ser readmitido em casa.
Contudo, o mais importante foi o reconhecimento do seu pecado. Agora, perante o pai, reconhece a sua situação pecaminosa: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.” (v.21). Reconhecer o pecado é admitir que cometeu uma falta, que desagradou a Deus e que merece castigo. Esta atitude é o primeiro passo para o perdão e a mudança de vida. O Pai Celeste também deseja que o pecador perdido retorne para Ele. E quando este retorno maravilhoso ocorrer, quando as lágrimas de arrependimento ocorrerem, quando as primeiras palavras de confiança e de fé brotarem em nosso coração, então, Deus nos envolverá e nos receberá como filho.
Ocorre que o pai encoraja o retorno de seu filho e o recebe com alegria. E , além de demostrar esta alegria e seu grande amor, que era imenso e inexplicável, ele ofereceu um anel, uma túnica e sandálias: “O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.” (v.22). O anel era muitas vezes um símbolo de autoridade e posição. Ao dar a seu filho o anel, o pai estava restabelecendo sua posição na família e concedendo-lhe autoridade. A túnica era uma peça de roupa de alto valor e status. Ao lhe dar uma nova túnica, o pai estava restaurando a dignidade e o valor do filho. Ao receber sandálias, o filho pródigo estava sendo reconhecido novamente como filho, não como servo. E finalizando este momento, o pai também manda preparar um bezerro cevado: “trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos.”(v.23).
Este grande amor do pai se resume nas seguintes palavras: “porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a regozijar-se.”(v.24). Note os contrastes das palavras: morto, vivo; perdido, achado. Este era o estado que se encontrava o filho. Estava morto, pois havia recebido toda sua parte da herança, não tinha mais nada e não fazia mais parte da família. Também estava perdido, pois havia desperdiçado tudo o que lhe poderia sustentar durante a vida. A palavra “morto” reflete o grau mais avançado de miséria que vivia o filho. Aquele filho estava morto e perdido, pois estava no mais profundo estado de desgraça. Porém há uma boa notícia, uma notícia que explica a reação do pai: estava morto, mas reviveu. Estava perdido e foi achado. Por isso, havia motivo para o pai e o filho se alegrarem. Temos também motivos para nos alegrar. O apóstolo Paulo escrevendo aos Efésios, ensina que “Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Efésios 2.1). No mesmo Evangelho de Lucas, o próprio Jesus declara: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19.10).
Este gesto de acolhimento imediato e afetuoso, demonstrado pelo pai, simboliza a natureza do amor de Deus. É o amor que Deus tem para conosco, um amor que não se baseia em nossos méritos, mas em sua graça e misericórdia. O Pai ama tanto os seus filhos que deu Jesus Cristo como Salvador e Redentor, para sofrer e morrer por nós. Ele é considerado a expressão do amor de Deus Pai, pois refletiu o amor do Pai em sua vida e em suas ações. Ele não só alegra com o nosso retorno, mas se compadece, perdoa, ama e nos protege. Toma pela mão e nos guia passo a passo na jornada de cada dia, ao qual podemos apresentar os nosso problemas, nossos temores e tudo que nos preocupa. Romanos 5.8 nos lembra que “Deus demonstra seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” Isto demonstra que também devemos perdoar uns aos outros, baseado neste grande amor que Deus demonstrou através de seu Filho.
No entanto, o filho mais velho, que permaneceu em casa e seguiu todas as regras, não demonstrou alegria com o retorno do irmão que saiu e desperdiçou tudo: “Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo.”(vv.25 e 26). Então,o criado informou: “Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde.” (v.27). “Ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo.”(v.28). Sua reação é de indignação, egoismo e ressentimento diante da atitude que o pai demonstrou em relação ao seu irmão. Além disso, não conseguiu entender, porque o pai o amava, ao invés de expulsar de casa. Na verdade, ele se vê como merecedor da recompensa por sua obediência e serviço diligente ao pai ao longo dos anos, e sente-se injustiçado pelo tratamento gracioso concedido ao irmão que retornou após desperdiçar sua herança. Sendo assim, apresentra a sua justificativa: “Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.” (vv.29 e 30).
Não entanto o pai, não responde com raiva. Ele manteve a calma e aborda diretamente às acusações raivosas contra seu filho mais velho com graça e verdade: “Filho, tu sempre estiveste comigo, tudo o que é meu é teu.” O pai também demonstra o seu grande amor ao irmão mais velho. Ele o chama de "filho,” lembrando que ele sempre esteve com o pai: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu.”(v.31). O pai explicou que tudo que ele tinha pertencia ao filho mais velho.” Isso ressalta que essa graciosa observação era um convite para o filho mais velho se arrepender (mudar sua perspectiva) e começar a desfrutar de sua família. Portanto, o filho mais velho deveria entender que o seu irmão havia subitamente voltado para casa. E,por isso, deveria comemorar e se alegrar com seu retorno: “era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.”(v. 32). O pai naquele momento não estava celebrando os erros do filho, mas sim sua mudança de vida. Por isso, era importante celebrar, porque antes o filho mais novo estava morto e agora tinha voltado à vida! Interessante as palavras que o pai usa: “estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.”
Hoje, muitas pessoas se comportam como o filho mais velho. Possuem uma compreensão equivocada da natureza da graça e do amor de Deus. Por vezes nos achamos melhores do que os outros. Julgamos e condenamos os que erram, nos orgulhamos das nossas obras e não nos alegramos com a conversão dos pecadores. Ocorre que nos esquecemos de que somos todos pecadores, dependemos da graça de Deus, e que o Senhor quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Por isso, precisamos ter um coração misericordioso, que se compadece dos que sofrem, que perdoa os que nos ofendem, e que se alegra com a salvação dos que se arrependem. Como tem sido o nosso relacionamento com Deus e com os nossos irmãos?
Portanto, assim como o pai na parábola, Deus está sempre pronto para nos receber. Ele nos chama de volta, e nos perdoa, restaura e celebra nossa volta ao lar. Por isso, somos desafiados a examinar nossos próprios corações e atitudes em relação à graça de Deus. Devemos estar dispostos a estender o mesmo amor e misericórdia aos outros. Que possamos acolher essa mensagem e viver de acordo com ela, para que possamos experimentar a alegria do Reino de Deus. Amém.
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