TEXTO: SL 24
TEMA: A VINDA DO REI
DA GLÓRIA
O salmo 24 é um dos hinos mais majestoso e imponente de todo o Saltério para este tempo de Advento. É um cântico litúrgico e profético escrito provavelmente por ocasião da chegada da Arca do Senhor até a tenda, preparada para ela no monte Sião (2Sm 6.1-15). Ele reflete o período que estamos vivendo, período maravilhoso que antecede o Natal. Por isso, é tempo de alegria, de espera, no qual nos orientamos nas promessas bíblicas da vinda do Rei da Glória. O Rei da Glória é o Criador de tudo. Ele tem poder de dominar sobre o universo e veio à terra como homem para realizar a obra de salvação (João 1.1 e 14). Ele veio através de Seu Filho. Jesus nasceu e morreu como homem por todos os nossos pecados, e triunfou sobre a morte. A morte não pôde detê-lo. Mas um dia o Rei da Glória, o Senhor forte e poderoso, voltará sobre as nuvens para o julgamento e o estabelecimento definitivo do seu reino. (Mt 25.31). Neste momento todos os anjos estarão com Ele e sua glória brilhará sobre tudo (Mateus 24.30).
É tempo de viver na expectativa da vinda iminente do Rei da Glória. Mas
de que forma vamos receber o Rei da Glória? Abrindo as
portas da nossa igreja, do nosso lar, dos nossos corações, da nossa existência,
e deixar o Rei da Glória entrar. Vamos
buscar Deus com a intensidade de Jacó. Com as mãos limpas, com o coração
marcado pela pureza, com uma alma que só se curva diante do Senhor e
comprometido com a verdade. Vamos recebê-lo colocando todo o nosso trabalho à
sua disposição, e servindo o Rei da Glória com alegria.
O salmista inicia seu cântico confirmando a declaração de domínio do
Senhor sobre o mundo e seus habitantes. Ele é enfático ao declarar: “Ao Senhor
pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele
habitam.” (vv.1 e 2). De fato, tudo pertence a Deus, pois tudo foi criado
por Ele, e por Ele tudo subsiste. Nele, portanto, devem estar todas as nossas
expectativas. Afinal, só ele cria, mantém, faz, conduz e preserva a vida e
todas as coisas, pois Ele é o Rei da Glória, o criador de tudo. Por isso, tem o
direito de exercer a autoridade absoluta sobre todas as coisas. O direito
de governar suas criaturas e delas dispor como lhe apraz, autoridade diante de
todos os seus habitantes. Este é o Deus todo poderoso, o Deus de Jacó, o Deus
da Salvação. O Deus que nos abriu caminho para subirmos ao monte. Sendo assim,
diante do poder e majestade de Deus, Davi faz uma pergunta que nos leva a uma
profunda reflexão: “Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer
no seu santo lugar?” (v.3).
Vamos entender estas duas perguntas! Partimos do princípio que Jerusalém
era o lugar onde estava o tabernáculo. Onde Davi erigiu para trazer a arca da
aliança de seu exílio, desde os dias do sumo sacerdote Eli (1Sm 4). Jerusalém
também era chamado de monte Sião, lugar onde o povo expressava seu louvor e
adoração. Sendo assim, subir ao monte do Senhor e permanecer no seu santo
lugar, exigia-se algo dos que o adorariam. Mas quem seria digno de entrar,
ou quem seria merecedor de habitar na presença de Deus? A pergunta do salmista
é importantíssima. Ela mostra que não é qualquer pessoa, de qualquer forma, sem
critério nenhum, que será admitida na casa de Deus, como hóspede, sob seu teto
e desfrutando da comunhão com Ele.
Penso que este é um momento para
refletirmos sobre esta pergunta, pois há muitas pessoas querendo habitar na
Casa do Senhor, mas só há interesse numa religião exterior, de aparência.
Apenas ocupam espaço no templo de Deus. Muitos se denominam "povo de Deus",
mas nunca foram de verdade conhecidos por Deus (Mt 7.23). Cantam, pregam, oram,
se reúnem, mas não possuem relacionamento com Deus. Nunca viveram a dimensão
pessoal da fé. Nunca consideraram a Deus de verdade; a opinião de Deus sobre
suas vidas e atitudes, sobre seus caminhos e modos de viver, sobre a forma com
que se relacionam uns com os outros e com o próprio Deus.
No entanto, Davi dá-nos uma dimensão da grandeza e santidade do nosso
Deus, e apresenta quatro características daquele que subirá ao monte, que
pertence ao Senhor, e que permanecerá no santo lugar. Vejamos a primeira
característica: “O que é limpo de mãos” (v.4a). Você já observou as suas mãos? Certamente, você conhece a importância
das mãos na rotina e nas tarefas diárias. Elas são responsáveis por várias
funções em nosso dia a dia. Elas expressam os mais variados sentimentos: mãos
que aplaudem, acariciam, abraçam, curam, sinalizam, escrevem, abençoam. Como se
observa, as nossas mãos são instrumentos de ação. Num
sentido espiritual, limpar as mãos equivalia a apresentar uma vida limpa diante
de Deus. Um dos requisitos cerimoniais judaicos era ter as mãos limpas. Os
sacerdotes eram obrigados a lavar as mãos antes de entrarem na presença de Deus
no tabernáculo e no templo (Êxodo 30.19-21). Era preciso passar por um processo
de limpeza e ter uma vida limpa se quisesse estar perto do Senhor.
David nos mostra que não podemos entrar na presença de Deus com mãos
impuras. O Senhor requer mãos limpas. Ter mão limpas significa não se
contaminar com as várias formas de corrupção. É manter as mãos consagradas à
vontade de Deus. Lembre-se que as mãos que tocam no altar do Senhor, devem
estar sempre limpas quando trazemos as nossas ofertas. O seu altar nunca deve
ser profanado por mãos sujas, nem por ofertas que não representem a grandeza de
Deus, ou que são trazidas de uma forma descuidada. Tiago disse: “Limpe suas mãos. . . e purificai os
vossos corações.” (4.8). O apóstolo Paulo falou para Timóteo: “O desejo de Deus é que todos os varões levantem as suas mãos santas,
sem ira, sem mácula, sem animosidade”. (I Tm 2.8). As suas mãos estão limpas diante de Deus? Deus nos convida a lavar,
purificar as nossas mãos de todo o pecado. O sangue de Jesus Cristo nos lava e
nos purifica de todo o pecado (I João 1.7-9)!
Davi apresenta a segunda característica: “ser puro de
coração” (v.4b).
O termo לֵבָב (coração) abrange todos os aspectos humano, tanto mental quanto
emocional, como pensamentos e desejos. Este coração, que Deus havia criado à
sua própria imagem, em perfeição, santidade e retidão foi dilacerado e
corrompido pelo pecado. Petrificou e tornou-se frio. Quando Davi passou a olhar
para o seu coração, cheio de adultério, de traição, de crime que ele havia
cometido, aprendeu que não era de qualquer forma que se entra na Casa do
Senhor, na presença do Deus Altíssimo. Era preciso ser puro, limpo, sincero,
sem pretensões de vantagens próprias, não segundo nossa própria vontade e
desígnio. Por isso, mãos limpas e coração puro são
características essenciais para alguém que almeja entrar Casa do Senhor,
Mas como podemos ter um coração
puro, um coração que agrade ao Senhor, mesmo tendo nossos pecados, nossos
defeitos, nossas fraquezas? Na verdade, precisamos
buscar aquele que pode tirar o coração de carne e substituí-lo por um coração
temente a Deus. Recorrer a Cristo com a súplica: Ó Deus, tem misericórdia de
mim, pobre pecador. Deixar-se purificar pelo sangue do Salvador. Orar
diariamente e fervorosamente, como fez Davi no salmo 51: “Ó Deus, lava-me
completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado; cria em mim, ó
Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável”.
O salmista apresenta a terceira característica: “que não entrega a sua
alma à falsidade”. (v.4c). O termo נֶפֶשׁ (alma) significa racionalidade,
pensamento, personalidade, caráter. Entregar a alma significa desejar, apegar-se. Já o termo שָׁוְא (falsidade) significa mentira, vaidade, inutilidade. Em resumo é uma atitude que não é verdadeira, ou uma atitude em que há mentira.
Esta triste realidade está presente na atual sociedade, que se encontra
mergulhada na mentira e na falsidade em todas as áreas dos nossos
relacionamentos. Falsidade na política, na justiça, na mídia em geral com
tantas notícias e propagandas enganosas, na economia, em nosso local de
trabalho, muitas vezes, até em nossos relacionamentos familiares e dentro das
igrejas.
Não devemos nos entregar a falsidade, esta é a recomendação do salmista.
Como cristãos devemos ter cuidado com as “vaidades da vida”. Não devemos gastar
nosso tempo, ou ser dominado por aquilo que é vão, fútil e não edifica
espiritualmente. Como cristãos devemos permanecer na verdade, pois a libertação
de todas as falsidades vem pelo conhecimento da verdade (João 8.32). Lemos em Efésios 4.25 que
devemos falar a verdade. Isto porque a falsidade destrói, mas a verdade
edifica. Se formos verdadeiros, teremos relacionamentos agradáveis com Deus e o
nosso próximo. Deus é único e verdadeiro, é por essa razão que nos receberá no
seu santuário. Mas somente quem não entrega a sua alma à falsidade, que não é vaidoso, que não se dedica à adoração de um ídolo, ou não deseja as coisas vãs desta vida, como honra, riquezas, prazeres.
O salmista apresenta a quarta característica: “nem jura dolosamente” (v.4d). O termo מִרְמָה (dolosamente) significa
traição, engano. Isto significa
que “jurar dolosamente” é
uma forma enganosa, mentirosa, dolosa contra as pessoas. É uma conduta
que leva as pessoas a viverem, fazendo falsas promessas e falando leviandades,
sem medir as consequências. Por isso, subirá ao monte aquele que não jura
enganosamente, que não precisa de juramento para confirmar a exatidão de suas
palavras, pessoas em quem podemos confiar, que fala sempre a verdade.
Precisamos estar comprometidos com a verdade. O apostolo Pedro afirma:
"...Refreie a sua língua... Evite que os seus lábios falem
dolosamente" (1 Pe 3.10)
Aqueles que agirem em conformidade com estes pré-requisitos, ou seja,
vivem uma vida consagrada a Deus, “subirá ao monte e permanecerá no seu santo
lugar.” No entanto, precisamos compreender que, entrar e permanecer na presença
de Deus, não nos é assegurada por causa das nossas boas obras, não porque somos
bons, não pela nossa força. Mas única e exclusivamente por causa do sangue de
Cristo que foi vertido na cruz, que nos liberta, nos livra do poder e domínio
do pecado, e que nos assegura o direito de entrar na presença de Deus. Sendo
assim, quem permanecer na presença do Senhor, receberá algo maravilhoso do
nosso Deus: בְּרָכָה (bênção) e צְדָקָה
(justiça). (v 5). Deus derrama graça de forma abundante sobre nós e nos abençoa de
forma transbordante, para que possamos repartir aquilo que recebemos do nosso
Deus. Ele também nos concede justiça, porque é justo, fiel, reto e não comete
erros (Êxodo 9.27; Deuteronômio 32.4). O próprio Deus fala sobre Sua justiça:
“... Eu sou o Senhor, que falo a justiça e anuncio coisas retas” (Isaías
45.19). Portanto, aquele que não
recebe o Senhor com falsidade, mentira, etc., mas recebe com verdade,
sinceridade, arrependimento, fé, este receberá: bênção e justiça (misericórdia)
da salvação do Senhor.
Esta é a ação de um Deus fiel para com aqueles que buscam a sua face. A
expressão face no hebraico é פָּנִים, se refere a presença de Deus, ou seja, buscar a presença de Deus na mesma
intensidade que Jacó.
(v.6). Na verdade, o que Deus requer é uma geração de
pessoas comprometidas com o verdadeiro louvor a Deus, um louvor puro e sincero,
uma consagração constante, uma santificação e separação do pecado. Enfim, quem
vai estar, de fato, na presença de Deus é quem O está buscando na mesma
intensidade de Jacó.
Lembrando da luta de Jacó com o Anjo do Senhor em
Peniel para receber uma bênção do Senhor (Gênesis 32.24-32).
Há uma
transição repentina, uma nova cena introduzida a
partir do versículo 7. Podemos imaginar que o cortejo
tenha agora alcançado às portas da cidade. Davi ao
conduzir a Arca da Aliança, prestes a entrar, clama:
“Levantai, ó portas as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para
que entre o Rei da Glória” (v.7). O verbo hebraico נָשָׂא
(levantar) significa um sinal de respeito. É uma forma de reconhecimento de que
àquele que adentrou é digno de reverência. É uma convocação para que todos os
que estão nas portas se levantem em sinal de reverência devido à chegada do Rei
da Glória. E o termo שַׁעַר (porta) lembra os tempos antigos quando as cidades fortificadas possuíam
portas. Eram portais grandes, colocados em pontos estratégicos nos muros que
rodeavam a cidade. Em caso de ataque inimigo, as portas eram fechadas, e das
muralhas as sentinelas protegiam a cidade. Já a expressão רֹאשׁ no hebraico é
usada com frequência nas Escrituras com referência a palavra cabeça, mas também
significa chefe ou líderes.
Quando o texto afirma “Levantai, ó portas, as vossas cabeças”, está
conclamando todos os líderes, a se colocarem de pé para adorar e reverenciar
Aquele que está chegando. Deus resolveu fazer morada na cidade de Davi. Não
foram as portas da cidade simplesmente que foram abertas para receber o Rei da Glória, mas os portais eternos permitiram que Deus entrasse naquela cidade. O texto propõe que as portas se abram porque o Rei está vindo e não será
impedido. Ele é forte e poderoso e nenhuma porta pode resistir a sua chegada.
Ele vence todas as batalhas. Ele é poderoso e tomou a decisão de que fazer
morada naquela cidade. Sendo assim, o salmista anuncia um acontecimento
glorioso. Enquanto, se alegrava ao conduzir a arca, ele
gritava: "Quem é o Rei da glória?” A resposta do povo: “O
Senhor, forte e poderoso, o Senhor, poderoso nas batalhas “(v.8). O
Senhor dos exércitos, ele é o Rei da glória". (v 10).
Estimados irmãos! Estamos na época de advento, e no próximo domingo vamos comemorar o Natal.
Vamos celebrar a vinda do Messias. O Messias que vem para reinar, a quem Davi
aguardava. Ele será diferente dos reis da época em que os servos honravam,
respeitavam reverenciavam. Ele é o verdadeiro Rei, o
verdadeiro Senhor de Israel e de Jerusalém. É Ele quem dá à vida, a percepção
mais profunda do que realmente importa: viver para a glória de Deus.
Mas como vamos receber o Rei da Glória? Vamos abrir não só as portas da
nossa igreja e do nosso lar, mas principalmente as portas de nossos corações.
Abrir as portas da nossa existência e deixar o Rei da Glória entrar. Ele quer
reinar em nossas vidas, em nosso lar. Vamos buscar Deus com a intensidade de
Jacó. Com as mãos limpas de culpa, com o coração marcado pela pureza, com uma
alma que só se curva diante do Senhor e comprometido com a verdade. Vamos
recebê-lo colocando todo o nosso trabalho à sua disposição, e servindo Rei da
Glória com alegria. Amém.
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