TEXTO: SL 90
TEMA: A ETERNIDADE DE DEUS E A BREVIDADE DA VIDA
O livro de Salmos está dividido em cinco seções principais, sendo que o Salmo 90 é a introdução ao Livro IV. Este livro é composto dos Salmos 90 ao 106. É o mais breve dos cinco livros identificados nos Salmos. Podemos comparar o Livro IV com o livro de Números, pois também relata a jornada do povo de Deus pelo deserto de maneira especial. O Salmo 90 é o único mencionado no Saltério, escrito por Moisés. Consequentemente, é também o salmo mais antigo. É bem possível que Moisés tenha escrito este salmo no final da sua jornada no deserto.
Quanto ao conteúdo ,o salmo nos oferece uma reflexão profunda sobre a eternidade de Deus e a brevidade da vida. Moisés testificou este assunto em sua oração. Ele inicia o Salmo com uma declaração e o conclui com uma súplica. Primeiro, ele fala sobre a eternidade, deixando evidente que Deus é eterno: “de eternidade a eternidade, tu és Deus” (v.2). Isto significa que nenhuma outra coisa ou pessoa possui o atributo da eternidade. Ela ,propriamente, pertence só a Deus. Ele é o mesmo no passado, no presente e no futuro. Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, ele é Deus. Como Deus é eterno, para ele mil anos é como o dia que se foi e como a vigília da noite.
Em contraste com à eternidade de Deus, o homem é mortal. A sua vida é breve, frágil, vunerável, efêmera e passageira.Também está sujeita ao cansaço e muitas aflições neste mundo. Portanto, o homem não é eterno. O homem nasce, cresce, vive e morre. E durante este tempo, seus dias são turbulentos e breves como um sono, seus anos acabam-se como um breve pensamento. Seu vigor é passageiro como uma flor que de madrugada viceja e floresce, mas à tarde murcha e seca. Mas o homem não é apenas vulnerável e mortal. É também pecador. Os seus pecados causam o furor e a ira de Deus. Ele é um afronto a Deus. As suas iniquidades são expostas diante de Deus e até mesmo seus pecados ocultos são manifestados aos seus olhos.
Diante do que foi exposto, o homem carece de sabedoria para contar os seus dias e alcançar um coração sábio diante da sua mortalidade e pecaminosidade. Ele está convencido do contraste existente entre a eternidade de Deus e a fragilidade humana. Sendo assim, ele suplica ao Senhor por misericordia divina. Sente necessidade de ser saciado a cada manhã com a benignidade de Deus, a fim de cantar de júbilo ao Senhor e alegrar-se durante seus breves dias sobre a terra. Anseia pela alegria na mesma medida que suportou a adversidade. Suplica, ainda, que as obras de Deus apareçam a seus servos e a glória de Deus apareça aos seus filhos. Somente o Deus eterno é a nossa habitação. Ele atende o nosso clamor. Nele está a nossa esperança. O Salmo 90 trata deste assunto.Então,vejamos!
I
Moisés inicia o salmo falando da proteção divina: “Senhor, tu tens sido o nosso refúgio.” (v.1a). O termo Senhor aqui é אֲדֹנָי , não é o nome próprio de Deus (Êx 3.14, 15). O nome próprio é אהיה traduzido nas bíblias em português como SENHOR (letra maiúscula) . O termo אֲדֹנָי era o nome de Deus usado no Antigo Testamento em vez do nome divino ( אהיה), devido o respeito ao SENHOR, o povo não pronumciavam este nome. Mas o salmista reconhece a majestade, a autoridade ,a soberania, a superioridade do nome אֲדֹנָי. Reconhce a grandeza divino de Deus, como o Senhor dos Senhores. Já o termo מָעוֹן significa moradia, habitação. Aqui, o salmista usa esta imagem para descrever o lugar de onde vinha a proteção e abrigo. Para o salmista, o Criador do mundo era a sua habitação. Era seu único refúgio e de seu povo. Dito de outro modo: Moisés faz do Senhor, o Deus Eterno e Criador de todas as coisas, a morada de seu coração, sua habitação inabalável, seu refúgio eterno, de geração em geração.
Deus sempre foi a habitação de seu povo em diferentes épocas e lugares. Ele nunca deixou de consolar e trazer esperança para o seu povo. Nós também podemos afirmar que Deus é a nossa habitação, nosso abrigo, nosso refúgio. Para onde iremos se não estivermos sob a guarda e o olhar de nosso Deus ? Onde estaríamos após os inúmeros ataques dos dardos inflamados do maligno, se o Senhor não fosse a nossa habitação? Onde estarão futuramente nossos filhos, se Deus não nos guardar hoje em dia? Será que o Senhor tem sido a nossa habitação? A habitação do nossa familia? Dos nossos filhos?
Contudo, ao que parece, a intenção do escritor é enfatizar não apenas o efeito da ação de Deus, mas sua durabilidade: “de geração em geração.” (v.1b). A duplicidade de palavras significa que Ele sempre é. Ou seja, as ações divinas não são circunstanciais. Elas são ações contínuas na vida do ser humano. Prova disso, as gerações passadas do povo de Deus, desde das peregrinações nos desertos, à permanência no cativeiro e na terra que o Senhor concedeu ao seu povo, Ele sempre os protegeu. Ocorre que o Senhor sempre se mostrara ser a habitação de descanso, refúgio de seu povo ( Sl 91.9; Sl 71.3).
Mas quem é este Deus? Ele é o Deus criador de todas as coisas, nos céus e na terra. Ele é eterno: “Antes que os montes nascessem, antes que formasses a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus.” (v.2). A palavra hebraica para “eternidade” usada aqui é עוֹלָם que pode se referir tanto ao passado infinito quanto ao futuro infinito. Esta é a eternidade de Deus. O Deus das gerações é o Deus eterno. E a eternidade pertence só a Deus. Sendo assim, é muito difícil alcançar o conceito da eternidade como um todo. Neste sentido, o salmista faz questão de declarar que o Deus eterno, que existe antes dos montes, antes de tudo é o refúgio de seu povo. O fato de haver um Deus eterno e imutável dá ao homem a única e ao mesmo tempo toda estabilidade em um mundo em mudanças.
Em contraste com à eternidade de Deus, Moisés mostra o quanto o homem é frágil. É tão pequeno, tem uma vida humana efêmera e passageira.Também está sujeita ao cansaço e sobre muitas aflições neste mundo. E, se isso não bastasse, ainda, o homem é mortal : “Tu reduzes o homem ao pó e dizes.” (v.3a). O termo שׁוּב (reduzir) significa voltar, retornar. Já o termo דַּכָּא (pó) significa contrito, destruido,(literalmente) em pó. “Tu reduzes o homem à destruição.” Moisés tinha visto o julgamento de Deus ao transformar o homem em destruição. Ele pronunciou a sentença de morte, de destruição ao seu povo por causa do pecado. Mas também dirá: “Voltem, ó filhos dos homens”. (v.3b) Aqui o salmista usa o mesmo verbo da frase anterior. A maioria das versões e comentários considera essa expressão uma explicação da frase anterior, de que o homem é ordenado a voltar ao pó, de onde seu corpo veio. No entanto,outros consideram uma determinação para voltar a Deus em arrependimento: "Trazes o homem a um estado de contrição, dizendo: 'Arrependa-se, descendente do homem' (Harrison).
Da mesma forma, Deus não pode ser limitado pelo tempo. Deus enxerga o tempo de uma forma bem diferente do nosso tempo. Enquanto, o homem se preocupa com o tempo. Sabe que à medida que envelhece, o tempo passou. E não pode recuperar os minutos que se passaram, Deus não tem esta preocupação. O tempo não limita a Deus. Sendo assim, “Moisés nos lembra que mil anos são como um dia de ontem que se foi e como a vigília da noite.” (v.4a). O que são mil anos? Para o ser humano são muitos anos. Parece que o tempo é imenso, longo. Mas para Deus é breve periodo, como um dia , ou até mesmo quatro horas para um homem que está dormindo. Isto nos mostra que Deus é eterno e esta acima do tempo humano. Sabe tudo o que aconteceu e o que pode acontecer. Ele sempre existiu e sempre existirá.
No entanto, Moisés descreve através de metáforas, o quanto o homem possui um vida tão breve. Passa tão rápido, em comparação com Deus, que é eterno. Vejamos as três metáforas: primeiro, “Tu os arrastas na torrente.”(v.5a). O verbo זָרַם significa derramar, inundar, despejar. Traz a ideia de uma correnteza que arrasta os homens. Como se a nossa vida fosse levada embora, sem levar em conta a ordem, posição, idade ou condição. Portanto, a morte não faz discriminação. Isto ocorre todos os dias. São pessoas que são arrastadas e enviadas para a sepultura – como se fosse uma inundação violenta que varrasse estas pessoas.
Segunda: “são como um sono.”(v.5b).Quando um homem dorme, ele não tem noção do tempo. Quando acorda, várias horas se passaram sem que ele perceba, e, consequetemente, não realiza nada. Isto demonstra que a vida humana é tão rápida e fugaz. Temos sonhos e visões, mas não tornam-se permanente. É tudo em vão, dissolve-se no nada. Assim é a vida do homem. Terceiro: “como a relva que floresce de madrugada; de madrugada, viceja e floresce; à tarde, murcha e seca.” (vv.5c e 6a). Nesse aspecto, o homem não é diferente da grama: sua vida é curta (Sl 103.15-16; Is 40:6-8; 1Pe 1.24). Nascemos, vivemos a nossa vida com nossas lágrimas e descemos à sepultura. Tudo passa rapidamente e nós voamos.
A vida não é apenas curta, mas, também, a morte é certa. A morte chega para todos. Chega, às vezes, sem aviso prévio. A morte é um processo natural, mas não como Deus planejou durante a criação. A Bíblia diz que a morte é uma sentença divina. Deus disse ao homem transgressor: “Porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.19). Diz ainda mais as Escrituras: “Ao homem está ordenado morrer…” (Hb 9.27).A morte veio ao mundo através do pecado. Moisés afirma: “ Pois somos consumidos pela tua ira e pelo teu furor, conturbados.”(v.7). O verbo כָּלָה (consumir) significa realizar, cessar, determinar, acabar. Já o termo בָּהַל (conturbar) significa perturbar, alarmar, aterrorizar, apressar.
De acordo com Moisés, o povo foi consumido pela ira de Deus em algumas ocasiões. Fato este que ocorreu com o povo de Deus quando andou pelo deserto. Ele, durante a jornada de quarenta anos no deserto, viu muita gente morrer.Foi uma jornada longa e terrível, com várias mortes que o povo enfrentou a cada dia. Era um sinal de que Deus estava indignado com seu povo. E como resultado, os israelitas viveram oprimidos pela sua ira. Cada morte foi uma demonstração da ira de Deus, pois não suporta o pecado e a maldade do povo. Então, Deus julgou seu povo por causa do pecado. Ele coloca diante do povo a perversidade, depravação, iniquidade, culpa:“Diante de ti puseste as nossas iniquidades e, sob a luz do teu rosto, os nossos pecados ocultos.” (v.8). O Senhor estava vendo todos os pecados mesmos aqueles que estavam ocultos ou escondidos. Nenhum pecado é escondido de Deus. Ele vê todas as nossas ações e pensamentos, revelando a necessidade de arrependimento.
Portanto, por causa do pecado, Deus estava indignado com seu povo. E,por isso,resolveu agir. Moisés afirma que esse agir de Deus trouxe ao seu povo angustia e sofrimento, não foi apenas por um curto período de tempo, mas que foi estendido sem intervalo até a morte :“Pois todos os nossos dias se passam na tua ira; acabam-se os nossos anos como um breve pensamento.”(v.9).A palavra hebraica פָּנָה (passar) significa virar, voltar-se para, afastar-se de. Aqui, traz a ideia de que todos os dias a ira de Deus não quer afastar-se. Ela permanecia na vida do povo.Seria bom que todos os dias de nossa vida passassem na alegria de Deus. Mas os anos passam e a maioria das pessoas passa na ira de Deus . Precisamos entender que os nossos anos são como uma história breve, que acaba numa vida agonizante e fialmente num breve suspiro. ( הֶגֶה ). E assim termina a vida! Ela é fugaz, breve e tudo passa, uma verdade que muitos preferem ignorar. E você,como tem lidado com esse tempo transitório? Tem aproveitado o tempo, para andar nos caminhos do nosso Deus?
De fato,a vida é transitória.Ela passa rapidamente como um suspiro. Davi declarou assim: “O homem é como um sopro; os seus dias, como a sombra que passa.” (Salmos 14.4).Moisés também afirma que a nossa vida é tão breve e insignificante aos olhos do Criador: “Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta.” (v.10a). Essas palavras de Moisés nos lembram da inevitável passagem do tempo. Conforme os anos vêm e vão, começamos a ver e a sentir mudanças em nosso corpo. Nosso cabelo fica grisalho ou cai. As dores tornam-se frequentes. Embora as pessoas pudessem viver até os 70 ou 80 anos, a vida é cheia de trabalho árduo, problemas e frustração. Como afirma o salmista: “neste caso, o melhor deles é canseira e enfado.”(v.10b). A palavra עָמָל traduzida por “canseira” signidfica trabalho, labuta. A ideia aqui é que o trabalho árduo torna-se pesado, e o corpo é oprimido e logo fica cansado e exausto. Já o termo אָוֶן significa sofrimento, problema,incômodo. Estes termos mostram o quanto a vida do homem é cansativa e sofrida; e causa distanciamento do Senhor e infelicidade. Além disso, ela “passa rapidamente e nós voamos.”(v.10c). Significa que a vida logo passa, como se fosse levada pelo vento para longe; impelido para a frente como palha. Assim é a vida!
Diante o que foi exposto, o salmista faz o seguinte questionamento antes de continuar com a seção final da sua oração. Tira a lição e a conclusão do que viu de Deus. Isso contém uma lição importante para nós, que antes de orarmos de acordo com a vontade de Deus, devemos primeiro conhecê-lo: “Quem conhece o poder da tua ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é devido?” (v.11).No Antigo Testamento, a ira de Deus é uma resposta divina à desobediência e pecado do homem,principalmente, em relação à idolatria. Ela revela a sua aversão ao pecado e conduz às pessoas ao arrependimento. A verdade é que os homens deixam Deus de lado e não levam em conta a severidade de Deus (Rm 11.22). Sobre eles permanecem a ira de Deus. Ela se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça. Mas quem conhece a força ira de Deus? Quem “entende o poder” da “ira e… fúria” de Deus na vida das pessoas, sejam elas fortes ou fracas, solitárias ou numerosas, pobres ou ricas ? Quem pode compreender o que é isso? Nenhum homem entende isso. A mesma resposta se aplica à questão de saber se alguém entende “o temor que é devido” a Deus.
Só é possivel entender quando o homem reflete sobre a sua futilidade e o vazio existente em sua vida. Saber que a ira de Deus deve ser temida, porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Romanos 3.23). Saber que a ira de Deus é justa. Ele age com justiça. Somente aqueles que foram cobertos pelo sangue de Cristo, derramado por nós na cruz, podem estar seguros de que a ira de Deus nunca cairá sobre eles: "Por causa de Cristo, Deus pode justamente declarar que pecadores estão justificados (Romanos 3.26). O amor de Deus e a sua ira frequentemente andam juntos (Num 14:18; Rom 11:22; Heb 12:5) e verdadeiramente é uma expressão do seu amor (Sal 136.14-21). Este o caminho da compreensão da ira de Deus. E aí está o princípio da sabedoria (Pv 1.7; Pv 9.10), uma sabedoria que se curva à justa ira e fúria de Deus sobre o pecado.
II
Tudo o que salmista relatou, constitui algo muito importante para que ocorra uma avaliação pessoal e a busca de uma solução sábia. Sendo assim, ele suplica em sua oração para que o Senhor possa ensina-lo. Na verdade, ele entendeu que as lições divinas extrapolam a inteligência humana. Por isso, Moisés ora: “Ensina-nos a contar os nossos dias.” (v.12a). Penso que cada um de nós já usou esta expressão alguma vez: “Estou contando os dias... para que isto ou aquilo aconteça.” A tendência do ser humanos é contar os dias, acompanhar o calendário até a chegada do dia tão esperado. Por exemplo, o casal de namorados conta os dias para poder se ver de novo. Ou ainda, a criança que conta nos dedos quantos dias faltam para seu aniversário. É isto que a vida ensina para muitos: investir para receber mais benefícios financeiros, que são invejáveis. Privilégios neste mundo globalizado que promove e enriquece às pessoas.
Mas não é exatamente isto que o salmista nos ensina. Ele nos ensina a contar nossos dias de tal maneira que alcancemos um coração sábio. Por que contar os dias? No próprio texto, o salmista apresenta às razões: porque a vida do ser humano é como a erva que brota de manhã, de madrugada viceja e floresce, mas à tarde murcha e seca; porque todos os nossos dias se passam na tua ira; acabam-se os nossos anos como um breve pensamento; porque os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado; porque tudo passa rapidamente, e nós voamos. Portanto, alcançar “coração sábio,” (v.12) deve ser o objetivo do povo de Deus. Paulo disse que, se recebermos sabedoria e entendimento espiritual, devemos viver (...) de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado (Cl 1,10). Da mesma forma, precisamos buscar um coração sábio vindo de Deus e a valorização do tempo que o Senhor nos concedeu. Sabedoria para nos prepararmos para o que está por vir. Corramos em direção ao Eterno, fonte preciosa e inesgotável da verdadeira sabedoria e felicidade.
Moisés percebeu a importância de se alcançar sabedoria. Durante quarenta anos foi instruído em tudo o que havia de melhor da sabedoria que vem do Senhor. Ele sabia que a sua vida era cheio de dificuldades, dissabores e dores, pois vivenciou todos estes problemas ao conduzir os israelistas pelo deserto, que eram obstinados e desobedientes a Deus. Por mais que se esforçasse para ter uma saída, não conseguia enxergar um raio de luz. Então, nesse momento o salmista irrompe em seu desespero e suplica a Deus que mostrasse sua majestade ou esplendor a seus servos : “Volta-te, Senhor! Até quando? Tem compaixão dos teus servos.” (v.13). Até quando? Por quanto tempo isso vai continuar? Por quanto tempo a tua ira se enfurecerá? Por quanto tempo o povo ainda ficará sob as tuas mãos? A pergunta “até quando?” é comum no Antigo Testamento, geralmente indicativa o desespero do homem longe da proteção divina. Isto demonstra o quanto o salmista sofria. Ele realmente não aguentava mais continuar naquela situação. O seu desejo era que Deus o livrasse daquela situação que lhe causava tanta sofrimento.Há momentos em que a nossa fé vacila, a paciência chega ao limite, o nosso ânimo decai. Sentimos inseguros, com medo, vacilantes; frágeis e aparentemente, tudo vai “desabar” sobre nós. Então, perguntamos: “Até quando?”
Moisés,então, suplica por misericordia ao Senhor. Tem compaixão – isto é, retire os teus julgamentos e seja misericordioso para com os teus servos. Roga que Deus aja com Israel assim como se lhe estivesse servindo um banquete que lhe saciasse a fome: “Sacia-nos de manhã com a tua benignidade.” (v.14a). O termo שָׂבַע (saciar) significa estar satisfeito, estar farto, estar cheio. É a vontade de Deus que os cristãos vivam com corações profundamente satisfeitos. Ele não quer que nossos corações estejam continuamente inquietos, temerosos ou sem alegria. Portanto estar satisfeito significa desfrutar de paz, contentamento, confiança em Deus. O salmista ainda afirma que devemos saciar-nos de manhã com a “benignidade do Senhor”. É justamente,pela manhã quando levantamos, constatamos um dia de problemas — problemas que, muitas vezes, não podemos resolve-los. Neste momento nos sentimos fracos e debilitados.Então, clamamos a Deus pela sua benignidade para nos satisfazer, fazer felizes e nos alegrar, e assim cantemos de júbilo e nos alegremos todos os nossos dias.” (v.14b). E interessante que o salmista afirma que será “todos os nossos dias” — não apenas nos dias ensolarados, nos dias felizes.
O salmista suplica , porque entende que durante muitos anos o povo de Deus enfretou muitas aflições. Foram dia e anos sofrendo no deserto, um lugar seco e quente, sem muita vida, difícil de suportar. Agora, Moisés suplica ao Senhor que mude esta situação para momento de alegria: “Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido, por tantos anos quantos suportamos a adversidade.” (v.15). Ele pede tantos anos de alegria renovada para os israelistas, da mesma forma que os anos de aflição e angústia que eles tinham visto. Eles já haviam visto seu poder, demonstrado em obras de julgamento. Mas agora ele pede que o Senhor mostre o outro lado de seu semblante, isto é, atos de graça. Na nossa caminhada também enfretamos muitas aflições, São dias e anos cansativos.Somente Deus dá sentido para nossa vida e nos sustenta, mesmo nas horas mais difíceis. Quando centramos toda nossa vida em Jesus, encontramos paz e contentamento em todas as circunstâncias. Por isso,peçamos a Deus que transforme a nossas tristezas que se abatem sobre nós, em alegrias
Moisés ainda clama pela manifestação dos feitos divinos aos servos e seus filhos. Ele reconhece a fragilidade da existência humana e a sua dependência do Criador. Sabe que os feitos divinos são incompreensíveis para a mente humana e que só podem ser revelados por meio da graça de Deus. Por isso,suplica ao Senhor: “Aos teus servos apareçam as tuas obras, e a seus filhos, a tua glória.”(v.16). Moisés pede que os servos de Deus sejam agraciados com a manifestação dos feitos divinos para que possam crescer em fé e louvar o nome do Senhor. Pede também que os filhos dos servos de Deus também possam contemplar a glória divina, para que eles possam crescer em conhecimento e amor a Deus. Esse pedido é uma expressão de amor, de humildade e reconhecimento da grandeza de Deus.
O salmista finaliza o Salmo solicitando a bondade do Senhor, pedindo que esta bondade esteja presente na vida de seu povo: “Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus.” (v.17a). O termo usado aqui no original é נֹעַם que significa bondade, favor. A Bíblia nos fala que a bondade de Deus é uma de suas principais qualidades ou atributos. Faz parte da essência de Deus ser bom e generoso. Essa bondade pode ser vista nas obras que Ele fez e no amor que tem manifestado pela humanidade, ao criar, sustentar e oferecer reconciliação em Jesus Cristo.
Mas não é apenas isso. Ele também pede que a obra de nossas mãos seja consolidada: “confirma sobre nós as obras das nossas mãos, sim, confirma a obra das nossas mãos.” (v.17b). Moisés aqui representa a voz de todo o povo de Deus, o que é evidente pelo uso das palavras “nosso” e “nós”. Mas o que isso significa? Significa que o salmista sabia que a obra de suas mãos, a liderança do povo de Israel, eram importante e que precisava ser consolidada. Sendo assim, ele queria que seu trabalho tivesse um impacto duradouro e que fosse lembrado pelas gerações futuras.
Também podemos pedir que o Senhor esteja sobre nós. Consolide a obra de nossas mãos e que estas obras teanham um impacto positivo na vida das pessoas, e que sejam lembradas por gerações futuras. Então, podemos ter a certeza de que, com fé e perseverança, podemos alcançar nossos objetivos e deixar um legado duradouro para as gerações futuras.
Podemos aprender com o salmista durante o nosso tempo neste mundo. Ele teve muitos desafios e enfrentou muitas dificuldades. Ele viu seu povo sofrer, enfrentou a ira de Deus e teve que lidar com a rebeldia de seu próprio povo. Mas, apesar de tudo isso, ele nunca perdeu a fé e continuou a orar pela bondade e proteção de Deus. A verdade é que ele inspirou muitas pessoas ao longo dos séculos e continua sendo uma fonte de conforto e esperança para aqueles que buscam a bondade e a proteção de Deus durante a vida passageira neste mundo. Por isso, precisamos reconhecer a brevidade da vida e buscar sabedoria divina para viver de forma justa e significativa. Enfim,Senhor, ensina-nos a contar os nossos dias! Amém!
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