quinta-feira, 12 de junho de 2025

TEXTO: SL 8

TEMA: A MAJESTADE DE DEUS E A DIGNIDADE HUMANA

Estimados irmãos em Cristo! É uma grande alegria e um privilégio estarmos reunidos, com nossos corações abertos para ouvir a Palavra de Deus. Hoje, celebramos o Domingo da Santíssima Trindade. Este é um domingo em que a Igreja Cristã reflete sobre a ação do Espírito Santo, ou seja, sobre a relação entre a Igreja Cristã e o Espírito Santo, a santificação, a luta da Igreja contra o mal e os fins dos tempos. O Salmo 8 serve como fundamento para a nossa meditação neste Domingo da Santíssima Trindade. Trata-se de um salmo breve, mas de uma profundidade imensa, que nos convida a contemplar a grandeza do Criador e,ao mesmo tempo, um hino de louvor e admiração pela dignidade que Ele concedeu à humanidade. 

Mas o que o salmo nos ensina sobre a criação de Deus? Primeiro, nos revela que uma mera contemplação dos céus (lua, estrelas, etc.) é suficiente para atestar a glória, a sabedoria e o poder infinitos do Criador. Não necessitamos de elaborados argumentos filosóficos para reconhecer a existência e a magnificência do Senhor. A própria natureza clama por Sua majestade.

Segundo, mesmo por meio dos mais simples e humildes (como crianças e bebês), Deus estabelece Sua força, demonstrando que Seu poder não depende da grandiosidade humana, mas é inerente a Ele, manifestando-se de maneiras inesperadas.

Terceiro, nos ensina que a humanidade possui um valor intrínseco, uma dignidade singular que emana diretamente de Deus, e não de suas próprias realizações ou capacidades. Somos criaturas dotadas de um propósito divino, distinguidas e honradas pelo próprio Criador.

Enfim, Deus não apenas nos dignificou, mas nos concedeu domínio sobre "as obras das Suas mãos", colocando "tudo debaixo dos seus pés". Isso inclui os animais (ovelhas, bois, animais do campo, aves do céu, peixes do mar). Ao exercermos essa mordomia com sabedoria e amor, estamos, de certa forma, refletindo a própria glória de Deus que nos foi confiada.

Ao refletir sobre a grandeza do universo, como me sinto em relação à minha própria existência? Como a imensidão do universo (céus, estrelas, lua) o que me leva a glorificar a Deus, hoje? De que forma, em nossa vida, a glória de Deus se manifesta até mesmo através de coisas ou pessoas "pequenas" ou "simples", como as crianças mencionadas no salmo? Em que áreas da minha vida eu preciso melhorar minha mordomia sobre aquilo que me foi confiado (tempo, talentos, recursos materiais)? São perguntas que requerem respostas diante da nossa meditação.

O salmista inicia e conclui este salmo com uma exclamação de admiração e louvor: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!” (v.1a). Observem que Davi emprega duas designações distintas para o nome do “Senhor.” O primeiro nome, escrito com letras maiúsculas em Hebraico, refere-se a יְהוָה (Yahweh). Este é o nome verdadeiro de Deus, revelado a Moisés na sarça ardente. Trata-se do nome pessoal e sagrado do Deus da aliança. O segundo nome, por sua vez, denota "senhor", "mestre", "soberano", exercendo como um título. Essa dupla afirmação do salmista é uma confissão de fé coletiva (Senhor nosso). Isto significa que o Deus de Israel, não é nenhum tipo de divindade nacional, como se pode ver nos povos vizinhos do Antigo Oriente.É desta forma que Davi se dirige a Deus neste Salmo, tanto pelo nome quanto pelo título divino. Ele procede dessa maneira, porque o "nome" de Deus aqui simboliza Seu caráter, autoridade e revelação. Ele  transcende a mera palavra. É uma manifestação de Sua natureza, poder e amor. Como  Deus é magnifico! Por isso, devemos agradecer todos os dias o dom da vida e por sermos filhos do altíssimo,

Mas  a majestade de Deus não é vista apenas na terra, mas também no céu. O céu é o lugar por excelência da habitação e da atuação de Deus. É no céu que a glória de Deus se manifesta de forma visível: “Tu puseste a tua glória acima dos céus” (v.1b). Aqui,  termo הוֹד (glória) denota grandeza, esplendor e excelência. Essa afirmação ressalta a  majestade   e o poder de Deus manifestos através da criação. Ela nos revela que uma mera contemplação dos céus (lua, estrelas, etc.) é suficiente para atestar a glória, a sabedoria e o poder infinitos do Criador. Não necessitamos de elaborados argumentos filosóficos para reconhecer a existência e a magnificência do Senhor. A própria natureza clama por Sua majestade. A Bíblia nos ensina que a natureza é um poderoso testemunho da glória de Deus. O Salmo 19.1 declara: "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos." Isto demonstra que a glória de Deus, não apenas permeia o universo, mas se estende acima e além de todas as coisas criadas. Portanto, nada se compara  com à Sua glória. Assim, reconhecemos que Ele é digno de toda adoração, pois Sua glória é inatingível e incomparável.

Como podemos observar, Davi contemplou a magnificência de Deus através de Seu poder e glória manifestos na criação, tanto na terra quanto nos céus. Neste contexto, ele reflete que o poder e a glória de Deus também se revelam nas crianças pequenas – nos bebês e lactentes – pois a força divina é claramente evidente nelas: “Da boca de pequeninos e crianças de peito.” (v.2a). Interessante que o salmista fala do poder de Deus a partir de duas figuras contrastantes no Antigo Testamento. primeiro o termo hebraico עוֹלֵל  que evoca a ideia de crianças, menino. Segundo ele usa o termo יָנַק  que significa lactente, bebê. Estes termos simbolizam a pureza, a simplicidade e a vulnerabilidade dos pequeninos. São aquelas que, sob a perspectiva humana, não possuiriam força ou voz para enfrentar grandes adversários. No entanto, por meio de crianças inofensivas e indefesas, Deus utiliza elementos que, à primeira vista, poderiam parecer frágeis para exibir Sua glória e poder. Vejamoso que diz Paulo em Coríntios 1.27: “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes.”

As palavras do salmista evidenciam que o louvor puro e despretensioso das crianças é uma força poderosa capaz de silenciar críticos e adversários: “ “suscitaste força, por causa dos teus adversários.”(v.2b). A palavra יָסַד (suscitar) significa fundar, fixar, estabelecer, lançar alicerce (Esdras 3.12; Isaías 54.11). E a expressão עֹז (força) não vem dos próprios pequeninos, mas é originada por uma intervenção divina. É uma força que transcende a capacidade natural. Ela não é física ou intelectual, mas uma manifestação da soberania de Deus que opera através da simplicidade e pureza. Ela pode ser manifestada de várias formas, como o louvor sincero, a fé inabalável ou até mesmo a simples existência que testemunha a grandeza do Criador. Na Septuaginta a palavra é traduzida por “louvor”,  traz um significado profundo sobre o "perfeito louvor" das crianças a Jesus. (Mt 21.16). Era a força que emudecia os líderes religiosos e suas críticas. O louvor desta crianças, reconhecendo Jesus como Messias, era um testemunho irrefutável e um desafio direto à autoridade e incredulidade dos que se opunham a Ele. Mas  era um louvor forçado ou intelectualizado, mas uma admiração espontânea pela criação de Deus e Seu poder.

No entanto, esta  força de Deus , tem como objetivo neutralizar a oposição do adversário, afastando todo o caos gerado por eles : “para fazeres emudecer o inimigo e o vingador.” (v.2c). Emudecer significa tirar a voz, deslegitimar as palavras e anular o poder de ataque verbal ou de difamação. É como os  argumentos perdessem a força e se tornassem vazios. Emudecer  também pode ir além da fala, significando paralisar a capacidade de agir, do inimigo quando fala, acusa, calunia e zomba. Portanto,  o inimigo e o vingador  buscam prejudicar, retaliar ou destruir. Mas quem eram esses inimigos vingadores? Eles não são especificados no texto. Mas é natural supor que  a referência seja a alguns dos inimigos do autor do salmo que estava tentando se vingar. Sendo  que  objetivo final era calar, confundir e desarmar os inimigos ou adversários. Desmascarar sua arrogância, frustrar seus planos ou simplesmente mostrar que seus ataques são impotentes diante do poder divino. A verdade é que Deus os impede de executar seus planos maliciosos, frustrando suas intenções, especialmente através de instrumentos que eles consideram fracos, como "pequeninos e crianças de peito" – isso os desorienta e os leva à derrota.

Na sequência o salmista coloca ênfase na obra da criação de Deus. Nesse sentido ele lança mão do antropomorfismo para falar da vastidão do universo como obra dos “dedos de Deus.”  No Antigo Testamento, falar dos dedos de Deus aponta para a intervenção e o agir direto e imediato do SENHOR. Por isso,somos convidados contemplar a grandiosidade da criação, não apenas como um espetáculo visual, mas como a obra primorosa dos "dedos de Deus." Veja o que disse o salmista: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste.” (v.3). Ao meditar sobre estas palavras, ele revela  dois contrastes impressionantes: primeiro, os céus, a lua, as estrelas – tudo isso representa a vastidão, a distância e o poder do universo. É algo que nos faz sentir pequenos e, ao mesmo tempo, maravilhados com a grandiosidade deste universo. Segundo, a expressão “teus dedos” é uma metáfora poderosa. Ela sugere não apenas o poder de Deus para criar algo tão gigantesco, mas também a delicadeza, a precisão e o cuidado com que o SENHOR o fez. Não é um ato de força bruta, mas de uma arte minuciosa. Imagine a precisão necessária para "estabelecer" cada estrela em seu lugar, para que a lua siga sua órbita perfeita, influenciando as marés e iluminando a noite. Mas o  que esta contemplação nos revela?  Somos lembrados da grandiosidade de Deus e de Sua obra de criação, que revela Seu poder, sabedoria e cuidado. Por isso, precisamos reconhecer a soberania de Deue e sentir admiração e humildade.

O ocorre que o salmista, ao observar a imensidão do universo, se sente pequeno e insignificante. Ele faz um pergunta retórica sobre a identidade do ser humano  e nos  ausa admiração: “Que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o vcisites?” (v.4). A expressão אֱנוֹשׁ (homem) pode carregar a conotação de fraqueza, mortalidade e fragilidade. É o ser humano em sua condição mais vulnerável e finita. Da mesma form,   בֵּן אָדָם     (filho do homem), reforça a ideia de humanidade, a descendência de Adão, o que nos liga à nossa natureza terrena e passageira. Davi está basicamente dizendo: “Por que Deus deveria notar um pequeno homem no meio de um vasto universo? Por que Deus deveria se lembrar de que estamos aqui ou prestar atenção em nós?”  Obviamente o salmista está se referindo à fragilidade e a transitoriedade dos seres humanos diante da majestade de Deus. A pergunta, portanto, expressa um profundo  o quanto somos tão pequeno comparando com a magnificência e o poder infinitos de Deus. Não somos nada por nós mesmos em comparação com a grandiosidade divina. Mas tudo o que o ser humano é, ele deve ao cuidado amoroso e  misericordioso de Deus. Ele lembra do homem e o visita diariamente.

Entretanto, de maneira surpreendente, Davi afirma, sobre a condição do homem. Fala sobre  o lugar da humanidade na criação:  “Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus.” (v.5a). A conjunção adversativa  ( וַ ), traduzida por “no entanto”, demonstra a distância entre a dignidade do homem como criatura e a dignidade conferida por Deus a ele. É a enorme distância entre o que deveríamos ser e o que somos. Literalmente, podemos afirmar: "Fizeste-o, no entanto, um pouco inferior", ou “um pouco menor do que os anjos.”  Algumas traduções sugerem, "pouco menor do que Deus" ( אֱלֹהִים ), usam o termo "Deus" (veja ARA). Independentemente, da tradução exata, a mensagem é clara: Deus conferiu à humanidade uma dignidade extraordinária, uma posição privilegiada na Sua criação. Fomos coroados com glória e honra (v.5b). Isso não é algo que conquistamos. É um presente da graça divina. Sim, o homem é pequeno no universo. Mas ele é significativo,pois foi coroado com a glória e a honra da imagem de Deus

O homem pode ser pequeno, mas Deus se importa com ele!  O SENHOR concedeu a ele a grande a responsabilidade e o privilégio de ser  mordomo sobre a criação. Não para explorar e destruir, mas para cuidar, cultivr e administrar com sabedoria, refletindo o caráter do Criador:   “Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste.” (v.6). Esse "domínio" reflete uma grande responsabilidade do homem. Mas não se trata de ser opressor, mas de mordomia e gestão responsável sobre toda a criação. É uma posição única de governança que  o SENHOR concedeu ao homem. O samista lista ainda exemplos específicos de criaturas sobre as quais os humanos receberam autoridade de dominar. Ele  começa com os animais domesticados, essenciais para a sobrevivência e o sustento humano: ”todas as ovelhas e bois, e os animais do campo, as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo.”(v.7)."  E depois se estende aos animais selvagens: “as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares.” (v.8).

E assim, o salmo termina da forma como começou, repetindo as palavras do verso inicial: “Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome.”(v.9). Essa repetição enfática sublinha que a glória e a soberania de Deus são universais, inquestionáveis e transcendem toda a compreensão humana. Ele é o Criador, e toda a criação, desde os corpos celestes mais distantes até a voz de uma criança, testemunha Sua grandeza e poder. Outro destalhe importante é que Deus, em Sua infinita graça, não apenas se lembra de nós, mas nos fez "pouco menores que os anjos" e nos coroou "de glória e de honra".

Estimados irmãos! O salmo reitera que, apesar da nossa insignificância aparente no vasto universo, a majestade de Deus permanece  como ponto central,   e é a razão para toda a nossa adoração. Sendo assim, somos chamados a adorar a Deus por Sua majestade, a reconhecer o valor e dignidade inerentes de cada pessoa, exercendo a nossa responsabilidade dada por Deus de cuidar da terra e suas criaturas. 

Porrtanto,vivamos uma vida de uma maneira que reflita a honra e glória com que Deus nos coroou, apontando, em última análise, para o cumprimento desta visão em Jesus Cristo. Amém!

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