TEXTO: JO 20.19.31
TEMA: PAZ SEJA CONVOSCO!
Estas foram as palavras que Jesus disse aos discípulos, que ainda estavam vivendo na insegurança e no medo. Sentimentos que tomaram conta da vida dos discípulos naquele domingo de Páscoa. Eles tinham visto tudo o que os judeus fizeram contra Jesus: preso, açoitado, julgado e condenado à morte. Sentiam que Seu líder, agora, estava morto. Certamente, eram também procurados e seu destino não seria diferente. Temiam represálias, uma vez que o sinédrio tinha poder e influência para perseguir os seguidores de Jesus e, por isso, eles estavam com medo dos judeus. Sendo assim, trancaram as portas da casa onde estavam. Refugiaram-se da ira, do ódio e perseguição dos fariseus, escribas e doutores da lei. Tristes e angustiados choravam a morte de seu Mestre. Discutiam entre si sobre a sua fuga no Getsêmani, o seu fracasso e sobre a incerteza de sua vida futura, sem a presença do Redentor.
No entanto, aquele momento se transforma em alegria, tranquilidade e paz. De repente, Jesus põe-se no meio deles com uma saudação inesperada e, ao mesmo tempo, redentora: “Paz seja convosco!” (v.19). A saudação de Jesus é significativa. Não se trata de uma saudação simplesmente. A paz se relaciona com a ressurreição. Ela expressa a reconciliação universal de Jesus com o mundo através da vitória sobre morte e pecado. Trata-se, portanto, da paz plena que Jesus concede aos seus discípulos. O Príncipe da paz veio trazer alegria. Ele vencera a morte e o pecado. Agora, havia de fato paz para os discípulos. Não havia mais razão para temer e duvidar, pois Jesus ressuscitou.
Estimados irmãos! Desde os primórdios até os dias contemporâneos, o homem sempre se preocupou em obter a paz, nas suas diversas formas. Mas em que consiste esta paz? O que as pessoas pensam sobre a paz? O que elas precisam para ter paz, num mundo onde existem tantas discórdias e desunião? Ter uma boa saúde? Proteção e segurança? Ter tranquilidade, respeito à liberdade entre os povos? Pensamos, muitas vezes, que estes são os requisitos para que realmente tenhamos paz. Na verdade, a paz que o mundo oferece, ela é falsa, enganosa, política. Ela é resultado de contratos, alianças e acordos de cessar-fogo, mas que nem sempre se consegue a paz. Sendo assim, conclui-se que as pessoas têm um falso conceito sobre a paz.
Precisamos compreender que a paz de Jesus é algo diferente da paz do mundo. Jesus Cristo nos concede uma paz interior que supera a paz que o mundo oferece, como ele próprio afirmou: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá”, (Jo. 14.27). Aos discípulos, Ele disse: “Paz seja convosco!” Mas de que paz Jesus estava falando aos discípulos? Quando se coloca no meio deles com uma saudação inesperada e, ao mesmo tempo, redentora? Ora, aquela saudação, “Paz seja convosco!”, tem um significado profundo. A saudação de Jesus é significativa. Não se trata de um desejo ou saudação simplesmente. Em Cristo, porém, a paz adquire dimensões mais sublimes. O que Jesus conquistou na cruz para nós, vai muito além daquilo que o mundo poderia nos oferecer. Ele nos trouxe a paz de Deus, perdão dos pecados e vida eterna. Trata-se, portanto, da paz plena que Jesus concede aos seus discípulos. O Príncipe da paz veio trazer alegria. Ele vencera a morte e o pecado. É essa a paz que o mundo não pode dar!
O apóstolo Paulo também responde em que consiste esta paz: “Justificados, pois mediante a fé temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (Rm 5.1). A justificação é a forma que Deus usa por meio de Cristo para nos tornar livres da condenação que antes permanecia sobre nós. Ela ocorre por meio da fé na morte de Cristo em nosso lugar, pois não há outro caminho. O homem não é capaz de sozinho se reconciliar com Deus porque todos pecaram. E ninguém pode ser considerado justo por suas próprias obras perante Deus. Não há qualquer mérito ou justiça própria que o credencie a desfrutar da comunhão com nosso Criador. Dessa forma, a paz com Deus só pode ser restabelecida através da obra expiatória de Cristo na cruz. Foi o sacrifício de Cristo que trouxe a reconciliação com Deus. Na verdade, não conseguiríamos nunca chegar em paz diante de Deus sem esta obra tremenda do Senhor para nossa vida. Agora, justificados, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta é paz que o mundo necessita. Esta paz só pode ser encontrada em Jesus, o Príncipe da paz. E Jesus tem o imenso prazer de dar a sua paz: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração” (Jo 14.27).
Não havia mais dúvidas sobre a ressurreição para os discípulos. Jesus mostra as provas para que não houvesse nenhuma dúvida: “E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado.” (v.20a). Ele mostra-lhes as marcas mais profundas da sua paixão: mãos e pés perfurados pelos pregos e o lado perfurado pela lança. Mostra-lhes as marcas da injustiça, as marcas da dor, as marcas do flagelo com que passou nos seus últimos dias. Ao contemplarem os sinais da identidade do Cristo crucificado, a alegria estava de volta e o medo desaparece na vida daqueles discípulos: “Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor.” (v.20b). Resgataram a confiança de que poderiam enfrentar qualquer desafio e ser vencedores. Abraços e conversas tomam conta daquilo que até, então, era silêncio, medo e perplexidade. A partir daquele momento, passaram a confiar que, mesmo diante de provas e sofrimentos, a presença de Cristo produz paz, segurança e esperança. Agora, havia paz.
Semelhante aos discípulos nossa tendência é nos fechar, trancar nossas portas e tentar nos proteger. Mas o Senhor se aproxima e nos ajuda a enfrentar o medo, provações, problemas que nos causam preocupações. Ele diz: “Paz seja convosco!” São palavras consoladoras e cheias de esperança que todos precisamos. Hoje, encontramos tantas pessoas precisando de paz neste mundo. São pessoas com almas estressadas, sorrisos ausentes, angústia, medo e remorso. São famílias em conflito, solidão, tristeza, angústia precisando da verdadeira paz. O que fazer quando não há paz? Quando a paz aparece estar tão distante? Em Jesus, encontramos todas as respostas para os intermináveis e infinitos questionamentos da alma conturbada, do espírito irrequieto, da consciência traumatizada e da memória torturante. Somente em Jesus é que temos a esperança viva, de que o nosso sofrimento será coroado de paz. A fé em Jesus é o único remédio para um coração turbado. Ela triunfa nas crises. Por isso, o nosso consolo é olhar para a cruz de Cristo, quando nos falta a paz.
Jesus diz ainda algo mais profundo aos seus discípulos. Seriam habilitados para continuar com o ministério que Jesus começou. Ele diz, “assim como o Pai me enviou para pregar, ser perseguido, sofrer, oferecer perdão aos homens, Eu também vos envio.” (v.21). Senhor ordena que eles sejam seus embaixadores, para estabelecer seu reino neste mundo. Essa realidade tornou-se viva na vida dos discípulos pela ação do Espírito, quando Jesus, “assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”. (v.22). Se a grandeza da manifestação do Cristo ressuscitado aos discípulos, ainda não fosse suficiente para encoraja-los, então, o sopro do Espírito Santo, a ação do Espírito, completaria o que faltava. Portanto, os discípulos foram capacitados e dirigidos pelo Espírito Santo para pregar as Boas Novas a respeito de Jesus.
Os discípulos ao receberem o Espírito Santo, também foram enviados para perdoar pecados e retê-los das pessoas: “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos.” (v.23). Na verdade, Jesus ensinou aos Seus discípulos, que ao receberem a autoridade de perdoar ou de não perdoar os pecados, deveriam realizar no nome de Cristo. Esse entendimento é fortemente apoiado pela observação do que os apóstolos fizeram logo após a ascensão de Jesus: “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2.38). Essa é exatamente a mensagem ordenada por Cristo, o poder de apresentar às pessoas o perdão de Deus disponível pelo sacrifício de Cristo. Observe que Pedro não o perdoou os pecados das pessoas, mas levou as pessoas a se arrependerem diante de Deus e crerem no sacrifício feito pelo Senhor Jesus para a remissão dos pecados.
No entanto, Tomé, um dos discípulos, esteve ausente quando Jesus se manifestou. Mais tarde, os outros discípulos lhe contaram o que havia visto, ao receber o testemunho unânime dos seus colegas: “Vimos o Senhor”. (v.25a). Ele não quis acreditar, se manteve céptico: “Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei.” (v.25b). A reação de Tomé era compreensível. Ele afinal, vira o Salvador pendurado na cruz. Estava morto e não poderia sair de sua sepultura. Por isso, queria ver para crer. Ao que tudo indica, Tomé endureceu o seu coração. Fechou-se em sua incredulidade. Enquanto todos os discípulos estavam alegres com a comunhão de Cristo, Tomé estava imerso em tristeza por causa da sua falta de fé. A reação de Tomé mostra o ceticismo natural do ser humano diante da inédita vitória sobre a morte: queria sinais concretos do ressurreto.
Ele teve esta oportunidade, de um testemunho mais claro e eloquente, conforme era o seu desejo. Para Tomé era precisava sentir as mãos de Jesus, tocar aquelas marcas, para acreditar que Jesus estava vivo, do que apenas palavras dos discípulos. Ele entendia que todos viram e creram, mas ele precisava tocar. Era uma necessidade dele. Sendo assim, oito dias mais tarde, Jesus novamente, em condições semelhantes, apareceu aos discípulos. Jesus, que Tomé tanto amava, que estivera sempre ao seu lado, estava na sua frente. Naquele momento, Jesus chamou Tomé ao arrependimento e o convida para ver mais de perto os seus ferimentos como prova da sua ressurreição: “Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”. (v.27).
Contudo, a incredulidade de Tomé não é tão diferente dos demais discípulos. Eles também duvidaram diante do sepulcro vazio (Jo 20.3; Lc 24.12). Não creram nos testemunhos das mulheres (Lc 24.10-11). E o que é mais grave ainda, não acreditaram nem mesmo quando O viram pessoalmente: pensaram que era o Seu espírito (Lc 24.41). Como é difícil entender a situação que viveram os discípulos. Eles andaram com Jesus. Contemplaram seus milagres e sinais, e ainda assim duvidaram. Agora, imaginem aqueles que nunca O viram! Na verdade, esta é a reação do ser humano diante das Escrituras. Como é difícil aceitar as Escrituras, assim, como ela se apresenta. Já no passado, como no presente, o homem sempre colou dúvida em torno da Palavra de Deus. As diversas teorias sobre a ressurreição nos causam tristezas. Mas por que duvidar de algo maravilhoso que Deus realizou? Por que duvidar da ressurreição?
Tomé estava perplexo. Agora, ele perde completamente sua postura arrogante. Deixa de lado o orgulho e a descrença. E não se limita a ter uma nova opinião sobre a ressurreição de Jesus. Sendo assim, ele reage. Toma uma decisão. Faz uma humilde confissão, uma das maiores declarações de fé. A sua resposta a Jesus, não foi uma exclamação, mas uma afirmação: “Senhor meu e Deus meu!” (v.28). Jesus tinha sido o Mestre para Tomé o tempo todo, mas agora, acreditando em sua ressurreição, ele clama cheio de emoção, “Senhor meu e Deus meu!”, entendendo que Deus estava em Cristo. Portanto, aceita Jesus como quem ressuscitou, sendo ele “o Senhor” e “Deus”. Que confissão maravilhosa! Ele não vê somente o homem Jesus, que estava com os apóstolos e comia com eles, mas o seu Senhor e seu Deus. Ele se arrepende e entrega-se incondicionalmente a Jesus aceitando-o e tendo a oportunidade de sentir, ouvir e enxergar Jesus, o Salvador
Depois que Tomé fez a profissão de fé, Jesus anuncia um princípio fundamental para os todos os cristãos: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”. (v.29). De fato, não vimos Cristo com nossos olhos, não contemplamos os poderosos feitos que ele realizou sobre a terra, tampouco enxergamos os sinais dos cravos ou as marcas da lança, e ainda assim nós cremos que Jesus ressurgiu dentre os mortos e nos garantiu vida eterna. Então, podemos dizer: somos felizes porque cremos que Jesus ressuscitou dentre os mortos, sem ver Jesus como os discípulos o viram.
Ao finalizar o texto, João identificou o motivo deste relato. Ele conclui: “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” (vv. 30,31). De fato, Cristo fez muitos “sinais” diante dos discípulos que não foram escritos neste livro. No entanto, aqueles “sinais” que foram escritos, servem para que “Jesus, o Cristo, Filho de Deus” seja reconhecido e associado à esperança messiânica judaica. O objetivo do evangelho, portanto, não é escrever um “diário da vida de Jesus”, mas servir “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (v. 31). Todos os sinais neste evangelho apontam para Jesus como sendo o Cristo e o Filho de Deus, que veio dar vida a todos aqueles que creem. Nós, que cremos, somos encorajados a ler e reler o Evangelho de João para continuarmos na nossa fé.
Estimados irmãos! Abandonem a dúvida. Não há razão para a incerteza quanto à ressurreição de Jesus. As Escrituras mostram claramente. O próprio Jesus transmite a mensagem pascoal: Paz seja convosco! Mensagem que alegra os discípulos e a todos nós; que leva o incrédulo Tomé à fé verdadeira. Que o Senhor nos abençoe! Amém!