TEXTO: TG 3.1-12
TEMA: CUIDADO COM A LÍNGUA!
Muitas pessoas já descreveram sobre a língua. Sobre este pequeno órgão muscular alongado, móvel, situado na cavidade bucal que serve para a degustação e para a articulação dos sons da voz. Ela tem causado muitas bênçãos na vida das pessoas , mas ao mesmo tempo, maldição(v.10). Através de uma simples palavra ou ação, afasta as pessoas da nossa presença. E ,consequetemente, nos causa tragédia, ataca à honra, traz desgraças, destrói , traz choro e sofrimento. Nações foram erguidas ou derrubadas em consequência do uso da língua.Vidas foram edificadas e vidas foram dilaceradas pela fala humana. Por isso, tomemos muito cuidado com o que pensamos, pois a nossa vida é dirigida pelos pensamentos verbalizados.
Mas o que diz a Biblia sobre a língua? Quais os males causados quando a usamos com a intenção de prejudicar ou denegrir a imagem de alguém? O texto de hoje traz um amplo relato sobre a língua. Tiago nos adverte do perigo de fazermos uso da língua de forma errada. Ele usa alguns exemplos práticos nesse texto para nos mostrar o perigo que corremos do mau uso da língua e como refreá-la. Também apresenta princípios práticos para a vida cristã, e que são de extrema importância para os cristãos de hoje, como: conduta correta, bom uso das palavras, honestidade no trato e integridade de caráter. Podemos evitar esse mal por meio de conversas saudáveis e edificantes , por meio do cultivo de uma vida espiritual autêntica, da consagração e santificação dos nossos lábios. Você tem tomado cuido com o que você diz? Tem refreado a sua língua? Tem controlado?
Havia muitos rabinos entre os judeus. Eles eram os mestres,responsáveis pelo ensino. E cada um ensinava ter a verdade e procuravam atrair discípulos. Muitos estavam mais interessados em conquistar seus próprios seguidores do que serem seguidores de Cristo. A verdade é que muitos fracassaram em sua responsabilidade e tarefa, e se converteram em falsos mestres. Estes professores ensinavam a outros, enquanto eles próprios não experimentavam nada da verdade que estavam ensinando. Mestres cuja vida contradizia seu ensino, e que não faziam outra coisa senão trazer desonra sobre a fé que representavam (Romanos 2.17-29).
Ocorre que havia uma certa vontade, entre os primeiros cristãos, de assumir o papel de mestres (professores). E diante disso, motivou Tiago a escrever sobre este assunto em sua carta. No entanto, Tiago aconselha os irmãos: “não vos torneis, muitos de vós, mestres.”(v.1). A palavra aqui traduzida como “mestres” (δάσκαλος) traz a noção de alguém que ensina ,ou seja, um professor. Alguém que é qualificado para ensinar a respeito das coisas de Deus e dos deveres do homem. Mas muitos não eram qualificados no tempo que viveu Tiago. Eles eram arrogantes, interesseiros e cheios de vanglória. Davam mais importância à posição social do que à humildade, serviço e dedicação espiritual (1.9-11, 19-27; 2.1-26). E, principalmente, alguns desses "mestres" não dominavam a própria língua e não ensinavam a verdadeira sabedoria divina (3.13-18).
Diante disso,Tiago mostrou aos irmãos que ninguém deve se colocar na posição de exercer o poder de falar ou ensinar. No entender de Tiago, isto é perigoso para um mestre que não possui as qualificações adequadas como professor. Presume-se que o mestre tenha um conhecimento maior. E, por isso, requer vida mais intensa. Ele deve se atentar com pequenos detalhes sobre seu ensino, pois uma palavra errada pode colocar tudo a perder. Sendo assim, é preciso ter prudência e sabedoria, para que haja certeza moral de que ele o usará corretamente. E ainda Tiago adverte que, para os mestres, o julgamento será mais rígido. Eles estarão diante do tribunal de Cristo e “serão julgados com maior rigor do que os outros.” (v.1b). E mais provável que o juízo aqui não se refira à separação eterna de Deus, pelo contrário, sugere um julgamento minucioso diante de Cristo pela falta de responsabilidade no ensino. Portanto,os irmãos deveriam serem cautelosos e prudentes quando tivessem que ensinar.
No entanto, o mestre ao usar às suas palavras ,constantemente, estava sujeito ao tropeço: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas.” (v.2a). O verbo grego πταίω significa errar, fazer um erro, pecar. Uma tradução mais correta seria: “Todos nós cometemos erros.” Significa que temos grandes chances de cometer equívocos e propensos a errar. Isto ocorre em todas as áreas da nossa vida, inclusive aqueles que ensinam. Todos têm falhas, por causa das inclinações pecaminosas e das imperfeições. (Romanos. 7.19-23; 1 João 1.8). Uma das maneiras mais frequentes, e, às vezes, mais perigosa, é errar em palavra.Visto que todo o erro em palavra pode prejudicar outros. Quanto mais erramos no ensinar, tanto mais dano causa a toda às pessoas. Por isso, deveríamos ser cautelosos quando ensinanamos ou instruímos alguém.
Tiago ,porém, afirma que “ se alguém não tropeça no falar,” (v. 2b) ou seja, quando o homem controla, totalmente, sua palavra e que não erra com os lábios; e ainda consegue parar antes de expressar conceitos, sentimentos, emoções e paixões erradas,exercendo o controle total e perfeito sobre si mesmo, diz Tiago: este “ é perfeito varão.” (v.2c). Mas o que significa ser perfeito? O termo grego é τέλειος significa levado a seu fim, finalizado. Descreve o homem que alcançou seu objetivo, que tem domínio próprio. E a partir deste domínio, ele “capaz de refrear todo o corpo.”(v.2.c). Isto significa que é capaz de controlar todos os outros membros de seu corpo.
Portanto, se uma pessoa consegue controlar sua língua, ela tem domínio completo sobre si mesmo, tanto quanto alguém tem sobre um cavalo, ou como um timoneiro tem sobre um navio quando estiver segurando o leme. Tiago afirma “que precisamos colocar freio na boca dos cavalos, para eles nos obedeçam.” (v.3a).Você já observou um cavalo indomável e selvagem? Ele precisa ser domesticado para que se torne útil. Isto o homem tem realizado a milênios sem grande dificuldades. E para conduzir o animal, houve a necessidade de colocar freio na boca do cavalo. E assim o freio controla e guia o animal para onde queremos. Tiago também afirma que devemos “observar igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro” (v.4).O leme é um dispositivo que permite direcionar um navio para a direção desejada pelo capitão da embarcação. Quando o capitão controla o leme, ele guia o navio de maneira segura.
Assim como o freio e o leme tem tanto poder para conduzir um cavalo ou navio,imaginem o poder que tem a língua. Apesar de ser tão pequena em relação aos outros membros do nosso corpo, tais como perna, braço, cabeça, ela pode se gabar, se vangloriar de ser um órgão de grande importância, no corpo. (v.5a). Ela é comparada a uma fagulha pequena que incendeia toda uma floresta: “Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!” (v.5b). Vamos pensar! Tente acender uma fogueira ou queimar um trecho de uma mata numa época de seca! Fazendo isso veremos o poder destrutivo do fogo, e a dificuldade de se apagar essas chamas. Uma palavra falada com malícia ou maldade pode ser uma pequena fagulha que incendeia toda uma floresta. A sensação é que um fogo muito pequeno é suficiente para inflamar uma grande quantidade de materiais combustíveis e que a língua produz efeitos semelhantes a esse. A verdade é que a língua coloca em chamas toda a carreira da existência humana.
Precisamos ter cuidado com a lingua. Ela pode causar muitos danos às pessoas. Quais são os danos?Tiago faz mais uma ilustração para mostrar, literalmente, o poder que a língua possui. Ele cita cinco poder da palavra proferida pela lingua e suas consequências no versiculo 6 : primeiro, “ a lingua é fogo.”(v.6a). Isto significa que a língua possui poder destrutivo. Ela tem o poder de ser tão destruidora quanto o fogo, pois o fogo cresce, espalha, fere, destrói, provoca sofrimento, prejuízo e destruição. Segundo, a língua “é mundo de iniquidade.”(v.6b). O termo grego ἀδικίας traduzido por “iniquidade” está associada ao ato de ser mau, injusto e perverso. Uma pessoa iníqua transgride as leis e normas morais e éticas sem qualquer tipo de ressentimento ou escrúpulos. A língua não controlada é, em si mesma, constituida de um mundo de injustiça. Ela propaga a calúnia, escândalo, testemunho falso, difamação, ultraje, propaganda enganosa e ensino errôneo.
Terceiro, tem o poder de contaminar todo o corpo. (v.6c). Quem usa mal a sua língua “mancha” todo o seu corpo, e, porque não dizer, todo o ambiente compartilhado por outras pessoas. A palavra “corpo” aqui, simplesmente ,significa a pessoa por completo. E não significa apenas seu corpo físico. É o que o Marcos 7, versículo 20, fala: “O que sai do homem, contamina o homem“. Versículo 23: “Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” E quais são estes males? Jesus menciona entre eles: o engano, lascívia, blasfêmia, orgulho, e aqueles que envolvem pecados da língua. Para evitarmos tais manchas em nosso corpo, temos que controlar a nossa língua.
Quarto, a língua desenfreada tem poder de destruir uma carreira profissional, o caráter da pessoa, a relação familiar, a imagem da pessoa na igreja e na sociedade, bem como a própria trajetória existencial do indivíduo. (v.6d). Numa tradução mais literal, teríamos “está incendiando o círculo da vida“. O que isso significa? Vamos pensar! Primeiro diz que a língua é um sistema de maldade; em segundo lugar, ela mancha toda a pessoa; agora, ela está incendiando ou inflamando. Note que o pensamento está se expandindo em todo “o círculo da vida“. Se estende além do corpo para tocar cada participante, ou seja, em um grupo de pessoas, uma escola, uma igreja, uma comunidade no “círculo da vida.”
E finalmente, Tiago fala de um outra declaração que é mais devastadora sobre o perigo da língua. Ele diz que a língua tem poder de ser instigada pelas chamas do inferno.(v.6e). A palavra grega aqui para “inferno” é γέεννα Designava, originalmente, o vale do Hinom, ao sul de Jerusalém, onde o lixo e os animais mortos da cidade eram jogados e queimados. O local tornou-se conhecido como “Gehenna de fogo“, porque o fogo nunca se apagava, um símbolo apropriado do fogo que nunca se apaga que serve para ilustrar o inferno dos ímpios. Ora, quando usamos a nossa lingua para o mal, pode ser tão destrutiva como γέεννα a ponto de tornar-se como as chamas do inferno. Esta imagem parece ter estado diante da mente do apóstolo, pois era uma chama que acendia e queimava tudo conforme avançava. Para o apóstolo, a lingua é uma chama acesa idêntica do fogo do inferno, onde o espirito deste lugar constítui a falsidade, calúnia, blasfêmia.
Diante deste poder da língua, Tiago introduz uma nova ilustração comparativa. Ele afirma que “toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano.” (v.7). Você já deve ter visto como o homem domina todos estes tipos de animais? Com certeza, você já esteve no circo e viu leões que são domesticados. Interessante que os instintos dos animais podem ser dominados por meio do condicionamento e da punição,mas diferente dos animais, ninguém pode domesticar a língua. Ela é indomável.É um mal incontrolável e cheio de veneno mortal. Tiago afirma que “a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero.” (v.8). Em Rm 3.13 diz: “veneno de áspides está debaixo dos seus lábios…“. E o Sl 140, verso 3: “Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios.” O que fazer quando se vive com algo indomável? Pedir que Deus a controle por nós, controle o nosso falar. Lemos no Sl. 141. 3: ”Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios.”
No entanto, a lingua também é usada para realizar seus mais altos propósitos, isto é, para bendizer a Deus, mas também é usada para maldizer os homens. Assim afirma, Tiago: “Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.” (v.9). O termo grego εὐλογέω (bendizer) significa louvar, celebrar com louvores, invocar bênçãos, favorecido por Deus, abençoado. Isto era significativo para um judeu. Sempre que se mencionava o nome de Deus, o israelita tinha que responder: "Bendito seja Ele!" E apesar disto, essa mesma boca e essa mesma língua amaldiçoava e condenava o próximo. ( καταράομαι). Certamente, esses usos contrários da mesma língua são incongruentes. Às vezes, de uma mesma boca, saem louvores a Deus, palavras boas ao próximo com encorajamento e consolo, para em seguida palavras de maldição aos irmãos. Como você tem usado estas palavras?
A verdade é que não adianta bendizer a Deus com louvores ou palavras, e da mesma boca sair xingamentos, brigas, maldições para as pessoas. Ou você abençoa, ou amaldiçoa! Tiago afirma: “de uma só boca procede bênção e maldição”. (v.10a). Mas ele também afirma que, “não é conveniente que estas coisas seja assim.”(v.10b). Um vez que não seja conveniente, o nosso primeiro objetivo é usar a nossa lingua para louvar ao Senhor. Isto deve ser constante em nossa vida. Não queremos atrair a discórdia nem a maldição pelos nossos lábios. Por isso, somos desafiados a usar nossa língua, nossa palavra e nosso desejo para edificar quem ouve, para ser bênção e não empecilho.Nossa língua contém imenso poder, e podemos aproveitá-la para ajudar, encorajar, afirmar, enriquecer, reconciliar, perdoar, unir, suavizar e abençoar. Não é por acaso que muitos dos provérbios do Antigo Testamento abordam as palavras que falamos. De acordo com Salomão: “A boca do justo é manancial de vida” (Pv 10.11).O que faz com que uma linguagem de bênçãos seja tão vivificante na vida das pessoas.
No entanto, Tiago cita dois exemplos para demonstrar que não convém: primeiro: “Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?” (v.11). A fonte é um lugar onde os sedentos, os cansados chegam e encontram alento, vida, força, ânimo e coragem para prosseguirem a caminhada da vida.A água desta fonte pode ser doce ou pode ser amarga, mas nunca pode brotar água tanto doce como amarga da mesma abertura.Fica evidente que uma fonte de água só pode produzir um tipo de água. Segundo: “Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce.” (v.12).Tiago está falando que é impossível uma figueira produzir azeitonas, e uma videira figos. Não pode uma espécie de planta dar frutos de outra espécie, isso é impossível, vai contra as leis que regem a natureza! O se conclui é que a língua deve expressar apenas uma classe de sentimentos e emoções. Que tipo de água tem jorrado de sua boca? Água doce ou água amarga?
Analisando o texto de forma geral,observa-se que Tiago descreve com precisão como a língua pode ser mortal, tendo a capacidade de abençoar os outros com palavras edificantes, mas também com palavras de maldição que podem causar estragos irreparáveis na vida das pessoas. Além disso, descreve o impacto que a língua tem ao contaminar o corpo inteiro, e com uma simples fagulha é capaz de incendiar uma floresta inteira. O que significa que devemos ter cuidado com as nossas palavras (que estão ligadas aos nossos pensamentos), porque tem causado muitos sofrimentos na vida das pessoas. Quantos casos de contendas e divisões dentro da igreja presenciamos? Quantas amizades foram desfeitas por pessoas que não conseguiram guardar segredos? Mas quando paramos e pensamos antes de falar, podemos evitar dizer palavras que possam magoar às pessoas.
Portanto, estimados irmãos! Precisamos ter cuidado com a língua. Por isso, busquemos pela perfeição no controle da língua. Isto deve ser uma tarefa constante e desafiadora, mas é essencial para o nosso crescimento espiritual. Usemos a língua somente para glorificar a Deus e para abençoar os irmãos. Amém!