segunda-feira, 26 de agosto de 2024

TEXTO: TG 3.1-12

TEMA: CUIDADO COM A LÍNGUA!

Muitas pessoas já descreveram sobre a língua. Sobre este pequeno órgão muscular alongado, móvel, situado na cavidade bucal que serve para a degustação e para a articulação dos sons da voz. Ela  tem causado muitas bênçãos na vida das pessoas , mas ao mesmo tempo, maldição(v.10). Através de uma simples palavra ou ação, afasta as pessoas da nossa presença. E ,consequetemente, nos causa tragédia, ataca à honra, traz desgraças, destrói , traz choro e sofrimento. Nações foram erguidas ou derrubadas em consequência do uso da língua.Vidas foram edificadas e vidas foram dilaceradas pela fala humana.  Por isso, tomemos muito cuidado com o que pensamos, pois a nossa vida é dirigida pelos pensamentos verbalizados.

Mas o que diz a Biblia sobre a língua? Quais os males causados  quando a usamos com a intenção de prejudicar ou denegrir a imagem de alguém? O texto de hoje traz um amplo relato sobre a língua. Tiago nos adverte do perigo de fazermos uso da língua de forma errada. Ele usa alguns exemplos práticos nesse texto para nos mostrar o perigo que corremos do mau uso da língua e como refreá-la. Também apresenta princípios práticos para a vida cristã, e que são de  extrema importância para os cristãos de hoje, como: conduta correta, bom uso das palavras, honestidade no trato e integridade de caráter. Podemos evitar esse mal por meio de conversas saudáveis e edificantes , por meio do cultivo de uma vida espiritual autêntica, da consagração e santificação dos nossos lábios. Você tem tomado cuido com o que você diz?  Tem refreado a sua língua? Tem controlado?

Havia muitos rabinos entre os judeus. Eles eram os mestres,responsáveis pelo ensino. E cada um ensinava ter a verdade e procuravam atrair discípulos. Muitos estavam mais interessados em conquistar seus próprios seguidores do que serem seguidores de Cristo. A verdade é que muitos fracassaram em sua responsabilidade e tarefa, e  se converteram em falsos mestres. Estes professores ensinavam a outros, enquanto eles próprios não experimentavam nada da verdade que estavam ensinando. Mestres cuja vida contradizia seu ensino, e que não faziam outra coisa senão trazer desonra sobre a fé que representavam (Romanos 2.17-29).

Ocorre que havia uma certa  vontade, entre os primeiros cristãos, de assumir o papel de mestres (professores). E diante disso, motivou Tiago a escrever sobre este assunto em sua carta. No entanto, Tiago aconselha os irmãos: “não vos torneis, muitos de vós, mestres.”(v.1). A palavra aqui traduzida como “mestres” (δάσκαλος) traz a noção de alguém que ensina ,ou seja, um professor. Alguém que é qualificado para  ensinar a respeito das coisas de Deus e dos deveres do homem. Mas muitos não eram qualificados no tempo que viveu Tiago. Eles eram arrogantes, interesseiros e cheios de vanglória. Davam mais importância à posição social do que à humildade, serviço e dedicação espiritual (1.9-11, 19-27; 2.1-26). E, principalmente, alguns desses "mestres" não dominavam a própria língua e não ensinavam a verdadeira sabedoria divina (3.13-18).

Diante disso,Tiago mostrou aos irmãos que ninguém deve se colocar na posição de exercer o poder de falar ou ensinar. No entender de Tiago, isto é perigoso para um mestre que não possui as qualificações adequadas como professor. Presume-se que o mestre tenha um conhecimento maior. E, por isso,  requer vida mais intensa. Ele deve se atentar com pequenos detalhes sobre seu ensino, pois uma palavra errada pode colocar tudo a perder. Sendo assim, é preciso ter  prudência e sabedoria, para que haja  certeza moral de que ele o usará corretamente. E ainda Tiago adverte que, para os mestres, o julgamento será mais rígido.  Eles estarão diante do tribunal de Cristo e “serão julgados com maior rigor do que os outros.” (v.1b).  E mais provável que o juízo aqui não se refira à separação eterna de Deus, pelo contrário, sugere um julgamento minucioso diante de Cristo pela falta de responsabilidade no ensino. Portanto,os irmãos  deveriam serem cautelosos e  prudentes quando tivessem que ensinar.

No entanto, o mestre ao usar às suas palavras ,constantemente, estava sujeito ao tropeço: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas.” (v.2a). O verbo grego πταίω significa errar,  fazer um erro, pecar.  Uma tradução mais correta seria: “Todos nós cometemos erros.”  Significa que temos grandes chances de cometer equívocos e  propensos a errar. Isto ocorre em todas as áreas da nossa vida, inclusive aqueles que ensinam. Todos têm falhas, por causa das inclinações pecaminosas e das imperfeições. (Romanos. 7.19-23; 1 João 1.8). Uma das maneiras mais frequentes, e, às vezes, mais perigosa, é errar em palavra.Visto que todo o erro em palavra pode prejudicar outros. Quanto mais erramos no ensinar, tanto mais dano causa a toda às pessoas. Por isso, deveríamos ser cautelosos quando ensinanamos ou  instruímos alguém.

Tiago ,porém,  afirma que “ se alguém não tropeça no falar,” (v. 2b) ou seja, quando o homem controla, totalmente, sua palavra e que não erra com os lábios; e ainda consegue parar antes de expressar conceitos, sentimentos, emoções e paixões erradas,exercendo o controle total e perfeito sobre si mesmo, diz Tiago: este “ é perfeito varão.” (v.2c). Mas o que significa ser perfeito? O termo grego é τέλειος  significa levado a seu fim, finalizado. Descreve o homem que alcançou seu objetivo,  que tem domínio próprio. E a partir deste domínio, ele “capaz de refrear todo o corpo.”(v.2.c). Isto significa que é capaz de controlar todos os outros membros de seu corpo.

Portanto, se uma pessoa consegue controlar sua língua, ela tem domínio completo sobre si mesmo, tanto quanto alguém tem sobre um cavalo, ou como um timoneiro tem sobre um navio quando estiver segurando o leme. Tiago afirma “que precisamos colocar freio na boca dos cavalos, para eles nos obedeçam.” (v.3a).Você já observou um cavalo indomável e selvagem? Ele precisa ser domesticado para que se torne útil. Isto o homem tem realizado a milênios sem grande dificuldades. E para conduzir o animal, houve a necessidade de colocar freio na boca do cavalo. E assim o freio controla  e guia o animal  para onde queremos. Tiago também afirma que devemos “observar  igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro” (v.4).O leme é um dispositivo que permite direcionar um navio para a direção desejada pelo capitão da embarcação. Quando o capitão  controla o leme, ele guia o navio de maneira segura.

Assim como o freio e o leme tem tanto poder para conduzir um cavalo ou navio,imaginem o poder que tem a  língua. Apesar de ser tão pequena em relação aos outros membros do nosso corpo, tais como perna, braço, cabeça, ela pode se gabar, se vangloriar de ser um órgão de grande importância, no corpo. (v.5a). Ela é comparada a uma fagulha pequena  que incendeia toda uma floresta: “Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva!” (v.5b). Vamos pensar! Tente acender uma fogueira ou queimar um trecho de uma mata numa época de seca! Fazendo isso veremos o poder destrutivo do fogo, e a dificuldade de se apagar essas chamas. Uma palavra falada com malícia ou maldade pode ser uma pequena fagulha que incendeia toda uma floresta.  A sensação é que um fogo muito pequeno é suficiente para inflamar uma grande quantidade de materiais combustíveis e que a língua produz efeitos semelhantes a esse. A verdade é que a língua coloca em chamas toda a carreira da existência humana.

Precisamos ter cuidado com a lingua. Ela pode causar muitos danos às pessoas. Quais são os danos?Tiago faz mais uma ilustração  para mostrar, literalmente, o poder que a língua possui. Ele cita cinco poder da palavra proferida  pela lingua e suas consequências no versiculo 6 : primeiro, “ a lingua é fogo.”(v.6a). Isto significa que a língua possui poder destrutivo. Ela tem o poder de ser tão destruidora quanto o fogo, pois o fogo cresce, espalha, fere, destrói, provoca sofrimento, prejuízo e destruição. Segundo, a língua “é mundo de iniquidade.”(v.6b).  O termo grego ἀδικίας traduzido por “iniquidade” está associada ao ato de ser mau, injusto e perverso. Uma pessoa iníqua transgride as leis e normas morais e éticas sem qualquer tipo de ressentimento ou escrúpulos. A língua não controlada é, em si mesma, constituida de um mundo de injustiça. Ela propaga a calúnia, escândalo, testemunho falso, difamação, ultraje, propaganda enganosa e ensino errôneo.

Terceiro, tem o poder de contaminar todo o corpo. (v.6c).  Quem usa mal a sua língua “mancha” todo o seu corpo, e, porque não dizer, todo o ambiente compartilhado por outras pessoas. A palavra “corpo” aqui, simplesmente ,significa a pessoa por completo. E não significa apenas seu corpo físico. É o que o Marcos 7, versículo 20, fala: “O que sai do homem, contamina o homem“. Versículo 23: “Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.” E quais são estes males? Jesus menciona entre eles: o engano, lascívia, blasfêmia, orgulho, e aqueles que envolvem pecados da língua. Para evitarmos tais manchas em nosso corpo, temos que controlar a nossa língua.

Quarto, a língua desenfreada tem poder  de destruir uma carreira profissional, o caráter da pessoa, a relação familiar, a imagem da pessoa na igreja e na sociedade,  bem como a própria trajetória existencial do indivíduo. (v.6d). Numa tradução mais literal, teríamos “está incendiando o círculo da vida“. O que isso significa? Vamos pensar! Primeiro diz que a língua é um sistema de maldade; em segundo lugar, ela mancha toda a pessoa; agora, ela está incendiando ou inflamando. Note que o pensamento está se expandindo em todo “o círculo da vida“. Se estende além do corpo para tocar cada participante, ou seja, em um grupo de pessoas, uma escola, uma igreja, uma comunidade no “círculo da vida.” 

E finalmente, Tiago fala de um outra declaração que é mais devastadora sobre o perigo da língua. Ele diz que a língua tem poder de ser instigada pelas chamas do inferno.(v.6e). A palavra grega aqui para “inferno” é γέεννα Designava, originalmente, o vale do Hinom, ao sul de Jerusalém, onde o lixo e os animais mortos da cidade eram jogados e queimados. O local tornou-se conhecido como “Gehenna de fogo“, porque o fogo nunca se apagava, um símbolo apropriado do fogo que nunca se apaga que serve para ilustrar o  inferno dos ímpios. Ora, quando usamos a nossa lingua para o mal, pode ser tão destrutiva como γέεννα  a ponto de tornar-se como as chamas do inferno.  Esta  imagem parece ter estado diante da mente do apóstolo, pois era uma chama que acendia e queimava tudo conforme avançava. Para o apóstolo, a lingua é uma chama acesa idêntica do fogo do inferno, onde o espirito deste lugar constítui a falsidade, calúnia, blasfêmia.

Diante deste poder da língua, Tiago introduz uma nova ilustração comparativa. Ele afirma que  “toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano.” (v.7).  Você já deve ter visto como o homem domina todos estes tipos de animais? Com certeza, você já esteve no circo e viu leões que são domesticados. Interessante que  os instintos dos animais podem ser dominados por meio do condicionamento e da punição,mas diferente dos animais, ninguém pode domesticar a língua. Ela  é indomável.É um mal incontrolável e cheio de veneno mortal. Tiago afirma que “a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero.” (v.8). Em Rm 3.13 diz: “veneno de áspides está debaixo dos seus lábios…“. E o Sl 140, verso 3: “Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios.” O que fazer quando se vive com algo indomável? Pedir que Deus a controle por nós,  controle o nosso falar. Lemos no Sl. 141. 3:  ”Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios.”

No entanto, a lingua também é usada para realizar seus mais altos propósitos, isto é, para bendizer a Deus, mas também é usada para maldizer os homens. Assim afirma, Tiago: “Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.” (v.9).  O termo grego  εὐλογέω (bendizer) significa louvar, celebrar com louvores, invocar bênçãos, favorecido por Deus, abençoado. Isto era significativo para um judeu. Sempre que se mencionava o nome de Deus, o israelita tinha que responder: "Bendito seja Ele!"  E apesar disto, essa mesma boca e essa mesma língua  amaldiçoava e condenava o próximo. ( καταράομαι). Certamente, esses usos contrários da mesma língua são incongruentes. Às vezes, de uma mesma boca, saem louvores a Deus, palavras boas ao próximo com encorajamento e consolo, para em seguida palavras de   maldição aos irmãos. Como você tem usado estas palavras?

A verdade é que não adianta bendizer a Deus com louvores ou palavras, e da mesma boca sair xingamentos, brigas, maldições para as pessoas. Ou você abençoa, ou amaldiçoa!  Tiago afirma: “de uma só boca procede bênção e maldição”. (v.10a). Mas ele também afirma que, “não é conveniente que estas coisas seja assim.”(v.10b). Um vez que  não seja conveniente, o nosso primeiro  objetivo é usar a nossa lingua para louvar ao Senhor. Isto deve ser constante em nossa vida. Não queremos atrair a discórdia nem a maldição pelos nossos lábios. Por isso, somos desafiados a usar nossa língua, nossa palavra e nosso desejo para edificar quem ouve, para ser bênção e não empecilho.Nossa língua contém imenso poder, e podemos aproveitá-la para ajudar, encorajar, afirmar, enriquecer, reconciliar, perdoar, unir, suavizar e abençoar. Não é por acaso que muitos dos provérbios do Antigo Testamento abordam as palavras que falamos. De acordo com Salomão: “A boca do justo é manancial de vida” (Pv 10.11).O que faz com que uma linguagem de bênçãos seja tão vivificante na vida das pessoas.

 No entanto, Tiago cita dois exemplos para demonstrar que não convém: primeiro: “Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?” (v.11). A fonte é um lugar onde os sedentos, os cansados chegam e encontram alento, vida, força, ânimo e coragem para prosseguirem a caminhada da vida.A água desta fonte pode ser doce ou pode ser amarga, mas nunca pode brotar água tanto doce como amarga da mesma abertura.Fica evidente que uma fonte de água só pode produzir um tipo de água. Segundo: “Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce.” (v.12).Tiago está falando que é impossível uma figueira produzir azeitonas, e uma videira figos. Não pode uma espécie de planta dar frutos de outra espécie, isso é impossível, vai contra as leis que regem a natureza! O se conclui é que a língua deve expressar apenas uma classe de sentimentos e emoções. Que tipo de água tem jorrado de sua boca? Água doce ou água amarga?

Analisando o texto de forma geral,observa-se que Tiago descreve com precisão como a língua pode ser mortal, tendo a capacidade de abençoar os outros com palavras edificantes, mas também com palavras de maldição que podem causar  estragos irreparáveis na vida das pessoas. Além disso, descreve o impacto que a língua tem ao contaminar o corpo inteiro, e com uma simples fagulha é capaz de incendiar uma floresta inteira. O que significa que devemos ter cuidado com as nossas palavras (que estão ligadas aos nossos pensamentos), porque  tem causado muitos sofrimentos na vida das pessoas. Quantos casos de contendas e divisões dentro da igreja presenciamos? Quantas amizades foram desfeitas por pessoas que não conseguiram guardar segredos? Mas  quando paramos e pensamos antes de falar, podemos evitar dizer palavras que possam magoar às pessoas.

Portanto, estimados irmãos! Precisamos ter cuidado com a língua. Por isso, busquemos pela perfeição no controle da língua. Isto deve ser  uma tarefa constante e desafiadora, mas é essencial para o nosso crescimento espiritual. Usemos a língua somente para glorificar a Deus e para abençoar os irmãos.  Amém!

TEXTO: MC 9.38-50

TEMA: QUAL É A NOSSA ATITUDE DIANTE DO PRÓXIMO?

 Durante a sua caminhada à Jerusalém, Jesus ensinava aos discípulos a respeito do reino dos céus. No texto anterior, Ele já havia ensinado sobre quem é o maior no reino dos céus. Agora, Jesus ensina a atitude que os discípulos deveriam ter com os outros. Este assunto fica evidente quando os discípulos proíbem um homem que, expelia demônios em nome de Jesus, de fazer o seu trabalho, uma vez que não pertencia ao grupo dos doze. Eles ficam decepcionados com esta atitude.

 Diante desta vontade de conquistar o mais alto posto de dignidade e a inveja, proibindo uma pessoa de expulsar demônios, é uma demonstração o quanto os discípulos estavam se distanciado do chamado de Jesus para serem “pescadores de homens”. Eles não querem saber sobre a morte e o sofrimento de Jesus. Eles querem glória e ascensão e não sofrimento e crucificação. Eles querem a melhor posição. Eles querem ser servidos. Eles querem a exclusividade do ministério só para eles, não querem outros no meio deles. Não deveria ser esta atitude, uma vez que foram chamados para servir ao Senhor.

Jesus reprova a atitude dos discípulos. Passa grande parte do seu tempo reeducando-os. Ele esperava dos discípulos no futuro, uma transformação, mudança em suas mentes, diferente do que estavam mostrando até recentemente. Sendo assim, Jesus faz diversas exortações da necessidade de mudança na atitude que estavam vivenciando: deveriam servir a todos e ,principalmente, os mais desprezados do reino de Deus. São convocados a amarem de forma radical a todos e tomar o cuidado para que não causassem tropeços a outros irmãos em Cristo. Deveriam de forma radical se livrar de tudo que os levassem a pecar e que soubessem viver uma vida de constante arrependimento e santidade. Enfim, deveriam estar conscientes da sua vocação mais profunda, sendo sal da terra. Se não andassem conforme Deus almeja, não receberão o seu galardão e irão passar a eternidade no inferno.

Não somos diferentes dos discípulos. Agimos da mesma forma. Por isso, é importante nos questionarmos: Qual é a nossa atitude diante das outras pessoas?  Será que não levamos, muitas vezes, outras pessoas a tropeçar? Diante dos nossos procedimentos, o amor deve ser o elemento que governa as nossas atitudes para com o nosso próximo. “Se não tiver amor, nada serei” (1Co 13.2). Esse amor em nossos corações deve fazer com que amemos uns aos outros com amor fraternal, não buscando honras para si mesmo, mas sim honrando aos demais (Fp 2.3-5). Lembrado sempre que qualquer atitude diferente de cumprir e viver o evangelho de forma prática, demonstramos que estamos negligenciando e desprezando a palavra de Deus. Sendo assim, o cristão tem um dever de viver uma vida digna perante os demais. “Vivei, acima de tudo, por modo digno do Evangelho de Cristo” (Fp 1.27).  Ter uma vida cristã autêntica, verdadeira e comprometida com os valores do reino de Deus.

Os discípulos veem alguém alheio a seu grupo expelindo demônios em nome de Jesus. Diante destes acontecimentos, eles ficam perturbados, incomodados e com ciúmes com aquele que estava expelindo demônios em nome de Jesus, pois ele não tinha permissão para realizar esta ação.  Por isso, os discípulos, liderados por João, resolvem proibir à atitude daquele homem. Anteriormente, os discípulos estavam discutindo quem seria o maior, Agora, discutem quem pode expelir demônios. Na verdade, o orgulho estava dominando os discípulos. Pensavam somente em si e achavam-se donos da verdade, donos do nome de Jesus. Sendo assim, não mediam as consequências que estavam causando aquele homem. Observa-se mais uma vez que os discípulos não haviam compreendido o que Jesus falava a respeito do reino dos céus.

Entretanto, Jesus os repreende. Ele responde de modo muito claro. Ele amplia a visão dos seus alunos: Não o proíbam.” (v.39). Jesus desaprova a atitude, colocando um critério: em meu nome tudo é possível ao que edifica independente de sua posição no grupo de discípulos. Ele afirma que o fato de alguém não estar fazendo parte do grupo, não significa que deveriam excluí-lo. Significa que os discípulos deveriam a aprender a respeitar as diferenças e que servir a Deus não era exclusivo daqueles que O seguiam.

Existem muitas pessoas que julgam, falam mal dos outros se consideram melhores como se fossem os únicos possuidores da verdade. Na busca da perfeição, muitas vezes, excluímos pessoas em nossas vidas.  Muitas vezes, desavenças surgem de forma devastadora quando as pessoas não conseguem aceitar que a opinião ou as características do outro são naturalmente diferentes. As pessoas não aceitam essas diferenças, agem com palavras e ações intolerantes, contra aqueles que não professam o mesmo pensamento, dizendo palavras ofensivas e insensíveis, não medindo as palavras e nem procurando calcular as consequências desses atos.

Portanto, antes de julgar nossos semelhantes, que possamos pensar que ele não é, e  nunca vai ser igual a mais ninguém. Antes de criticá-lo ,cruelmente, que tentemos compreender seu ponto de vista. E antes que façamos comparações injustas, que possamos enxergar em nós e em nossos semelhantes os atributos que tornam o mundo tão cheio de riquezas e diversidades. E aquilo com o que não concordamos, que possamos ao menos respeitar para que possamos ser respeitados quando as nossas ideias também forem únicas. É preciso aprender a exercitar o respeito ao próximo em seu sentido real, ou seja, procurando realçar o que há de melhor nele valorizando suas qualidades.

No entanto, os discípulos deveriam conhecer o verdadeiro sentido do discipulado. Por isso, Jesus ensina aos discípulos e a todos nós uma lição muito valiosa. Assim, Jesus diz: Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.” (v 41). Jesus esclarece aos seus alunos que o verdadeiro discipulado abrange fatores mais importantes e necessários da vida humana. Os discípulos pensavam que ao serem escolhidos por Jesus, já estavam preparados e que somente eles poderiam servi-lo. Jesus exemplifica que qualquer que oferecer um copo de água a um discípulo, por ser um seguidor de Cristo, de maneira nenhuma perderá seu galardão. Dar um copo de água tem grande importância no reino de Deus. Significa que os discípulos deveriam comprometer-se com a missão de Jesus. Eles foram chamados para serem “pescadores de homens”. Chamados para servir a Cristo em qualquer circunstancia em que se encontravam.

Somos convidados a olhar para os nossos irmãos, amando-os, pois o nosso chamado consiste em fazer a vontade de Deus nosso Pai, que ama a todos, sem distinção. Somos convidados amar os que nos perseguem e orar pelos nossos inimigos.  Jesus nos mostra que o servir não está no tamanho da obra realizada, mas em nome de quem ela é realizada, ou seja, “em nome de Cristo”, ou como podemos ver em Cl 3.17: “E tudo o que fizerem, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus”.

Jesus insiste que no seu discipulado não se deve escandalizar ninguém, especialmente a gente mais humilde, aquela que crê em Jesus. Escandalizar é “ser pedra de tropeço” para outra pessoa, é “fazer pecar”, “desviar”. É nessa perspectiva que Jesus adverte ao afirmar aos discípulos: E quem fizer tropeçar a um destes pequeninos crentes, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar.” (v.42). Quem são os pequeninos? Estes “pequenos” não são crianças, mas os que creem e aderiram à mensagem de Jesus, não importando a que grupo pertence.  Jesus é severo nas suas colocações, para aqueles que impedem ou faz tropeçar um destes pequeninos que tem fé, compromisso com o Messias.

A ênfase está no verbo σκανδαλον que significa causar tropeço. É preciso ter cuidado para que esses “pequeninos crentes” não se escandalizem nem tropecem na fé. Por isso, Jesus avisa que é melhor morrer do que causar danos aos pequeninos que acreditam na sua mensagem. E o castigo seria colocar uma pedra de moinho que pesa centenas de quilos amarrada ao pescoço do infrator para levá-lo ao fundo do mar. Jesus quer enfatizar o perigo de se colocarem obstáculos no caminho dos pequeninos discípulos que querem segui-lo.

Jesus condena qualquer forma de se praticar escândalo, porque significa a possibilidade de desviar da graça de Deus. E as metáforas que Jesus usa para esta atitude são duras: Se tua mão te faz tropeçar, corta-a (v. 43); Se teu pé te faz tropeçar, corta-o (v. 45); Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o (v. 47). Evidentemente, Jesus não está querendo dizer que devemos mutilar nosso corpo. Pelo contrário, ele está dizendo que o nosso coração e a nossa mente, imbuídos do amor de Cristo, precisam dirigir e controlar as ações e reações dos membros de nosso corpo (Romanos 6.11-14).

Entretanto, as imagens que Jesus usa são fortes: cortar a mão, cortar o pé, arrancar o olho, e ser jogado no inferno. O termo grego traduzido por inferno é γεεννα (geena) que significa literalmente “vale de Hinom”, um lugar que ficava próximo de Jerusalém. Nos tempos bíblicos, esse vale era usado como depósito de lixo. O fogo era mantido constantemente aceso para queimar todos os detritos.  Onde recém-nascidos eram abandonados por alguma deformação e onde corpos de “indignos” eram lançados para apodrecer. Era comum haver fogo consumindo os gases em decomposição. O que não era destruído pelo fogo era consumido por larvas. Jesus usa esta palavra como símbolo de destruição eterna. (Mateus 23.33). No texto Jesus fala que é  o lugar “onde não lhes morre o verme, nem o fogo se paga”. (44, 46,  48). Ele descreve o lugar para aqueles que se rebelam contra Deus. O lugar é horrível! Sobre este lugar Isaias afirma: E realmente sairão e olharão para os cadáveres dos homens que transgrediram contra mim; pois os próprios vermes sobre eles não morrerão e o próprio fogo deles não se apagará.” (Isaías 66.24).

É preciso cortar e arrancar tudo o que em si mesmo se oponha à mensagem e causa dano aos que querem ser fieis a Jesus, não importando a que grupo pertença. Mão que executa ações de amor e caridade para com o irmão; pé que conduz ao encontro do irmão que se distancia e olho que é a aspiração de tudo o que queremos de bom no trato com o irmão. Com estas três sentenças, Jesus ensina-nos a salvar nossa vida através do domínio da cobiça e da ganância. Jesus ensina-nos a romper, definitiva e radicalmente, com tudo o que conduz ao pecado, ou seja, a cortar o mal pela raiz, não importando a que grupo pertença, porque “quem não é contra nós, é a nosso favor.” (v.40).Esta deve ser a nossa atitude.

Por fim, Jesus exemplifica através de mais uma metáfora como deveria ser a atitude dos discípulos. Jesus usa a figura do sal e do fogo. Esta comparação que Jesus faz é significativa diante da nossa atitude. Ele nos convoca a ser sal da terra neste mundo.  Como sal, devemos temperar. Lemos em Colossenses 4.6: "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um". Eis aqui um dos nossos maiores deveres como cristãos: dar sabor, dar gosto a essa terra que anda mais que nunca mergulhada em profunda tristeza, desespero e dissabor.

Entretanto, o sal pode perder o seu sabor. O sal puro não perde o seu caráter distinto, mas uma vez misturado com elementos impuros e estranhos, pode perder a sua propriedade. No sentido espiritual as pessoas deixam de ser sal da terra, quando se afastam dos ensinamentos de Jesus, negam e não se arrependem de seus pecados.  Essas serão salgadas com o fogo do inferno. Passarão a eternidade no inferno – serão preservados para sempre no lugar da ira de Deus. Lemos em Mateus 25.41 – "Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos."

Portanto, devemos viver a nossa vida neste mundo, nos relacionando uns com os outros. Servindo ao Senhor, ao próximo e não impedido que as pessoas creem na mensagem de Jesus.  Este relacionamento é que faz o sal da terra. De nada adianta sermos o sal se não dermos o tempero à vida? Amém!

 

 

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

TEXTO: MC 9.30-37

TEMA: QUEM É O MAIOR NO REINO DOS CÉUS?

Um grande reflexo da nossa sociedade é a preocupação do homem com o sucesso, aparência e status. O que se observa é uma corrida em busca de “melhorias” em todos os aspectos, em todas as direções: o melhor professor, o melhor advogado, o melhor médico, a melhor aparência, o melhor equipamento, a melhor divulgação; comprar o melhor carro, o melhor sapato, a melhor casa. Ser o melhor, estar por cima, estar na frente é a pretensão de muitas pessoas. Outro reflexo da nossa sociedade é a questão de ser o primeiro, o maior, o vitorioso. Queremos ser reconhecidos como o melhor e o maior. As pessoas querem honra, elogios, medalhas, poder e destaque na vida. O importante é ser o primeiro, o último não interessa. Não importa o meio pelo qual se obterá o sucesso. Não importa se causa prejuízo ao seu semelhante e à sociedade. Também não importa como e por qual meio, honesto ou não. O que importa é a fama, o sucesso em alcançar o objetivo.

Esta vontade imensa de ser o primeiro também estava presente na vida dos discípulos. Eles não estavam contentes com que possuíam. O chamado de Jesus para serem “pescadores de homens” não era suficiente. Somente esta posição não bastava. Eles queriam ser os maiores. Eles almejavam posição para serem servidos e honrados. Estavam preocupados com sua reputação, com a sua imagem diante dos homens, do que com o chamado para serem “pescadores de homens”. Eles queriam ser os primeiros por seus próprios meios. Eles tinham seus próprios planos de vida. Não queriam ajustar a sua vida ao plano divino. Tinham seus próprios sonhos. Na vida deles não havia lugar para Deus, mas queriam ser os primeiros no Reino de Deus. Por isso, almejava poder, posição, glória.  Eles chegaram e perguntaram, mas não era uma simples pergunta: Quem é o maior no reino dos céus? Quem será o vitorioso?  

Jesus estava a caminho de Jerusalém, juntamente com seus discípulos, não para conquistar um reino deste mundo, mas para dar a sua própria vida. Jesus diz que “deve sofrer muito” e “vai ser entregue”. Todo esse conjunto de afirmações deve ser interpretado como designo de Deus, para que se concretizasse o plano de amor do Pai, realizado pelo Filho, considerando que a salvação dos homens aconteceria através da cruz. Mas Jesus deixa claro que o Pai não vai simplesmente entregá-lo à morte: no terceiro dia ele ressuscitará. O caminho da cruz amedronta quem quer que seja, e para os discípulos de Jesus não foi diferente: Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus estava dizendo, e tinham medo de fazer perguntas. (v 32).

A caminhada continua e os discípulos permanecem indecisos diante das afirmações de Jesus. Além desta questão, os discípulos discutiam também quem seria o maior. Na verdade, havia certa preocupação sobre esta questão, uma vez que Jesus amava alguns discípulos. João estava em todas. Jesus o amava. Diante da confissão de Pedro, Jesus disse: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja. Nos momentos mais cruciais de Jesus, quando não queria ninguém por perto, levava consigo Pedro, Tiago e João. Fato que ocorreu no Monte da Transfiguração Talvez fosse este o assunto em pauta e que motivou a discussão entre os discípulos.

Entretanto, quando Jesus e os discípulos chegaram a Cafarnaum, e já estavam em casa, provavelmente, na casa de Pedro, o Mestre interrogou-os a respeito da discussão  que eles vinham discutindo pelo caminho. Se os discípulos haviam relutado para fazer perguntas a Jesus (v.32), Jesus então é quem faz a pergunta: O que vocês estão debatendo?” Por que Jesus pergunta, se Ele  já sabia o que eles estavam discutindo? Ao perguntar Jesus traz a público o que estava no coração desses homens. Jesus mostra quão pouco esses homens entenderam a sua missão. Eles deveriam estar discutindo sobre a morte e ressurreição de Jesus, pois Ele acabara de falar sobre este assunto.

Na verdade, os discípulos não responderam a pergunta de Jesus: Eles guardaram silêncio.” (v.34). Mas por que guardaram silencio? Ficaram quietos, visto que estavam envergonhados, pois não tinha sentido o que estavam discutindo. O silêncio dos discípulos denunciava o reconhecimento do caráter daquilo que se mostra sem propósito, algo que não traz vantagens para a pessoa que o utiliza. Ficaram constrangidos, pois o contraste era enorme. Não havia relação com os ensinamentos de Jesus. Ele acabava de anunciar-lhes sua paixão, e eles, egoisticamente, só pensavam em valorizar-se si próprio.

Agimos da mesma forma. Na maioria das vezes nos concentramos muito mais em nossos objetivos de ordem pessoal do que nos centralizamos em Deus. Somos tendenciosos e sempre queremos primeiro resolver os nossos problemas e anseios neste mundo. Quantas vezes nos fazemos de desentendidos ou não queremos entender as propostas de Jesus. Lutamos por colocar em evidência as nossas propostas de vida e de interpretação do evangelho, conforme nossos interesses. Quantas vezes agimos exatamente como os discípulos de Jesus, com tantas coisas para nos preocuparmos, e ficamos nos questionando quem será o primeiro, quem é o maior no trabalho, no lar, na congregação. O orgulho nos prende de tal maneira que só pensamos em nós mesmo e como podemos conseguir mais status, mais fama, mais atração do mundo e como consequência ignoramos a Deus, paramos de servir a Jesus.

Jesus toma uma posição. Ele não ignora o silêncio dos discípulos, pois Ele sabe o que se passa no coração desses homens. Por isso, Ele tem algo importante para ensinar. Sendo assim, chama os discípulos e afirma: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” (v.35).  Jesus mostra aos discípulos, se alguém quer ser o primeiro, quer se sobressair em relação aos demais, deve ser o último. Último não no sentido negativo, mas no sentido de humildade. A humildade é uma característica do seguidor de Jesus. Por isso, colocar-se em último lugar é a atitude do cristão que entendeu a mensagem de Jesus e a traduz com transparência em sua própria vida. Colocar-se em último lugar, não significa esconder-se, fugir dos compromissos sociais e religiosos, mas que vive servindo e colaborando com os demais. Este é o significado da verdadeira grandeza no reino de Deus. O maior não é aquele que domina os outros, mas é aquele que se submete aos outros e, por isso, é levado a servir a todos.

Para ilustrar estes princípios, foi preciso que Jesus tomasse uma criança em seus braços e as colocasse diante dos discípulos para ilustrar o seu ensinamento de quem é o maior:  Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe.” (v. 37a). O que Jesus queria dizer? Porque tomou como exemplo uma criança para ilustrar o seu ensinamento? Primeiro precisamos fazer uma analise de uma criança. No antigo oriente a criança representava a ordem mais baixa da camada social. Não decidiam ,absolutamente, nada. A criança não tinha poder, status ou direito. Elas eram dependentes, vulneráveis e ,totalmente, sujeitadas a autoridade do pai. Os rabinos classificavam as crianças com os surdos, mudos e escravos. Como se observa, a criança precisava dos pais para tudo. Não poderia sobreviver sem a ajuda dos pais, não poderia se alimentar nem aprender a andar sem a ajuda dos pais.

Jesus não está dizendo que seus discípulos deveriam ser crianças. Efetivamente, Jesus está dizendo: Quer mesmo ser importante? Quer ser o maior? Jesus quer que nós sejamos grandes, que sejamos os maiores no reino dos céus, mas não através do uso do poder ou do domínio sobre os outros. Ser o maior no reino dos céus, não requer posição conforme os discípulos almejavam, mas determinadas características que as crianças possuem. Sendo assim, Jesus convida os discípulos a tomar a posição de crianças. Não era ser criança em si, mas na simplicidade, na humildade que os discípulos deveriam observar. Em outras palavras, tem que aprender a ser dependente, tem que tornar-se indefeso, incapaz, tem que sentir a necessidade de um poder maior. Essa é a única maneira de ser o primeiro no Reino dos Céus.

Portanto, o maior no reino é como a criança dependente. Dependente, sempre, de Deus, de sua graça e de seu poder. O maior é aquele que não confia na sua capacidade pessoal.Amém!

sábado, 17 de agosto de 2024

TEXTO: SL 116

TEMA: O QUE DAREMOS AO SENHOR?

Hoje, vamos refletir sobre o Salmo 116. Este é um dos salmos mais extraordinários da Bíblia. Alguns expositores acreditam que é tão grandioso quanto o Salmo 23. É um hino de gratidão a Deus por causa de Suas obras maravilhosas de libertação e fidelidade.  Ele é messiânico. O seu autor é anônimo. Mas é possível que seja de autoria de Davi. Há uma certa semelhança com o Salmo 18. É um dos salmos de Páscoa (Sl 113— 118). Os judeus cantavam esse salmo depois da Páscoa. É provável que seja o hino entoado por Jesus e os discípulos na noite em que Ele foi preso,quando celebrou a Páscoa com eles (Mt 26.30).

A nossa mensagem é fundamenta na pergunta que o salmista fez: “O que darei ao Senhor pelos benefícios que me tem feito?” (v.12). Davi pensou muito e buscou uma forma de retribuir a Deus por todos os seus benefícios. E o motivo que levou o salmista à essa pergunta, foram os benefícios que ele havia recebido do Senhor diante das várias situações das quais enfrentou: perigo de morte, de depressão e angústia (v.3), “enfraquecimento” (v.6), “sofrimento” (v.10), “grilhões” (v.16). Diante desta ajuda, sua primeira ação foi agradecer a Deus. Ele pensou em retribuir todos os benefícios recebidos.

O que darei ao Senhor pelos benefícios que me tem feito? Da mesma forma precisamos expressar a nossa gratidão ao Senhor pelas inúmeros os benefícios que todo ser humano recebe diariamente da parte de Deus. Ele nos dá diariamente e abundantemente tudo o que necessitamos para sustentar o nosso corpo e alma. Tudo o que somos, tudo o que temos e tudo que recebemos vêm de Deus. Temos a alegria da salvação, o consolo do Santo Espírito, a orientação da santa Palavra  e uma infinidade de outras bênçãos da parte de Deus.

O salmista inicia este salmo, demonstrando todo o seu amor pelo Senhor. Revela o seu sentimento de sua vida com Deus.Ele afirma: “Amo o Senhor , porque ele ouve a minha voz e as minhas súplicas.” (v.1). A expressão  אָהַב יְהוָה (Amo o Senhor) significa no hebraico:”eu amo o Senhor.” “estou cheio de amor”, “amo ardentemente e com mais afeto”. A expressão traz o pensamento daquilo que o salmista vivia no seu relacionamento com o Senhor. Ele obedecia seus mandamentos e fazia a sua vontade. No Senhor, ele depositava toda a sua confiança. E é ,justamente, nesta confiança que ele ora a Deus  e agradece. Ele agradece, porque o Senhor ouviu a sua voz e as suas suplicas. O único que poderia lhe oferecer ajuda.

As respostas à sua oração o encoraja a continuar orando. E com outro “porque” ele indica por que ama o Senhor: “Deus inclinou seus ouvidos” (v.2).  O verbo נָטָה significa, esticar, dobrar, inclinar, curvar, abaixar-se. É exatamente isso que Deus faz conosco, a pesar de sua grandeza, de seu poder e majestade, Ele se encurva em nossa direção, enquanto clamamos, esperneamos por estarmos em alguns momentos aflitos ou inseguros. Ele não fica indiferente a situação dos seus servos. Ele se compadece do necessitados. Ele revela sua compaixão para com os seus. Encontramos estas declarações também em outros salmos: “Mas, na verdade, Deus me ouviu; atendeu a minha oração” (Sl 66.19). “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor” (Sl 40.1). “Chegue à tua presença a minha oração, inclina os ouvidos ao meu clamor” (Sl 88.2). 

Mas,afinal, o que o salmista estava sentido? Era um momento difícil para o salmista, pois  esteve completamente à beira da morte: “Laços da morte me cercaram, e angustias do inferno se apoderam de mim, caí em tribulação e tristeza.” (v.3). O escritor personifica a própria morte como um caçador que passou a persegui-lo com seus laços de armadilhas. Ele se sentiu tragado pela sepultura onde vivem os mortos. Estava  nas garras da morte, da qual era impossível  se livrar. Vivia na angustia do inferno (sheol), o reino dos mortos. 

Ocorre que o salmista se sentia como uma presa impotente, e o resultado foi um abatimento profundo, acometido por angústia e aflição. Sua perturbação era tanta, com a possibilidade real da morte, que ele não mais confiava no próprio homem que pudesse livrá-lo daquela situação. (v.11). Sendo assim, diante de tantas lutas e fraquezas, invoca o nome do Senhor. Ele leva a Deus seu pedido: “Ó Senhor, livra minha alma” (v.4).  Trata-se de um pedido por preservação da sua vida. E  a resposta divina  a este pedido foi positiva. O Senhor o preservou, guardou e salvou a vida do salmista. Imediatamente, sua confiança na misericórdia de Deus lhe trouxe verdadeira paz em meio à tempestade,pois o Senhor é “compassivo, justo e  misericordioso.” (v.5). Este momento que o salmista viveu nos lembra a angustio do Salvado na cruz (Mt 27.27-35).

Deus atendeu a súplica do salmista. Quando  estava prostrado, pensando que tudo havia acabado,  o Senhor velou por ele e o salvou daquela situação.Deus o livrou da morte, preservando sua vida : “O Senhor vela pelos simples; achava-me prostrado, e ele me salvou.”(v.6). Quem são os simples, neste contexto? Os que se deixam persuadir, os que são instruídos, os que se arrependem, os que se sujeitam, os que obedecem. Observe que “os simples” está no plural, ou seja, todos os simples. Que notícia boa é esta: o Senhor protege quem não pode se defender. Quando você estiver cercado pela angustio, medo, sofrimento, lembre-se que o Senhor cuida de você.

De fato, a sua confiança na misericórdia de Deus lhe trouxe verdadeira paz em meio à tempestade. Ele se volta a si mesmo e pergunta: “Volta, minha alma, ao teu sossego.”(v.7a). Lutero traduz este versículo desta forma: “Sê novamente alegre, ó minha alma.” O termo נֶפֶשׁ  (alma) significa todo o ser interior, com seus pensamentos e emoções. A nossa alma jamais terá paz se não voltarmos para Deus. A palavra sossego significa “descanso“, “alívio” e “refrigério” espiritual. Trata-se de um descanso que vem de fora. Não é um pensamento positivo ou uma técnica de respiração. É a presença do Senhor. Isto demonstra que o salmista anteriormente passou por um momento de grande perigo. Sua alma estava agitada e aterrorizada. Esse perigo havia acabado, e  agora ele pede à sua alma que retome sua antiga tranquilidade, calma, paz e liberdade, pois o “Senhor tem sido generoso.”(v.7a). O Senhor também nos retribui com bondade e nos trata generosamente. A generosidade divina é sua bondade para com aqueles que se encontram aflitos.

O salmista descreve o que o Senhor fez em sua vida a partir do momento em que ele começou a buscá-lo. Ele afirmou que ajuda vem do Senhor. Sendo assim, ele menciona três livramentos: primeiro, “Porque Tu, Senhor, livraste a minha alma da morte“ (v.8a). Essa é uma linguagem que o salmista usa para afirmar que estava gravemente doente e recuperou a sua saúde. O salmista se expressou desta forma: você resgatou minha vida da destruição à qual foi exposta Eu pergunto: Como está a sua alma hoje? Preocupada? Pensativa? Ansiosa? Perplexa? Segundo, “Livraste os meus olhos das lágrimas.”(v.8b). Foram lágrimas que o salmista derramou em sua doença e na preocupação de morrer. O Senhor havia transformado a tristeza do salmista em alegria. Em Deus somos consolados das nossas lágrimas.Este é o grande consolo.Terceiro,“Livraste os meus pés da queda“ (v.8c).Somente Deus poderia livrar o salmista dos tropeços. Ele passa a guiar seus passos cuidando para que seus pés não se desviem do caminho e não escorreguem em terrenos perigosos. Com Deus estamos livres da queda. “Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda” (Sl 121.3). Só Deus pode nos firmar em momentos tão difíceis pelos quais temos passado. Nenhum filho de Deus permaneceria de pé, por um momento sequer, diante de abismos, armadilhas, fraquezas físicas e inimigos sutis, se não fosse por causa do fiel amor de Deus, que não permitirá que os pés de seus filhos vacilem. 

O resultado final é que o salmista continuaria vivo e servindo a Deus. Agora,ele quer andar na presença do Senhor: “Andarei diante do Senhor na terra dos viventes.” (v.9).O andar do salmista expressa uma forma atuante de estar na presença do Senhor. Ele age com determinação:  meus olhos estão agora brilhantes, para que eu possa ver, meus pés estão fortalecidos, para que eu possa andar  e minha alma está viva, para que eu possa andar com os vivos. Sendo assim, podemos concluir que estamos diante do salmista que, com o coração radiante pelos constantes livramentos do Senhor, está inclinado, não só a render graças ao Senhor, mas estabelece uma firme resolução de vida: andar na presença do Senhor na terra dos viventes.Portanto, o desejo de Davi era andar com Deus enquanto vivesse neste mundo. Nas Escrituras, todos que andaram com Deus experimentaram sua gloriosa presença e a sua incomparável força, provaram sua fidelidade, sua santidade e o tamanho do seu amor com o Senhor.

A esperança do salmista se manifesta nas suas palavras:“Eu cri,ainda que disse: estive sobremodo aflito.”(v.10).Ele declara que, apesar de estar "caído" e sem esperança, ainda teve fé para se humilhar e suplicar pelo livramento do Senhor.Crer era fundamental para o salmista diante das suas aflições.Por isso, expressou confiança no Senhor. O apóstolo Paulo cita estas palavras, cri, por isso, falei, em 2 Coríntios 4.13,14, como expressão de gratidão por aquilo que o Senhor fez por ele e por meio dele, quando estava vivendo em ameaças de morte. Ele agora encoraja a igreja a se manter firme no Senhor quanto a sua fé em Cristo. Paulo,ao citar o salmista.lembra que também estava vivendo em circunstâncias de provação e aflição.Ocorre que os sentimentos de ambos eram a linguagem da fé. O salmista  expressa sua confiança em Deus diante de sua aflição. Paulo expressa sua confiança nas gloriosas verdades do Evangelho.Ele fala de um Salvador ressuscitado e mostra o consolo aqueles que creem. Portanto,cremos nas verdades do Evangelho; cremos em Deus, no Salvador, na expiação, na ressurreição, etc.Por isso,precisamos falar o que cremos mesmo que as circunstâncias sejam grandes.

Diante deste andar e crer no Senhor, Ele pensou em retribuir todos os benefícios recebidos. Ele pergunta: “O que darei ao Senhor pelos benefícios que me tem feito?” (v.12) O salmista nos ensina a sermos gratos e não se esquecer de nenhum dos benefícios que temos recebido. Ao contemplar quem Deus era, o que Deus lhe dava e a obra que Deus fazia em sua vida, apesar de suas lutas e dores, o salmista conclui que os benefícios que o Senhor lhe tinha concedido eram muito maiores que seus problemas,  Ele reconhece o valor da sua salvação e procura a maneira de demonstrar sua gratidão. Pensa numa forma de retribuir a Deus, por tudo aquilo que Deus lhe fez.  Não há outra forma melhor de pagar o bem recebido do que com gratidão. De que forma ele agradece?

Primeiro: "Tomarei o cálice da salvação”. (v.13) A palavra usada para cálice no original é כֹּוס que significa copo.  Era um costume entre os judeus, beber um copo de vinho como uma expressão especial de agradecimento, de ação de graças pela libertação recebida, abundância, salvação. No Antigo Testamento,יְוּעָה (“salvação” ) normalmente referia-se a um ato de livramento da parte de Deus.Este ato era mais solene no templo, ou mais privado na família. O uso era diário, após cada refeição, ou mais solenemente em uma festa. Esta foi a maneira do salmista demonstrar a gratidão a Deus, e entregar sua vida a Ele. Para nós, que estamos sob a Nova Aliança, o sentido é ainda mais amplo. Deus não apenas nos livra em situações específicas, mas providenciou, em Cristo, salvação eterna. Ele, que nos criou por amor, e, através do sacrifício de seu Filho unigênito, nos resgatou da tirania do pecado e da morte, e nos acolherá nas moradas eternas. Por isso, tomar o cálice da salvação, é aceitar Jesus como nosso Senhor e Salvador. Este é maior benefício que recebemos.

Quando fala sobre "tomarei o cálice da salvação” entendeu que um dia o Filho de Deus tomaria o cálice da nossa culpa e dos nossos pecados sobre si mesmo e se entregaria à cruz para morrer em nosso lugar. O cálice que Jesus pediu ao Pai que se possível fosse, passasse dele, representava todo o seu sofrimento e humilhação por causa dos nossos pecados. Na verdade, Jesus tomou o cálice da nossa salvação e o bebeu sozinho, para que através da fé na sua obra redentora, alcançássemos vida eterna.Desta forma a única maneira de agradar a Deus é tomar o cálice da salvação, isto é, reconhecer seu sacrifício e aceitar Jesus como nosso Salvador. A fé em Jesus é a única coisa que nós podemos ofertar ao Senhor por todo o bem que nos tem feito, e isso não procede do homem, mas do próprio Deus.

Segundo: “Invocarei o nome do Senhor” (v.13b).Ao tomar o cálice da salvação, o salmista invocou o nome do Senhor diante de tantas lutas, fraquezas, frustrações. E o Senhor o atendeu. Sendo assim, ele encontrou uma forma de louvar e agradecer. O verbo קָרָא (invocar) traz uma aspecto importante.Ele denota a proclamação audível do nome do Senhor e a sua invocação, em que louva e agradece ao Senhor. Assim quando reconhecemos a obra redentora de Jesus e cremos, passamos a invocar o nome do Senhor. Todo aquele que toma o cálice da salvação, passa depender do Senhor e a invocar o seu nome em toda a sua necessidade. O Senhor que governa a nossa vida é a fonte de todos os benefícios, e isso nos move a tomar constantemente o cálice da salvação.Deste modo, o louvor, acontece quando o cristão reconhece a Deus e o proclama, para que todos fiquem sabendo quem é esse Deus.Por isso, é importante  colocar-se sob a autoridade daquele de onde vem o socorro. Assim, quando o invoca o nome do Senhor, ou quando clama por Ele, o salmista afirma: “eu me submeto à sua autoridade, pois pertenço a Ele”. Isso amplia a ideia da salvação. Ele me salva, porque sou Dele, e Ele tem todos os recursos para tal.

Terceiro: “Cumprirei os meus votos ao Senhor.” (v.14,18). O salmista volta a afirmar sua fidelidade a Deus por meio do cumprimento dos seus votos, acrescentando a informação de que o faria no templo do Senhor, diante de todos: “Oferecerei sacrificios de ações de graças e invocarei o nome do Senhor.”(v.17). Onde? “nos átrios de todo o seu povo, no meio de ti, ó Jerusalém”. (v.19).  Há uma dimensão particular de gratidão, que o salmista deve realizar à vista de todos no templo. Mas como eles serão pagos? Serão pagos ao se tomar o cálice da salvação e ao se invocar o Senhor. Ou seja, eles serão pagos pela fé na graça futura.Cumprirei os meus votos.Isto significa que cada um foi chamado por Deus, prometeu fidelidade no batismo, e, por isso, tem um compromisso com o Senhor, com a Casa de Deus, com a evangelização e as ofertas. Então, o voto que fazemos ao Senhor quando tomamos o cálice da salvação é a nossa fidelidade e obediência a Ele. Isso deve produzir em nós uma vida de testemunho diante de todo o povo do Senhor, gerando um fruto que é o resultado da operação do Espírito Santo na nossa vida. Este fruto é vida de Jesus em nós, é a manifestação do Senhor Jesus na nossa vida, que fazemos parte do seu corpo.Estejamos sempre envolvido com a obra de Deus, em comunhão com a igreja de Cristo. Desta forma, o resultado final é agradável a Deus, pois Ele vê o seu Filho, o Senhor Jesus em nós.

Que darei ao Senhor, por todos os seus benefícios para comigo? Que posso dar ao Senhor, que gesto posso ter, ou que comportamento como forma de expressar minha gratidão por tudo que tenho recebido de Deus? O que eu e você podemos fazer mais para Deus, como forma de expressar gratidão? Será que nossas atitudes realmente revelam que há em nós um coração grato? Será que temos agido com compromisso na obra de Deus, como uma forma de demonstrar coração grato? Será que temos orado e meditado mais na palavra do Senhor como forma de evidenciar gratidão?Certamente estas são as perguntas que todos deveriam responder individualmente, quando recebem benefícios do Senhor. Ela nasce do entendimento de que a gratidão não pode ficar só na consciência ou no sentimento, mas precisa revelar-se em atitudes práticas. Se eu quero dar graças a Deus por alguma coisa, é melhor que eu o faça por meio de ações e não apenas de palavras.Lembrem-se que as  misericórdias que  se renovam sobre nós, e sempre haverá motivos para agradecermos ao Senhor.

Com certeza, muitas de nossas orações foram atendidas pelo Senhor! É do Senhor que recebemos muitas e incontáveis bênçãos. Na verdade, são inúmeros os benefícios que todo ser humano recebe diariamente da parte de Deus. Ele nos dá diariamente e abundantemente tudo o que necessitamos para sustentar o nosso corpo e alma. Tudo o que somos tudo o que temos e tudo que recebemos vêm de Deus. Temos a alegria da salvação, o consolo do Santo Espírito, a orientação da santa palavra de Deus e uma infinidade de outras bênçãos da parte de Deus. E ainda podemos afirmar que tantas outras orações foram dirigidas ao Pai, e que com amor nos enviou a resposta, pois esperamos com confiança no Senhor e Ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. (Sl 40.1).

Portanto, esta deve ser a nossa esperança, que o Senhor Deus ouça quando oramos em busca de socorro. Nunca duvidemos de que Ele está em nossas vidas sempre disposto a nos ouvir, pois somente Ele tem poder de mudar a situação em que estamos enfrentando nesse mundo. Amém!

 TEXTO: SL 146

TEMA: NOSSA ESPERANÇA ESTÁ NO SENHOR

Muitas pessoas vivem preocupadas, tristes e sem esperança, devido aos inúmeros fatores que assolam os seres humanos. São questões financeiras, familiares, medo ou até mesmo as dúvidas. O Salmos 146 traz um convite para que os homens busquem depositar sua esperança em Deus. Ocorre que, muitas vezes, preferimos colocar a nossa esperança nos valores transitórios deste mundo: no nosso dinheiro, nossa família, nas filosofias, nas ideologias. É mais fácil, colocarmos a nossa confiança nestas coisas do que no Senhor todo-poderoso, a quem não vemos. Cometemos um grande erro, pois não existe salvação nos homens, nos especialistas, no dinheiro, no nosso trabalho. Além disso, a nossa esperança não está príncipes e nobres, meros homens mortais e limitados. Eles não cumprem suas funções para com os necessitados, abatidos e estrangeiros. Lembre-se: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.” (1 Coríntios 15.19).

No entanto, a recomendação do salmista é depositar a nossa esperança no Senhor, pois o Senhor é qualificado como o Deus de Jacó, Deus fiel, Criador e soberano sobre todas as coisas. Ele é eterno e reina para sempre. É o único Deus que merece nosso louvor, por causa das grandiosas obras que Ele fez e continua fazendo em nossas vidas! É Ele quem reina como Rei sobre Sião de geração em geração.  Somente o Senhor tem condições de cumprir as promessas, ajuda, auxilio e bem estar que as camadas mais pobres do povo precisam, tornando-se, assim, o nosso único alvo de esperança no qual devemos depositar toda a nossa confiança.

Estes são exatamente os motivos pelos quais devemos louvar ao Senhor. Quem deposita a sua confiança no Senhor é uma pessoa feliz. Nele reside a nossa única esperança neste mundo, em épocas difíceis, quando homens injustos, governantes irresponsáveis e injustiças sociais assolarem nossa vida. Portanto, vamos louvar e depositar a nossa esperança no Senhor!                                                                       

O salmista inicia o salmo com o louvor a Deus: “Louva, ó minha alma, ao Senhor.” (v.1). Contudo, ele ainda afirma que promete louvor ao Senhor por toda a sua vida, enquanto viver – ou então, “até o seu último suspiro”, (v.2) de forma perene e contínua.  Mas o que leva o salmista a louvar ao Senhor? Primeiro, precisamos entender que confiar em príncipes e nos filhos dos homens não é uma boa ajuda em épocas de grande aflição. Não há salvação. (v.3). "Até mesmo os príncipes são mortais, e alguns não têm nem mesmo meios de ajudarem a si próprios ."(Sl 118.9). Isto demonstra que o homem é frágil. Por isso, o salmista aconselha não colocarmos nossa confiança e nossa esperança em pessoas, pois não podemos ficar dependendo delas. Sendo assim, o salmista conclui que a garantia da paz do seu povo não viria de príncipes ou dos filhos dos homens, pois eles também eram mortais e sujeitos às vicissitudes da vida, perecendo como qualquer homem. O homem é pó e tornará ao pó. (v.4). O que adianta colocar nossa esperança num ser mortal, que no dia em que ele morre, todos os seus desígnios perecem?

Em contraste com a fraqueza e mortalidade do homem estão a grandeza de Deus e sua fidelidade: “Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor, seu Deus, que fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e mantém para sempre a sua fidelidade.” (v.5-6). Aquele que tem o Senhor como seu ajudador é uma pessoa feliz. Isto indica um prazer profundo e permanente, uma alegria imensa. É a descrição mais adequada daqueles cujo refúgio e esperança residem no Senhor. O salmista também aponta a razão para que o servo dependente e esperançoso no Senhor seja feliz ao mostrar quem é Deus. Ele deixa claro que Deus deve ser louvado pelos feitos maravilhosos que já fez. Ele fez os céus e a terra. Deus fez e mantem a sua fidelidade, ou seja, Ele sempre cumpre aquilo que se comprometeu a fazer. Já os homens não podem garantir. Por isso, coloque sua esperança no Senhor que criou todas as coisas e que mantém para sempre Sua fidelidade

Os últimos versículos (7- 9), o salmista descreve vários benefícios de Deus, em favor das pessoas mais humildes, sofridas, aflitas, oprimidas, famintas. Em outras palavras, Deus age em favor das pessoas mais vulneráveis – as pessoas que mais precisam de esperança. Primeiro, Deus é bondoso e justo. Ele faz justiça aos oprimidos, (v.7a) uma vez que vivemos num mundo cheio de opressão por causa da injustiça. Somos oprimidos pelo sistema que vivemos. São problemas financeiros, familiares, sentimentais, profissionais. Estes problemas e muitos outros, o Senhor faz justiça às pessoas que vivem oprimidas. Fazer justiça aos oprimidos quer dizer uma lei justa que protege o mais fraco, com o objetivo de buscar o direito do oprimido; de buscar sua identidade. Isto significa o seu direito de lutar, protestar contra a discriminação e encontrar o seu lugar na sociedade. É neste sentido que contamos com ajuda do nosso Deus. Não estamos sozinhos diante desta situação. O Senhor é Justo. Ele está atento a tudo o que se faz contra os seus justos, e sempre se dispõe a intervir. Deus promete fazer justiça aqueles que O buscam.

Ele dá pão aos têm fome. (v.7b). Isto significa que a justiça de Deus se concretiza no pão aos famintos, aqueles que têm fome e não possuem recursos próprios, mas dependem de alguém que possa sustentá-los. Esta atitude é a primeira condição de justiça. Nenhum plano tem sentido se deixar o povo na fome. O plano de Deus é dar pão aos famintos. Vejamos alguns exemplos: por 40 anos Deus conduziu e sustentou o povo de Israel no deserto, até chegar à terra da promessa, a terra que mana leite e mel. (Ex 16.35) Quando Elias, profeta do Senhor, estava com fome, Deus ordenou aos corvos que o sustentassem (1 Reis 17.4 e 6). Quando a multidão que seguia a Jesus estava com fome, cinco pães e dois peixes foram multiplicados para suprir as necessidades do povo (Mateus 14.19. O Deus que sustentou o seu povo é o mesmo, não mudou. Ele continua nos sustendo. Peça a Deus o que você necessita!

Ele liberta os encarcerados. (v.7c). A opção de Deus pelos oprimidos, famintos, prisioneiros, demonstra claramente a sua justiça. Ele não quer escravos. No êxodo ficou demonstrado como o Senhor rompe as correntes e liberta o povo. De maneira privilegiada esse poder foi confirmado na volta do exílio babilônico. Sem templo, sem rei e sem a terra o pequeno grupo do povo, consegue reorganizar-se para encontrar de novo sua identidade e reconstruir os seus valores. O Senhor liberta seu povo. Como é maravilhoso saber que o Ele é Nosso Libertador. Não há correntes e nem cadeias que possam resistir à força do Seu poder. Ele nos liberta dos vícios, das prisões emocionais relacionadas às mágoas, ressentimentos, dificuldade de perdoar, tristeza ou depressão. Enfim, nada prevalece diante do poder libertador do Senhor.

Ele levanta os abatidos (v.8b). Muitas pessoas estão abatidas devido aos inúmeros fatores. São questões financeiras ou familiares, ou pelo medo ou até mesmo as dúvidas que temos. Diante desta situação, Deus abre um horizonte de esperança para todos os que sofrem sob o peso da opressão e que não podem manter a dignidade de sua postura humana. O salmista nos diz que podemos contar com Deus. Ele irá nos sustentar em suas mãos. Ele irá nos levantar e nos colocar no caminho que devemos trilhar, pois é um Deus de amor, de misericórdia, de bondade, de mansidão e de perdão. Ele nunca nega o pedido de ajuda de qualquer um de seus filhos. Ele é o Deus das nossas esperanças. Ele é poderoso para nos levantar.

 Ele ama os justos. (v.8c). Os justos gozam da atenção constante do Senhor que ouve o seu clamor a qualquer tempo: “Os olhos do Senhor estão sobre os justos; e os seus ouvidos, atentos ao seu clamor.” (Sl 34.15). “Pois tu, Senhor, abençoarás ao justo; circundá-lo-ás da tua benevolência como de um escudo.” (Sl 5.12). Uma das indicações da presença constante do Senhor é, exatamente, o fato de que Ele conhece o caminho dos justos. Não somente conhece, mas participa também dos nossos caminhos, nos acompanha, nos adverte e nos corrige. Ele conhece o caminho do Seu povo porque Ele escolheu para este povo o caminho que ele deve andar. O que o salmista faz é encher o coração dos aflitos de esperança, enquanto enche os injustos de temor, transtornando o seu caminho. (v.9b). Literalmente o hebraico diz “entortar o caminho”, levando os a cair em ruína; morrer. Significa que aqueles que andaram segundo o caminho da sua própria vontade, e não segundo a vontade de Deus, e que viveram para satisfazer a sua carne, seu coração e seus desejos, estes perecerão no último dia. Serão condenados ao sofrimento eterno, separados do Senhor.

Ele protege o peregrino. (v.9a): Israel passou por essa experiência. Permaneceu estrangeiro e escravo no Egito. A marca do exílio babilônico fez Israel amargar a vida como estrangeiro. Os patriarcas também foram estrangeiros em Canaã. Deus tem como objetivo recuperar os estrangeiros em seus valores, e lhes dá um lugar na sociedade. Jesus teve grande carinho para com os estrangeiros marginalizados, como demonstra seu trato com a mulher Cananéia (Mt 15.21-28), com o leproso samaritano ( Lc 17.11-19) ou na proposta a todos os que “virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus” (Lc 13,29).

Ele ampara o órfão e a viúva (v. 9b): órfão e viúva formam quase sempre uma só classe na Bíblia. Estas pessoas se encontravam desprotegidas, excluídas, ignoradas, esquecidas e desamparadas na sociedade da época. Eram pessoas não gratas no conceito judaico, tanto no AT quanto o NT. Eram pessoas que mais necessitavam da bondade de Deus. E Deus sempre se preocupou de forma muito peculiar com a vida destas pessoas. (Dt 26.13). Jesus vai ao encontro delas. Ele apresenta a viúva como uma pessoa necessitada em termos de proteção e sustento, e que deve ser honrada e respeitada. Aquela viúva não só deu oferta ao templo como deu “tudo” o que tinha, tal era a sua confiança em Deus e seu abandono nas mãos daquele que era o seu Senhor. Tiago diz que “a religião pura e imaculada consiste em visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações” (Tg 1.27). Qual é a nossa atitude em relação a estas pessoas, muitas vezes, excluídas da sociedade e até mesmo da própria igreja?

Depois de todo esse panorama, uma demonstração o quanto o Senhor é bom, o salmista encerra, trazendo o último motivo para louvarmos ao Senhor. Ele afirma que o reinado de Deus é duradouro e contínuo: “O Senhor reina para sempre; o teu Deus, ó Sião, reina de geração em geração.” (v.10). Deus reina por todas as gerações e o faz segundo seu poder, fidelidade, bondade e justiça.  Onde você tem colocando a sua esperança? Em você? Nos planos e sonhos do homem? Nas ideologias? Filosofias? Quando Deus é o nosso motivo de louvor sincero e consciente, não temos outros deuses diante de nós; não reverenciamos e não confiamos em nenhum outro ser ou personalidade; não depositamos nossas vidas e esperanças em outras mãos. Acima de tudo, confiamos em Deus, no Seu amor, na Sua fidelidade. Ele é a nossa esperança. Amém!


TEXTO: EF 6.10.20

TEMA: COMO NOS FORTALECER NO SENHOR?

Diariamente enfrentamos tantas batalhas neste mundo. Aliás, a nossa vida tem sido uma constante batalha. São as dificuldades, os problemas, os sofrimentos que enfrentamos. Além destas batalhas diárias, também enfrentamos a batalha espiritual. É uma batalha constante que o cristão enfrenta contra as influências do mundo, contra a sua própria natureza pecaminosa (carne), e contra o diabo. Ela é uma realidade sóbria. É uma batalha que será constante até quando Cristo nos chamar para eternidade.

No entanto, nessas batalhas não estamos sozinhos. Deus está conosco. Ele é o Senhor  que peleja pelo seu povo, nos fortalece e nos concede força para vencermos as batalhas. Ele coloca à disposição toda a “força do seu poder”. Poder que nos sustenta diante das dificuldades da vida. E para ficarmos firmes é preciso nos fortalecer no Senhor.

Mas, afinal, como nos fortalecer no Senhor? O apóstolo Paulo nos fala dessa batalha e nos diz que devemos estar preparados e bem armados para lutarmos. É uma ordem divina para ficarmos firmes e vigilantes contra as ciladas do diabo, pois a nossa luta não e contra seres humanos, mas contra forças espirituais do mal. Por isso, devemos ser constantes e sempre vigilantes, pois não sabemos quando e como ele irá nos atacar. E quais são as armas que devemos utilizar nessa guerra? O apóstolo Paulo também responde essa pergunta: precisamos nos revestir da armadura de Deus. Portanto, fiquem sempre em prontidão, e preparem-se para a luta!

Paulo fez diversos estudos para os filhos, pais, jovens, empregados, casais e padrões. E após estes estudos, ele concluiu, afirmando : sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder.” (v.10). O apóstolo Paulo  está afirmando que os cristãos de Éfeso deveriam se fortalecer no Senhor na força do seu poder. É uma  expressão que nos  capacita a viver a nossa vida cristã nesta terra, resistindo aos ataques de Satanás. Ele é o principal inimigo do povo de Deus. Ele é um adversário perigoso que lidera “as hostes espirituais da maldade” (v.12). Isso quer dizer que Satanás e seus agentes formam um exército organizado que se opõe à obra de Deus e ao seu povo. Eles atacam de forma astuta e estratégica (v.11).Por isso, precisamos admitir que por nossa própria força,  não somos capazes de vencer as batalhas contra as forças malignas.

Portanto, é necessário nos fortalecer no Senhor Jesus , buscando sua orientação, seus ensinamentos na palavra e sua proteção. Necessitamos estar ,permanentemente, ligados à fonte da qual esta força procede. Afinal, somos fracos em nossa própria natureza, e lutamos com inimigos muito mais fortes do que nós, que são enganosos, sutis, disfarçados. Dependemos, portanto, do poder de Deus para sermos fortalecidos. E quando somos fortalecidos pelo Senhor, nos tornamos capazes de vencer as fraquezas. Daniel foi fortalecido pelo anjo do Senhor: Falava ele comigo quando caí sem sentidos, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me achava.”(Daniel 8.18).Isaias foi fortalecido: não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.”( Isaías 41.10). Lembre-se: só permanecerão firmes aqueles que estiverem fortalecidos no Senhor.

Mas, afinal, como nos fortalecer no Senhor? O apóstolo Paulo apresenta uma nova dimensão para fortalecer os irmãos na fé em Cristo, convidando-os a se revestir da “Armadura de Deus”: “Revesti-vos de toda armadura de Deus. (v.11a): O verbo revestir  traz a ideia de vestir-se novamente, ou seja, uma roupa sobre outra. A palavra armadura se refere à armadura de um soldado fortemente armado da cabeça aos pés. Conjunto de peças feitas de metal ou couro, com que os soldados antigos cobriam o corpo para se protegerem das armas de ataque dos inimigos. O uso desta armadura significava manter agressivamente na retaguarda, manter-se à frente e opor-se contra o inimigo.

É impressionate a linguagem militar que o apóstolo emprega neste texto para falar sobre a armadura de Deus. Mas o que é a armadura de Deus? A armadura de Deus é a proteção que Ele nos oferece para resistir ao diabo e vencer as tentações e as lutas da vida. O motivo da necessidade é  para “poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo.” (v.11b). Estas ciladas são os truques de Satanás para enganar os cristãos (2Co 11.14). Outro detalhe é o combate para o qual precisamos estar preparados não é contra inimigos humanos, não contra homens constituídos de carne e sangue: “…porque não temos que lutar contra carne e sangue”. (v.12) Portanto, Paulo deixa claro que não lutamos contra forças humanas, a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. O conflito com Satanás é espiritual e, portanto, nenhuma arma física pode ser usada efetivamente contra ele e seus demônios.

Diante disso, o apóstolo Paulo exorta os cristãos de Éfeso a serem fortalecidos na força do Senhor e se vestir contra as forças malignas,usando determinadas armas. E quais são estas armas/ferramentas que estão à nossa disposição, e que devemos utilizar nessa guerra? Paulo responde essa pergunta. Ele fala das seguintes armas: cingidos com a verdade, vestidos com a couraça da justiça, calçados com o Evangelho da paz, embraçando o escudo da fé e o capacete da salvação. E ainda, tendo em punho a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, orando em todo o tempo e sendo vigias perseverantes. Essas são as armas que Deus nos oferece para resistir Satanás. É tudo que precisamos para resistir aos ataques do diabo e manter-nos firmes com Deus.

 Quem veste a armadura de Deus não será abalado. Por isso, Paulo nos aconselha: “tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mal e, depois de terdes vencido tudo, permaneceis inabaláveis. (v.13). Ele afirma ,simplesmente, “tomai a armadura de Deus.” Temos apenas que pegar. Há urgência,para que possamos estar preparados contra o dia mau que pode ser qualquer momento, uma guerra perpétua (Salmo 41.1). Neste sentido,Paulo  alerta para que todos se mantenham firmes e estejam preparados. Se tomamos a armadura e lutarmos ,bravamente, até o fim, “resistindo no dia mal” e “ vencendo tudo,” então seremos vitoriosos.

Paulo nos apresenta as ferramentas da armadura de Deus. Para cada peça da armadura existe uma comparação especial, vejamos: a primeira ferramenta: o cinturão - Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade.” (v.14a). A expressão cingir significa pôr à cintura, apertar. Provavelmente, se refere ao cinto usado para apertar a túnica do saldado. Uma túnica solta no campo de batalha poderia atrapalhar os movimentos do soldado, poderia tropeçar. Um soldado preparado para a luta teria um cinto apertado firme às suas vestes. Além disso, era usado para sustentar a adaga e a espada. Era responsável pela estrutura e sustentação de toda a armadura. Era uma peça indispensável para o soldado romano.

Como cristãos, nosso cinto é a verdade. E toda a verdade está em Cristo Jesus.  Quando o soldado de Cristo está com a verdade, em toda luta que tiver em sua vida,  estará preparado e protegido. Sendo assim, só poderemos resistir o inimigo, se estivermos fundamentados na verdade. Se estivermos cingidos com a verdade, nosso inimigo, que nos acusa e que é mentiroso, não terá argumentos válidos para lançar contra nós, pois estamos alicerçados na verdade. Se a verdade não for a base de sustentação da vida, entraremos despreparados para a batalha espiritual. Lemos em1 Pedro 1.13: “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo.”

A segunda ferramenta da armadura de Deus para enfrentarmos a luta espiritual é a couraça da justiça: “vestindo-vos da couraça da justiça”. (v.14b).   A couraça era uma parte da armadura, feita de couro ou metal, para cobrir o peito e, às vezes, as costas dos soldados. O objetivo da couraça era para proteger contra os golpes das lanças, flechas e espadas. Mas que tipo de proteção é essa que o apóstolo chama de couraça da justiça? Ela nos protege de que? Como podemos vesti-la? A justiça aqui não é a nossa justiça própria. Se a justiça for própria, a couraça é própria, a armadura é própria! E  a armadura não é de Deus. Quando o apóstolo Paulo falou da justiça como uma couraça, ele tinha em mente a justiça de Deus. A justiça que Cristo conquistou na cruz para nós: (2Co 5.12; Ef 4.24). Essa é a maneira de vestir a couraça. Quando aceitamos a justiça que procede de Deus pela fé em Jesus, a nossa couraça de pano podre é trocada pela couraça da justiça de Deus.

Paulo nos apresenta a terceira ferramenta: Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz.” (v.15). As sandálias do soldado romano eram calçados duros.Ele eram feitos de couro para proteger os pés. Tinham tachas para manter o equilíbrio em terrenos acidentados, proporcionando apoio aos pés. Assim, para os soldados romanos, os calçados não poderiam ser algo que os impedisse, mas sim que o auxiliassem em seus movimentos de defesa. Para enfrentar a luta espiritual na qual todos estamos participando, além de cingir-se com cinturão da verdade e vestir a couraça da justiça, precisamos calçar os pés com a preparação do evangelho da paz. Calçar os pés no evangelho da paz é viver apoiado pela boa notícia da paz, é viver protegido pela paz do evangelho. É estarmos preparados, a qualquer momento, para representar o reino de Deus e anunciar o seu evangelho. Esse é o ponto de partida: paz com Deus. Se estivermos calçados com essa paz, podemos enfrentar a luta e vencer as batalhas.

A quarta ferramenta: Escudo da fé. Paulo especifica o tipo de escudo que era muito peculiar no exército romano. É muito significativo a simbologia que Paulo empregou para as armas espirituais. Ele afirma: Embraçando sempre o escudo da fé.” (v.16). O escudo aqui mencionado refere-se a um escudo suficientemente grande para cobrir a maior parte do corpo. Servia para se proteger contra as flechas, espadas e dos dardos. Era conhecido como Scutum (latim para escudo). Esse escudo era grande e retangular, tinha 1,5 metros de altura e pesava entre 5-7 kg. Ele era feito de madeira dura com metais nas bordas e grossas camadas de couro na frente. Antes de marcharem para a batalha os escudos eram molhados para que os dardos inflamados fossem extintos. 

A nossa proteção é o escudo da fé. Através dele, apagamos “todos os dardos inflamados do maligno”. (v.16b). Interessante que os romanos usavam as flechas como uma grande arma de ataque contra os inimigos. As flechas tinham pedaços de panos banhados em piche que eram acesas antes de serem lançadas. Essas flechas inflamadas causavam sérios estragos nos corpos e em locais aonde havia algo inflamável. Essa é a imagem que Paulo está usando, e que reflete a nossa batalha espiritual. Satanás está constantemente lançando seus dardos inflamados contra nós, querendo fazer com que nós acreditemos que há mais prazer nas coisas que ele oferece, nas mentiras, egoísmo, ciúmes, inveja, orgulho, cobiças. e muitos outros pecados Foi assim que ele atacou Jesus – prometeu coisas grandes, mas Jesus usou o escudo da fé e se defendeu crendo nas promessas de Deus (Mt.4.1-11).

Paulo nos aconselha a usar “sempre o escudo da fé”. Fé é um escudo que cobre todo o nosso ser – assim como o escudo cobria todo o corpo! Fé é a plena certeza, a garantia da fidelidade de Deus para com suas promessas. Essa plena certeza se torna uma convicção tão séria e tão profunda que passa a ser o que guia  nossos passos. E sem fé não conseguiríamos permanecer contra os intentos do inimigo. Seria impossível viver a vida de Deus sem esse escudo de defesa, mesmo porque, constantemente, somos atacados pelo inimigo e, uma vez sem esse escudo, seríamos alvos fáceis. Portanto é preciso “embraçar sempre”, ou seja, um ato continuo, de hora após hora, sem parar, um escudo, uma proteção de fé, que deve estar fundamentada, edificada, com alicerces espirituais profundos em uma Rocha chamada Cristo.

A quinta ferramenta é o  capacete da salvação: “Tomai também o capacete da salvação” (v.17a). Após colocar as outras peças da armadura, o soldado recebia do criado o capacete, um traje militar devidamente ajustado e mais leve para proteger esta parte vital do corpo. Os capacetes romanos eram feitos de bronze e tinham uma camada de feltro ou esponja. Paulo toma como base este termo para falar sobre a salvação.  Isto significa que  no âmbito espiritual, o capacete simboliza a salvação do Senhor. Pela sua morte e ressurreição, Jesus nos salvou do castigo e da escravidão do pecado (Romanos 8.1-2). A salvação que recebemos de Deus é nossa maior proteção de todos os nossos ideais  nesta vida. Quando vivemos focados na salvação em Cristo Jesus, a nossa vida terá outro sentido,pois Deus protege dos que lhe pertencem: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8.31; 37-39). Precisamos de proteção para não cair nas armadilhas do diabo.

A sexta ferramenta é a espada do Espírito. “A espada do Espírito, que é a palavra de Deus”. (v.17b). Este tipo de espada era pequena, aquela que o soldado usava no combate corpo a corpo. Não era a espada mais longa usada em combates. Para os cristãos armados para defesa na batalha, o apóstolo recomenda somente uma única arma de ataque; mas ela é suficiente, a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus. Isso fica claro uma vez que essa espada é a Palavra de Deus e que o Espírito Santo é seu autor (2Pe 1.20,21). Jesus usou tão ,incisivamente, as Escrituras na hora da tentação, fica claro que também temos de fazer o mesmo. O escritor aos Hebreus ressalta que "a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes" (Hb 4.12).

O apóstolo Paulo termina sua analogia sobre a armadura de Deus, ensinando como o cristão pode vestir essa armadura. Ele diz que é somente por meio de  um vida de oração que o crente pode estar devidamente equipado com a armadura de Deus e pronto para a guerra espiritual. Vejamos três usos dessa palavra que Paulo menciona: primeiro, para guerrear contra o diabo, temos de fazer da oração uma disciplina diária. Por isso,deveriam orar  "em todas as ocasiões.(v.18a) Em I Tessalonicenses 5.17, Paulo exorta os crentes: "Orai sem cessar". Jesus declarou que as pessoas devem "orar sempre e nunca desanimar" (Lc 18.1). A constância em oração é imperativa para a vitória. Segundo,  Paulo resalta que devemos “orar em todas as ocasições no Espirito.”(v.18b) No Espírito não se refere ao espírito humano com sua capacidade de devoção e ardor, mas ao Espírito Santo, que é quem ,poderosamente, inspira e intercede. Ele nos ajuda a formular as petições de acordo com a vontade de Deus ( Rm 8.26-27). E ,finalmente, “vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos.” (v.18c). O termo “vigiando”transmite a ideia militar de "manter-se alerta". Esta deve ser atitude do cristão.  É a única maneira de estar preparado.  A agilidade incansável do cristão deve ser mostrada especialmente na intercessão perseverante a favor de todos os seus companheiros de luta.

Finalizando, Paulo pede aos efésios que orassem por ele. Ele não pede uma oração especial para seu bem-estar pessoal ,mas sim pelo crescimento do evangelho. O pedido é duplo. Primeiro, ele deseja sabedoria para que "me seja dada, no abrir da minha boca"(19a). O apóstolo está ciente de ter sobre si a grande responsabilidade de pregar o evangelho. Com isso, ele quer estar seguro de que, quando as oportunidades se apresentarem, ele possa falar as palavras corretas, a certeza de que a palavra que disser sempre seja a Palavra de Deus. Segundo, “para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho.”(19b).  Ele deseja audácia para pregar esta mensagem sem vacilar diante dos homens e sem abrir mão dos princípios do evangelho. Portanto, precisa pregar o evangelho completo para o mundo inteiro,quer judeus quer gregos.

 O apóstolo Paulo não se envergonhou de pedir aos cristãos que orassem, para que  tivesse a coragem e oportunidade de anunciar o evangelho. Mesmo estando na prisão, ele queria continuar a ser uma testemunha fiel do Senhor: “pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo.” (v.20). Embora, estando acorrentado, ele se apresenta como  um “embaixador em cadeias” do evangelho de Cristo em Roma. Por isso,  ele pede aos cristãos  que orem, para que possa falar ,livremente, tudo o sabe e convém como embaixador de Cristo.

 Estimados irmãos! Diante do foi apresentado,  façamos sobre nós mesmos a seguinte avaliação: estamos devidamente equipados com toda a armadura de Deus? Estamos tentando vencer o adversário com nossas próprias forças, sem recorrer à fé, à oração, à Palavra e a comunhão com Deus?  Lembre-se que a nossa luta é contra Satanás, o inimigo de Deus.  Por isso, precisamos nos revestir de toda a armadura de Deus para ficarmos firmes contra as ciladas do diabo e resistir no dia mau e, depois de termos vencido, permanecer inabaláveis. Portanto, não negligenciamos a salvação, a justiça, a verdade, a fé, o evangelho de paz e nem a Palavra de Deus, antes apeguemo-nos firmemente a estas armas de defesa e ataque a fim de alcançarmos êxito nas batalhas. Resistamos e avancemos! Amém!