sábado, 17 de agosto de 2024

TEXTO: SL 116

TEMA: O QUE DAREMOS AO SENHOR?

Hoje, vamos refletir sobre o Salmo 116. Este é um dos salmos mais extraordinários da Bíblia. Alguns expositores acreditam que é tão grandioso quanto o Salmo 23. É um hino de gratidão a Deus por causa de Suas obras maravilhosas de libertação e fidelidade.  Ele é messiânico. O seu autor é anônimo. Mas é possível que seja de autoria de Davi. Há uma certa semelhança com o Salmo 18. É um dos salmos de Páscoa (Sl 113— 118). Os judeus cantavam esse salmo depois da Páscoa. É provável que seja o hino entoado por Jesus e os discípulos na noite em que Ele foi preso,quando celebrou a Páscoa com eles (Mt 26.30).

A nossa mensagem é fundamenta na pergunta que o salmista fez: “O que darei ao Senhor pelos benefícios que me tem feito?” (v.12). Davi pensou muito e buscou uma forma de retribuir a Deus por todos os seus benefícios. E o motivo que levou o salmista à essa pergunta, foram os benefícios que ele havia recebido do Senhor diante das várias situações das quais enfrentou: perigo de morte, de depressão e angústia (v.3), “enfraquecimento” (v.6), “sofrimento” (v.10), “grilhões” (v.16). Diante desta ajuda, sua primeira ação foi agradecer a Deus. Ele pensou em retribuir todos os benefícios recebidos.

O que darei ao Senhor pelos benefícios que me tem feito? Da mesma forma precisamos expressar a nossa gratidão ao Senhor pelas inúmeros os benefícios que todo ser humano recebe diariamente da parte de Deus. Ele nos dá diariamente e abundantemente tudo o que necessitamos para sustentar o nosso corpo e alma. Tudo o que somos, tudo o que temos e tudo que recebemos vêm de Deus. Temos a alegria da salvação, o consolo do Santo Espírito, a orientação da santa Palavra  e uma infinidade de outras bênçãos da parte de Deus.

O salmista inicia este salmo, demonstrando todo o seu amor pelo Senhor. Revela o seu sentimento de sua vida com Deus.Ele afirma: “Amo o Senhor , porque ele ouve a minha voz e as minhas súplicas.” (v.1). A expressão  אָהַב יְהוָה (Amo o Senhor) significa no hebraico:”eu amo o Senhor.” “estou cheio de amor”, “amo ardentemente e com mais afeto”. A expressão traz o pensamento daquilo que o salmista vivia no seu relacionamento com o Senhor. Ele obedecia seus mandamentos e fazia a sua vontade. No Senhor, ele depositava toda a sua confiança. E é ,justamente, nesta confiança que ele ora a Deus  e agradece. Ele agradece, porque o Senhor ouviu a sua voz e as suas suplicas. O único que poderia lhe oferecer ajuda.

As respostas à sua oração o encoraja a continuar orando. E com outro “porque” ele indica por que ama o Senhor: “Deus inclinou seus ouvidos” (v.2).  O verbo נָטָה significa, esticar, dobrar, inclinar, curvar, abaixar-se. É exatamente isso que Deus faz conosco, a pesar de sua grandeza, de seu poder e majestade, Ele se encurva em nossa direção, enquanto clamamos, esperneamos por estarmos em alguns momentos aflitos ou inseguros. Ele não fica indiferente a situação dos seus servos. Ele se compadece do necessitados. Ele revela sua compaixão para com os seus. Encontramos estas declarações também em outros salmos: “Mas, na verdade, Deus me ouviu; atendeu a minha oração” (Sl 66.19). “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor” (Sl 40.1). “Chegue à tua presença a minha oração, inclina os ouvidos ao meu clamor” (Sl 88.2). 

Mas,afinal, o que o salmista estava sentido? Era um momento difícil para o salmista, pois  esteve completamente à beira da morte: “Laços da morte me cercaram, e angustias do inferno se apoderam de mim, caí em tribulação e tristeza.” (v.3). O escritor personifica a própria morte como um caçador que passou a persegui-lo com seus laços de armadilhas. Ele se sentiu tragado pela sepultura onde vivem os mortos. Estava  nas garras da morte, da qual era impossível  se livrar. Vivia na angustia do inferno (sheol), o reino dos mortos. 

Ocorre que o salmista se sentia como uma presa impotente, e o resultado foi um abatimento profundo, acometido por angústia e aflição. Sua perturbação era tanta, com a possibilidade real da morte, que ele não mais confiava no próprio homem que pudesse livrá-lo daquela situação. (v.11). Sendo assim, diante de tantas lutas e fraquezas, invoca o nome do Senhor. Ele leva a Deus seu pedido: “Ó Senhor, livra minha alma” (v.4).  Trata-se de um pedido por preservação da sua vida. E  a resposta divina  a este pedido foi positiva. O Senhor o preservou, guardou e salvou a vida do salmista. Imediatamente, sua confiança na misericórdia de Deus lhe trouxe verdadeira paz em meio à tempestade,pois o Senhor é “compassivo, justo e  misericordioso.” (v.5). Este momento que o salmista viveu nos lembra a angustio do Salvado na cruz (Mt 27.27-35).

Deus atendeu a súplica do salmista. Quando  estava prostrado, pensando que tudo havia acabado,  o Senhor velou por ele e o salvou daquela situação.Deus o livrou da morte, preservando sua vida : “O Senhor vela pelos simples; achava-me prostrado, e ele me salvou.”(v.6). Quem são os simples, neste contexto? Os que se deixam persuadir, os que são instruídos, os que se arrependem, os que se sujeitam, os que obedecem. Observe que “os simples” está no plural, ou seja, todos os simples. Que notícia boa é esta: o Senhor protege quem não pode se defender. Quando você estiver cercado pela angustio, medo, sofrimento, lembre-se que o Senhor cuida de você.

De fato, a sua confiança na misericórdia de Deus lhe trouxe verdadeira paz em meio à tempestade. Ele se volta a si mesmo e pergunta: “Volta, minha alma, ao teu sossego.”(v.7a). Lutero traduz este versículo desta forma: “Sê novamente alegre, ó minha alma.” O termo נֶפֶשׁ  (alma) significa todo o ser interior, com seus pensamentos e emoções. A nossa alma jamais terá paz se não voltarmos para Deus. A palavra sossego significa “descanso“, “alívio” e “refrigério” espiritual. Trata-se de um descanso que vem de fora. Não é um pensamento positivo ou uma técnica de respiração. É a presença do Senhor. Isto demonstra que o salmista anteriormente passou por um momento de grande perigo. Sua alma estava agitada e aterrorizada. Esse perigo havia acabado, e  agora ele pede à sua alma que retome sua antiga tranquilidade, calma, paz e liberdade, pois o “Senhor tem sido generoso.”(v.7a). O Senhor também nos retribui com bondade e nos trata generosamente. A generosidade divina é sua bondade para com aqueles que se encontram aflitos.

O salmista descreve o que o Senhor fez em sua vida a partir do momento em que ele começou a buscá-lo. Ele afirmou que ajuda vem do Senhor. Sendo assim, ele menciona três livramentos: primeiro, “Porque Tu, Senhor, livraste a minha alma da morte“ (v.8a). Essa é uma linguagem que o salmista usa para afirmar que estava gravemente doente e recuperou a sua saúde. O salmista se expressou desta forma: você resgatou minha vida da destruição à qual foi exposta Eu pergunto: Como está a sua alma hoje? Preocupada? Pensativa? Ansiosa? Perplexa? Segundo, “Livraste os meus olhos das lágrimas.”(v.8b). Foram lágrimas que o salmista derramou em sua doença e na preocupação de morrer. O Senhor havia transformado a tristeza do salmista em alegria. Em Deus somos consolados das nossas lágrimas.Este é o grande consolo.Terceiro,“Livraste os meus pés da queda“ (v.8c).Somente Deus poderia livrar o salmista dos tropeços. Ele passa a guiar seus passos cuidando para que seus pés não se desviem do caminho e não escorreguem em terrenos perigosos. Com Deus estamos livres da queda. “Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda” (Sl 121.3). Só Deus pode nos firmar em momentos tão difíceis pelos quais temos passado. Nenhum filho de Deus permaneceria de pé, por um momento sequer, diante de abismos, armadilhas, fraquezas físicas e inimigos sutis, se não fosse por causa do fiel amor de Deus, que não permitirá que os pés de seus filhos vacilem. 

O resultado final é que o salmista continuaria vivo e servindo a Deus. Agora,ele quer andar na presença do Senhor: “Andarei diante do Senhor na terra dos viventes.” (v.9).O andar do salmista expressa uma forma atuante de estar na presença do Senhor. Ele age com determinação:  meus olhos estão agora brilhantes, para que eu possa ver, meus pés estão fortalecidos, para que eu possa andar  e minha alma está viva, para que eu possa andar com os vivos. Sendo assim, podemos concluir que estamos diante do salmista que, com o coração radiante pelos constantes livramentos do Senhor, está inclinado, não só a render graças ao Senhor, mas estabelece uma firme resolução de vida: andar na presença do Senhor na terra dos viventes.Portanto, o desejo de Davi era andar com Deus enquanto vivesse neste mundo. Nas Escrituras, todos que andaram com Deus experimentaram sua gloriosa presença e a sua incomparável força, provaram sua fidelidade, sua santidade e o tamanho do seu amor com o Senhor.

A esperança do salmista se manifesta nas suas palavras:“Eu cri,ainda que disse: estive sobremodo aflito.”(v.10).Ele declara que, apesar de estar "caído" e sem esperança, ainda teve fé para se humilhar e suplicar pelo livramento do Senhor.Crer era fundamental para o salmista diante das suas aflições.Por isso, expressou confiança no Senhor. O apóstolo Paulo cita estas palavras, cri, por isso, falei, em 2 Coríntios 4.13,14, como expressão de gratidão por aquilo que o Senhor fez por ele e por meio dele, quando estava vivendo em ameaças de morte. Ele agora encoraja a igreja a se manter firme no Senhor quanto a sua fé em Cristo. Paulo,ao citar o salmista.lembra que também estava vivendo em circunstâncias de provação e aflição.Ocorre que os sentimentos de ambos eram a linguagem da fé. O salmista  expressa sua confiança em Deus diante de sua aflição. Paulo expressa sua confiança nas gloriosas verdades do Evangelho.Ele fala de um Salvador ressuscitado e mostra o consolo aqueles que creem. Portanto,cremos nas verdades do Evangelho; cremos em Deus, no Salvador, na expiação, na ressurreição, etc.Por isso,precisamos falar o que cremos mesmo que as circunstâncias sejam grandes.

Diante deste andar e crer no Senhor, Ele pensou em retribuir todos os benefícios recebidos. Ele pergunta: “O que darei ao Senhor pelos benefícios que me tem feito?” (v.12) O salmista nos ensina a sermos gratos e não se esquecer de nenhum dos benefícios que temos recebido. Ao contemplar quem Deus era, o que Deus lhe dava e a obra que Deus fazia em sua vida, apesar de suas lutas e dores, o salmista conclui que os benefícios que o Senhor lhe tinha concedido eram muito maiores que seus problemas,  Ele reconhece o valor da sua salvação e procura a maneira de demonstrar sua gratidão. Pensa numa forma de retribuir a Deus, por tudo aquilo que Deus lhe fez.  Não há outra forma melhor de pagar o bem recebido do que com gratidão. De que forma ele agradece?

Primeiro: "Tomarei o cálice da salvação”. (v.13) A palavra usada para cálice no original é כֹּוס que significa copo.  Era um costume entre os judeus, beber um copo de vinho como uma expressão especial de agradecimento, de ação de graças pela libertação recebida, abundância, salvação. No Antigo Testamento,יְוּעָה (“salvação” ) normalmente referia-se a um ato de livramento da parte de Deus.Este ato era mais solene no templo, ou mais privado na família. O uso era diário, após cada refeição, ou mais solenemente em uma festa. Esta foi a maneira do salmista demonstrar a gratidão a Deus, e entregar sua vida a Ele. Para nós, que estamos sob a Nova Aliança, o sentido é ainda mais amplo. Deus não apenas nos livra em situações específicas, mas providenciou, em Cristo, salvação eterna. Ele, que nos criou por amor, e, através do sacrifício de seu Filho unigênito, nos resgatou da tirania do pecado e da morte, e nos acolherá nas moradas eternas. Por isso, tomar o cálice da salvação, é aceitar Jesus como nosso Senhor e Salvador. Este é maior benefício que recebemos.

Quando fala sobre "tomarei o cálice da salvação” entendeu que um dia o Filho de Deus tomaria o cálice da nossa culpa e dos nossos pecados sobre si mesmo e se entregaria à cruz para morrer em nosso lugar. O cálice que Jesus pediu ao Pai que se possível fosse, passasse dele, representava todo o seu sofrimento e humilhação por causa dos nossos pecados. Na verdade, Jesus tomou o cálice da nossa salvação e o bebeu sozinho, para que através da fé na sua obra redentora, alcançássemos vida eterna.Desta forma a única maneira de agradar a Deus é tomar o cálice da salvação, isto é, reconhecer seu sacrifício e aceitar Jesus como nosso Salvador. A fé em Jesus é a única coisa que nós podemos ofertar ao Senhor por todo o bem que nos tem feito, e isso não procede do homem, mas do próprio Deus.

Segundo: “Invocarei o nome do Senhor” (v.13b).Ao tomar o cálice da salvação, o salmista invocou o nome do Senhor diante de tantas lutas, fraquezas, frustrações. E o Senhor o atendeu. Sendo assim, ele encontrou uma forma de louvar e agradecer. O verbo קָרָא (invocar) traz uma aspecto importante.Ele denota a proclamação audível do nome do Senhor e a sua invocação, em que louva e agradece ao Senhor. Assim quando reconhecemos a obra redentora de Jesus e cremos, passamos a invocar o nome do Senhor. Todo aquele que toma o cálice da salvação, passa depender do Senhor e a invocar o seu nome em toda a sua necessidade. O Senhor que governa a nossa vida é a fonte de todos os benefícios, e isso nos move a tomar constantemente o cálice da salvação.Deste modo, o louvor, acontece quando o cristão reconhece a Deus e o proclama, para que todos fiquem sabendo quem é esse Deus.Por isso, é importante  colocar-se sob a autoridade daquele de onde vem o socorro. Assim, quando o invoca o nome do Senhor, ou quando clama por Ele, o salmista afirma: “eu me submeto à sua autoridade, pois pertenço a Ele”. Isso amplia a ideia da salvação. Ele me salva, porque sou Dele, e Ele tem todos os recursos para tal.

Terceiro: “Cumprirei os meus votos ao Senhor.” (v.14,18). O salmista volta a afirmar sua fidelidade a Deus por meio do cumprimento dos seus votos, acrescentando a informação de que o faria no templo do Senhor, diante de todos: “Oferecerei sacrificios de ações de graças e invocarei o nome do Senhor.”(v.17). Onde? “nos átrios de todo o seu povo, no meio de ti, ó Jerusalém”. (v.19).  Há uma dimensão particular de gratidão, que o salmista deve realizar à vista de todos no templo. Mas como eles serão pagos? Serão pagos ao se tomar o cálice da salvação e ao se invocar o Senhor. Ou seja, eles serão pagos pela fé na graça futura.Cumprirei os meus votos.Isto significa que cada um foi chamado por Deus, prometeu fidelidade no batismo, e, por isso, tem um compromisso com o Senhor, com a Casa de Deus, com a evangelização e as ofertas. Então, o voto que fazemos ao Senhor quando tomamos o cálice da salvação é a nossa fidelidade e obediência a Ele. Isso deve produzir em nós uma vida de testemunho diante de todo o povo do Senhor, gerando um fruto que é o resultado da operação do Espírito Santo na nossa vida. Este fruto é vida de Jesus em nós, é a manifestação do Senhor Jesus na nossa vida, que fazemos parte do seu corpo.Estejamos sempre envolvido com a obra de Deus, em comunhão com a igreja de Cristo. Desta forma, o resultado final é agradável a Deus, pois Ele vê o seu Filho, o Senhor Jesus em nós.

Que darei ao Senhor, por todos os seus benefícios para comigo? Que posso dar ao Senhor, que gesto posso ter, ou que comportamento como forma de expressar minha gratidão por tudo que tenho recebido de Deus? O que eu e você podemos fazer mais para Deus, como forma de expressar gratidão? Será que nossas atitudes realmente revelam que há em nós um coração grato? Será que temos agido com compromisso na obra de Deus, como uma forma de demonstrar coração grato? Será que temos orado e meditado mais na palavra do Senhor como forma de evidenciar gratidão?Certamente estas são as perguntas que todos deveriam responder individualmente, quando recebem benefícios do Senhor. Ela nasce do entendimento de que a gratidão não pode ficar só na consciência ou no sentimento, mas precisa revelar-se em atitudes práticas. Se eu quero dar graças a Deus por alguma coisa, é melhor que eu o faça por meio de ações e não apenas de palavras.Lembrem-se que as  misericórdias que  se renovam sobre nós, e sempre haverá motivos para agradecermos ao Senhor.

Com certeza, muitas de nossas orações foram atendidas pelo Senhor! É do Senhor que recebemos muitas e incontáveis bênçãos. Na verdade, são inúmeros os benefícios que todo ser humano recebe diariamente da parte de Deus. Ele nos dá diariamente e abundantemente tudo o que necessitamos para sustentar o nosso corpo e alma. Tudo o que somos tudo o que temos e tudo que recebemos vêm de Deus. Temos a alegria da salvação, o consolo do Santo Espírito, a orientação da santa palavra de Deus e uma infinidade de outras bênçãos da parte de Deus. E ainda podemos afirmar que tantas outras orações foram dirigidas ao Pai, e que com amor nos enviou a resposta, pois esperamos com confiança no Senhor e Ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. (Sl 40.1).

Portanto, esta deve ser a nossa esperança, que o Senhor Deus ouça quando oramos em busca de socorro. Nunca duvidemos de que Ele está em nossas vidas sempre disposto a nos ouvir, pois somente Ele tem poder de mudar a situação em que estamos enfrentando nesse mundo. Amém!

Nenhum comentário:

Postar um comentário