segunda-feira, 19 de agosto de 2024

TEXTO: MC 9.30-37

TEMA: QUEM É O MAIOR NO REINO DOS CÉUS?

Um grande reflexo da nossa sociedade é a preocupação do homem com o sucesso, aparência e status. O que se observa é uma corrida em busca de “melhorias” em todos os aspectos, em todas as direções: o melhor professor, o melhor advogado, o melhor médico, a melhor aparência, o melhor equipamento, a melhor divulgação; comprar o melhor carro, o melhor sapato, a melhor casa. Ser o melhor, estar por cima, estar na frente é a pretensão de muitas pessoas. Outro reflexo da nossa sociedade é a questão de ser o primeiro, o maior, o vitorioso. Queremos ser reconhecidos como o melhor e o maior. As pessoas querem honra, elogios, medalhas, poder e destaque na vida. O importante é ser o primeiro, o último não interessa. Não importa o meio pelo qual se obterá o sucesso. Não importa se causa prejuízo ao seu semelhante e à sociedade. Também não importa como e por qual meio, honesto ou não. O que importa é a fama, o sucesso em alcançar o objetivo.

Esta vontade imensa de ser o primeiro também estava presente na vida dos discípulos. Eles não estavam contentes com que possuíam. O chamado de Jesus para serem “pescadores de homens” não era suficiente. Somente esta posição não bastava. Eles queriam ser os maiores. Eles almejavam posição para serem servidos e honrados. Estavam preocupados com sua reputação, com a sua imagem diante dos homens, do que com o chamado para serem “pescadores de homens”. Eles queriam ser os primeiros por seus próprios meios. Eles tinham seus próprios planos de vida. Não queriam ajustar a sua vida ao plano divino. Tinham seus próprios sonhos. Na vida deles não havia lugar para Deus, mas queriam ser os primeiros no Reino de Deus. Por isso, almejava poder, posição, glória.  Eles chegaram e perguntaram, mas não era uma simples pergunta: Quem é o maior no reino dos céus? Quem será o vitorioso?  

Jesus estava a caminho de Jerusalém, juntamente com seus discípulos, não para conquistar um reino deste mundo, mas para dar a sua própria vida. Jesus diz que “deve sofrer muito” e “vai ser entregue”. Todo esse conjunto de afirmações deve ser interpretado como designo de Deus, para que se concretizasse o plano de amor do Pai, realizado pelo Filho, considerando que a salvação dos homens aconteceria através da cruz. Mas Jesus deixa claro que o Pai não vai simplesmente entregá-lo à morte: no terceiro dia ele ressuscitará. O caminho da cruz amedronta quem quer que seja, e para os discípulos de Jesus não foi diferente: Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus estava dizendo, e tinham medo de fazer perguntas. (v 32).

A caminhada continua e os discípulos permanecem indecisos diante das afirmações de Jesus. Além desta questão, os discípulos discutiam também quem seria o maior. Na verdade, havia certa preocupação sobre esta questão, uma vez que Jesus amava alguns discípulos. João estava em todas. Jesus o amava. Diante da confissão de Pedro, Jesus disse: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja. Nos momentos mais cruciais de Jesus, quando não queria ninguém por perto, levava consigo Pedro, Tiago e João. Fato que ocorreu no Monte da Transfiguração Talvez fosse este o assunto em pauta e que motivou a discussão entre os discípulos.

Entretanto, quando Jesus e os discípulos chegaram a Cafarnaum, e já estavam em casa, provavelmente, na casa de Pedro, o Mestre interrogou-os a respeito da discussão  que eles vinham discutindo pelo caminho. Se os discípulos haviam relutado para fazer perguntas a Jesus (v.32), Jesus então é quem faz a pergunta: O que vocês estão debatendo?” Por que Jesus pergunta, se Ele  já sabia o que eles estavam discutindo? Ao perguntar Jesus traz a público o que estava no coração desses homens. Jesus mostra quão pouco esses homens entenderam a sua missão. Eles deveriam estar discutindo sobre a morte e ressurreição de Jesus, pois Ele acabara de falar sobre este assunto.

Na verdade, os discípulos não responderam a pergunta de Jesus: Eles guardaram silêncio.” (v.34). Mas por que guardaram silencio? Ficaram quietos, visto que estavam envergonhados, pois não tinha sentido o que estavam discutindo. O silêncio dos discípulos denunciava o reconhecimento do caráter daquilo que se mostra sem propósito, algo que não traz vantagens para a pessoa que o utiliza. Ficaram constrangidos, pois o contraste era enorme. Não havia relação com os ensinamentos de Jesus. Ele acabava de anunciar-lhes sua paixão, e eles, egoisticamente, só pensavam em valorizar-se si próprio.

Agimos da mesma forma. Na maioria das vezes nos concentramos muito mais em nossos objetivos de ordem pessoal do que nos centralizamos em Deus. Somos tendenciosos e sempre queremos primeiro resolver os nossos problemas e anseios neste mundo. Quantas vezes nos fazemos de desentendidos ou não queremos entender as propostas de Jesus. Lutamos por colocar em evidência as nossas propostas de vida e de interpretação do evangelho, conforme nossos interesses. Quantas vezes agimos exatamente como os discípulos de Jesus, com tantas coisas para nos preocuparmos, e ficamos nos questionando quem será o primeiro, quem é o maior no trabalho, no lar, na congregação. O orgulho nos prende de tal maneira que só pensamos em nós mesmo e como podemos conseguir mais status, mais fama, mais atração do mundo e como consequência ignoramos a Deus, paramos de servir a Jesus.

Jesus toma uma posição. Ele não ignora o silêncio dos discípulos, pois Ele sabe o que se passa no coração desses homens. Por isso, Ele tem algo importante para ensinar. Sendo assim, chama os discípulos e afirma: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” (v.35).  Jesus mostra aos discípulos, se alguém quer ser o primeiro, quer se sobressair em relação aos demais, deve ser o último. Último não no sentido negativo, mas no sentido de humildade. A humildade é uma característica do seguidor de Jesus. Por isso, colocar-se em último lugar é a atitude do cristão que entendeu a mensagem de Jesus e a traduz com transparência em sua própria vida. Colocar-se em último lugar, não significa esconder-se, fugir dos compromissos sociais e religiosos, mas que vive servindo e colaborando com os demais. Este é o significado da verdadeira grandeza no reino de Deus. O maior não é aquele que domina os outros, mas é aquele que se submete aos outros e, por isso, é levado a servir a todos.

Para ilustrar estes princípios, foi preciso que Jesus tomasse uma criança em seus braços e as colocasse diante dos discípulos para ilustrar o seu ensinamento de quem é o maior:  Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe.” (v. 37a). O que Jesus queria dizer? Porque tomou como exemplo uma criança para ilustrar o seu ensinamento? Primeiro precisamos fazer uma analise de uma criança. No antigo oriente a criança representava a ordem mais baixa da camada social. Não decidiam ,absolutamente, nada. A criança não tinha poder, status ou direito. Elas eram dependentes, vulneráveis e ,totalmente, sujeitadas a autoridade do pai. Os rabinos classificavam as crianças com os surdos, mudos e escravos. Como se observa, a criança precisava dos pais para tudo. Não poderia sobreviver sem a ajuda dos pais, não poderia se alimentar nem aprender a andar sem a ajuda dos pais.

Jesus não está dizendo que seus discípulos deveriam ser crianças. Efetivamente, Jesus está dizendo: Quer mesmo ser importante? Quer ser o maior? Jesus quer que nós sejamos grandes, que sejamos os maiores no reino dos céus, mas não através do uso do poder ou do domínio sobre os outros. Ser o maior no reino dos céus, não requer posição conforme os discípulos almejavam, mas determinadas características que as crianças possuem. Sendo assim, Jesus convida os discípulos a tomar a posição de crianças. Não era ser criança em si, mas na simplicidade, na humildade que os discípulos deveriam observar. Em outras palavras, tem que aprender a ser dependente, tem que tornar-se indefeso, incapaz, tem que sentir a necessidade de um poder maior. Essa é a única maneira de ser o primeiro no Reino dos Céus.

Portanto, o maior no reino é como a criança dependente. Dependente, sempre, de Deus, de sua graça e de seu poder. O maior é aquele que não confia na sua capacidade pessoal.Amém!

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