quarta-feira, 22 de outubro de 2025

TEXTO:  JO 8. 31-36

TEMA:  SOMOS LIVRES QUANDO O FILHO NOS LIBERTA!

 Hoje, lembramos a Reforma  realizada pelo Dr. Martinho Lutero, iniciada no dia 31 de outubro de 1517 quando afixou às 95 teses na porta da igreja de Wittenberg, na Alemanha. E para este dia da Reforma,vamos refletir sobre o texto de João 8.31-36. A temática da mensagem está centralizada nas palavras de Jesus no versículo 36: Somos livres quando o Filho nos liberta.

Mas libertar de quê? O Filho nos liberta da escravidão do pecado. A escravidão do pecado é uma condição que afeta toda a humanidade desde a queda de Adão e Eva,pois, como está escrito, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado (v.34).O problema é que o homem foi dominado pelo pecado de tal forma que se torna incapaz de se libertar desse domínio. E um simples assentimento mental não é suficiente para tornar o ser humano verdadeiramente livre da escravidão do pecado.

No entanto, o Filho nos liberta da escravidão do pecado, pois  tem a autoridade para nos libertar do domínio de Satanás e do pecado.  Somente Ele tem o poder de tirar o pecador do estado de morte espiritual para o estado de herdeiro da vida eterna. Por isso, a única liberdade verdadeira é a liberdade trazida por Cristo: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (v.32). É uma liberdade verdadeira que nos permite viver em comunhão com Deus. Mas essa liberdade não significa fazer o queremos. Pelo contrário,é uma liberdade para viver de acordo com o propósito de Deus para as nossas vidas.

Martinho Lutero, ao estudar as Escrituras, descobriu a verdade libertadora do evangelho: a salvação é pela graça de Deus mediante a fé em Cristo, e não pelas obras humanas (Efésios 2.8–9; Romanos 1.17). Ele viveu em um tempo em que a Igreja havia se afastado da Palavra, substituindo a verdade bíblica por tradições humanas, superstições e práticas como a venda de indulgências. Nesse contexto, Lutero percebeu que nenhum esforço próprio poderia aproximar o ser humano de Deus — apenas a fé em Jesus Cristo justifica o pecador.

Muitos anos depois da Reforma, é triste dizer  que muitas pessoas desistiram de buscar esta verdade. Hoje, estamos enfrentando a secularização, o liberalismo e o relativismo da Palavra de Deus. A idolatria, relíquias,  prosperidade, ritos e promessas idênticos do tempo de Lutero têm se propagado em muitas igrejas. O que se observa  que  as verdades essenciais do evangelho estão ausentes em  muitos púlpitos. Há extrema confusão, perda de identidade e distanciamento do que Jesus ensinou. Lutero, ficaria perflexo de ver a verdade,  algo tão precioso sendo  relativizada e desprezada neste mundo contemporâneo.

Assim como Lutero conclamou a Igreja ao retorno às Escrituras, somos chamados hoje a reavaliar nossa fé e viver em fidelidade à verdade bíblica que liberta (v. 32), reconhecendo que somente o Filho nos torna livres do pecado (v. 36). O texto nos conduz aos seguintes questionamentos:

Você se considera uma pessoa verdadeiramente livre? O que o impede de confiar totalmente na graça de Deus? Como você pode usar sua liberdade em Cristo para servir e amar melhor as pessoas? O que precisa mudar na sua rotina para viver mais próximo da Palavra que liberta? Como você pode ajudar alguém ao seu redor a conhecer essa liberdade em Jesus?

Estimados irmãos, conforme o texto, Jesus fez um discurso aos judeus. Nesse discurso, Ele falou sobre pontos fundamentais da mensagem do Evangelho, especialmente, sobre sua pessoa e ministério. E ao final do seu discurso houve certa reação. Alguns dos judeus  chegaram a crer nele (v.30). Outros se monstaram entusiasmados com os ensinamentos de Jesus, mas não creram,  não entenderam e passaram a questionar Jesus, pois sentiram-se ofendidos pela forma como Ele falava. (v. 31,33,40). Diante desta reação, Jesus mostra quem é o verdadeiro discipulo. Ele, primeiro, os convida a permanecer em sua palavra. (v.32a). Permanecer é uma palavra que significa ficar, manter-se, não sair. Ora, permanecer na palavra de Jesus tem vários aspectos: primeiro, quando ouvimos a Palavra de Deus ou lemos é preciso guardar no coração. O salmista, muitos anos antes, já vivia essa experiência e a retratou no Salmo 119.11: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti”. Segundo, ter a Palavra de Deus no coração é fundamental para aquele que segue a Jesus, mas também há necessidade de colocar em prática aquilo que é ensinado: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.” (Tiago 1.22). Em suma, um cristão genuíno que permanece na Palavra de Deus, obedece e procura entender é um verdadeiro discipulo.

Para aqueles que perseveram, permanecem firmemente nos ensinos da Palavra de Deus, Jesus diz: “ conhecereis a verdade.” (v.32a).  A palavra "conhecer” vem do grego γινώσκω que significa aprender a conhecer, vir a conhecer, obter um conhecimento, tornar-se conhecido. Fica evidente que, quem permanecer, ficar, continuar, ser perseverante, é moldado pelos ensinamentos de Jesus. E ,consquetemente, nos leva conhece-lo de maneira muito mais profunda, pois estaremos conhecendo a “verdade.” Observa-se que João apresenta um conceito de verdade diferente da concepção grega.  Para os gregos, verdade significa o que é palpável, real. Mas qual é a verdade que Jesus está falando? Como podemos conhecer esta verdade?  Deus revelou a verdade ao mundo através de Jesus. Quando Jesus veio como homem, ele nos mostrou a verdade de uma forma que podemos compreender.  Jesus  em Jo 14.6  mostra que Ele é a verdade divina. Nele os homens vivem e se libertam do pecado.

Ao longo dos séculos, muitas pessoas têm confessado esta verdade que Jesus ensinou. Lutero é um exemplo.  Ele viveu num período que caracterizou por um profundo desprezo à pregação da Palavra de Deus por parte dos clérigos da Igreja Romana. O povo acreditava em bruxarias, eram cheios de superstições e só ouviam falar de Jesus como Juiz irado e não como o amoroso Salvador. Além disso, o que mais perturbava o povo na época, era a venda das indulgências. Por outro lado, as obras desempenhavam o papel principal no ensinamento dos mestres e professores daquela época. O relacionamento entre homem e Deus, era através das boas obras. Lutero ao viver neste contexto sentiu que sua vida estava alicerçada em farsas, em mentiras, inverdades. indulgências e penitências, e nada disso o faria chegar mais perto de Deus diante destes ensinamentos.

Lutero encontrou nas Escrituras, a verdade quando vivia na angustia e no desespero. Entendeu de que bastava crer em Jesus, o caminho, a verdade e a vida, que seria liberto e teria paz em sua vida. Com certeza, lembrou das palavras de Jesus,para aqueles que creram nele  “e a verdade vos libertará”.(v.32b). Mas será todos entendemos o que é liberdade? A Bíblia explica que a verdadeira liberdade está em Jesus Cristo. Ele é a verdade que liberta. Ele veio para nos libertar do domínio de Satanás e do pecado. Somente Ele tem o poder de tirar o pecador do estado de morte espiritual para o estado de herdeiro da vida eterna. Por isso, a única liberdade verdadeira é a liberdade trazida por Cristo. Quando Ele nos liberta, então,seremos livres. Porém, ser verdadeiramente livre não significa viver uma vida sem compromisso e sem lei (1 Coríntios 9.21; Gálatas 6.2). Portanto, livre de verdade é aquele que serve a Deus e vive uma vida de acordo com sua vontade.

Quando Jesus falou sobre liberdade, deixaram os judeus atônitos e responderam: “Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?” (v.33).Estes judeus eram opositores  e procuraram  matar Jesus ( vv.37, 39). Jesus disse que eram filhos de Satanás. (v.40). Eles se sentiram afrontados pelas palavras de Jesus, e argumentam: “somos descendentes de Abraão.” Para eles o patriarca Abraão era um homem em aliança com Deus,  e impôs toda a liberdade civil e religiosa sobre eles, e nunca foram escravizados por qualquer poder estrangeiro e governado por leis. Este foi o maior orgulho dos judeus, de que eles eram os herdeiros da aliança com Abraão.Sendo assim, afirmam: “jamais fomos escravos de alguém.” É evidente que este argumento dos opositores não era verdadeiro.Esqueceram que viveram na escravidão no Egito e na Babilônia. Esqueceram que serviram a essas nações como escravo. Também esqueceram do fato bem presente de que naquele tempo Roma dominava a terra de Israel.

Diante desta atitude dos judeus, o que se conclui é que eles não admitiam para si mesmos, que não eram livres. Então, Jesus replica com outra  declaração, tentando ampliar e esclarecer aos judeus. Ele recordou-lhes que havia outra escravidão à qual eles não davam a mínima atenção. Jesus afirma: “Em verdade, em verdade vos digo: Todo o que comete pecado é escravo do pecado.”(v.34).  Jesus usa aqui o termo δοῦλος que significa literalmente “escravo” em grego. Muitos traduzem como  “servo”. Jesus ao usar este termo marcou  a consciência inquieta de que eles não eram tão livres quanto gostariam de ser,pois eram escravo do pecado e não queriam admitir.Pensavam que sendo descendente de Abraão, eram livres.

Mas  o que é ser escravo do pecado? O pecado procura uma maneira de nos escravizar, controlar,  dominar e ditar nossos atos. Tem poder sobre o homem e o torna seu senhor. Torna-se permanente  em nossa carne cujo efeito é a escravidão. E não existe escravidão semelhante a esta. Quantas pessoas, em todo o mundo, são escravas do pecado, embora não admitam! Tornaram-se cativos de suas fraquezas e corrupções, e se mostram incapazes de serem libertos. Às vezes, se orgulham de serem eminentemente livres. Em Rm  7.20-24.  Paulo nos revela a extensão da realidade do pecado. Precisamos acolher o Filho de Deus, que nos libertou do poder do pecado (Rm 6.1-5). Ele veio para nos libertar da escravidão do pecado. Quando nos aproximamos de Cristo em arrependimento e recebemos este perdão, e  somos capacitados pelo Espírito Santo que vem habitar em nós.

Diante dos argumentos dos seus opositores,Jesus,  faz uma diferença entre o escravo e filho.Assim, entenderia o que Jesus estava ensinando: “O escravo não fica para sempre em casa.”(v.35a).  Em qualquer casa havia uma diferença entre o escravo e o filho. O escravo não tinha vontade própria. Ele fazia somente a vontade do seu senhor.  Ele não é o herdeiro e pode a qualquer momento ser expulso da casa, ou ser vendido. Diferente é o filho: “filho,sim, para sempre.”(v.35b).Ele tem o direito. É o herdeiro e  não pode ser descartado ou vendido. É privilegiado com o direito de permanecer na família até a morte. Mas o que Jesus queria mostrar  com essa diferença aos judeus?Jesus  estabele uma advertência aos judeus: vocês podem ser escravos do pecado, que conduz à morte, ou podem escolher ser filho e obedecer a Deus, que conduz à vida de justiça.Se vocês não forem filhos, são considerados escravos, e não terão seus privilégios especiais como nação. Jesus,então, poderia perguntar aos seus opositores: Vocês crêem que são os filhos na casa de Deus? Creem que nada lhes pode separar da presença de Deus?  Mas a grande questão é: nós temos sido escrevo ou temos sido filhos?

Finalizando Jesus mostra aos seus opositores a natureza da verdadeira liberdade: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”.(v.36).Estas palavras de Jesus, é uma expressão maravilhosa que resume a essência do Evangelho. Demonstra que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Isso significa que o homem foi dominado pelo pecado de tal modo que ele é incapaz de se libertar desse domínio. E um simples assentimento mental não é suficiente para tornar o homem verdadeiramente livre. É necessário que haja uma entrega completa a Cristo, reconhecendo-o como   Aquele nos libertou do domínio de Satanás e do pecado.  Somente Ele tem o poder de tirar o pecador do estado de morte espiritual para o estado de herdeiro da vida eterna. Por isso, a única liberdade verdadeira é a liberdade trazida por Cristo.Quando Ele nos liberta Então,seremos livres.Porém, ser verdadeiramente livre não significa viver uma vida sem compromisso com o Filho, (1 Coríntios 9.21; Gálatas 6.2) servindo e vivendo de acordo com sua vontade.

No entanto, muitos anos depois da Reforma, é triste dizer  que muitas pessoas desistiram de buscar esta verdade. Hoje, estamos enfrentando a secularização. Liberalismo e o relativismo da Palavra de Deus. A idolatria, relíquias,  prosperidade, ritos e promessas idênticos do tempo de Lutero têm se propagado em muitas igrejas. O que se observa  que  as verdades essenciais do evangelho estão ausentes em  muitos púlpitos. Há extrema confusão, perda de identidade e distanciamento do que Jesus ensinou. Lutero, ficaria perflexo de ver a verdade,  algo tão precioso sendo  relativizada e desprezada neste mundo contemporâneo.É de suma importância reavaliarmos nossa caminhada à luz da Palavra de Deus e sermos fiéis ao Filho  que nos libertou da escravidão do pecado.

Estimados irmãos! Assim como Deus agiu na História, através de Lutero, ocasionando a Reforma, Deus também quer usar a cada um de nós, para transmitir a sua mensagem ao mundo e mostrar que o Filho nos liberta da escravidão do pecado; que tem a autoridade para nos libertar do domínio de Satanás e do pecado; que tem o poder de tirar o pecador do estado de morte espiritual para o estado de herdeiro da vida eterna. Como é maravilhoso depois de 508 anos, ainda continuamos pregando, confessando e proclamando esta verdade! Por isso,cremos que Jesus Cristo nos liberta da escravidão do pecado. Amém!

TEXTO: SL 50.1-15

TEMA: SEJAMOS VERDADEIROS ADORADORES AO SENHOR!

Hoje, em muitas igrejas a adoração transformou-se em show, em ativismo piedoso sem ligação com o próprio Senhor. Na verdade, a pregação das Escrituras não encontra mais espaço dentro de algumas igrejas de nossos dias. Elas perderam a essência do Evangelho para vender uma imagem de relevância à sociedade. Por isso, refletir sobre estas questões torna-se relevante, pois vivemos diante de uma situação em que a adoração a Deus tem sido um mero ritualismo vazio. Um conjunto de atos mecânicos que nada contribui para a edificação e nem para a glória do nosso Deus. Esta adoração Deus não se agrada.

Será que Deus está satisfeito com adoração que realizemos? Será que, muitas vezes, a nossa adoração não é um mero formalismo?  Este salmo contém todas as respostas para esses questionamentos. O salmista chama atenção do povo de Israel sobre a situação espiritual que estava vivendo. O próprio Senhor é quem, no salmo, os distingue e se manifesta diante da falsidade dos seguidores. Sendo assim, Deus coloca na boca do salmista as palavras de repreensão ao povo, que dava valor ao ritual do culto, mas desprezava a vida diária de louvor de todo coração. Ele toma a prática da adoração vigente e contrasta com os critérios do culto que Deus se agrada. Ele mostra quais são os critérios de Deus.

Não importa o quanto o homem tente inovar, imaginar ou criar supostas “adorações”, pois todas elas serão vistas por Deus como falsas e reprováveis. Sendo assim, Deus nos convida para sermos verdadeiros adoradores de uma maneira tão profunda, envolvendo todo nosso ser. Ele almeja que a nossa adoração seja genuína sempre fundamentada nos ensinamentos de Deus, conforme revelada nas Escrituras, e que esteja em conformidade com a sua vontade, pois não podemos adorar a Deus de qualquer maneira, mas em “espirito e verdade”. (João 4.23). Este deve ser o nosso procedimento.

                                                                   I

Salmo 50 inicia com a descrição do Senhor Deus, Criador dos céus e da terra, todo-poderoso, supremo e glorioso. É Ele quem fala. Não são homens nem anjos, mas é o próprio Senhor que tem o direito de convocar todos os habitantes da terra, desde o nascer do sol até onde ele se põe, para participar do tribunal de Deus, Isto significa que a convocação é para todo mundo, ou seja, para todas as terras, raça humana e classes sociais, bem como desde Sião, que é a excelência em formosura, cidade do grande Rei, o lugar e fonte da autoridade de Deus.  (v.2). Todos são convocados! Então, o Senhor virá para o julgamento. (v.3a).  O Novo Testamento declara o fato de que isso será feito pela vinda de seu Filho Jesus Cristo, para reunir as nações diante dele e pronunciar a sentença final sobre a humanidade. (Mateus 25.31; João 5.22).

Ele vem! E, certamente, não ficará calado! À sua frente vai um fogo devorador, e, ao seu redor, uma violenta tempestade. Assim afirma o salmista: “perante ele arde fogo devorador, ao seu redor esbraveja grande tormenta”. (v.3b). É uma convocação que nos faz tremer, pois o Senhor age como um juízo e manifesta a sua ira no julgamento dos homens. O fogo e a tormenta são figuras utilizadas para fazer referência à majestade e ao poderio de Deus quando se manifestar. Esta expressão foi tirada da representação de Deus quando ele se manifestou no Monte Sinai. (Êxodo 19.16-18). Naquela ocasião, o ar ressoou com trovões e o som de trombetas, os céus foram iluminados por raios, e a montanha estava em chamas. Agora, Deus faria uma exibição igualmente de seu poder, para que o povo aprendesse a tremer diante do julgamento de Deus, uma vez que se considerava indiferente e desprezava a terrível manifestação de Deus, da mesma forma como ocorreu no Sinai.

É justamente a falta de uma vida adequada do Seu povo que leva o Senhor a lamentar profundamente. Ele lembra ao Seu povo da aliança que firmou com ele, mas vê-se obrigado a acusar Israel, falando em julgamento. É uma acusação contra os rituais exteriores e vazios, ao culto sem conteúdo. É diante desta situação, o Senhor intima, chama, grita, emite som alto, reúne os céus e a terra. Ele toma como testemunha os céus e a terra para emitir juízo acerca do seu povo: “Intima os céus lá em cima e a terra para julgar seu povo.” (v.4). Os próprios céus, os habitantes celestiais testemunharão a justiça da sentença. Atestarão a perfídia, as maldades, desonras e invenções perversas que os judeus estavam praticando. Na verdade, estavam desprezando a verdadeira santidade e corrompendo a pura adoração a Deus. Mas também, neste dia, o Senhor emitirá uma ordem do seu trono: “Congregai os meus santos, aqueles que fizeram comigo um concerto com sacrifícios. (v.5). O Senhor solicita aos mensageiros que tragam ao tribunal os santos. A palavra “santos” aqui se refere àqueles que são verdadeiramente seu povo. Os israelitas, a quem Deus os escolheu e os separou de todas as nações da terra, para serem um povo santo e peculiar para si, e também se dedicaram solenemente a Deus. Mas somente aqueles fizeram aliança com Deus e ratificaram essa aliança com sacrifício.

                                                                        II

Após o Senhor ter falado sobre o julgamento para o povo, agora, ele faz um relato do processo e da sentença do juiz, e mostra sobre a necessidade de arrependimento. Ele se pronuncia contrário àqueles que o desagradam: “Escuta, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu testemunharei contra ti. Eu sou Deus, o teu Deus.” (v.7). Deus deseja ser ouvido, porque “Eu sou Deus, o teu Deus”, disse Ele. Portanto, tenho o direito de falar. O direito de declarar os princípios que pertencem à verdadeira adoração. Não estou reclamando de nenhuma negligência em relação a sacrifícios que eram continuamente realizados no Templo diante de mim, pois eram oferecidos de acordo com a lei. (v.8). Na verdade, o conceito de oferecer sacrifícios ao Senhor foi ensinado por Deus desde o tempo da primeira família humana, pois Abel agiu por fé e foi aprovado por Deus quando fez um sacrifício agradável (Hebreus 11.4; Gênesis 4.4). Durante todo o tempo da vigência da Lei dada por meio de Moisés, Deus exigia sacrifícios e ofertas. Mas esta não é a principal questão da acusação contra povo. Não é por esse motivo que deve ser culpado ou condenado.

No entanto, se o problema não era o sacrifício em si, tanto nas disposições técnicas como na qualidade dos animais, qual, então, era o motivo da repreensão? Ocorre que o povo não estava prestando favor algum a Deus, trazendo animais para o sacrifício, pois tudo pertence ao Senhor. Ele controla a existência de todas as coisas. Ele afirma nos versículos 9-12 a sua independência absoluta das ofertas humanas. E mostra que o sacrifício com o qual ficaria satisfeito, era bem diferente dos novilhos, bodes , que eles tinham o hábito de oferecer. No momento, o povo apresentava uma forma de culto com apenas rituais exteriores, vazios e sem conteúdo. Ofereciam sacrifícios, mas se esqueciam de seu significado. Esta adoração Deus não se agradava.

Em meio a esse formalismo no culto, praticado pelo seu povo, O Senhor afirma: “Oferece a Deus sacrifícios de ações de graças e cumpre os teus votos para com o Altíssimo” (v.14). Dois pontos importantes merecem a nossa reflexão. Primeiro: “Oferece a Deus sacrifícios de ações de graças”. O sacrifício de ação de graças é mencionado várias vezes no Antigo Testamento, e pela primeira vez em Levítico 7.11-15. Mas o Senhor deixa claro que este tipo de sacrifício não era somente apresentação dos corpos e do sangue de animais mortos, mas era uma oferta que deveria proceder de um coração genuíno, e que expressava gratidão, fidelidade, compromisso, dependência da sua graça, louvor a Deus, e a honra que só ele merece. O que Deus quer ressaltar, por meio do salmista, é que a oferta exterior deve corresponder à devoção interior. Nesse aspecto, sacrifício de ações de graças” nos lembra que nosso viver diário deve ser tão próximo de Deus e de Sua Palavra. E, assim, faz sentido o que é uma verdadeira adoração. O segundo ponto: “cumpre os teus votos para com o Altíssimo”. O texto não explica que votos são esses, mas, quaisquer que fossem, deveriam ser cumpridos com fidelidade ao Senhor.  Deveria ser cumprido com todo o esforço, na íntegra, sem justificativas para o descumprimento. Afinal, deveriam honrar a sua palavra diante de Deus, demonstrando maturidade quanto aquilo que prometeu.

Estimados irmãos! Não há lugar para ritualismos vazio que não reflete a verdadeira adoração a Deus. Deus rejeita abertamente a adoração falsa, feita somente nos dias de culto, e que não condiz com a postura de vida que levamos. Por isso, temos de trabalhar os nossos corações para nos arrepender de nossos pecados, para dedicarmos nosso tempo a Deus, para sermos autênticos quando declararmos nossa adoração ao nosso Criador e Salvador. Que o Senhor tenha misericórdia de nós, e nos perdoa, nos lava e nos purifica com o sangue do seu Filho Jesus. Refletimos nossas atitudes e busquemos em Deus um coração adorador, “em espírito e em verdade. Enfim, busquemos ajuda na maravilhosa promessa de Deus: “E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás” (v.15). Ela repousará sobre os que adoram a Deus. Sejamos verdadeiros adoradores! Amém

sábado, 18 de outubro de 2025

 TEXTO: SL 46

TEMA: DEPOSITAMOS TODA A NOSSA CONFIANÇA EM DEUS !


Historicamente este salmo pode estar ligado a um cântico de vitória sobre os inimigos do povo de Deus. É provável que tenha sido escrito na época em que o rei da Assíria, Senaqueribe cercou Jerusalém, e Deus providenciou livramento a Judá, no tempo do rei Ezequias em 701 a.C. (2 Cr 32; Is 36, 37). Ele se intitula como Cântico sobre Alamote, palavra esta que talvez se refira à voz de soprano. Foi composto pelos filhos do levita Corá. Eles eram músicos no templo. Quanto à estrutra, ele é divido em três estrofes, caracterizadas no final pelo termo “selá”. (notação que provavelmente assinalava um interlúdio musical entre os versiculos 3,7,11).

Este salmo é uma oração de confiança em Deus. Nesta oração ,o escritor relata a sua situação de angústia e busca ajuda no Senhor. Ele declarou que Deus era o seu refúgio e fortaleza, e encontrou segurança, coragem que o levou a confiar no Senhor. Da mesma forma, os habitantes de Jerusalém são chamados a confiar em Deus, a contemplar a sua obra, não importa a dificuldade das circunstâncias em estavam vivendo. Este salmo serviu de consolo para Martinho Lutero em suas muitas lutas. Ele foi usado como fonte de inspiração, em 1529, para a composição do hino "Castelo Forte". Ele serve também de consolo em nossa vida, pois vivemos em muitas situações que afligem nossa alma. São as guerras, lutas que provocam aflição e insegurança, e, muitas vezes, nos sentimos ameaçados e com medo.

O salmo nos relata inúmeros argumentos e motivos pelos quais devemos depositar toda a nossa confiança em Deus. Apresento três que servem de reflexão: primeiro, porque somente o Senhor pode nos socorrer em tempo de perigo. Na vida, cada um de nós, inevitavelmente, passará por dificuldades, seja conflitos familiares, doenças, e problemas no trabalho. Diante desta dificuldades, nos tornamos fracos e, muitas vezes, perdemos a nossa fé. Neste momento, somente o Senhor pode nos ajudar. Ele é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Segundo, porque a presença de Deus nos livra dos perigos que enfrentamos neste mundo. O salmista nos mostra como podemos confiar em Deus, até mesmo nos momentos mais difíceis, porque Ele é o Todo-Poderos, uma fortaleza impenetrável. É o Altíssimo. Terceiro, porque é Deus que põe termo à guerra e confere paz. É o poder de Deus em estabelecer a paz e pôr fim às guerras. Somente o Príncipe da paz que está sentado no trono, nos concede a verdadeira paz.

                                                                        I

Os habitantes de Jerusalém eram dependentes da força de seu exército e dos muros que cercavam a cidade. Mas, quando chegaram os assírios, as defesas foram destruídas. Não tinham para onde ir, nem onde se esconder. Tudo estava desmoronando, dando errado e não havia esperança. Foi esse tipo de cenário que moveu o poeta a escrever este salmo. Ele traz a primeira declaração da sua fé: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (v.1). O termo מַחֲסֶה, traduzido por refúgio, significa ,literalmente, no hebraico, “um abrigo”, um lugar apropriado para se proteger de um perigo. Já o termo עֹז ,traduzido por fortaleza, significa “poder” ou “força”, transmite a ideia de “ser forte”, “prevalecer” ou “tornar firme”. No antigo Oriente Médio, as cidades eram construídas em lugares altos, com altas muralhas, para sua defesa. Ainda assim, não havia cidade ou estrutura defensiva impenetrável. O salmista usa esta imagem para descrever a proteção de Deus, que lhe servisse de refúgio por meio de um muro forte, diante dos ataques que recebia dos inimigos. Ele demonstra esta proteção quando afirma: “O Senhor é o meu refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.”

Assim podemos entender que em tempos de adversidades, quando tudo parece ruir, Deus é aquele que nos oferece abrigo para enfrentar as tempestades da vida, sejam elas pequenas ou grandes. Ele é o lugar seguro para onde podemos recorrer em tempos de dificuldades. É o nosso socorro imediato e está sempre presente para nos auxiliar em meio às tribulações. Por isso, não precisamos ter medo, pois Deus é o nosso refúgio é a nossa fortaleza. Não precisamos ficar atemorizados com as tribulações, pois Ele é o nosso socorro bem presente nas tribulações. A palavra tribulações indica situações problemáticas de intensas aflições e dificuldades. Em outras palavras, o salmista está dizendo que quando estamos em situações difíceis das quais somos incapazes de escapar, Ele é o nosso refúgio e fortaleza, e nos socorre em tempo de perigos. Faça de Deus seu refúgio, como nos ensina o salmista, nele encontramos segurança, coragem, abrigo. proteção, paz , força para vencer.

Para o salmista não importam as circunstâncias, o Senhor sempre será o nosso socorro nos momentos de adversidades e tribulações. Esse é o motivo pelo qual o salmista diz: “ Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam.” (vv.2 e 3). Nestes versiculos o salmista apresenta situações nas quais não teria medo, porque entendia que somente o Senhor podia oferecer o socorro diante de suas adversidades. Interessante a expressão: “Ainda que.” O escritor ao usar esta expressão, estava depositando tanta confiança no Senhor. Ele afirma que “ainda que” houvesse mudanças na terra, mudanças nos montes no seio dos mares e as águas tumultuassem, espumejassem e na sua fúria os montes se estremeçessem, ainda assim não havia motivos para temer. O salmista Davi aplica essa mesma expressão quando diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Salmos 23.4).

                                                                       II

Depois de descrever o cenário caótico, o clamor e o tumulto cessam. Agora, o salmista fala da onipresença de Deus, da presença graciosa de Deus. Ele afirma: “Há um rio.”(v.4a). Muitas cidades grandes têm rios que fluem através delas, sustentando assim a vida de muitas pessoas na agricultura e facilitando o comércio com outras cidades. Mas qual o rio que o salmista se refere? Porque na cidade de Jerusalém não há existência de um rio dentro de seus muros, apenas algumas fontes e aqueduto. Ocorre que para explicar a presença e proteção de Deus, o salmista recorre algo que lhe seja similar. Ele usa um tipo de linguagem poética ao comparar a presença e a proteção de Deus, com uma cidade atravessada por um rio. A presença de Deus é como um rio em nossas vida. Tal como um rio flui e proporciona vida por onde passa, assim é a presença de Deus que concede vida a todos que creem. Em Apocalipse, o rio corre diretamente do trono de Deus, da sua presença (Apocalipse 22.1,2). O rio da vida em Apocalipse representa a presença de Deus, que concede vida. Deus nunca nos abandona. Ele está sempre conosco.

O salmista ainda afirma que as correntes deste rio alegram a cidade de Deus. (v.4b). A cidade de Deus é uma referência a Jerusalém, onde Deus faz o seu lugar de habitação; onde deveria ser adorado pelo seu povo. Agora, a cidade de Deus vive num estado de tranquilidade e segurança em contraste marcante com o oceano revolto do v. 3. Agora, Jerusalém seria calma e serena em meio a todas as agitações externas do mundo – calma como uma corrente que flui suavemente. Neste sentido, o salmista aponta para a nova Jerusalém espiritual, um símbolo do céu, que foi preparada por Deus como a morada final dos crentes. Nesse quadro de referência, o "rio" do versículo 4 é o rio que flui do trono de Deus ( Ezequiel 47.1-12; Zacarias 14.8; Apocalipse 22:1-2) e o "lugar santo" é a morada de Deus no céu.

Ao falar de Jerusalém, o salmista fala de uma santuário da morada do Altíssimo” (v.4c). Os tabernáculos do Altíssimo estavam espalhados por toda a Judéia, mas ainda era necessário que o povo fosse reunido e unido em um santuário, para que estivesse sob o domínio de Deus. Quando os israelitas olhavam na direção do santuário das moradas do Altissimo, sentiam segurança e proteção divina, porque simbolicamente Jerusalém tinha o Deus Altíssimo que habitava na cidade. O lugar onde havia paz, a graça de Deus, o perdão dos pecados, que dá vida e salvação, que brota da cruz e da sepultura aberta de Cristo.

Não há, portanto, ninguém semelhante ao Senhor, que habita nas alturas. Ele é o Altissimo. O termo עֶלְיֹון traduzido por “Altíssimo,” é um título muito usado no AT para falar de Deus, aquele que está no alto. Então, podemos descrever sobre o altissímo: “Eis que o Deus Altíssimo, desce dos altos céus e faz morada na cidade.Ninguém é como o Senhor, nosso Deus. Não há, portanto, ninguém semelhante ao Senhor, que habita nas alturas. Ele é plenamente incomparável. Ele cuida pessoalmente de cada um de nós, se inclina para ver o que se passa sobre o céu e sobre a terra.” Enquanto Deus viveu entre seu povo, a cidade foi invencível. Mas quando o povo o abandonou, Deus o deixou e Jerusalém caiu ante o exército babilônico.A presença de Deus em Jerusalém traz um encorajamento especial para o escritor: “Deus está no meio da cidade e jamais será abalada.” (v.5a). Isto demonstra que Deus não está ausente. Ele habita com seu povo, pois é verdadeiramente o lugar que o Senhor escolheu para habitar. Ele estabelecer ali o seu nome para a sua habitação.

O que se conclui é que a cidade de Deus jamais será abalada, permanecerá "pelos séculos dos séculos" (Ap 22.5). Ela não será abalada, por que Deus é o seu ajudador e os inimigos não podem prevalecer contra ela. Mesmo que os inimigos sejam muitos e poderosos, mesmo que as nações se enfureçam e os reinos deste mundo se levantem contra Cristo e sua igreja, a cidade de Deus, jamais fica abalada, porque o Senhor dos Exércitos está com ela. O Deus de Jacó, o Deus da aliança, é o seu refúgio. No livro de Apocalipse, Deus nos mostra que o Senhor é Deus, dirige e protege a sua Igreja. Ele haveria de ajudar “ desde antemanhã.” ou seja até o dia amanhecer, simbolizando um novo começo e uma renovação de forças (v.5b).

A confiança do salmista se manifesta também na atuação do poder de Deus sobre as nações, fazendo-as tremer diante do seu poder: “ Bramam nações, reinos se abalam; ele faz ouvir a sua voz, e a terra se dissolve.” (v.6). Há um situação de conflito e agitação entre as nações. Os reinos se movem e os gentios se enfurecem.Talvez,o escritor esteja mencionando a destruição do exército do rei assírio Senaqueribe durante o reinado de Ezequias (2 Reis 18-19).De qualquer forma, a voz de Deus é poderosa a ponto de dissolver a terra. O termo מוּג que é traduzido por dissolver ou derreter, é uma figura de linguagem que demonstra o poder absoluto de Deus, seu domínio e autoridade sobre todas as coisas.

Após, o salmista faz uma declação que é repetida no final do salmo. Ele ainda reforça a presença e o poder de Deus, ao afirmar que “o Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.” (v.7). Ele é o Deus que protege e defende o seu povo. O escritor usa novamente o termo מַחֲסֶה que signfica literalmente “um abrigo”. Mas também pode ser usado no sentido de “defesa” e “amparo”. E ainda a expressão “abrigo alto”, ou seja, uma cidadela. Esta nada mais é que uma fortaleza dentro da fortaleza. Assim, caso a cidade fosse invadida, havia outra muralha em uma posição mais alta para proteger os moradores que perderam a primeira muralha. Para o escritor Deus é como uma dessas cidadelas que, mesmo diante da queda dos muros da cidade, Ele continua protegendo o seu povo. Ele é o refúgio e fortaleza daqueles que confiam nele, assim como foi para Jacó diante de suas adversidades.

                                                                              III

Os ataques violentos, sede, medo, tristeza e caos não conseguem tirar a confiança do salmista. Sendo assim, ele passa a encorajar os habitantes de Jerusalém. Eles são desafiados a lembrara das coisas que Deus fez no passado. A contemplar as obras do Senhor: “Vinde e contemplai as obras do Senhor.”(v.8). O convite é para que saiam e vejam por si mesmos, quão completa foi a libertação e a ruína de seus inimigos. Os verbos vir e contemplar tratam-se de um olhar para o campo de batalha. Lá estão os inimigos derrotados como resultado da ação de Deus. (Is 37.36). As Escrituras relatam, quão abundante é a prova de que Deus foi capaz de proteger seu povo em tempos de perigo.

Em outras ocosições, Deus também convidou o seu povo a contemplar as suas obras: “Vinde e vede as obras de Deus: tremendos feitos para com os filhos dos homens!” (Sl 66.5; Jo 1.39; 4.29). E de fato,toda a história de Israel no AT mostra-nos os grandes atos de salvação realizados por Deus em favor do seu povo no passado. Há diversas narrativas de como Deus agiu de forma maravilhosa. Ele devastou o Egito com as dez pragas para libertar o seu povo; abriu o Mar Vermelho para o seu povo passar e fechou o para destruir o exército de Faraó. Mandou o maná para alimentar o seu povo no deserto e fez sair água da rocha para saciá-lo. Tudo foi registrado para que o povo pudesse sempre lembrar o que Deus fez. Deus sempre foi fiel e bondoso para Israel. Esta é a razão de “estarem alegres”cnforme o salmo 126.3: “Com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres.”

Somos desafiados a contemplar as obras do Senhor,porque Ele também tem realizado coisas grandiosas em nossa vida. Aliás, a nossa vida é constituída de coisas grandiosas. Deus enviou Seu Filho Jesus Cristo que morreu na cruz para nos salvar. O seu amor e cuidado em todas as situações dramáticas das nossas vidas, situações que tiraram noites de sono e, muitas vezes, nos deixaram sem esperança para continuar com nossos sonhos e projetos, ou seja, no casamento em crise, nas crises financeiras sem fim, crises na saúde, e o Senhor sempre nos ajudou em todos momentos. Temos um Deus maravilhoso, que não mede esforços para nos ajudar. Precisamos aprender na vida que Deus fez, faz e fará coisas grandiosas por nós. Mas que coisas você gostaria que Deus fizesse por você? Quais são as coisas grandiosas que Deus tem realizado em sua vida?

No entanto, algo deve ser observado pelos homens,conforme o salmista: “A obra do Senhor, pela qual trouxe desolações à terra.” (v.8b). O termo שַׁמָּה pode se referir a qualquer “ruína” ou “derrota” que ele trouxera sobre a terra de Israel ou sobre as nações no exterior, isto é, entre seus vizinhoss que eram hostis. Enfim, era a destruição de cidades, vilas ou exércitos, como prova de seu poder, e de sua capacidade de salvar aqueles que confiam nele. Tendo isso em mente, o salmista usa seu melhor argumento para trazer paz aos israelitas em tempos de uma guerra atroz. Ele diz que nenhuma guerra há quando Deus ordena que ela cesse: “Ele poe termo à guerra até os confins do mundo.” (v.9a).Essa imagem ilustra o poder divino em trazer paz e segurança ao seu povo ao estabelecer a paz firme e bem fundamentada. até os confins da terra,ou desde um extremo ao outro.E ainda é capaz de destruir os instrumentos de guerra, como arcos, lanças e carros de batalha.(v.9b)

Enquanto,o homem faz tantas reuniões e conferências para acabar com as guerras e trazer a paz, nunca foram capazes de realizá-la. Ele nunca teve sucesso, porque sempre o fez com base na confiança do pensamento equivocado do próprio homem. Em outras palavras, essa paz não deve ser comparada aos tratados de paz que vemos nos jornais, pactos de desarmamento negociados entre nações.Esta é uma paz negociada,muitas vezes,frustrada e sem resultado.Mas somente o Príncipe da paz que nos concede a verdadeira paz. Ele com seu poder estabelece a paz e pôe fim às guerras. Todos os meios militares são quebrados ou despedaçados e transformados em instrumentos úteis (Is 2.4; Mq 4.3).

A paz era tudo que o povo, sob ataque do inimigo, desejava e que somente Deus podia conceder. Em resposta a tudo isso o salmista afirma: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre as nações; serei exaltado sobre a terra. Não é um conselho para levarmos uma vida contemplativa, por mais importante que isso seja. O termo רָפָה ,que literalmente significa “entreguar-se”, “desistir”, traz a conotação de abandonar a nossa agitação e reconhecer que o Senhor é Deus. Sendo assim, o povo deveria reconhecer a sua soberania. O Deus supremo deveria ser exaltado tanto entre as nações como sobre a terra. Essa afirmação é um chamado à confiança e à adoração diante da grandeza e majestade de Deus.Ele é o único que será louvado entre as nações e na terra. Essa deveria ser nossa meta nos tempos de turbulência emocional. E um conforto profundo saber que, embora todas as coisas pareçam estar abaladas, uma coisa não está: Deus não é abalado. Por isso, renda-se e reconheça que Deus é o Senhor. Assim, como fez Jacó, Lutero, Melanchthon, John Huss, e tantos outros martires.

O escritor termina o salmo da mesma forma como começou, reforçando a presença de Deus e sua proteção para os seus contra o perigo. O Senhor dos Exércitos, o Deus de Jacó, é novamente proclamado como nosso refúgio. Essa repetição serve para enfatizar a confiança inabalável no poder e cuidado divinos.O Deus de Jacó é o mesmo Deus que age em nosso favor e traz tranquilidade em meio ao caos. Que possamos aprender a confiar nele e buscar refúgio em sua presença, sabendo que Ele é o nosso Deus, o Senhor dos Exércitos, Deus Todo-poderoso que ama tanto seus filhos que se importa com seus destinos e com o sofrimento que atravessam. Amém!

 TEXTO: RM. 1.17

TEMA: COMO POSSO ENCONTRAR UM DEUS MISERICORDIOSO?

No dia de hoje lembramos a Reforma realizada pelo Dr. Martinho Lutero, iniciada no dia 31 de outubro de 1517 quando afixou as 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg, na Alemanha. Tantos anos se passaram, e ainda guardamos na memória os grandes acontecimentos que marcaram a História, que movimentou o mundo religioso, cultural, político e econômico da época. Mas será que as pessoas sabem quem foi Lutero? Será que os luteranos conhecem o legado que Lutero deixou? Conhecem as suas obras? Para muitas pessoas, Lutero continua sendo um desconhecido ou, no máximo um monge rebelde que protestou contra a Igreja e que abandonou o convento, porque queria casar. Outros afirmam que Lutero foi um antissemita, perseguiu os judeusAfirmam ainda que, ao mesmo tempo em que Lutero apresentava sólida argumentação teológica, exegética e histórica, também se utilizava de frases, figuras e exemplos do cotidiano, muitos dos quais eram preconceituosos e agressivos contra os acusadores. E por fim, tem aqueles que afirmam que os seus vícios, às vezes, eram mais visíveis do que as virtudes. 

No entanto, para outros, ele deixa de ser um desconhecido, pois ocupa espaço nos estudos   de muitos acadêmicos e graduados de diversas áreas do conhecimento humano, ou seja, da teologia, da política, da economia e da cultura. Além disso, as obras de Lutero têm despertado interesse. São obras que têm fascinado estudiosos. Na qualidade de teólogo, pregador, conselheiro espiritual, poeta de hinos e orador, Lutero deu testemunho da mensagem bíblica a respeito da salvação em Cristo Jesus, levando às pessoas através das suas mensagens, o consolo e o cuidado aos necessitados. É de se admirar a coragem que ele teve de manifestar seus sentimentos, de forma tão obstinada numa época de terror em que a inquisição perseguia, e condenava pessoas à morte de forma arbitrária e impiedosa.

Indiscutivelmente, a Reforma está entre os acontecimentos incisivos na História alemã, europeia e mundial. Por isso, há bons motivos para recordar a Reforma por ocasião dos 506 anos do aniversário da “divulgação das teses”, pois ela foi importante revolução cultural e histórico-religiosa. Ela influenciou tanto a língua alemã, como teve efeitos também sobre a música e a arte. Deu impulsos importantes ao setor educacional e criou as bases para a participação social e política. Como se observa, Lutero desempenhou um papel de tremenda importância na transformação da igreja e da sociedade medieval, que teve efeitos duradouros, e que ainda se mostram na atualidade. 

Entretanto, não vamos nos deter no legado que Lutero deixou para humanidade, uma vez que as suas obras são extensas. Mas vamos refletir sobre a situação espiritual que vivia o povo naquela época. A Idade Média se caracterizou por um profundo desprezo à fiel pregação da Palavra de Deus por parte dos clérigos da igreja romana. As pessoas acreditavam em bruxarias, eram cheias de superstições e só ouviam falar de Jesus como Juiz irado e não como o amoroso Salvador. Além disso, o que mais perturbava o povo na época, era a venda das indulgências. Por outro lado, as obras desempenhavam o papel principal no ensinamento dos mestres e professores daquela época. O relacionamento entre homem e Deus, era através das boas obras. Diante deste ensinamento, Lutero vivia preocupado: “Como posso encontrar misericordioso?”

I

 Lutero foi um jovem educado nas verdades cristãs. Ele conhecia sobre Deus, pois a igreja o lembrava, constantemente, sobre a existência do Deus Criador, mantenedor e justo. Ele conhecia os mandamentos de Deus. Os dez mandamentos lhe foram incutidos no lar, na escola e na igreja. Ele conhecia Jesus, o Filho de Deus, Salvador. No entanto, todas estas verdades foram lhe ensinadas com um enfoque na lei de Deus. Na verdade, foi educado sob o rigor baseado na lei de Deus. Na medida em que crescia e meditava na lei, crescia também o pavor diante do Santo e justo Deus. A lei despertou no coração de Lutero a pergunta: “Como conseguirei um Deus misericordioso?”

Esta era a pergunta vital que atormentava Lutero. A pergunta que pairava na mente de todas as pessoas da época. É a pergunta da humanidade ainda nos dias de hoje. O homem de hoje também pergunta, uma vez que a nossa geração não está longe dos costumes, crenças e preocupações que havia no tempo de Lutero. A maioria das igrejas tem pregado sobre prosperidade no lugar de arrependimento. Têm pregado curas e milagres em lugar de novo nascimento. Têm pregado psicologia de autoajuda, em lugar de ajuda do alto. Têm pregado um antropocentrismo idolátrico, em vez de pregar a soberania de Deus, a centralidade de Cristo e o poder do Espírito Santo. Muitos pregadores inescrupulosos, em busca de resultados imediatos ou até mesmo de lucro, mudam a mensagem, e acrescentam práticas místicas como água ungida sobre o rádio, rosa ungida, cair no espírito e coisas semelhantes, levando o povo a colocar sua confiança em amuletos e coisas de nenhum valor aos olhos de Deus. Alguns segmentos da igreja contemporânea perdeu o foco quando abraçou o liberalismo teológico de um lado e o misticismo por outro

Como conseguirei um Deus misericordioso? Quando Lutero interrogava e queria resposta, a igreja tentava sufocar tal pergunta ou respondia levianamente: cumpre a lei e as ordens da igreja. Mas se você quer ter plena certeza do perdão, torne-se monge. Lutero tentou o caminho das obras ensinadas pela igreja. Certo dia, ao regressar da casa de seu pai, foi surpreendido por uma tempestade. Refugiou-se numa floresta. De repente, bem perto dele, um raio atingiu uma árvore, que se partiu ao meio. Lutero, apavorado, temendo a morte e o juízo de Deus, exclamou: “Santa Ana, valei-me! Far-me-ei monge, se me for poupada a vida.” De volta a Erfurt, tratou de cumprir sua promessa. E contra a vontade de seus pais, professores e muitos amigos, entrou no mosteiro. E naquele lugar, pensava em buscar a perfeição. Estudou e orou muito. Mendigou. Flagelou-se até desmaiar. Tornou-se sacerdote.

Entretanto, a paz da alma parecia-lhe cada vez mais distante. Lutero confessou: “Por mais que me dedicasse e buscasse a Deus, eu não podia amar a este Deus que exige, ameaça e condena. Eu odiava a Deus.” Mesmo em todo a esse desespero, Lutero continuava lendo a Bíblia. Foi na Bíblia que Lutero descobriu o evangelho obscurecido desde a época dos discípulos. Ele ficou extremamente emocionado com essa descoberta: “Finalmente, pela misericórdia de Deus, meditando de dia e de noite, dei atenção ao contexto das palavras, a saber:  'O justo viverá pela fé.' Então comecei a entender que a justiça de Deus é aquela pela qual o justo vive por um dom de Deus, em outras palavras, pela fé. Aí toda a escritura me mostrou uma face totalmente diferente. (...) Assim como antes eu havia odiado violentamente a frase “justiça de Deus”, com igual intensidade de amor eu agora a estimava como a mais querida. Assim esta passagem de Paulo de fato foi para mim a porta do paraíso.”

                                                             II

Quando Lutero viu que o homem é salvo pela graça de Deus, revoltou-se contra os abusos da Igreja e escreveu as 95 teses. Foram afixadas no dia 31 de outubro de 1517, na porta da capela da cidade de Wittenberg na Alemanha. As quais versavam principalmente sobre penitência, indulgências e a salvação pela fé. Martinho Lutero provocou mudanças profundas ao denunciar esta situação. Sendo assim, esta verdade, que Lutero descobriu, precisava ser anunciada.  Precisava ser proclamado que “o justo viverá pela fé” e não pelas suas riquezas, ou por posição social, e nem pelas boas obras. De fato, esta notícia se espalhou rapidamente pelo mundo católico europeu. Em apenas duas semanas, as teses foram traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. De tal forma que, se espalhou por toda a região da Alemanha e, nos próximos dois meses, conquistou toda a Europa. Começava ali uma luta, o empenho firme e decidido baseado em três grandes pilares: Sola Gratia, Sola Fide e Sola Scriptura. Este assunto foi o centro da Reforma e seu mais precioso legado à cristandade.

Lutero encontrou esta verdade do evangelho autêntico em Romanos 1, versos 16 e 17: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” (Rm 1.16 -17). Ele encontrou ainda a certeza de que não há como alguém merecer o favor de Deus por causa de alguma coisa que faz. Mas a única forma de alguém obter o favor Deus é através da fé em Jesus Cristo; que é através da fé em Jesus que os pecados são perdoados por Deus. Este entendimento, conhecido como a doutrina da justificação pela fé, tornou-se um dos pilares do pensamento religioso de Lutero. Até ao fim da sua existência, Lutero quer como monge como professor, quer como pastor, sempre considerou a Sagrada Escritura como a fonte autêntica da verdade para todos os aspectos da vida do homem e da sociedade

Assim como Deus agiu na História, através de Lutero, ocasionando a Reforma, Deus também quer usar a cada um de nós, para transmitir a sua mensagem ao mundo e mostrar ao nosso próximo que o “justo vive pela fé”. Também é um momento para agradecermos porque temos a Palavra de Deus e as Confissões Luteranas que expõem a Escritura com clareza, cujo resumo conhecemos no Catecismo Menor. Nossa liturgia e nossos hinos nos transmitem o doce evangelho, bem como assim nossos devocionais. Nosso pedido e nossa súplica é que Deus, por sua misericórdia nos conserve firmes e fiéis às Sagradas Escrituras. Nesse mundo de tantas tentações, de tantas adequações e tantas acomodações, que Ele jamais permita que o liberalismo, costumes, praxes, tradições e ou adaptações deste mundo, se sobreponham a verdade única e absoluta da Bíblia Sagrada. Hoje louvamos a Deus, porque depois de 506 anos, ainda continuamos pregando, confessando e proclamando que o “Justo viverá por fé.” 

Portanto, pedimos a Deus que nos faça crescer no consolo da graça, nos mantenha firme na fé, no amor à sua palavra e nos capacite para nossa missão. Na missão de anunciar que o “justo viverá pela fé”. Amém!

 


  

 

TEXTO: LC. 18.9.14

TEMA: A CONFIANÇA DO HOMEM EM SEUS MÉRITOS

Vivemos numa sociedade em que o homem gosta de ser aclamado, reconhecido pelo que faz e de receber aplausos. Enfrenta desafios em busca da fama, do status, da honra, do poder, do sucesso. O que prevalece é a sua confiança em seus méritos! Esta é a característica do homem no meio secular e profissional. Em si não está errado! No entanto, o grande problema é quando transformamos estes méritos no maior objetivo de nossa vida, e esquecemos de Deus. Brigamos por poder, mérito, reconhecimento e não vivemos o Evangelho da graça, do mérito de Cristo. Mas Jesus nos exorta quando, assim, procedemos: "Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderá dar em troca de sua alma?" (Mateus 16.26).

No tempo de Jesus, havia certos homens que agiam desta forma, gostavam de expor os seus méritos. Julgavam a si mesmo perante Deus pela sua vida exemplar, pelos méritos e justiça própria. Eram egocêntricos, arrogantes e não reconheciam seus erros. Consideravam-se pessoas puras de coração. Confiavam nas suas proezas e boas obras que realizavam. Mostravam o quanto estava tão distante de Deus. Homens idênticos aos fariseus existem muitos. Talvez não nos surpreenderíamos ao saber que estes tipos de homens estão presentes no contexto da própria igreja. Hoje, encontramos muitos líderes ou pastores que almejam poder político, status social, dinheiro, fama, bens materiais; outros gostam de ser aplaudidos por aquilo que realizam. Enfim, querem ser reconhecidos perante Deus por aquilo que oferecem à igreja.

Diariamente precisamos sempre lembrar: quem está a serviço do Evangelho e de Cristo, não busca reconhecimento, crescimento, importância, aplausos ou merecimentos humanos. Não busca luzes, holofotes e tão pouco aplausos para si. A honra e aplausos são somente para Cristo. Também precisamos olhar para aquele publicano. Ele se apresenta humildemente diante de Deus, nada tem a oferecer de justiça própria. Apenas consciente de sua falta, e necessitado da misericórdia do Senhor. Ele confiou apenas na misericórdia de Deus, e não nos seus méritos.Com quem você se parece? Um fariseu orgulhoso ou um publicano humilde? Será que, por vezes, esta justiça do fariseu não encontra morada em seu coração?  Será que sua atitude e posicionamento de vida, agradam a Deus? Vamos refletir!

                                                                  I

 A Parábola do Fariseu e o Publicano ensina que devemos orar com atitude correta. A mensagem dessa parábola complementa o que foi transmitido nos versículos anteriores do mesmo capítulo, na Parábola do Juiz Iníquo, que ensina sobre a importância da perseverança e constância na oração. Assim, o significado central da mensagem transmitida por ambas as parábolas é que devemos orar constantemente e com humildade de espírito, pois é a verdadeira humildade que nos leva à exaltação. E para ilustrar esta questão, Jesus inicia afirmando que “uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros.” (v.9). Estes entendiam que haviam cumprido as exigências da lei de Deus, e, por isso, se consideravam justos perante o Senhor. No entanto, os outros que não eram justos e não agiam da mesma forma que eles, eram desprezados. Infelizmente o orgulho, a glória e o desprezo pelos outros estavam alojados no coração destas pessoas.

Diante desta atitude, Jesus afirma que dois homens subiram ao templo para orar: um fariseu e um publicano. (v.10). Eram dois personagens tão contrastantes, contraditórios exteriormente. Estes dois personagens eram conhecidos entre o povo. O objetivo era o mesmo: vão ao templo para orar. Dirigir-se ao templo representava colocar-se na presença de Deus. O fariseu era conhecido como observador da lei. Ele se coloca de pé, ou seja, toma certa posição para orar, bem como um lugar de destaque onde todos pudessem vê-lo, e "orava de si para si mesmo". (v.11). Literalmente, esta expressão significa: "orava estas coisas para si". Isto indica que a sua principal atenção era dirigida a si mesmo. Não havia demonstração de reverência a Deus. Não havia manifestação de humildade. Não havia reconhecimento de sua posição, em relação com Aquele a quem estava se dirigindo. Em outras palavras, o fariseu estava falando de si consigo mesmo. Seus elogios eram dirigidos ao seu próprio ego.

A primeira atitude do fariseu em sua oração é agradecer a Deus pelo que ele é. (v. 11a). Demostra que era um homem justo, pois sempre cumpriu a lei, e, por isso, tinha direito à sua gratidão. Na verdade, tentava mostrar para Deus o quanto ele era bom, e como Deus era privilegiado por ter alguém daquela qualidade orando diante dele. No entanto, as palavras mais significativas na sua oração, ocorre quando se compara a outras pessoas: “não sou como os demais homens, zombadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano”. (v. 11b). Em suas palavras, ele elogiou a sim mesmo, e se considerava melhor que outros homens, melhor ainda que o publicano. E quando viu o publicano orando, também o incluiu em sua lista de desprezados. Isto podemos observar através do pronome demonstrativo αυτός (este), que traz a conotação de alguém que demonstra desprezo por outra pessoa.

Depois que enumerou uma lista de pecados que nunca cometera, ele apresenta, agora, uma lista de suas virtudes e perfeições. Exibiu seus grandes feitos como cumpridor da Lei. Na verdade, como um bom fariseu, ele se esforçou para enfatizar que ele fazia ainda mais do que a Lei mandava: “Senhor, eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.” (v.12). Aqui, também merece destaque o pronome pessoal εγώ: “eu não sou como os demais homens... eu jejuo... eu dou o dízimo.” Seus atos demonstram que era um indivíduo egocêntrico. Além disso, também se orgulhava de pagar o dizimo de tudo o que possuía, até mesmo daquilo que não era exigido.

Será que Deus agiu corretamente para com o fariseu? Afinal, ele fez a vontade de Deus. Cumpriu rigorosamente a lei. Eram pessoas devotas. Mas convém examinarmos a oração deste fariseu. Não havia demonstração de reverência a Deus em sua oração. Não havia petição. O que havia era uma apresentação de suas virtudes, uma demonstração de hipocrisia, uma apresentação convencida, orgulhosa, de suas virtudes em relação ao publicano. O que se conclui que a grande falha do fariseu foi atribuir sua vida honesta e seus atos corretos a si mesmo, como méritos seus, e apresentá-los como dignos de justificação.  Na verdade, a sua oração não tinha destino correto. Ele não falava para Deus, mas para si mesmo. Ele elogiava a si mesmo. Nada pedia a Deus e nada, de fato, agradecia. Era mais do que uma recitação das supostas qualidades e obras do fariseu, uma tentativa de demonstrar a Deus que ele merecia a consideração divina.

Outro detalhe importante em sua oração é que, em momento algum, confessou seus pecados e mostrou arrependimento. Pelo contrário, o fariseu parecia tentar mostrar a Deus o quanto era bom e como Deus era privilegiado por ter alguém daquela qualidade orando diante d’Ele. Era egocêntrico, arrogante e não reconhecia seus erros, pois julgava a si mesmo perante Deus pela sua vida exemplar, pelos méritos, justiça própria, confiança nas suas proezas e nas boas coisas que realizava, e, por isso, não reconhecia a sua própria necessidade da graça de Deus. Sendo assim, não achou mal algum em sua alma, pensava que não necessitava do perdão de Deus, porque se considerava uma pessoa pura de coração. Mostrou o quanto estava distante de Deus, Mostrou o quanto adorava a si mesmo e não a Deus. Mas no julgamento de Jesus, ele não foi aprovado e nem desceu justificado para a sua casa

Homens idênticos aos fariseus existem muitos. Talvez não nos surpreenderíamos ao saber que estes tipos de homens estão presentes no contexto da própria igreja. Hoje, encontramos muitos líderes ou pastores que almejam poder político, status social, dinheiro, fama, bens materiais; outros gostam de ser aplaudidos por aquilo que realizam. Enfim, querem ser reconhecidos por aquilo que oferecem à igreja. Diariamente precisamos sempre lembrar: quem está a serviço do Evangelho e de Cristo, não busca reconhecimento, crescimento, importância, aplausos ou merecimentos humanos. Não busca luzes, holofotes e tão pouco aplausos para si. A honra e aplausos são somente para Cristo. O que precisamos apenas é confiar na misericórdia de Deus, e não nos nossos méritos.

                                                           II

No entanto, a atitude do publicano é de humildade. Mas quem eram os publicanos? Os publicanos eram cobradores de impostos, que não raras vezes exploravam o povo, sendo considerado desprezíveis na época. Ele também faz a sua oração. Onde e como? Não ao pé do altar, mas de joelhos lá no fundo de templo onde ninguém poderia vê-lo.  Não desejo ser ouvido por ninguém, além de Deus. Não enumera os seus méritos, mas ciente de sua indignidade e culpabilidade, demonstrou uma atitude de humildade.  Ele não ousa levantar os olhos ao céu porque lamenta o seu pecado e reconhece a justiça de Deus. Sua percepção de Deus e de sua relação com Ele, não lhe permitiria levantar seus olhos, mas antes baixa sua cabeça. Ele bate no peito em sinal de contrição. Bate, implorando: “Ó Deus, sê propício de mim, pecador!” (v.13). O publicano nada tem a oferecer de justiça própria. Por isso, a sua oração é simples. Ele pede apenas compaixão de Deus. Ele confia apenas na misericórdia de Deus. Esta oração curta, simples, continha todos os ingredientes necessários para ser ouvida por Deus. Nesta sentença há um reconhecimento da misericórdia de Deus, um conhecimento do pecado, uma consciência de que sem o perdão do Pai Celeste, se acharia sem esperança.

Deus, ouviu as duas orações. Ele, agora, dá o seu parecer: “Digo-vos que o publicano desceu justificado para a sua casa e não o fariseu.” (v14). A palavra justificar significa declarar ou tratar como justo. Este publicano foi tanto perdoado como aprovado por Deus. Ele foi declarado justo por Deus por causa da obra expiadora de Cristo. Por outro lado, o fariseu não reconheceu nenhum pecado nem pediu perdão. Não experimentou o perdão e a graça de Deus. Por isso, precisamos saber que ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei. Não é confiando nas coisas boas que realizamos neste mundo, que seremos justificados perante Deus. Precisamos, sim, saber que somos pecadores e merecemos a condenação eterna. Sabendo esta verdade ninguém poderá tomar outra atitude perante Deus, senão a do publicano: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador”. Este é o tipo de oração que será aceitável para Deus. Quando estivermos dispostos a confessar e abandonar nossos pecados, encontraremos misericórdia.

Olhando para estes dois personagens, surge uma pergunta: Com quem você se parece? Um fariseu orgulhoso ou um publicano humilde? Será que, por vezes, esta justiça do fariseu não encontra morada em seu coração? Será que com suas atitudes e posicionamentos de vida, agradam a Deus? Lembre-se: não é o orgulho, posição, mérito ou ações próprias que farão mover a justiça de Deus em seu favor. Quantas obras aprovadas pelos homens que Deus rejeita? Quantas posições honradas pelos homens que Deus não reconhece? Quantos bons nomes que para Deus são puros e simples disfarce?

O fariseu pensou que poderia se achegar diante de Deus com todo seu orgulho. Ele pensou que poderia ser justificado por suas boas-obras. No fim, Jesus diz:” todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.” (v.14b). Essa declaração é uma clara advertência contra a soberba e o orgulho do homem. Em todas essas ocasiões, a ênfase de Jesus é  demonstrar a importância de um espírito humilde. Não faltam passagens bíblicas que reprovam o orgulho humano. Mas Jesus também diz que aquele que se humilhar será exaltado. Isso significa que aquele que se achega a Deus em humilhação, confessando seu pecado e reconhecendo que necessita da misericórdia e do perdão de Deus, receberá a graça divina. Foi exatamente isso que o publicano fez. Em sua oração ele apenas confessava ser um miserável pecador que necessitava de misericórdia. Ele humilhou-se a si mesmo, e foi exaltado, saído do Templo justificado.

Vejamos um exemplo sobre tudo que ouvimos neste texto: um jovem, recém-formado em seu curso de Teologia, chegou ao púlpito, impecavelmente vestido e mostrando-se muito confiante em si mesmo. Ele começou a pregar o seu primeiro sermão naquela que era a sua primeira igreja e as palavras simplesmente não saíam. Sentindo-se envergonhado e derramando lágrimas, ele deixou a plataforma onde estava pregando. Duas senhoras, já idosas, que estavam sentadas na primeira fila da igreja, comentaram entre si: Se ele entrasse como ele saiu, ele sairia como ele entrou. Aquele que permanece como é, termina onde começou.Meus irmãos, essa verdade simples e cortante nos lembra que a vida espiritual não é estática. Em Deus, ou se avança, ou se retrocede; não existe permanência neutra.Muitas vezes perdemos grandes bênçãos exatamente por nos julgarmos autossuficientes e por acharmos que não dependemos de Deus para nada.

Como você tem se chegado a Deus, como o fariseu ou como o publicano? Você tem procurando impressionar os homens ou servir a Deus humildemente? Tem confiando nos seus méritos ou em Deus? Diante desta reflexão, eu convido a todos a seguir os passos do publicano e dizer com toda a convicção: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Reconheço que não mereço nada da sua parte, a não ser castigo, sabendo disso, lhe peço compaixão, misericórdia pelo os meus pecados. Que o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo nos auxilie, por sua misericórdia e graça, a termos sempre em mente a atitude de humildade do publicano. Amém.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

 

TEXTO: LC18.1-8

TEMA: SEJAMOS PERSEVERANTES NA ORAÇÃO!

Estimados irmãos! Que a paz do nosso Senhor Jesus Cristo nos acompanhe neste dia. Convido-os a abrir suas Bíblias em Lucas 18.1-8 para refletirmos juntos sobre nossa caminhada cristã. O  tema de hoje é: sejamos perseverantes na oração!

Em diversas ocasiões, ao longo dos Evangelhos, Jesus ensinou aos discípulos sobre a oração, destacando sua importância essencial na vida espiritual e no relacionamento com Deus. Ele não apenas ensinou como orar, mas também viveu uma vida de oração contínua, sendo um exemplo prático para Seus seguidores. Quando os discípulos pediram: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lucas 11.1), Jesus respondeu ensinando o Pai Nosso. Logo após apresentar essa oração-modelo, Ele os convidou a ser perseverantes na oração. Suas instruções revelam que a oração deve ser sincera, perseverante e feita com fé — não como uma prática exterior para ser vista pelos outros, mas como uma expressão autêntica de comunhão com o Pai.

Ao usar o exemplo de um juiz injusto que atendeu a uma viúva insistente, Jesus mostrou que se até um homem mau pode agir por insistência, quanto mais Deus, que é justo e amoroso, responderá aos clamores de Seus filhos. A parábola, portanto, nos encoraja a orar sempre e não desanimar, confiando que o Senhor fará justiça no tempo certo. Assim como a viúva não desistiu, o cristão deve perseverar, sabendo que Deus é fiel e cumprirá Suas promessas (Hb 10.35-36; Sl 37.5-6).É justamente a oração persistente que fortalece a esperança e renova a fé.

Mas por que  devemos ser perseverantes na oração? Vejamos quatro pontos que o texto apresenta: primeiro, porque Deus deseja que oremos sempre e não desanimemos. Jesus ensina aos Seus discípulos que deveriam orar, mas “nunca esmorecer”, ou seja, não desanimar, fraquejar, falhar no propósito ou render-se à covardia. Ou seja, o propósito é claro: a oração deve ser constante e perseverante na vida do cristão.

Segundo, porque a oração mantém nosso relacionamento com Deus. Quando perseveramos na oração, cultivamos uma comunhão constante com o Criador. Essa prática mantém o nosso relacionamento vital e contínuo, pois é nela que compartilhamos nossos pensamentos, súplicas e agradecimentos. O próprio Jesus estabeleceu esse princípio de união indissolúvel ao dizer: 'Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós' (João 15.4). A oração perseverante é a expressão prática desse 'permanecer'."

Terceiro, porque a viúva representa o crente que confia em Deus mesmo sem ver resultado imediato. A viúva era fraca, sem influência, sem recursos, mas ela não desistiu  de suplicar sua causa a um homem ímpio e sem consideração por ninguém. Isso nos ensina que a força do cristão está na persistência, não no poder humano. Deus se agrada da fé que não se cansa de bater à porta (Mt 7.7–8), pois temos um Juiz santo e justo; então não podemos desanimar.

Quarto, a oração perseverante é uma expressão de fé verdadeira. Orar com perseverança é viver pela fé: manter-se firme, mesmo quando nada muda. É a prova prática de que confiamos no caráter de Deus, e não apenas nas circunstâncias ou resultados. Jesus pergunta: “Quando vier o Filho do Homem, achará fé na terra?” ( v.8).Essa pergunta mostra que a fé verdadeira se manifesta na perseverança.Quem crê de fato não desiste, mesmo quando o tempo parece longo ou o silêncio de Deus.

 Estimados irmãos! Jesus inicia o texto apresentando o objetivo principal da Parábola do Juiz Iníquo:  “devemos orar sempre e nunca esmorecer” (v.1). A expressão “o dever de orar sempre” não é um mero conselho ou sugestão. Jesus está estabelecendo a oração constante como uma obrigação fundamental e uma necessidade vital na vida do cristão. É algo que deve ser feito, não ocasionalmente, mas com perseverança.O advérbio grego πάντοτε (“sempre”, “em todos os momentos”) e o verbo προσεύχεσθαι (“orar”), que aparece no tempo presente contínuo, reforçam a ideia de que a oração deve ser um hábito contínuo e uma atitude constante, não um ato esporádico ou ocasional. Esta verdade, Jesus ensina aos Seus discípulos que deveriam orar, mas “nunca esmorecer”, ou seja, não desanimar, fraquejar, falhar no propósito ou render-se à covardia. Portanto, “orar sempre” é manter-se em comunhão com o Pai, confiando que Ele age no tempo certo, de maneira justa e perfeita; é “não esmorecer,” mas permanecer firme, mesmo quando as circunstâncias parecem adversas e o silêncio de Deus se prolonga.

Também devemos orar sempre ao nosso Deus. Em qualquer situação, mesmo na tristeza, no luto, dívidas, desemprego ou doenças, seja qual for a situação, é necessário orar sempre. Paulo recomenda a prática da oração: “Orai sem cessar.” ( I Ts 5.17). Encontramos um ótimo exemplo na oração de Ezequias. (2 Rs 20.1–3). Também Jesus nos mostra com o seu exemplo ao orar no Jardim do Getsêmani. Orou sem cessar ao Pai Celeste. Buscou forças e amparo em meio ao sofrimento. A profetiza Ana não deixava o templo e orava a Deus na esperança de ver o Salvador. E assim muitos servos de Deus oravam: Abrão, Davi, Elias... Todos expressavam alegria, felicidade e gratidão.  Mas há momentos em que a vontade de orar diminui ou até desaparece. Muitas pessoas desanimam na oração por diversos motivos: quando não há uma resposta imediata às orações, o que pode levar à frustração e até ao abandono da prática; falta de disciplina em persistir;  ausência de fé e a falta de confiança nas promessas Deus.

Para reforçar a necessidade de “orar sempre e nunca esmorecer”, Jesus narra a Parábola do Juiz Iníquo.A narrativa é ambientada em uma cidade onde havia um juiz cujas características eram profundamente negativas para quem buscava direito e justiça. A descrição feita por Jesus é dupla: o juiz, por um lado, não temia a Deus e, por outro, não respeitava homem algum (v.2). Esse juiz não se preocupava com princípios espirituais. Agia sem considerar a vontade ou a justiça divina. Além disso, sua falta de reverência para com Deus indica que ele não se preocupava em fazer o que era moralmente correto perante Deus. Em outras palavras, era impiedoso. Ele também não agia com base em principios éticos. Sua postura era de completa indiferença ao sofrimento humano, uma vez que não se importava com o bem do próximo. Estava focado exclusivamente em seus próprios interesses.Enfim, o cargo que deveria ser um meio de servir à sociedade e proteger os vulneráveis se transformou em um instrumento de poder pessoal e conveniência egoísta.

 Na mesma cidade, havia também uma viúva. Naquela época, ser viúva era estar em uma posição muito precária. As mulheres tinham poucos direitos e, muitas vezes, não eram levadas a sério, especialmente em tribunais. Já de idade e sem marido para a defender, ela corria o perigo de sofrer muitas injustiças e cair na miséria. Mas quem era esta viúva? Não é apresentada qualquer informação sobre ela, não se sabe sequer qual era a causa que o afligia. Sabe-se apenas que ela está sendo prejudicada nos seus direitos por causa de alguém denominado de "adversário" e que, por isso, procura o juiz a quem se dirige de forma contínua e persistente : “ Julga a minha causa contra o meu adversário.” (v.3). O seu pedido  evidenciam três pontos cruciais: primeiro indica que ela estava sofrendo uma injustiça ativa causada por um "adversário." Dada a sua condição de viúva, ela não possuía recursos, status ou um defensor masculino para resolver o litígio, o que a tornava totalmente dependente da decisão do juiz. Segundo, o objetivo dela era claro e direto: justiça. Ela não pedia favor, caridade ou compaixão; ela exigia o direito que lhe havia sido negado, sem se desviar para súplicas emocionais. Terceiro, o fato de  se dirigir a ele "continuamente" é a chave da parábola. Ela transformou sua fraqueza legal em força de perseverança. É essa repetição obstinada que, no final, consegue quebrar a indiferença do juiz.

O juiz,porém, não estava interessado no pedido da viúva: “Ele, por algum tempo, não a quis atender.” (v.4a).Ignorou as suas súplicas por algum tempo e se recusou a agir em seu favor. Aquele juiz demonstrou certa   indiferença inicial  à necessidade da viúva. Isso mostra que a recusa do juiz não foi um ato isolado, mas uma demora intencional e egoísta. Ele simplesmente ignorava a causa da viúva, porque não sentia nenhuma obrigação moral de ajudá-la. Mas o juiz muda de ideia. Ele passa de uma posição de indiferença para uma de deliberação.  Ele disse consigo mesmo: “Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum.” (v.4b). O juiz descreve a sua total falta de princípios morais e éticos, como um homem que só age por interesse próprio. Ele busca uma razão puramente egoísta para agir. A negação é direta: ele deixa evidente que não tem nenhuma reverência pela lei divina ou pelas consequências espirituais de suas ações.  Não se sente responsável perante uma autoridade moral superior. Também não se importa com a honra, reputação ou julgamento público, sendo totalmente indiferente às normas sociais e à necessidade alheia. Enfim, não se importa com a reputação, a opinião pública, o sofrimento ou as leis humanas.

O juiz, na verdade, não age por senso de justiça, e muito menos por compaixão. Ele não faz isso por bondade, pelo temor a Deus, nem pela preocupação com a opinião pública, mas sim movido unicamente por seus próprios interesses.Ele mesmo reafirma seu caráter iníquo e egoísta ao admitir : "todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte e me importune muito." (v. 5). Para o juiz, a persistência da viúva é um incômodo extremo. Ele entende que viúva não estava apenas "molestando" ou "importunando". A sua persistência constante estava, de forma figurativa, "esgotando" o juiz e "desgastando" sua resistência, perturbando sua paz até forçá-lo a agir. A profundidade disso reside no verbo grego usado: ὑπωπιάζῃ . Ao usar este verbo, que significa literalmente "dar um soco abaixo do olho" ou "esgotar" (como um golpe de boxe), Jesus indica uma ação contínua ou habitual da viúva. A  justiça concedida pelo juiz não é fruto da sua adesão a um princípio de equidade divina  ou a um ordenamento legal do Estado de Direito. Pelo contrário, ela é o resultado de uma coerção existencial imposta pela ameaça de importunação contínua.

Vivemos em um mundo onde a justiça humana frequentemente falha. Corrupção, parcialidade e limitações impedem que muitos recebam o julgamento que merecem. Ocorre que  o juiz humano é insensível, egoísta e moralmente falho. No entanto, ao contrário do juiz iníquo, Deus é justo, santo e misericordioso. Ele é perfeito e não age segundo aparências, riquezas, status social ou poder. Seu julgamento é baseado em Sua lei perfeita, no caráter e nas intenções de cada pessoa. A Bíblia nos revela que Deus é o nosso Juiz, e Ele ouve quando oramos. Ele não é indiferente às nossas dores nem ignora os nossos pedidos. Pelo contrário, Ele se compraz em fazer justiça àqueles que O buscam de coração sincero. O Salmo 7.11 declara: “Deus é juiz justo, um Deus que sente indignação todos os dias.” O salmista mostra que  o Senhor vê tudo e reage com justiça. Seu juízo é santo, imutável e fundamentado na verdade absoluta — nunca é impulsivo ou influenciado por emoções humanas.  Mesmo sendo justo, Deus é também amoroso e paciente. Ele concede tempo para o arrependimento, chama o pecador ao conserto e oferece o caminho da salvação por meio de Jesus Cristo. Como afirma 2 Pedro 3.9: “O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.”

Ao concluir a parábola, Jesus revela uma promessa profunda sobre o caráter de Deus e Sua fidelidade em atender àqueles que Lhe pertencem: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los?” (v.7). Jesus contrasta o caráter de Deus com o de um juiz injusto. Se até um juiz iníquo — mau, indiferente e sem temor — cede à insistência de uma viúva, quanto mais Deus, que é bom, justo e amoroso, ouvirá e responderá aos Seus escolhidos. Os escolhidos são aqueles que pertencem a Deus. O termo grego ἐκλεκτῶν, no genitivo plural, aponta para o povo de Deus — os que Lhe pertencem. Foi o justo Juiz quem escolheu os Seus, amando-os mesmo quando ainda estavam mortos em delitos e pecados, e justificando-os pelos méritos de Cristo no Calvário. Assim, os tornou “geração eleita, sacerdócio real, nação santa e povo adquirido” (1 Pedro 2.9). Deus tem um compromisso de amor e cuidado com os escolhidos. Historicamente, os escolhidos, tanto no tempo de Jesus quanto nos períodos subsequentes, estiveram sob opressão e perseguição. Eles “clamam a Ele dia e noite”, demonstrando uma vida de oração perseverante, marcada pela confiança e dependência de Deus. Esses clamores buscam libertação e justiça. E ainda que pareça haver demora na resposta,  mas isso não significa indiferença nem ausência de justiça. Pelo contrário, é uma oportunidade para o povo de Deus crescer em fé, depender mais d’Ele e confiar no Seu tempo perfeito.

Jesus fala de uma promessa de justiça divina rápida  em resposta à oração e à perseverança. As palavras de Jesus carrega um profundo significado teológico e pastoral. Primeiro,Jesus afirma: “Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça”. (v.8a). Deus fará justiça aos seus escolhidos — e o fará “depressa. O termo grego traduzido como “depressa” é τάχιον, derivado de ταχύς significa “rápido”, “ligeiro”, “sem demora”. Entretanto, no contexto bíblico, o advérbio não indica necessariamente imediatismo cronológico, mas certeza e prontidão na ação divina.Assim, “depressa” aqui expressa a prontidão de Deus em agir. Ele não é indiferente ao clamor dos Seus escolhidos. Sua justiça é certa e virá no tempo oportuno e será rápida, eficaz e definitiva. Pedro afirma:“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia” (2 Pedro 3.9).

Por último, Jesus deixa uma pergunta no texto que ecoa por toda a história: “Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (v.8b). Jesus aponta para a necessidade de perseverar para que o Filho do homem encontre fé quando voltar novamente. Todo cristão verdadeiro aguarda ansiosamente por esse momento final, quando toda justiça será revelada no dia do juízo. Nesse dia Cristo julgará os vivos e os mortos e porá fim em toda maldade, perversidade e injustiça (Atos 10.42). Mas é verdade que a espera por esse dia pode parecer muito longa e demorada para nós. Contudo, nos planos de Deus o tempo certo já está determinado, assim como disse o apóstolo Pedro (2 Pedro 3.9). Quando esse momento finalmente chegar, o justo Juiz agirá depressa, e todas as promessas feitas aos seus filhos que sofreram perseguições durante toda a história serão cumpridas integralmente.

Jesus contou essa parábola para ensinar aos discípulos sobre a importância da oração constante e da fé perseverante. Eles aprenderam que a verdadeira oração nasce de um relacionamento pessoal com Deus, e não de simples repetições.Esse ensinamento continua atual: a fé se mantém viva por meio da oração perseverante, especialmente enquanto aguardamos o retorno de Cristo. Em meio às injustiças, dores e decepções da vida, somos chamados a orar sem cessar, confiando que Deus ouve e age no tempo certo.Mesmo quando as respostas parecem demoradas, não devemos desanimar nem abandonar o caminho da fé.Assim como a viúva da parábola não desistiu, nós também somos chamados a perseverar com fé, certos de que o nosso Deus é justo e fiel para agir no tempo oportuno.

 Portanto, oremos todos os dias, apresentemos as nossas causas ao Senhor e permaneçamos persistentes, pois a perseverança na oração é a expressão mais genuína da fé que confia em Deus até o fim. Que o Espírito Santo nos ajude a esperar em Deus, segundo o Seu tempo, sem nos esquecermos de que a maior demonstração da Sua justiça será o dia em que Ele retornará para restaurar completamente toda a Criação. Amém!