TEXTO: HB 13.1-17
TEMA: A VIVÊNCIA DO AMOR ENTRE OS CRISTÃOS
Ao concluir a sua epístola, o
autor de Hebreus faz diversas recomendações à igreja. No início ele fala sobre
o sacrifício que Jesus realizou na cruz, e no final desta carta, fala sobre o
aspecto prático da fé, e como ela deve influenciar o comportamento,
principalmente, quanto a vivência do amor entre os cristãos. Sendo assim, ele
chama atenção de determinados aspectos que envolve o amor fraternal, a
hospitalidade, o matrimônio e a avareza. E por fim, o autor destaca a
importância de seguir o exemplo, a conduta, a obediência e a fé daqueles
líderes, guias, ou pastores que partiram. E no meio de tantas recomendações,
ele faz uma verdadeira profissão de fé, apontando para a eternidade sobre Jesus
Cristo: “Ele é o mesmo, ontem, hoje e eternamente”
(v.8).
Essa declaração de fé foi um
momento de encorajamento para aqueles cristãos que estavam vivenciado ensinamentos
diferentes e estranhos. Estavam caindo na tentação ao deixar de viver uma vida
cristã baseada no amor, e viver uma vida a partir daquilo que a sociedade
ensinava. E diante dessas exortações, o autor convida os irmãos a não deixar de
viver uma vida cristã, conforme os ensinamentos de Cristo. Deveriam imitar e
glorificar Jesus Cristo, o Salvador imutável. Deveriam
identificarem-se com Jesus, e não se deixarem levar “pelos diversos
ensinos estranhos” (v.9). Desta forma estariam vivendo a vida
cristã. Também somos incentivados a viver constantemente a conduta cristã,
no nosso agir, em nosso falar e em nossos pensamentos, é um grande desafio em
nossas vidas. E você, tem seguido a vontade de Deus? Tem vivido conforme os
ensinamentos de Jesus ou conforme a proposto do mundo? Tem demostrado o seu
grande amor ao próximo?
I
Estimados, irmãos! O
autor inicia o texto, falando sobre o amor fraternal. (v.1). É um grande o
desafio para nós, o que o autor nos propõe: tornar o amor fraternal algo
constante em nossa vida. Isto significa que cada cristão tem o dever de se
comprometer e participar mais das necessidades do próximo através nas suas
atitudes, procedimentos, gestos, palavras. Jesus falou muito sobre o amor
fraternal para várias pessoas. Havia ensinado a seus primeiros seguidores uma
nova maneira de viver. Mostrou que a nossa vida deve estar baseada no amor ao
próximo. Ensinou um estilo de vida simples, que não busca os próprios interesses.
O seu ensino fica claro, por exemplo, na Parábola do Bom Samaritano. O
samaritano da parábola foi alguém que demonstrou amor fraternal a um
desconhecido. O apóstolo Paulo também escreveu aos cristãos de Roma: “Amai-vos
cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos
outros” (Romanos 12.10).
No entender do autor de Hebreus, os
cristãos devem amar uns aos outros genuinamente, ardentemente e de todo
coração. Mas como o cristão pode ser capaz de demonstrar o amor fraternal, numa
sociedade onde as pessoas são individualistas e egoístas? Como concretizar esta
proposta, “seja constante o amor
fraternal?” Na verdade, o amor fraternal tem se tornado
cada vez mais difícil. Precisamos olhar para os primeiros cristãos. Eles viviam
uma vida em comunidade, preocupados uns com os outros e ajudando uns aos
outros. A sua maneira de viver contrastava com o modo de viver da sociedade em
geral. De fato, eles viviam o amor fraterno, a doação, o respeito, o altruísmo.
Como podemos observar, estes primeiros cristãs, demostravam
o amor fraternal, na partilha dos bens e na distribuição dos
serviços. Encontramos este relato em
At 2.42-47: "Eles eram perseverantes na doutrina (ensinamento) dos
apóstolos, na comunhão fraterna, no partir o pão e nas orações".
É justamente o que devemos fazer: olhar
para o próximo com compaixão, acolher sem julgamentos, doar sem interesse e
sentir a dor do outro. Este deve ser o nosso agir! Pedro nos ensina: “Sendo hospitaleiros uns para os outros, sem
murmurações. Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons
despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4.9 e 10). Assim diz, Paulo:
“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal...compartilhai as
necessidades dos santos; praticai a hospitalidade” (Romanos 12.10-13). A
palavra “hospitalidade” no grego significa “amor pelos estranhos”. Quando Paulo
fala sobre “praticai a hospitalidade”, ele está nos convocando a buscar
relacionamentos com pessoas que estão em necessidade, e esta não é uma tarefa
fácil. Mas o autor recomenda os cristãos a viverem esta atitude. Aconselha
os seus leitores a demostrar o amor fraternal para todos os homens, ao
estranho, ao viajante, ao prisioneiro e ao sofredor. Fala sobre como devemos tratar o nosso próximo: “Não negligencieis
a hospitalidade”. (v.2a).
De fato, a hospitalidade foi uma
ferramenta de grande valor ao cristianismo, pois por meio da hospitalidade
muitos dos primeiros missionários foram acolhidos em casas de irmãos (At
16.13-15). Interessante que naqueles tempos de perseguição, o lar cristão era
um abrigo, um aconchego, uma proteção, uma oportunidade de servir à causa do
Evangelho, uma possibilidade de troca de experiências e informações sobre a
nova fé e a Igreja. Na verdade, os viajantes dependiam de moradores dos locais
por onde passavam para fornecer-lhes abrigo e hospitalidade, acolhimento.
Provavelmente, muitos irmãos naquela época ficaram sem alternativas de moradias
nos arredores de Jerusalém e no mundo gentio, sendo necessário se ajudarem
mutuamente em suas necessidades. Assim, cada irmão não deveria negligenciar a
hospitalidade, para aqueles viajantes que precisavam de abrigo, pois oferecer
hospitalidade implica em compartilhar bens e sofrer com outras pessoas.
Lembre-se onde há o verdadeiro amor cristão, também haverá hospitalidade.
Portanto, “sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração.” (1Pe
4.9). Receba os irmãos com a mesma atitude que o próprio Cristo nos
recebeu, e ainda recebe.
O autor recomenda que os cristãos
deveriam também se lembrar dos encarcerados, da mesma forma, quando deram apoio
aos irmãos encarcerados no passado. Eles se tornaram “coparticipantes” ou
“parceiros” daqueles que foram “insultados e maltratados publicamente” (Hb
10.33). Agora, deveriam dar suporte material e emocional aos presos,
mostrando-lhes que não foram abandonados: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles.” (v.3a). O verbo lembrar não
envolve somente um ato mental, mas uma atitude de ir ao encontro daquele que
precisa de ajuda, ou seja, sentir profunda
compaixão por eles.
O verbo lembrai também tem o
significado de visitar (Sl 8.4). A visitação aos necessitados e presos era uma
prática comum na vida da Igreja Cristã da época (Hb 10.34). Havia muitos presos
exatamente por serem servos de Cristo, perseguidos por causa da fé. Também
deveriam lembrar daqueles que “sofrem maus tratos.” (v.3b). Maus tratos aqui se
referem ao sofrimento físico, àqueles que são maltratados ou que são feridos
por outros. Assim, o Senhor mostra que visitar os
presos equivale visitar o próprio Jesus. Além disso, Ele sempre demonstrou
compaixão para com aqueles que padeciam da privação da liberdade, da dignidade
e esperança. Lembre-se que os presos e os que sofrem, também precisam da
bondade e misericórdia de Jesus.
O autor também exortou seus leitores
contra a imoralidade sexual e a avareza, visto que eram duas graves ameaças ao
amor fraternal. Fala que o matrimônio deve ser vivido com respeito e
fidelidade. Evitassem qualquer coisa que pudesse menosprezá-lo. “Digno de
honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus
julgará os impuros e adúlteros.” (v.4). O termo grego
τίμιος (honra)vem de uma raiz que está ligada diretamente ao dinheiro. Daí o
uso do termo para fins como honrar o compromisso, no sentido de quitar uma
dívida; de grande valor, precioso. E a expressão "entre todos”
pode significar “entre todas as pessoas”, ou seja, ele deve ser respeitado e
colocado como prioridade e “digno de honra” entre as pessoas.
Neste sentido, Palavra
de Deus é clara e absoluta. Não há exceções. Independente da história de cada
pessoa, dos conflitos e traumas de uma vida inteira, o casamento deve ser
honrado. E aqueles que se comprometem “para toda vida” seguem amando e se
respeitando mutuamente, nutrindo seu relacionamento no Senhor, estes serão
abençoados. Porém, Deus não permite fornicação, adultério. Não permite pessoas
que vivem num leito conjugal imaculado por meio de relações sexuais fora
do matrimonio. Pessoas que não respeitam o seu cônjuge e vivem um casamento de
mentiras e traição, quem assim procede, Deus os julgara. Julgara os
impuros e adúlteros.
Quanto avareza, o escritor adverte:
“Seja a vossa vida sem avareza.” (v.5). Avareza é um forte apego às coisas
materiais. É um apego excessivo e sórdido ao dinheiro e outros bens. Este
desejo ardente pela avareza tornam as pessoas amarguradas e nunca estão
satisfeitas com que possuem. Vejam o exemplo do jovem rico. O seu dinheiro
serviu de empecilho e pedra de tropeço. Ele não foi capaz de renunciar aquilo
que mais amava por amor a Deus. O seu amor pelo dinheiro foi a raiz e a causa
de todo o seu mal, de receber um tesouro valioso e seguir a Jesus. Sendo assim,
se retira triste, perdido e confuso. Na verdade, não estava pronto, para
renunciar aos valores que tinha, para seguir a Jesus. Tinha muitos bens e não
estava disposto a abrir mão deles. Tinha o coração ainda apegado ao mundo e em
suas concupiscências.
Esta é a triste realidade que
presenciamos neste mundo: o homem vive focado apenas em ajuntar tesouros
na terra. Pensemos no que Jesus disse: “Não acumuleis para vós outros
tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões
escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem
ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mt 6.19,20). A única
solução para os corações que “querem tudo” é o contentamento encontrado na
presença do Deus. Mas o que significa contentai-vos com as coisas que tendes? A
palavra para contente no grego é ἀρκέω, que significa estar feliz, contente com
aquilo que já possui. Este estado de contentamento é fruto da bondade de Deus,
pois há algo que precisamos afirmar confiantemente: Deus nunca nos abandonará.
Ele não desistirá de nós! Quando nos sentirmos sem forças, amedrontados diante
de uma adversidade ou tentação, afirmemos confiantemente: “O Senhor é o meu
auxílio, não temerei...” (v.6).
II
O autor destaca alguns cuidados
especiais que a igreja deve ter com relação à sua liderança: “Lembrai-vos dos
vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando
atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. (v.7). O primeiro
desses cuidados é lembrar de seus guias, ou pastores. Aqui novamente
encontramos o verbo μνημονεύω que significa estar atento, lembrar, trazer
à mente. A recomendação, provavelmente, refere-se aos líderes cristãos, aqueles
que fundaram a congregação, e que já haviam morrido. Sendo assim, deveriam
olhar atentamente para estes líderes do passado, lembrando de suas pregações,
ensinos e orações, bem como a atitude, respeito, honra, exemplo e fé.
No entanto, embora os líderes
têm muito que nos oferecer, devemos fixar nossos olhos em Cristo. Ele foi e
será o mesmo para sempre. (v.8). Há um forte contraste entre Jesus e
os falsos mestres que mudam com o tempo, e cujas doutrinas se tornam
“diferentes e estranhas” (v.9). Por isso, é importante entender que os líderes
vêm e vão. São imutáveis, mas Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e
eternamente! Ele não muda sobre os seus planos que tem para nós, diferente do
mundo e das pessoas que mudam a todo instante de opiniões. Ele é superior
aos anjos, profeta, discípulos, apóstolos e outros enviados. Ele é o autor da
salvação. O verdadeiro sumo sacerdote que se compadece dos pecadores. O seu
cuidado jamais deixa de existir sobre a nossa vida e família, porque prometeu
que estaria conosco todos os dias.
Como é bom saber que podemos
contar com Jesus Cristo que é o mesmo, ontem, hoje e eternamente. O Cristo que
viveu entre os seres humanos no passado, como a revelação da presença de Deus
em forma humana (João 1.18). Um homem, mas ao mesmo tempo o Filho Unigênito do
Pai (João 3.16), que morreu na cruz para nos salvar, mas ressuscitou e está
vivo (II Coríntios 5.15). Ele está vivo e vive em cada um de nós (Gálatas
2.20). Está atuando, ainda, hoje no mundo, e está sempre pronto para nos
socorrer quando precisamos (Salmos 46.1). Ele estará com os seus até o fim dos
tempos, quando os receberá nos lugares celestes, no novo céu e nova terra, na
glória eterna.
Novamente, o autor afirma a
superioridade de Jesus e da Nova Aliança que ele trouxe(vv.10-13). O autor
afirma que não havia mais necessidade de realizar sacrifícios, pois, quando
Cristo sofreu a morte sobre a cruz, uma das coisas realizadas foi descartar-se
dos costumes levíticos. Mas aqueles que estivessem presos a estas cerimônias,
não poderiam participar da Nova Aliança, sem primeiro romper com as tradições
do cerimonialismo levítico. Neste sentido, o autor menciona três lições
importantes para os cristãos: Primeiro, estamos sob a graça de Deus e livres de
todas as regras cerimoniais da lei mosaica (At 10.9-16; Rm 14.17). Segundo. o
altar do cristão da Nova Aliança é a pessoa de Jesus Cristo. Ele
morreu em nosso lugar e nos livrou de toda culpa e condenação.
(v.12). Terceiro, o cristão, uma vez que pertence a Cristo, deve viver a
sua fé num mundo hostil (v.13).
No entanto, uma vez que Cristo morreu
como oferta pelos nossos pecados, devemos demonstrar uma conduta adequada a
Jesus Cristo. Primeiro devemos fixar nossa esperança não nas ordenanças, mas na
cidade celestial, pois a nossa vida neste mundo é transitória, breve e
temporária. (v.14). Segundo, devemos oferecer a Deus sacrifícios de louvor.
(v.15). A expressão de louvor se torna um fruto espontâneo de gratidão e
adoração a Deus, uma ação de graça que provém de um coração sincero. O que
devemos fazer é confessar através dos nossos lábios o nome de Cristo, ou seja,
crer e confiar que Jesus é o nosso Salvador. Por que os lábios? A resposta é
que através das palavras expressamos aquilo que se encontra no coração (Mateus
15.18-19).
Enfim, devemos mostrar benevolência,
a prática da piedade, da compaixão ao próximo. (v.16). Este é outro tipo de
sacrifício, pois todos os atos do amor são sacrifícios. A palavra “sacrifícios”
aqui não é tomada em sentido estrito, como denotando o que é oferecido como
expiação pelo pecado, ou no sentido de que estamos fazendo o bem para tentar
fazer expiação por nossas transgressões, mas no sentido geral de uma oferta
feita a Deus. Isto significa que devemos reconhecer a bondade de Deus por ação
de graças. Além disso, devemos fazer o bem a nossos irmãos. Esses são os
verdadeiros sacrifícios que os cristãos devem oferecer. E quanto a outros
sacrifícios, não há tempo nem lugar para eles. Por isso, o autor chama os
cristãos para servir e sofrer por Jesus, fora do cerimonialismo judaico.
Estimados irmãos! Deus quer a
vivência do amor entre os cristãos. Isto significa que todos os dias somos
incentivadas a conhecer mais sobre o amor e a graça de Deus. Imitar e
glorificar Jesus Cristo, o Salvador imutável, que demostrou Seu grande amor por
nós. Agora, Ele nos convida a expressar este grande amor ao próximo. Sendo
assim, devemos fazer o bem aos necessitados, lembrar daqueles que sofrem e
compartilhar parte dos nossos recursos para aqueles que precisam da nossas ajuda.
Senhor, ensina-nos a viver o
verdadeiro amor e transforma-nos em pessoas que seguem a tua vontade. Amém!