TEXTO: SL 46
TEMA: DEPOSITAMOS TODA A NOSSA CONFIANÇA EM DEUS !
Historicamente este salmo pode estar ligado a um cântico de vitória sobre os inimigos do povo de Deus. É provável que tenha sido escrito na época em que o rei da Assíria, Senaqueribe cercou Jerusalém, e Deus providenciou livramento a Judá, no tempo do rei Ezequias em 701 a.C. (2 Cr 32; Is 36, 37). Ele se intitula como Cântico sobre Alamote, palavra esta que talvez se refira à voz de soprano. Foi composto pelos filhos do levita Corá. Eles eram músicos no templo. Quanto à estrutra, ele é divido em três estrofes, caracterizadas no final pelo termo “selá”. (notação que provavelmente assinalava um interlúdio musical entre os versiculos 3,7,11).
Este salmo é uma oração de confiança em Deus. Nesta oração ,o escritor relata a sua situação de angústia e busca ajuda no Senhor. Ele declarou que Deus era o seu refúgio e fortaleza, e encontrou segurança, coragem que o levou a confiar no Senhor. Da mesma forma, os habitantes de Jerusalém são chamados a confiar em Deus, a contemplar a sua obra, não importa a dificuldade das circunstâncias em estavam vivendo. Este salmo serviu de consolo para Martinho Lutero em suas muitas lutas. Ele foi usado como fonte de inspiração, em 1529, para a composição do hino "Castelo Forte". Ele serve também de consolo em nossa vida, pois vivemos em muitas situações que afligem nossa alma. São as guerras, lutas que provocam aflição e insegurança, e, muitas vezes, nos sentimos ameaçados e com medo.
O salmo nos relata inúmeros argumentos e motivos pelos quais devemos depositar toda a nossa confiança em Deus. Apresento três que servem de reflexão: primeiro, porque somente o Senhor pode nos socorrer em tempo de perigo. Na vida, cada um de nós, inevitavelmente, passará por dificuldades, seja conflitos familiares, doenças, e problemas no trabalho. Diante desta dificuldades, nos tornamos fracos e, muitas vezes, perdemos a nossa fé. Neste momento, somente o Senhor pode nos ajudar. Ele é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Segundo, porque a presença de Deus nos livra dos perigos que enfrentamos neste mundo. O salmista nos mostra como podemos confiar em Deus, até mesmo nos momentos mais difíceis, porque Ele é o Todo-Poderos, uma fortaleza impenetrável. É o Altíssimo. Terceiro, porque é Deus que põe termo à guerra e confere paz. É o poder de Deus em estabelecer a paz e pôr fim às guerras. Somente o Príncipe da paz que está sentado no trono, nos concede a verdadeira paz.
I
Os habitantes de Jerusalém eram dependentes da força de seu exército e dos muros que cercavam a cidade. Mas, quando chegaram os assírios, as defesas foram destruídas. Não tinham para onde ir, nem onde se esconder. Tudo estava desmoronando, dando errado e não havia esperança. Foi esse tipo de cenário que moveu o poeta a escrever este salmo. Ele traz a primeira declaração da sua fé: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (v.1). O termo מַחֲסֶה, traduzido por refúgio, significa ,literalmente, no hebraico, “um abrigo”, um lugar apropriado para se proteger de um perigo. Já o termo עֹז ,traduzido por fortaleza, significa “poder” ou “força”, transmite a ideia de “ser forte”, “prevalecer” ou “tornar firme”. No antigo Oriente Médio, as cidades eram construídas em lugares altos, com altas muralhas, para sua defesa. Ainda assim, não havia cidade ou estrutura defensiva impenetrável. O salmista usa esta imagem para descrever a proteção de Deus, que lhe servisse de refúgio por meio de um muro forte, diante dos ataques que recebia dos inimigos. Ele demonstra esta proteção quando afirma: “O Senhor é o meu refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.”
Assim podemos entender que em tempos de adversidades, quando tudo parece ruir, Deus é aquele que nos oferece abrigo para enfrentar as tempestades da vida, sejam elas pequenas ou grandes. Ele é o lugar seguro para onde podemos recorrer em tempos de dificuldades. É o nosso socorro imediato e está sempre presente para nos auxiliar em meio às tribulações. Por isso, não precisamos ter medo, pois Deus é o nosso refúgio é a nossa fortaleza. Não precisamos ficar atemorizados com as tribulações, pois Ele é o nosso socorro bem presente nas tribulações. A palavra tribulações indica situações problemáticas de intensas aflições e dificuldades. Em outras palavras, o salmista está dizendo que quando estamos em situações difíceis das quais somos incapazes de escapar, Ele é o nosso refúgio e fortaleza, e nos socorre em tempo de perigos. Faça de Deus seu refúgio, como nos ensina o salmista, nele encontramos segurança, coragem, abrigo. proteção, paz , força para vencer.
Para o salmista não importam as circunstâncias, o Senhor sempre será o nosso socorro nos momentos de adversidades e tribulações. Esse é o motivo pelo qual o salmista diz: “ Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam.” (vv.2 e 3). Nestes versiculos o salmista apresenta situações nas quais não teria medo, porque entendia que somente o Senhor podia oferecer o socorro diante de suas adversidades. Interessante a expressão: “Ainda que.” O escritor ao usar esta expressão, estava depositando tanta confiança no Senhor. Ele afirma que “ainda que” houvesse mudanças na terra, mudanças nos montes no seio dos mares e as águas tumultuassem, espumejassem e na sua fúria os montes se estremeçessem, ainda assim não havia motivos para temer. O salmista Davi aplica essa mesma expressão quando diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Salmos 23.4).
II
Depois de descrever o cenário caótico, o clamor e o tumulto cessam. Agora, o salmista fala da onipresença de Deus, da presença graciosa de Deus. Ele afirma: “Há um rio.”(v.4a). Muitas cidades grandes têm rios que fluem através delas, sustentando assim a vida de muitas pessoas na agricultura e facilitando o comércio com outras cidades. Mas qual o rio que o salmista se refere? Porque na cidade de Jerusalém não há existência de um rio dentro de seus muros, apenas algumas fontes e aqueduto. Ocorre que para explicar a presença e proteção de Deus, o salmista recorre algo que lhe seja similar. Ele usa um tipo de linguagem poética ao comparar a presença e a proteção de Deus, com uma cidade atravessada por um rio. A presença de Deus é como um rio em nossas vida. Tal como um rio flui e proporciona vida por onde passa, assim é a presença de Deus que concede vida a todos que creem. Em Apocalipse, o rio corre diretamente do trono de Deus, da sua presença (Apocalipse 22.1,2). O rio da vida em Apocalipse representa a presença de Deus, que concede vida. Deus nunca nos abandona. Ele está sempre conosco.
O salmista ainda afirma que as correntes deste rio alegram a cidade de Deus. (v.4b). A cidade de Deus é uma referência a Jerusalém, onde Deus faz o seu lugar de habitação; onde deveria ser adorado pelo seu povo. Agora, a cidade de Deus vive num estado de tranquilidade e segurança em contraste marcante com o oceano revolto do v. 3. Agora, Jerusalém seria calma e serena em meio a todas as agitações externas do mundo – calma como uma corrente que flui suavemente. Neste sentido, o salmista aponta para a nova Jerusalém espiritual, um símbolo do céu, que foi preparada por Deus como a morada final dos crentes. Nesse quadro de referência, o "rio" do versículo 4 é o rio que flui do trono de Deus ( Ezequiel 47.1-12; Zacarias 14.8; Apocalipse 22:1-2) e o "lugar santo" é a morada de Deus no céu.
Ao falar de Jerusalém, o salmista fala de uma santuário da morada do Altíssimo” (v.4c). Os tabernáculos do Altíssimo estavam espalhados por toda a Judéia, mas ainda era necessário que o povo fosse reunido e unido em um santuário, para que estivesse sob o domínio de Deus. Quando os israelitas olhavam na direção do santuário das moradas do Altissimo, sentiam segurança e proteção divina, porque simbolicamente Jerusalém tinha o Deus Altíssimo que habitava na cidade. O lugar onde havia paz, a graça de Deus, o perdão dos pecados, que dá vida e salvação, que brota da cruz e da sepultura aberta de Cristo.
Não há, portanto, ninguém semelhante ao Senhor, que habita nas alturas. Ele é o Altissimo. O termo עֶלְיֹון traduzido por “Altíssimo,” é um título muito usado no AT para falar de Deus, aquele que está no alto. Então, podemos descrever sobre o altissímo: “Eis que o Deus Altíssimo, desce dos altos céus e faz morada na cidade.Ninguém é como o Senhor, nosso Deus. Não há, portanto, ninguém semelhante ao Senhor, que habita nas alturas. Ele é plenamente incomparável. Ele cuida pessoalmente de cada um de nós, se inclina para ver o que se passa sobre o céu e sobre a terra.” Enquanto Deus viveu entre seu povo, a cidade foi invencível. Mas quando o povo o abandonou, Deus o deixou e Jerusalém caiu ante o exército babilônico.A presença de Deus em Jerusalém traz um encorajamento especial para o escritor: “Deus está no meio da cidade e jamais será abalada.” (v.5a). Isto demonstra que Deus não está ausente. Ele habita com seu povo, pois é verdadeiramente o lugar que o Senhor escolheu para habitar. Ele estabelecer ali o seu nome para a sua habitação.
O que se conclui é que a cidade de Deus jamais será abalada, permanecerá "pelos séculos dos séculos" (Ap 22.5). Ela não será abalada, por que Deus é o seu ajudador e os inimigos não podem prevalecer contra ela. Mesmo que os inimigos sejam muitos e poderosos, mesmo que as nações se enfureçam e os reinos deste mundo se levantem contra Cristo e sua igreja, a cidade de Deus, jamais fica abalada, porque o Senhor dos Exércitos está com ela. O Deus de Jacó, o Deus da aliança, é o seu refúgio. No livro de Apocalipse, Deus nos mostra que o Senhor é Deus, dirige e protege a sua Igreja. Ele haveria de ajudar “ desde antemanhã.” ou seja até o dia amanhecer, simbolizando um novo começo e uma renovação de forças (v.5b).
A confiança do salmista se manifesta também na atuação do poder de Deus sobre as nações, fazendo-as tremer diante do seu poder: “ Bramam nações, reinos se abalam; ele faz ouvir a sua voz, e a terra se dissolve.” (v.6). Há um situação de conflito e agitação entre as nações. Os reinos se movem e os gentios se enfurecem.Talvez,o escritor esteja mencionando a destruição do exército do rei assírio Senaqueribe durante o reinado de Ezequias (2 Reis 18-19).De qualquer forma, a voz de Deus é poderosa a ponto de dissolver a terra. O termo מוּג que é traduzido por dissolver ou derreter, é uma figura de linguagem que demonstra o poder absoluto de Deus, seu domínio e autoridade sobre todas as coisas.
Após, o salmista faz uma declação que é repetida no final do salmo. Ele ainda reforça a presença e o poder de Deus, ao afirmar que “o Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio.” (v.7). Ele é o Deus que protege e defende o seu povo. O escritor usa novamente o termo מַחֲסֶה que signfica literalmente “um abrigo”. Mas também pode ser usado no sentido de “defesa” e “amparo”. E ainda a expressão “abrigo alto”, ou seja, uma cidadela. Esta nada mais é que uma fortaleza dentro da fortaleza. Assim, caso a cidade fosse invadida, havia outra muralha em uma posição mais alta para proteger os moradores que perderam a primeira muralha. Para o escritor Deus é como uma dessas cidadelas que, mesmo diante da queda dos muros da cidade, Ele continua protegendo o seu povo. Ele é o refúgio e fortaleza daqueles que confiam nele, assim como foi para Jacó diante de suas adversidades.
III
Os ataques violentos, sede, medo, tristeza e caos não conseguem tirar a confiança do salmista. Sendo assim, ele passa a encorajar os habitantes de Jerusalém. Eles são desafiados a lembrara das coisas que Deus fez no passado. A contemplar as obras do Senhor: “Vinde e contemplai as obras do Senhor.”(v.8). O convite é para que saiam e vejam por si mesmos, quão completa foi a libertação e a ruína de seus inimigos. Os verbos vir e contemplar tratam-se de um olhar para o campo de batalha. Lá estão os inimigos derrotados como resultado da ação de Deus. (Is 37.36). As Escrituras relatam, quão abundante é a prova de que Deus foi capaz de proteger seu povo em tempos de perigo.
Em outras ocosições, Deus também convidou o seu povo a contemplar as suas obras: “Vinde e vede as obras de Deus: tremendos feitos para com os filhos dos homens!” (Sl 66.5; Jo 1.39; 4.29). E de fato,toda a história de Israel no AT mostra-nos os grandes atos de salvação realizados por Deus em favor do seu povo no passado. Há diversas narrativas de como Deus agiu de forma maravilhosa. Ele devastou o Egito com as dez pragas para libertar o seu povo; abriu o Mar Vermelho para o seu povo passar e fechou o para destruir o exército de Faraó. Mandou o maná para alimentar o seu povo no deserto e fez sair água da rocha para saciá-lo. Tudo foi registrado para que o povo pudesse sempre lembrar o que Deus fez. Deus sempre foi fiel e bondoso para Israel. Esta é a razão de “estarem alegres”cnforme o salmo 126.3: “Com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres.”
Somos desafiados a contemplar as obras do Senhor,porque Ele também tem realizado coisas grandiosas em nossa vida. Aliás, a nossa vida é constituída de coisas grandiosas. Deus enviou Seu Filho Jesus Cristo que morreu na cruz para nos salvar. O seu amor e cuidado em todas as situações dramáticas das nossas vidas, situações que tiraram noites de sono e, muitas vezes, nos deixaram sem esperança para continuar com nossos sonhos e projetos, ou seja, no casamento em crise, nas crises financeiras sem fim, crises na saúde, e o Senhor sempre nos ajudou em todos momentos. Temos um Deus maravilhoso, que não mede esforços para nos ajudar. Precisamos aprender na vida que Deus fez, faz e fará coisas grandiosas por nós. Mas que coisas você gostaria que Deus fizesse por você? Quais são as coisas grandiosas que Deus tem realizado em sua vida?
No entanto, algo deve ser observado pelos homens,conforme o salmista: “A obra do Senhor, pela qual trouxe desolações à terra.” (v.8b). O termo שַׁמָּה pode se referir a qualquer “ruína” ou “derrota” que ele trouxera sobre a terra de Israel ou sobre as nações no exterior, isto é, entre seus vizinhoss que eram hostis. Enfim, era a destruição de cidades, vilas ou exércitos, como prova de seu poder, e de sua capacidade de salvar aqueles que confiam nele. Tendo isso em mente, o salmista usa seu melhor argumento para trazer paz aos israelitas em tempos de uma guerra atroz. Ele diz que nenhuma guerra há quando Deus ordena que ela cesse: “Ele poe termo à guerra até os confins do mundo.” (v.9a).Essa imagem ilustra o poder divino em trazer paz e segurança ao seu povo ao estabelecer a paz firme e bem fundamentada. até os confins da terra,ou desde um extremo ao outro.E ainda é capaz de destruir os instrumentos de guerra, como arcos, lanças e carros de batalha.(v.9b)
Enquanto,o homem faz tantas reuniões e conferências para acabar com as guerras e trazer a paz, nunca foram capazes de realizá-la. Ele nunca teve sucesso, porque sempre o fez com base na confiança do pensamento equivocado do próprio homem. Em outras palavras, essa paz não deve ser comparada aos tratados de paz que vemos nos jornais, pactos de desarmamento negociados entre nações.Esta é uma paz negociada,muitas vezes,frustrada e sem resultado.Mas somente o Príncipe da paz que nos concede a verdadeira paz. Ele com seu poder estabelece a paz e pôe fim às guerras. Todos os meios militares são quebrados ou despedaçados e transformados em instrumentos úteis (Is 2.4; Mq 4.3).
A paz era tudo que o povo, sob ataque do inimigo, desejava e que somente Deus podia conceder. Em resposta a tudo isso o salmista afirma: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre as nações; serei exaltado sobre a terra. Não é um conselho para levarmos uma vida contemplativa, por mais importante que isso seja. O termo רָפָה ,que literalmente significa “entreguar-se”, “desistir”, traz a conotação de abandonar a nossa agitação e reconhecer que o Senhor é Deus. Sendo assim, o povo deveria reconhecer a sua soberania. O Deus supremo deveria ser exaltado tanto entre as nações como sobre a terra. Essa afirmação é um chamado à confiança e à adoração diante da grandeza e majestade de Deus.Ele é o único que será louvado entre as nações e na terra. Essa deveria ser nossa meta nos tempos de turbulência emocional. E um conforto profundo saber que, embora todas as coisas pareçam estar abaladas, uma coisa não está: Deus não é abalado. Por isso, renda-se e reconheça que Deus é o Senhor. Assim, como fez Jacó, Lutero, Melanchthon, John Huss, e tantos outros martires.
O escritor termina o salmo da mesma forma como começou, reforçando a presença de Deus e sua proteção para os seus contra o perigo. O Senhor dos Exércitos, o Deus de Jacó, é novamente proclamado como nosso refúgio. Essa repetição serve para enfatizar a confiança inabalável no poder e cuidado divinos.O Deus de Jacó é o mesmo Deus que age em nosso favor e traz tranquilidade em meio ao caos. Que possamos aprender a confiar nele e buscar refúgio em sua presença, sabendo que Ele é o nosso Deus, o Senhor dos Exércitos, Deus Todo-poderoso que ama tanto seus filhos que se importa com seus destinos e com o sofrimento que atravessam. Amém!